À saída do jogo, depois da tradicional subida da alameda a caminho da viatura, estacionada para lá da Velasquez, ouvia dois “old-timers” a discutir a partida e as suas diversas incidências, com sotaque vincadamente nortenho, diria mesmo da região da Invicta. Um deles dizia: “isto é muito bonito mas é como estares de dieta pró coração. é comida sem sal, dá-te sustento mas falta qualquer coisa para saber bem…”. Não podia concordar mais. Sim, ganhámos o jogo e fizemos por isso. Oitenta por cento de posse de bola ao intervalo é um valor não só absurdo como sintomático do tipo de futebol que temos e dos adversários que apanhamos pela frente. Mas…podia-se fazer mais com esses valores estatisticamente astronómicos? Oh se podia. Vamos a notas:
(+) Fernando. Há semanas consecutivas que tem vindo a ser o melhor jogador da equipa, seja em que terreno for. Brilhante na intercepção e na cobertura dos espaços, parece estar em todo o lado sempre que é necessário, especialmente quando o adversário pensa que tem um pequeno niquinho de terreno onde possa progredir…lá aparece Fernando a roubar-lhes o esférico e a rodar para a próxima jogada de ataque à qual (oh inclemente recuperador!) ele próprio dá início. E se soubesse rematar uma bola em condições…já não estava cá há anos.
(+) Varela. Fiquei apreensivo ao ver Atsu a sair aos quarenta minutos para a entrada de Varela. Afinal é raro vermos Vitor Pereira a mudar algo na equipa tão cedo e não parecia natural fazê-lo pouco antes do intervalo. Mas a verdade é que uma aposta que parecia tão estranha acabou por compensar, porque Varela, contra as minhas expectativas, entrou bem, dinâmico, vivo, fazendo em cinco minutos o que o ganês não tinha conseguido em quarenta. E continuou bastante activo na segunda parte, beneficiando do apoio de Mangala e de algum espaço no flanco esquerdo. Esteve bem.
(+) O ambiente com os putos das escolas. Poucos teriam a noção da quantidade de canalhada que está nas nossas escolas em vários desportos. Foi uma excelente forma de mostrar que o nosso futuro está assegurado…se saírem de lá talentos que de facto possam ser rentabilizados no campo e nos negócios. Esperemos que sim.
(-) Precisamos de falhar um caralho de um penalty… para começarmos a jogar com maior intensidade. Mais um penalty falhado, mais uma oportunidade desperdiçada e a infelicidade de que me queixo acaba por ser confirmada depois deste tipo de lances que parecem trazer um estigma a todos os que aparecem na marca dos onze metros para os tentarem marcar. Jackson, Lucho, James…todos falham. Não há nada que se possa fazer?
(-) Às vezes, o pouco sentido prático de James enerva de caralho. James é um jogador genial que tem uma capacidade técnica bem acima da média dos muito bons. Tem uns pezinhos maravilhosos que colam a bola às paredes de couro das suas botas e fazem com que brinque com o esférico sempre que lhe apetece. E às vezes parece que brinca demais, especialmente quando chega a zonas próximas da baliza, onde complica o que não deve e se perde em fintas improváveis e passes impossíveis. Tirando o passe para o golo (brilhante, já agora), esteve em vários lances onde nada do que fez parecia servir os melhores interesses da equipa. Tem de continuar a melhorar o sentido prático para poder ser decisivo mais vezes.
(-) Outras vezes, os passes falhados também enervam de caralho. Se é verdade que Lucho anda a falhar muitos passes, hoje também Moutinho esteve abaixo do que pode e sabe fazer e James acabou por ser muito influente na retenção da posse de bola mas ainda pior no acerto dos passes. Sou muito compreensivo nas falhas cometidas em passes transviados aquando da criação de lances ofensivos. Mas até eu tenho um limite e começo a perder a pachorra para tantos erros…
(-) Mas o que enerva mesmo de caralho é não ver Danilo a subir pelo flanco. No FC Porto 2012/2013, na grande maioria das vezes tem de ser o defesa central a subir para criar os desiquilíbrios que o defesa direito não cria porque está cheio de medo atrás do meio-campo. Danilo é, neste momento, uma menos-valia na equipa.
A equipa ainda não é competente e este ano talvez nunca venha a sê-lo, pelo menos de uma forma consistente. Mas temos vindo a fazer o nosso trabalho desde o empate na Madeira e continuamos a vencer os jogos e a sacar os três pontos necessários para manter o sonho vivo. E agora, mais uma semana a esperar que o Benfica jogue e a rezar para que caia. Raio de vida, palavra.