Baías e Baronis – Shakhtar Donetsk 0 vs 2 FC Porto

 

foto retirada de UEFA.com

Dois pontos prévios: 1) não vamos com este resultado pensar que tudo está bem, o mundo é um mar de rosas sem espinhos e os glúteos mantém-se sempre firmes com a idade. Não está e temos ainda muito que melhorar. 2) A vitória foi nossa depois de um jogo muito difícil contra uma equipa tecnicamente muito acima da média, numa cidade com frio de bater dente e após uma exibição que pareceu a tempos trôpega, noutras alturas enérgica e ainda noutras trapalhona. Houve pressão alta mas foi atabalhoada. Houve muitos remates mas quase todos tortos. O que houve, e já não via há muito tempo, foi espírito de entre-ajuda e solidariedade entre os jogadores, a cobertura de sectores desguarnecidos pelo colega mais próximo e não fosse a incapacidade de fazer mais de três passes seguidos quando os jogadores estão pressionados e o jogo teria sido menos sofrido. Gostei do que vi e só espero que não tenha sido uma vez sem exemplo mas que seja o fim do início do nosso anunciado fim. Notas abaixo:

 

(+) Hulk O que o rapaz correu!!! SOZINHO!!! COM TRINTA E CINCO UCRANIANOS ATRÁS DELE!!! Vamos lá com calma, peço desculpa pela exaltação. Hulk correu por três avançados, até porque hoje para vermos Djalma – esforçado mas pouco mais – e James – ver abaixo – tínhamos de olhar para Hulk e recuar quarenta metros. Marcou o golo numa situação em que pela primeira vez, ao fim de 79 minutos, surge sozinho…mas a vinte metros da baliza e sem adversários pela frente. Foi lutador, abnegado, esforçado, um verdadeiro jogador à FC Porto, como há semanas (meses?) não via. Fica-me memória aquele lance na linha final depois do canto mesmo aos 89 minutos, em que é pressionado por dois ucranianos e sai da marcação para construir a sequência de eventos absurdos que deu o segundo golo. Continua assim, Hulk, por favor.

(+) Helton Mais não podia fazer o nosso capitão hoje na Ucrânia. Defendeu tudo o que pôde e o que não pôde, tratou o poste. Muito em jogo, especialmente com os pés, não teve uma única falha e segurou quase todos os remates de longe que chegavam à baliza do FC Porto, especialmente no início do jogo. Se tivéssemos sofrido um golo no arranque da partida, o mais provável é que nesta altura estaríamos a lamentar a nossa sorte, o que mostra que um guarda-redes seguro é meio caminho andado para uma clean-sheet. E não se pode dizer que tenha tido muita ajuda dos defesas…

(+) Fernando Tapou bem a zona central do meio-campo e quando se tem de olhar para trás e ver um Nico Otamendi que só se lembrava de mandar charutos para o céu e passar a bola à queima com vários adversários em cima, era difícil conseguir fazer mais que servir como penúltima barreira (tantas vezes última, infelizmente). Foi rijo, duro, viril e, como de costume, uma bosta no passe. Tem de melhorar muito nesse sect…e já digo isto há tanto tempo que perdi a esperança, sinceramente.

(+) Defour na primeira, Moutinho na segunda O belga foi sempre inteligente com a bola nos pés, conseguiu fazer mais e melhor do que Moutinho também fruto de um posicionamento mais avançado que lhe permitiu servir como a primeira linha de pressão do meio-campo. Na segunda parte, Moutinho pegou mais no jogo e conseguiu pautar o jogo como gosta de fazer, com calma, tranquilidade e a saber o que fazer e, ainda mais importante, quando o fazer. O passe do João para o primeiro golo é perfeito.

 

(-) James Inerte, inconsequente, passou a vida a deslizar pela relva. Literalmente, porque patinava como um Pluschenko colombiano no relvado da Donbass Arena. Lento demais na decisão do passe, parecia estar a treinar sozinho no Olival tal era a displicência com que brincava no meio-campo, o que lhe fez perder várias bolas de possível contra-ataque e deixou Hulk a correr sozinho na frente porque nunca lhe deu o apoio que era necessário. Está-me a desiludir bastante.

(-) Otamendi O puto colombiano pode-me estar a desiludir um pouco, mas Otamendi está a ser uma enorme desilusão. Não consigo perceber a quantidade absurda de passes ridículos, falhas na marcação e hesitações com a bola que o argentino mostra jogo após jogo e é muito mau para quem estava nos meus planos para ser o próximo líder da defesa portista. Vejo-o consistentemente com um perede nervosismo quando tem a bola nos pés e parece optar quase sempre pela pior escolha. Rolando, que continua a ser um rapaz simpático mas que nunca seria titular no FC Porto aqui há uns anos, é actualmente ao lado de Otamendi um tipo estável, de confiança, a quem se pode entregar a chave do cinto de castidade da filha primogénita. Não sei o que terá de acontecer para o rapaz melhorar, sinceramente.

 

Ufa. Falta uma vitória para o apuramento e este grupo, tornado difícil não só pelo equilíbrio entre as equipas mas pela capacidade defensiva do APOEL e da nossa paupérrima forma no Chipre e na Rússia, afinal ainda está pronto para ser ultrapassado. Só dependemos de nós e era o mínimo exigível para uma equipa como a nossa, que quer marcar, que quer ganhar e que acima de tudo precisa de estabilidade e de vitórias como o Duarte Lima de alibis. Teremos ganho algum equilíbrio emocional na Ucrânia tal como aconteceu em 2008? No domingo já o podemos confirmar.

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Baías e Baronis – Académica 3 vs 0 FC Porto

Há muito a dizer sobre este espectáculo de horror travestido de jogo de futebol. Foram noventa minutos de uma inépcia completa de quase todos os jogadores do FC Porto para conseguirem impôr um mínimo de organização de jogo, para honrarem a camisola que ostentam e mostrarem aos adeptos que são os mesmos do ano passado. A somar a esta aparente parvoíce competitiva temos Vitor Pereira, que defendi durante tanto tempo e que desejava ardentemente que conseguisse pegar no leme do que parece ser um Titanic azul-e-branco a caminho de uma fossa profunda, mas que estou a ver que a tarefa, hercúlea de início, se está a revelar quase impraticável. Parece ser mais fácil ver o Toy bem vestido ou a Paris Hilton como Ministra da Saúde do que ver o FC Porto a jogar em condições, sinceramente. A única nota está já aqui em baixo:

 

(-) A maldita letargia É verdade que os todos os golos surgiram de erros defensivos. O primeiro porque Rolando se lembrou de cabecear a bola direitinha para o caminho do jogador da Académica e o segundo porque Maicon parece pensar que o futebol deixou de ser um jogo de contacto físico e alheou-se do lance para ficar a pedir uma falta que não existiu. Estes lances definiram o jogo e o terceiro, apesar de já não fazer mais nada pelo jogo a não ser colocar mais um belo dum calhau no nosso destino na Taça deste ano, também veio de (mais) um passe parvo de Fernando. Mas analisemos os golos, porque é fácil a partir daí perceber os nossos males. No primeiro, Rolando, distraído, sem noção do posicionamento dos colegas, cabeceia para onde lhe apetece e lança Sissoko para a entrada da área. Mau, como má tem sida a época de toda a defensiva, quase sempre mal colocados e com pouca intensidade na colocação no terreno. Foquemo-nos agora no segundo, que resume numa só imagem um dos dois grandes problemas actuais do FC Porto: Maicon a receber um mínimo contacto e a reclamar com o árbitro em vez de se recolocar e lutar pela bola. Houve luta? Nada. Houve empenho? Nenhum. Houve mais interesse na bola e em recuperá-la para impedir o ataque contrário? Mais uma vez, não. E tem sido isto, jogo após jogo, onde quase todos os jogadores falham no ponto mais básico de exigência dos adeptos: a transpiração pode ultrapassar momentos de menor inspiração. E o terceiro golo? Fernando falha um passe fácil a meio-campo. Se fosse Moutinho, Belluschi, James, Varela, Defour ou qualquer outro, ninguém se surpreenderia. Porque as falhas sucedem-se a um ritmo assustador e incompreensível, os domínios de bola parecem tão simples como ganhar um jogo ao Nadal com um garfo de sobremesa a fazer de raquete, um banal cruzamento é complicado como tocar o Rach 3 com as mãos amputadas e com três litros de vodka no bucho e um passe, seja curto ou longo, é tão difícil como trepar o Evereste com o Malato às costas. Vitor Pereira é culpado de pouco, mas também não nos podemos alhear de mais um falhanço táctico em vários níveis, que “partiram” a equipa de tal forma que ninguém se entendia dentro de campo. Mas é na incapacidade de despertar a malta da letargia em que parecem ter afundado que Vitor está a falhar mais e os adeptos já desistiram. Só uma grande devoção ao clube faz com que continue a haver portistas a ver a sua equipa a jogar por esses relvados fora, porque se a qualidade de jogo fosse o único chamariz para os espectadores se deslocarem aos estádios, onde jogasse o FC Porto soariam grilos e voariam folhas soltas de jornais. Porque não haveria lá sequer uma alma para os ver.

 

A eliminação da Taça acaba por ser o menor dos males desta noite de Coimbra. A imagem que fica, de jogadores cabisbaixos, tristes, com uma intolerável falta de inteligência táctica, capacidade técnica e espírito de sacrifício, de empenho, de luta, é tudo o que não consigo associar ao meu clube. Estes mesmos jogadores, geridos por outro homem aqui há outros meses, mostravam o total oposto desta paupérrima exibição e punham-me o peito para fora com orgulho. Continuo a atribuir algumas das culpas a Vitor Pereira, pela aparente incapacidade de gerir estes talentos, mas eles, os jogadores, são os principais culpados. Porque se o treinador não consegue fazer com que eles se exibam ao seu nível, eles próprios parecem desinteressados em contrariar a letargia que os possui. Resultado? Um enorme deserto para atravessar, para eles, para nós, para todos os Portistas. E sem oásis no horizonte.

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Futres e Folhas – Portugal 6 vs 2 Bósnia-Herzegovina

foto retirada de Record

Alguém me explique qual é a necessidade tão lusitana de apenas fazer os grandes esforços na ponta final, quando o risco é alto e as consequências mais graves? Ao longo desta fase de qualificação, desde o empate contra o Chipre até à última derrota contra a Dinamarca, em nenhum jogo nos tínhamos exibido a um nível como fizemos hoje na Luz. Queiroz ou Bento, Bosingwa ou Pereira, Carvalho ou Pepe…tanta tinta correu, tanta lágrima foi derramada…para chegar ao dia de hoje e fazer uma exibição que teve tanto de genial como de tranquila, calma, sem aparente nervosismo nem periclitância. Vencemos bem e vamos ao Europeu com mérito. Notas abaixo:

 

(+) Ronaldo Foi o capitão que precisávamos na altura mais importante. Já na Bósnia tinha sido um dos melhores em campo, a par de Pepe, e hoje esteve impecável desde o início do jogo. Quando Ronaldo está bem e joga com gosto, com dinamismo e com algum espaço, é um jogador quase imparável e hoje foi um Ronaldo no seu melhor, pouco complicativo, a jogar prático, simples, interessado e produtivo. Fez dois grandes golos, uma excelente exibição e acima de tudo fomentou sempre a união entre jogadores e público.

(+) Miguel Veloso Está melhor, o badocha. Ocupou muito bem os espaços e conseguiu servir de tampão atrás de Moutinho e Meireles para anular os ataques frontais dos bósnios, mas nunca deixou de pensar o jogo e de rodar a bola para horizontalizar o jogo quando era preciso. (Que foi, só o Freitas Lobo é que pode usar estes termos? Também tenho direito!) Ainda por cima marcou um excelente golo de livre directo. Parece que viver e trabalhar nas terras de Colombo está a fazer bem ao gorduchinho e Portugal só tem a ganhar com isso, porque quando há necessidade de um jogo mais posicional e com posse de bola, Miguel Veloso é melhor escolha que Meireles. Só fica a perder quando precisarmos de dar pancada no meio-campo…porque aí ninguém ganha ao Pepe.

(+) Moutinho Um jogo muito acima da média exibicional que tem vindo a manter esta temporada no FC Porto, com passes a rasgar, luta no meio-campo, rotação de bola e acima de tudo a presença de um jogador que continuo a afirmar ser essencial tanto no clube como na selecção. Grande passe para o segundo golo de Ronaldo. Volta assim prá Invicta, rapaz!

(+) Agressividade defensiva À imagem do que tínhamos feito em Zenica, o jogo começou a ser ganho por Pepe e Bruno Alves, à força. As tácticas de strong-arm são aplicáveis em situações de perigo e nós fizemos exactamente o que era preciso. Espetar uma cotovelada na nuca do Dzeko é precisamente o que é necessário, ir ao contacto com tudo que é Pjanics e Misimovics, empurrá-los, saltar contra eles e neste caso devia valer tudo porque o prémio era alto. Porra, até podiam levar 50 mil cartazes do Milosevic para ver se os bósnios tremiam, carago! Gostei de ver e gostava de ter visto esta mentalidade no resto da qualificação.

(+) Golo de Nani Em duas palavras: espé tacular.

 

(-) Penalty de Coentrão Uma parvoíce. Não sei se o Fábio ainda está habituado à alcunha que ganhou aqui entre os não-benfiquistas, mas o salto com os braços no ar que “Caientrão” se lembrou de fazer dentro da área é incompreensível, independentemente da falta que lhe pode ou não ter sido feita. Já me tinha desabituado a ver o rapaz a saltar como um louco e a pedir faltas por qualquer coisinha que lhe acontecia, desde uma brisa mais forte ou a audácia do adversário em afastá-lo da luta pela bola com o ombro, mas algo naquele lance me fez regressar um ano ao passado. No resto do jogo esteve impecável, como de costume, a galgar a relva do flanco esquerdo como se estivesse atrás de um coelho com o tesouro de Sierra Madre, mas no lance do penalty baldou-se.

 

E pronto, lá vamos nós c’as malas todas pró leste. Seja na Polónia ou na Ucrânia que vamos acabar por jogar a primeira fase, é certo que vamos ter um Verão mais interessante com Portugal a jogar no Campeonato da Europa. Há razões para estarmos satisfeitos com a qualificação e hoje opto por não apelar ao cinismo e fazer aquele papel de parvinho ao dizer: “Força Selecção”. Até apoio o Paulo Bento, vejam lá…mas há e continuará a haver problemas que terão de ser resolvidos até chegarmos a Junho, porque este tipo de jogos nem sempre surgem e os níveis físicos e competitivos serão bem diferentes no arranque da competição e até lá temos muito tempo para observar, pensar e decidir pelas melhores escolhas. Ou no caso de Paulo Bento, pelas escolhas dele.

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Baías e Baronis – Olhanense 0 vs 0 FC Porto

 

retirada de desporto.sapo.pt

Começa a ser insuportável ver um jogo do FC Porto neste estado. Enquanto escrevo esta crónica, ao mesmo tempo olhei para o lado e na televisão surge a palavra “corrimento”. Sei que posso padecer de qualquer condição de demência, mas preferia ver uma representação gráfica desse conceito do que ver algumas repetições dos lances do jogo de hoje em Olhão. É deprimente perceber que os jogadores estão a lutar a metade (se tanto) do que podem fazer, com uma absurda quantidade de medo de falhar em quase todos os lances em que participam. Os passes são fracos, temerários, sem força, sem vida, sem garra. As jogadas são mal gizadas, trapalhonas e inconsequentes. E podia continuar aqui algumas horas a arranjar sinónimos negativos para a nossa exibição completamente sem chama e merecedora do empate. Siga para as notas:

 

(+) Fernando É difícil, como me sugeriram, encontrar um Baía que seja no jogo de hoje. Opto por Fernando, porque não tem culpa nenhuma que a grande maioria dos colegas estivesse à procura de uma rocha para se enfiar lá dentro e esperar que a má onda passe. Fernando esteve em todo o lado, a tapar os buracos e a recuperar as bolas em zona defensiva baixa, a cumprir mais que o seu papel a descer quando ambos os laterais (chamar lateral a Maicon pode ser exagerado, mas a verdade é que o rapaz não esteve assim tão mal) subiam para os lugares onde o treinador lhes manda estar. Fernando, juntamente com Rolando e, a espaços e apenas na segunda parte, Álvaro e Moutinho, foi dos menos maus.

 

(-) O ritmo do medo e a incapacidade de reagir a situações negativas Prefiro reunir os males num único Baroni, não me levem a mal. Não interessa nada ter a bola durante mais tempo, jogar no meio-campo do adversário, quando olhamos para James ou Hulk e vemos que não têm capacidade mental de furar, de rasgar uma defesa prática mas fraca. Os jogadores do FC Porto jogam a um ritmo medonho e com medo, com medo de tudo e de todos, com o temor que qualquer adversário lhes tire a bola, o que acaba por acontecer mais vezes do que devia. Vitor Pereira disse que os adeptos deviam esquecer o ano passado. Não posso, não consigo, não quero. São os mesmos rapazes que vi há alguns meses que estão ali em baixo e não precisava de ver a segunda parte contra o Villareal ou o cincazero ao Benfica. Só precisava de ver algum brilho nos olhos de James, alguma resistência ao choque de Hulk (sim, estou a falar a sério, Hulk foi ao chão várias vezes em luta contra adversários bem mais fracos mas com muito mais intensidade de jogo), algum tino de Belluschi nos passes e mais velocidade de Álvaro. Ver um grupo de jogadores talentosos a desperdiçar oportunidades consecutivas de brilhar e de mostrar que são os mesmos meninos que já me puseram rouco a gritar golo é frustrante. Perceber que são da minha equipa, ainda pior! E ter de estar a olhar para James e pensar na final da Taça, ver Moutinho e pensar na segunda mão da Taça na Luz, puxar por Hulk e sonhar com o cincazero…é muito difícil tentar entender o que se está a passar naquelas cabeças. Se o treinador não os consegue motivar a fazerem melhor, não conseguirão eles próprios levantar a cabeça?! Puxar ao orgulho, à honra, ao brio?! Porra, quando estou a jogar à bola com os meus amigos, do alto da minha quase total ausência de talento, não há nada que não faça (dentro da legalidade, entenda-se) para tentar ganhar um jogo! Tudo! É o exemplo mais fácil de todos mas é de tal maneira adequado que se torna tão irresistivelmente simples fazer o paralelismo. Para lá de todo este desterro, incomoda ver os jogadores a perder a bola e a demorar tempo demais a recuperar defensivamente, deixando a clareira aberta para contra-ataques adversários que só não aconteceram mais vezes porque a incapacidade técnica do Olhanense era evidente. Por isso é verdade que conseguimos ter a bola mais tempo. Até tivemos alguns remates. Poucos, mas alguns. E falhamos um penalty, que acontece e não é absolutamente censurável per se. Falhar um penalty contra o Olhanense é um acidente. Criar tão pouco em 88 minutos contra o Olhanense não é acidente nenhum. É inépcia.

(-) Meio-campo estático Vi a mesma jogada vezes demais: Mangala ou Rolando, com a bola nos pés, procuravam espaços no meio-campo adversário. Lá, pelo meio de vinte calções brancos e alguns azuis, não havia nesga por onde a bola podia passar em grande parte porque os nossos médios, numa movimentação lenta, pastosa, arrastada, sem intensidade nem destino marcado, faziam com que uma simples basculação lateral do Olhanense servisse para tapar a entrada. O central, tanto o luso como o francês, rodavam a bola para o lado ou paravam para entregar a Fernando, que procedia a recuar em posse…mas sem qualquer progressão. Foi enervante e durou “apenas” noventa e três minutos.

 

Et voilá, continuamos em primeiro lugar, pelo menos por mais um dia. Isolados, no less. Até podíamos estar quarenta pontos à frente, mas a qualidade de futebol apresentado não chega sequer a ser sofrível. É fraco, apesar da posse de bola, do domínio, do controlo ou da vitória nas estatísticas. A exibição que hoje estava à espera tinha de ser o total oposto desta. Os rapazes em campo tinham de comer relva, mostrar que tinham ficado indignados pela sua própria atitude em Chipre e dispostos a lutar contra Adamastores, Godzillas, Cloverfields ou qualquer tipo de bicho que lhes aparecesse à frente com um edredon e um molho de nabiças. Não vi e não sei quem culpar. Se eles, por não o fazerem. Se Vitor Pereira, por permitir que eles não o façam.

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Baías e Baronis – APOEL 2 vs 1 FC Porto

 

Olhem bem para a fotografia no topo do post. Reparem na euforia do público, na celebração dos jogadores do APOEL e no ar cabisbaixo do nosso capitão. Por tantas vezes já olhei para fotografias idênticas e não fosse a diferença cromática, já fomos nós naquela posição, a festejar um golo, uma vitória, uma boa exibição. Já fomos nós que ouvindo o apito final do árbitro nos congratulamos com um jogo de raça, de correria intensa, de força de vontade, de fibra de vencedor e de empenho na vitória, na luta contra adversários hábeis, guerreiros, difíceis de bater e de ultrapassar. Aplaudimos já tantas vezes equipas de azul-e-branco no relvado ou no pelado, em directo ou diferido, ao vivo ou na televisão, já gritámos e cantámos até as nossas gargantas ficarem roucas. Hoje, depois de ver o jogo do Chipre, não me apeteceu gritar, saltar, cantar. Fiquei desiludido porque pensei que iríamos conseguir mudar a atitude e melhorar para subir o nível num jogo de campeões. Hoje, no Chipre, não mostramos nada de campeão. Nem perto disso. Notas abaixo:

 

(+) Mangala Gostei muito do puto hoje no Chipre. Foi dos poucos que conseguiu lutar de igual para igual com qualquer jogador do APOEL e conseguiu impôr o lado físico a partir do momento em que percebeu que o árbitro estava a permitir um jogo mais agressivo. Nunca encolheu os ombros e nem o penalty que lhe foi apontado fez com que ele desistisse da luta, que saísse das trincheiras como tantos dos seus colegas e fez o possível para evitar perigo para nossa baliza. O nosso melhor jogador, sem dúvida, o que diz muito do resto dos rapazes.

(+) Fernando Mais uma vez Vitor Pereira retira Fernando de campo e mais uma vez a rentabilidade do seu substituto é quase nula. Na primeira parte, para lá da forma atabalhoada como ataca todas as bolas, Fernando foi o único jogador daquela “coisa” que já um dia foi o meio-campo portista a conseguir mostrar interesse suficiente para lutar contra um adversário que trocava a bola com uma facilidade tal entre os seus colegas que parecia estarem a treinar entre pinos azuis-e-brancos. Fernando foi trapalhão mas rijo, tosco mas empenhado. E hoje, devia ter tido mais alguns como ele à sua volta.

 

(-) Falta de garra No jogo do Dragão contra o APOEL disse: “Os jogadores do FC Porto locomoviam-se com toda a intensidade de um nado morto, medo de tocar na bola mais que duas vezes e uma gritante incapacidade de gerar movimento e jogadas de ataque com estrutura e rotação de bola. O jogo de posse, como gostamos de dizer que aplicamos, assenta em dois pilares fundamentais: a posse e a procura incessante de linhas de passe para manter a posse. E o que hoje se viu foi uma equipa de matrecos humanos, em que a bola ressaltava de um para outro sem que houvesse movimentação lateral ou desmarcações para criar espaços ou para arrastar os marcadores directos. Não me vou focar num ou noutro jogador em particular porque o problema é colectivo e parece contagiar rapidamente todos os sectores.”. Não vejo necessidade nenhuma de alterar esta perspectiva, mas ela é agravada pelo simples facto de nada ter mudado. Se não fosse Mangala a encostar-se sempre aos avançados e a lutar contra eles com a força que Deus lhe deu e que o deixam aplicar, a grande maioria dos colegas perdia bolas consecutivas em duelos individuais, esperava que a bola viesse parar delicadamente às suas botas em vez de a atacar com a intensidade que era necessária e ficavam sempre atrás de qualquer anormal de amarelo que lhes tirava a bolinha como se tira um rebuçado a uma criança. Só que neste caso, a criança não chorava baba e muito ranho: apenas se resignava e voltava para trás à espera que lhe fosse oferecido mais um Mentho. E mais uma vez tive vergonha de ver aquela equipa a arrastar-se em campo, com uma lentidão e falta de intensidade enervante, sem vontade, sem moral, sem orgulho.

(-) Falta de manha Há semanas que vejo isto. Um jogador do FC Porto tem a bola nos pés, espera até ao ponto em que algum adversário se aproxima e perde a bola. Ninguém o avisa, ninguém procura criar uma linha de passe, deixam-no sozinho e pendurado de uma qualquer corda à espera da morte. Pior, o que tenho visto há algum tempo é uma ingenuidade tremenda. Sabem perfeitamente do que falo: o jogador que vai para a bandeira de canto para queimar tempo; o pontapé para a canela do oponente para ganhar o lançamento; o uso do corpo para proteger a bola; a tabelinha pensada e não apenas executada sem deixar a bola cair. Tantos truques, tanto futebol, tanta “ratice” que podia ser usada…e estamos permanentemente a tentar fazer as coisas bonitas em vez de as fazermos de uma forma prática e directa.

(-) Falta de noção táctica Se tiverem gravado o jogo ou conseguirem apanhar uma qualquer repetição, reparem na colocação do FC Porto em campo quando não têm a bola. A pressão alta é feita quase num 1-v-1, como se estivessem a jogar ao meiinho na escola ou num treino. Os extremos, que não recuam para ajudar atrás, ficam engolidos quando qualquer médio centro do adversário descai para uma ala para fazer uma tabela com um dos colegas e automaticamente há uma situação de desigualdade numérica. Os nossos médios, mandriões, recuam com medo da troca de bola fácil, ao passo que os laterais ficam colados atrás e não pressionam o adversário directo, chegando sempre tarde demais e incapazes de roubar a bola. São erros atrás de erros, infantilidades tácticas que impossibilitam qualquer jogo colectivo coerente. E se somarmos isso à indisponibilidade de ajudar os colegas em dificuldades, é impossível de tolerar. E a culpa é de quem está a olhar para eles e lhes permite que continuem a errar.

 

Aparentemente, pelo que me foi dado a analisar, ainda dependemos (quase) exclusivamente de nós. Temos de vencer os dois últimos jogos, com a condicionante que se o APOEL vencer o Zenit teremos de vencer os russos por forma a conseguir ter uma vantagem na diferença de golos. Ainda assim, este regresso às contas tão lusitanas é algo que me enche de vergonha, não tanto pela competência dos nossos adversários (que existe) mas pela nossa própria inépcia, pela nossa incapacidade de jogar um futebol condizente com a imagem que temos na Europa. Afinal de contas, estamos a dar razão a todos que pensam que a Liga Europa está alguns níveis abaixo da Champions. E até conseguirmos mostrar mais do que fizemos hoje…não fizemos a transição de volta. Vitor Pereira tem a tarefa muito difícil, mas a culpa começa a ser tanto dele como da má forma dos jogadores. Até para mim que acredito no trabalho sério e não no show-off, começa a ser complicado defender-te, mister. E não me estás a dar motivos para o fazer por muito mais tempo.

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