Baías e Baronis – Beira-Mar 1 vs 2 FC Porto

Vi a primeira parte calmo e a segunda parte no limite de um ataquinho nervoso. A vitória não podia pertencer a outra equipa que não ao FC Porto, mas os números são tão curtos para o que fizemos hoje em Aveiro que me deixa incomodado por não ver um zero à direita do dois no placard. Enfim, o que interessa neste tipo de jogos é sempre a vitória e mesmo a gestão antecipada (a partir dos 75 minutos oferecemos tempo demais a bola ao adversário) não a impediu. Não me posso focar só naquele último lance com Élio a apontar para canto em vez de para a baliza, mas o que é verdade é que as injustiças acontecem tantas vezes no futebol que já me enjoei de perder pontos em jogos que deviam ter sido ganhos e que por causa de um ressalto ou uma falha individual acabam por tramar o resto do bom trabalho que se fez durante o jogo. Correu bem e gostei de ver os nossos miúdos a jogar hoje na relva molhadíssima de Aveiro. Siga para as notas:

 

(+) James Excelente jogo do nosso colombiano-maravilha, em todos os sectores onde apareceu, fosse na ala a abrir espaços para as corridas de Hulk, no centro do terreno a pautar o jogo ou à entrada da área a finalizar. Surpreendeu-me pela disponibilidade física, o esforço que colocou em todos os lances e a atitude de nunca desistir de todas as bolas em que esteve envolvido. Um excelente golo e acima de tudo a imagem de um jogador que tem tido altos e baixos esta temporada mas que parece começar a mostrar qualidade suficiente para ser titular indiscutível no FC Porto. Para já, já o conseguiu.

(+) Fernando Pensei em dizer que me custa estar consistentemente a dar Baías ao Fernando, mas o que é verdade é que os tem merecido. Para lá de todas as bolas que recuperou no meio-campo, tem um movimento que faltou a Moutinho e a Belluschi hoje à noite em Aveiro: a colocação do corpo para proteger a segunda bola quando ela surge proveniente da área e o momento de pausa no jogo para reorganizar ideias, recuperar posições e retomar o ataque. Foi o médio mais inteligente da equipa. Estou sóbrio, garanto.

(+) Álvaro Pereira Com Maicon a fingir que gostava muito de ser defesa-direito e a tentar por tudo mostrar serviço, as diferenças para Álvaro são abismais. Apareceu constantemente no apoio ao ataque e facturou uma assistência para o segundo golo do FC Porto, mas é principalmente no arranque dos lances ofensivos que se mostra mais importante. Arrasta consigo um defesa quando invariavelmente envia a bola para Moutinho/James no centro do terreno e zarpa por ali fora à procura da tabelinha, desiquilibrando instantaneamente a equipa adversária. Faz isso há anos e ainda ninguém o conseguiu parar. Estou a gostar de o ver jogar.

(+) Rolando Um raro Baía para o nosso internacional luso, com todo o mérito. Sem culpas no golo do Beira-Mar (Maicon foi o principal réu porque não atacou a bola como devia e deixou “o chinês”, como foi nomeado insistentemente pelos tele-comentadores cabecear à vontade), Rolando esteve impecável durante todo o jogo, sem falhas nem hesitações. Ao contrário do colega do lado, que não esteve mal mas continua a falhar passes em demasia, Rolando esteve quase sempre bem, com passes bem medidos e soube impôr o jogo físico quando sentiu que era necessário. Gostava que jogasse sempre assim.

 

(-) A ineficácia. Outra vez. Falhar tantos golos como fizemos hoje não é nenhuma novidade e a culpa não é de Vitor Pereira, de Villas-Boas ou de Jesualdo, para citar os últimos três treinadores da nossa equipa. Nem sei se será dos jogadores em si, talvez seja uma questão de mentalidade de todo um campeonato e, já que estou numa de extrapolação, de todo um povo. Porque todos nós que jogamos um futebol de pura carolice aos sábados à tarde ou domingos de manhã, todos nós falhamos golos porque a brincadeira apodera-se do nosso sentido prático e não resistimos a fazer um cabritinho ou um atraso de calcanhar para o guarda-redes. E quando estamos a ganhar por três ou quatro, até nem me importo muito. Mas quando um jogo está com o resultado ainda incerto e a diferença é pouca, quando se entrega o jogo ao adversário e se falham tantos golos como hoje…é o equivalente a meter gasolina enquanto se mantém alegremente o cigarro aceso no canto da boca. Pode correr bem e a bomba não explode. Mas também pode correr mal, e depois ficamos a lamentar porque raio tínhamos de fumar naquele momento.

(-) Xistra e os desculpadores A grande maioria dos jogadores do Beira-Mar (e alguns do FC Porto, é verdade), passaram o jogo a cair. Mas o que pareciam jogadas banalíssimas de contacto eram paradas por Xistra, um dos árbitros mais enojantes do nosso futebol, com amarelos parvos e aquela atitude de “pois é, rapaz, tem de ser” que tanta febre me faz. O pior de tudo eram os comentários na SportTV, onde qualquer falha do árbitro era desculpada com o tradicional “ah, mas realmente o árbitro está a ver a jogada e temos de perceber que é difícil”. E era sempre difícil, mesmo quando o árbitro estava a olhar para a bola e a ver perfeitamente o que se passava. Não eram propriamente Valdemares, porque não se sentia ali nenhum anti-portismo primário, mas é uma atitude que apesar de compreender, não concordo que seja aplicada quase a 100% dos lances como o foi hoje em Aveiro.

 

Ao mesmo tempo que consigo perceber como é que conseguem falhar tantos golos e criar tantas situações de perigo sem que se consiga enfiar a bola lá dentro, custa-me muito entender que se tente gerir uma vantagem de um golo quando parece evidente que a nossa defesa não pratica um futebol do mais estável que já se viu, longe disso. Depois do jogo contra o Zenit, o empenho foi notório, a força e garra dos jogadores parece de volta para ficar, mas já há vários anos que deixei de tentar fazer sentido às gestões de jogo quando damos a bola ao adversário e ficamos à espera do que possa vir a acontecer. Acontece com os meus amigos a jogar à bola aos sábados de manhã. Não aceito que o mesmo ocorra ao FC Porto, porque foram já tantas as situações em que vi uma vitória num jogo de 80 minutos a transformar-se num empate aos 90. Hoje, quase que acontecia o mesmo aos 95. Não pode ser.

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Baías e Baronis – FC Porto 0 vs 0 Zenit

foto retirada de record.pt

Não estive hoje à noite no Dragão, mas sofri como se tivesse estado. Aquela sensação de “E se?” que se apodera neste momento do meu corpo e da minha mente é de fraco consolo para a tristeza que vai inundando o coração. Porque sei, como a grande maioria dos portistas, que não foi neste jogo que saímos da Champions, mas nos dois jogos contra o APOEL em que pelo misto de facilitismo, desânimo e falta de empenho acabamos por marcar este jogo como decisivo quando não o devia ter sido. A forma como encaramos este jogo, com toda a garra e a alma que vi em campo, era assim que devíamos ter jogado naqueles dois jogos (e contra este mesmo Zenit na Rússia) e não estaríamos agora a re-agendar compromissos para limpar as quintas-feiras à noite à espera da Liga Europa. O Neuer russo que hoje esteve no Dragão ficou-se a rir, juntamente com o amigo Danny e a besta do árbitro espanhol. Nós, não o podendo fazer, seguimos em frente para o lado, sem medo e com um novo espírito. Qualquer jogo em que se perde o que se perdeu hoje e o povo termina a aplaudir a equipa é um sinal de empatia, uma conjugação de esforços para levamos a equipa de novo às vitórias. Parabéns à malta que lá esteve, leu exactamente o que eu estava a pensar quando acabou o jogo, em que só conseguia dizer: “Aplaudam os rapazes, aplaudam os rapazes que eles não têm culpa…”. Vamos a notas:

 

(+) A vontade No jogo da Rússia contra este mesmo Zenit, disse: “Imaginem um caracol asmático e sifilítico a correr ao lado do Usaín Bolt. Foi aproximadamente essa a imagem que o FC Porto deixou transparecer hoje no Estádio Petrovsky. Lentos, sem força, sem intensidade competitiva sequer para a Taça da Liga, quanto mais para a prova mais importante de clubes a nível europeu, os nossos rapazes hoje desistiram de lutar por razões que só podem ser reduzidas a três hipóteses prováveis: alheamento total da imagem que passam para o exterior, com uma arrogância e soberba que os levou a assumir que este jogo seria fácil; incompreensão do modelo de jogo; ou a terceira…falta de pernas.” Precisaram de mais de dois meses para mudar esta imagem terrível que tinha ficado queimada na retina dos adeptos que assistiram pouco impávidos e definitivamente nada serenos a essa exibição abaixo de medíocre em Setembro deste ano. Esta noite no Dragão viu-se uma equipa que nunca desistiu e que tentou com todas as forças que tinha, com um misto de nervosismo e impaciência, nunca conseguindo acalmar o stress que era quase palpável na fria noite do Dragão. Hulk falhava passes mas Moutinho e Fernando recuperavam as bolas. James perdia a bola mas Maicon ou Djalma surgiam por trás dele a forçar a pressão e a subir de novo com a bola na sua posse. Foi bonito de ver Álvaro a subir pelo flanco e Defour a ajudar, Moutinho a fazer a bola rodar e Otamendi a cortar. Foi bonito ver o FC Porto a jogar, mais uma vez, como tantas vezes fez no ano passado. Mas se a bola não entrou, a culpa é de todos e todos a assumem. Somos uma equipa de novo.

(+) Malafeev, o Neuer russo Não creio que tenha havido um único dragão que tendo estado sentado nestas mesmas bancadas no dia 5 de Março de 2008 não tenha feito o paralelismo entre a exibição de Malafeev de hoje e a de Neuer na altura. Remates de longe de Hulk ou Moutinho, à queima-roupa de James ou frente-a-frente com Djalma, o russo esteve em grande nível e acabou por ser o principal responsável pelo apuramento do Zenit para os oitavos da Champions. Voou para todos os lados, saiu muito bem da baliza e tapou todas as brechas que os defesas iam permitindo. Estupor.

 

(-) A ineficácia É no mínimo curioso que tenha passado meses a reclamar pela falta de capacidade de criar lances de ataque, como aconteceu contra Feirense, APOEL (x2), Paços de Ferreira ou Académica…e chegar a este ponto e lamentar que tenhamos criado tantas e mudar o enfoque da crítica para as falhas na concretização. É um sinal evidente que a equipa está a crescer, mas as arestas que surgem para limar agora são as mesmas que tanta gente tinha preconizado no início da temporada: a falta de um concretizador na área. É óbvio que as jogadas são criadas, mas por vezes, apesar de soar a cliché, falta presença na área, alguém que possa prender um ou outro central e impedir que saiam como loucos a bloquear as jogadas de James ou Hulk pelo centro. Estamos a canalizar em demasia o jogo para a zona central e não temos lá ninguém para apanhar os ressaltos quando as bolas não entram à primeira, como foi o caso hoje à noite. A rever.

(-) Hulk Exageradamente lento, com imensos passes falhados e sem conseguir furar pelos defesas que vendo-o a jogar numa zona mais central acabaram por lhe tapar os espaços todos e raramente lhe davam um mínimo de tempo para controlar a bola e seguir em progressão. Insisto que o homem não rende tanto no centro e ainda que tenha sido usado como “isco” para os defesas permitindo que o resto dos colegas o acompanhem um pouco mais atrás, neste tipo de jogos acaba por se apagar e o FC Porto perde uma das principais armas em velocidade e imprevisibilidade ofensiva. Hulk torna-se um ponta-de-lança mediano e não ajuda a equipa, pelo contrário.

(-) Danny É um merdas. Um autêntico merdas. Estou-me a cagar para o mijar metafórico, palavra, mas perdi-lhe o respeito quando se picou com o banco do FC Porto e passei os últimos dez minutos a gritar para o Maicon lhe deixar os gémeos à vista e lhe mijasse para o perónio quando chegasse perto dele. “Te gusta, coño?”. Era o que eu lhe diria, depois de lhe dar uma patada na traqueia. Fez-me febre, palavra.

 

O facto das regras ditarem que o terceiro classificado da Champions tomba para a Liga Europa é um completo absurdo. Dá uma vantagem competitiva a essas equipas, perpetuando as desigualdades e no fundo desconsiderando as outras formações que passaram a fase de grupos da segunda competição, tratando-as com o escárnio de quem olha para o futebol de cima para baixo. A UEFA é assim, como o Mundo, onde os grandes tratam mal os pequenos porque podem. Tendo isto tudo em conta…não há nada a fazer senão tentar ganhar a Liga Europa e aproveitar enquanto as regras não mudam, porque as águas devem ser separadas de uma vez por todas. Ainda assim…enquanto não são…força, rapazes, cá estaremos para ouvir aquela música parva. A Champions fica para o ano que vem.

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A causa das coisas


O título não se refere à colecção de crónicas de Miguel Esteves Cardoso coleccionadas dos artigos publicados no Expresso que apesar de não ser da nossa cor (nem o homem nem o jornal) merece a minha homenagem pelo excelente live blogging aqui há uns largos meses por ocasião de um qualquer cincazero no FC Porto vs Benfica, com frases como: “O Benfica é como eu: vai ao Porto para não fazer nada e comer bem.“. Lindo. Mas divago.

Estas duas últimas vitórias (Shakhtar e Braga) serviram para levantar um pouco a moral da equipa, começando pelos adeptos. Falta ainda o jogo da próxima terça-feira para que possamos de facto sentir que a mudança de mentalidade foi evidente e que tenha marcado uma má fase do FC Porto, num momento em que cada minuto de cada jogo é avaliado com a intensidade de um tanque a atravessar as florestas das Ardenas. Mas o que de facto pode servir como razão credível para um abaixamento tão grande da dinâmica de uma equipa que já tinha mostrado qualidade a nível europeu? Não há só um, mas vários e o risco era alto em qualquer um deles.

Comecemos pela SAD. Todos sabemos e é apregoado até às estrelas, que o princípio básico de gestão do FC Porto tem servido como case-study em tantos artigos e colunas de opinião por esse mundo fora e é exactamente o mesmo que se aplica a um investidor na Bolsa: “Buy low, sell high”. E a aposta tem funcionado na perfeição, desde Pepe a Falcao, passando por Lucho, Anderson, Ricardo Carvalho e tantos outros, continuamos a pensar em valorizar rapidamente um jogador para que possa ser vendido por lucro óbvio e alto. Essa estratégia exige que o plantel seja composto por forma a conseguir maximizar as potencialidades dos jogadores-alvo e continuar a mostrá-los em jogo e a contribuir para a construção de uma imagem de um activo que pode ser uma mais-valia para qualquer grande europeu que os queira vir cá buscar e deixe uns contentores de dinheiro. Isto leva a que o nível exibicional da equipa seja obrigatoriamente alto para que os rapazes sejam reconhecidos pelas valências e não pelas fragilidades e coloca pressão em cima deles próprios e das equipas técnicas que sem dúvida dependem deles para levarem o barco a porto seguro. A questão coloca-se: e quando rendem menos, como em 2009/2010, fruto de algum cansaço, ocorrências extra-futebol e pela incapacidade de motivação das tropas pelo treinador? Perdem-se campeonatos, a equipa tem de atravessar uma renovação forçada e o valor de todos baixa em consonância. A pressão começa.

Passando aos próprios jogadores. Quando um deles chega ao ponto de querer sair (por enfado, vontade de novas experiências, insatisfação salarial ou qualquer outro motivo legítimo) e a valorização da SAD é alta ao ponto de impedir que seja vendido, o que acontece? Encosta-se um activo que foi alvo da aposta para futura venda? Pune-se o jogador e o próprio clube? Tenta-se vender por valores abaixo do mínimo aceitável para manter o bom ambiente e agradar a ambas as partes ainda que não na totalidade? É fácil falar quando se está de fora, porque os boatos são simples de criar e facílimos de espalhar, mas é possível que tal tenha acontecido com alguns jogadores do actual plantel, e depois? O que fazer? Cabe a quem a responsabilidade de transformar um jogador desmotivado e contestado pelos adeptos numa máquina de futebol geradora de palmas e dinheiro? Ao empresário? À família? À SAD? Ao treinador? Talvez um pouco aos três últimos, porque lamento imenso não ter fé nos seres chupistas mas não confio em vampiros, nem que se vistam de fato e gravata. A pressão aumenta.

Chego ao treinador, o cerne da questão. Vitor Pereira, apanhado no ciclone que foi a transferência de Villas-Boas para o Chelsea, aceitou a oferta de Pinto da Costa para pegar na equipa a que estava habituado, com os jogadores que conhecia e levá-los aos triunfos. Motivado, trabalhador, competente, esforçado. Chegará? Começou razoável contra o Barcelona, suficiente para o campeonato mas o nível de futebol era baixo, fraco, insipiente, lento, morto. As declarações à imprensa eram frouxas, sem alma, sem vida, os jogadores exibiam-se sem garra, sem força, sem inspiração nem transpiração. Notava-se que Vitor estava nervoso, triste, cabisbaixo, sem soluções. E começa o povo a contestar como só o povo consegue, desde o cabelo do Hulk à gravata do mister, dos salários àos motins no balneário, das saídas às não-entradas, das substituições às escolhas para a titularidade. Tudo é alvo de crítica para quem não está lá dentro, para quem gosta de falar ao nível da irmã do Solnado, só para dizer coisas. A pressão, neste momento, é altíssima.

E somando os três pontos de cima, é fácil perceber que despedir o treinador nunca iria resolver grande coisa a curto prazo. E também por isso talvez seja altura de começarmos a rever a política económica fundamental do nosso clube, porque a pressão transformou-se numa bigorna (não, Walter, deixa-te estar) pendurada por cima da cabeça de treinador e jogadores. Qualquer falha é catastrofizada, qualquer fraqueza exacerbada. E o futebol não é uma ciência exacta, as equipas têm baixas de forma, o jogador às vezes falha o remate e o treinador há dias em que não acerta uma substituição. Acontece. Mas no FC Porto, em 2011, cada vez é mais difícil falhar e a pressão que essa exigência acarreta transforma as pessoas, fá-las escravas da sua própria actividade.

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Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 2 SC Braga

Imaginem-se num jardim zoológico. Estão em frente a uma certa zona onde alguns belos espécimens do mundo animal brincam alegremente, com os dotes que Deus lhes deu aplicados ao convívio salutar entre aqueles de que gostam e conhecem. Para lá das tradicionais brincadeiras entre os membros da mesma espécie, reparam que há uma empatia entre os bichinhos que surge após uns minutos de estranheza comum mas que gradualmente vai transparecendo para o exterior, surpreendendo os observadores, que já não iam ao zoológico há tanto tempo e só os vendo pela televisão não estavam habituados a ver os animais a interagir com um grau de maturidade a um nível tão interessante. Entretanto, tão distraídos estavam no meio desta utopia, nem reparam nos macacos da jaula que estava uns metros ao lado e são surpreendidos quando os mesmos símios procedem a atirar dois grandes montes de fezes na vossa direcção. Não vos acertam em cheio, mas houve alguns salpicos que quase manchavam a vossa experiência. Se a metáfora falhou redondamente, a culpa é vossa, porque isto foi o que vi hoje à noite no Dragão. Notas abaixo:

 

(+) Hulk É o jogador mais importante do FC Porto neste momento, porque vai conseguindo mascarar alguma ineficácia ofensiva da equipa através das jogadas individuais. Depois de uma primeira parte relativamente ineficaz, Hulk conseguiu marcar o primeiro de cabeça depois da melhor movimentação de equipa dos 45 minutos iniciais (com Defour e James ao barulho) e na segunda parte subiu ainda mais a produção com o segundo golo (excelente remate) e a assistência para Kleber marcar o terceiro. Kleber, aliás, que só tem a lucrar com um Hulk criativo e prático, que não aconteceu na primeira parte principalmente pelo excelente jogo dos centrais do Braga, que o forçavam a desviar-se constantemente para longe da baliza e a perder ângulo de remate. Quando teve oportunidade de aparecer pelo flanco a história foi diferente, para melhor. Acabou o jogo exausto e o penalty que cometeu é exemplo disso, já que a forma como se lançou como um tolinho sobre o jogador do Braga é ridícula, só explicável quando o jogador já está de rastos fisica e mentalmente. E teve sorte em não ser expulso…

(+) Fernando Importantíssimo na cobertura defensiva, parece que temos o Fernando a 100% depois do início de época menos produtivo, com Vitor Pereira a procurar alternativas entre outros jogadores do plantel, desde Moutinho a Souza, nenhuma delas com o mesmo nível de produtividade competitiva que Fernando entrega à equipa. É surpreendente que muito embora possamos estar desde 2008 constantemente a reclamar que Fernando é um elemento que já deu o que tinha a dar à equipa, que é preciso outro, melhor, mais maior grande, um Patrick Vieira (que se arranja facilmente como todos sabem), pronto. E Fernando está sempre lá, sempre humilde e trabalhador, com momentos menos bons mas quase sempre com empenho e luta e alma. Essencial.

(+) Moutinho Um belíssimo jogo de Moutinho, finalmente. Parece um pouco diferente do João do ano passado na medida em que tenta mais passes de ruptura e mantém menos tempo a bola nos pés, o que lamento mas tendo em conta o estado de ansiedade da equipa e a vontade de matar os jogos mais cedo até consigo compreender. No entanto, para lá da pequena mudança de estilo, esteve muito bem no meio-campo, a rodar o jogo para os sítios certos, abrindo espaços para Álvaro quando estava no lado esquerdo e rasgando o campo em passes bem medidos para Hulk e Djalma, do lado direito. Teremos o nosso 8 de volta? Pelos dois últimos jogos, tudo indica que sim.

 

(-) Maicon na primeira parte Vitor Pereira pode estar ainda a castigar Fucile pela exibição na Rússia, mas a verdade é que Maicon, por muito que tente e se esforce para ser uma opção válida para a equipa, obviamente não será na lateral direita que se vai afirmar, por muito que o nome ajude. Maicon só é sinónimo de defesa direito no Internazionale e a forma como se deixa antecipar por extremos velozes ou outros que nem por isso, como foi o caso de Paulo César hoje no Dragão, é sintomática de um jogador que luta, mas não sabe nem tem características morfológicas para ser um jogador que nos dê garantias de alta qualidade naquela posição. Melhorou na segunda parte, mas não foi bom.

(-) Público na substituição de Defour Inexplicável e surpreendente, ao nível de ouvir os adeptos do Braga a mandarem o próprio treinador para o sinónimo fálico que todos conhecem. Defour, cansado e claramente em baixa de rendimento depois de uma boa primeira parte, foi bem substituído por Souza para refrescar o meio-campo. Nada de especial…a não ser para tanta gente que aparentemente não consegue perceber que quando um rapaz está estourado não consegue render e que a equipa estava a precisar de uma injecção de força no centro do terreno. São estes os mesmos adeptos que aplaudiam quando Raul Meireles, qual relógio suíço, saía TODOS os jogos por volta dos 70 minutos ao som de aplausos, fazendo tanto ou menos que Defour fez nos últimos dois jogos? É difícil de compreender esta malta.

 

Duas já estão, só falta a terceira. Desde o absurdo resultado de Coimbra que se estabeleceu oficiosamente entre os sócios que os três jogos seguintes iriam ser responsáveis pela manutenção ou não de Vitor Pereira no comando. Não sei se é a verdade como a SAD a vê, mas sei que a maioria dos portistas que estavam de fora, por muito que pudessem ou não concordar com essa mesma premissa. O que é certo é que o futebol praticado pós-Taça tem sido bem superior ao que tinha vindo a ser exibido até então. Não faço ideia, mais uma vez, se tal se deve a Pinto da Costa, aos jogadores ou ao próprio Vitor Pereira. Mas as coisas parecem estar a ganhar um formato de normalidade, por muito que os nossos padrões de exigência estejam num ponto bem mais baixo do que é habitual…

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Talvez o único comentador desportivo inteligente deste país

O FC Porto já sabe que não sai da Europa em Dezembro. O fantasma do afastamento prematuro das competições da UEFA está posto de lado , mas falta saber em qual delas vai competir na viragem do ano. A maior consequência do triunfo na Ucrânia – e a que verdadeiramente conta nesta altura – é que os dragões mantêm em aberto a hipótese de prosseguirem na Champions. Se o FC Porto estivesse a viver um momento de estabilidade emocional , dir-se-ia que só falta passar o Zenit ; mas como a realidade não é exactamente esta , é melhor dizer-se que ainda falta passar o Zenit.
Vitor Pereira e os jogadores pregaram uma valente rasteira à crise , só que é preciso esperar para se perceber se ela fica mesmo no chão. A questão , no fundo , resume-se a isto : o técnico jogava frente ao Shakhtar muito da sua sobrevivência , mas os jogadores também. No caso de Vitor Pereira arriscava o cargo , no caso dos jogadores arriscavam ficar fora da “montra”. Um falhanço seria péssimo para todos. Além do mais , após o desastre de Coimbra , ninguém lhes perdoaria um segundo fiasco consecutivo. O universo portista está habituado a tudo menos a estes desaires incompreensíveis. Pode ter residido nesta convergência de interesses e intenções o facto dos dragões terem revelado um espírito de entreajuda que , pura e simplesmente , não constou do desafio com a Académcia.
Os portistas obtiveram uma importante vitória , mesmo que não tenham feito um grande jogo. Pode não ter existido até uma particular articulação , mas houve um inquestionável empenho. Em condições adversas – dez graus negativos – e tendo pela frente uma equipa que jogava a cartada final pela manutenção europeia , o FC Porto passou por várias fases durante a partida. Sendo bafejado pela felicidade (a bola foi duas vezes aos ferros) , teve em Helton o homem-chave quando mais ninguém podia evitar o pior , lucrou com o rasgo de génio de Moutinho que abriu caminho para o golo do improvisado ponta-de-lança Hulk e recorreu ao “bombeiro” Fernando quando alguém se esquecia de apagar os fogos. Mas também revelou problemas no eixo central da defesa , sobretudo quando Luiz Adriano se lembrava de pôr a cabeça em água a Otamendi e Rolando. Seja com for , o desfecho não podia ter sido melhor. Ganhar – quando qualquer outra alternativa seria fatal – , acaba por ser uma recompensa merecida.
Falta saber , agora , o que verdadeiramente representa este triunfo em termos de curto/médio prazo. Da mesma forma que o FC Porto não saiu do mapa com a eliminação da Taça de Portugal , também não se transformou na “velha máquina” com esta vitória. O que vai ser a equipa é algo que só os próximos jogos vão determinar , começando já pela partida com o Braga. A reabilitação é viável , como se viu em Donetsk , mas isto vai depender unicamente da forma como todos souberem lidar com ela.

in Jogo Jogado
(negritos são da minha responsabilidade)

Chama-se Mário Fernando, trabalha na TSF e faz uns biscates na SIC Notícias. Uma vénia.

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