Welcome back, FC Porto. Agora, bem mais a sério e com um troféu para trazer para casa, que sinceramente não me apela a nível estético mas que vale tanto como qualquer um dos outros dezanove que lá temos prontos para exibir no Museu. Foi um jogo bom, bem conseguido, com pressão alta, dinâmica no meio-campo, qualidade no passe, estrutura firme e estável em campo, lances de golo bem concretizados e outros tantos (vezes três) que ficaram por marcar. Soubemos aproveitar erros adversários à italiana, pressionar alto à inglesa, construir jogo sustentado à alemão e criar lances de golo à espanhol. Somos uma pan-equipa em construção e parece que vamos no bom caminho. Sigamos então para as notas:
(+) Lucho. Perfeito como “10” descaído, a aproveitar as diagonais que o segundo “médio defensivo” ia criando, à medida que o “extremo” fluía para o meio e o jogo se tornava tacticamente mais eclético (daí as aspas nas posições) e suficientemente confuso para o adversário. Assistiu Licá para o primeiro e marcou o terceiro, sempre com uma capacidade de leitura de jogo que já me habituou há tantos anos e mostrou que está fresco, com cabeça e a mandar na manobra da equipa como poucos. Quintero será o seu mais directo adversário, mas com um estilo muito mais head-on, de encarar o contrário de frente, algo que Lucho nunca fez porque sabe que não é vantajoso para si. Joga muito bem, este moço.
(+) Licá. Finalmente, o Licá que eu esperava apareceu e na altura certa. Teve o timing perfeito para acelerar de uma forma imparável para receber de Lucho para fazer o primeiro golo e trabalhou incessantemente para conseguir o segundo ou, no pior dos casos, ajudar a equipa a marcar mais. Mostrou que está mais calmo, mais ciente da responsabilidade que é ser titular numa equipa como o FC Porto, e tanto ele como todos nós temos tudo a ganhar com isso. Já não me lembro de ver ninguém a correr tanto na frente desde que Lisandro saiu para o Lyon…
(+) Todos os jogadores da defesa. Otamendi continua a ser o patrão da defesa e assumo aqui perante todos que acho que ele é o melhor defesa do Mundo na intercepção rasteira. Já disse, está dito. Mangala esteve perfeito, sem inventar, a marcar qualquer adversário com imponência física e controlo de território. Fucile foi dinâmico, entendeu-se muito bem com Varela e Lucho e inclinou o jogo para o flanco direito enquanto teve pernas (e enquanto foi necessário). Alex Sandro esteve certinho a sair com a bola controlada, menos bem no passe mas sempre com noção perfeita do espaço a ocupar e da posição dos seus colegas em alturas de maior perigo para a própria baliza. O Guimarães não criou perigo suficiente, mas a defesa esteve muito bem tanto a atacar como no papel mais tradicional.
(+) O controlo da posse de bola. É assim que uma equipa campeã deve entrar numa época. Mandona, com os galões firmemente cravados na frente de uma metafórica soqueira que usa para ir batendo no adversário (metáforas, mais uma vez, até porque o jogo foi bem calminho) à medida que se vai afirmando como maior e melhor. É em campo que os campeões se fazem, é neste nível de domínio territorial com bola que devemos sempre entrar em campo, aniquilando os jogos logo de início para gerir a posse de bola até ao fim com os ritmo que nós quisermos impôr. Deu-me gozo ver o jogo, palavra.
(+) O público. Estupendo o apoio dos adeptos portistas mas também excelente a claque do Guimarães. É muito raro poder elogiar algo que venha de Guimarães por razões históricas, mas ponho de parte o meu preconceito, como deveria fazer muito mais vezes, para dar os meus parabéns à atitude, ao apoio constante à sua equipa, à atitude na altura da entrega da Taça tanto pelos adeptos como pela própria equipa adversária. Foi bonito de ver e gostava que fosse sempre assim.
(-) O Guimarães, à porta da Europa League. Não sei, como ainda ninguém sabe, qual vai ser a sorte destes rapazes na Europa…mas com erros deste tipo e com uma estrutura defensiva tão estável como um pedaço de manteiga ao sol…ou mudam muito ou não auguro grande futuro aos rapazes. Boa-vontade não chega.
No final de contas, o que interessa é o troféu, mas neste caso conseguimos juntar a taça a uma boa exibição e à confirmação que a equipa está no bom caminho e que podemos pensar positivo em relação ao arranque do campeonato. Porque Supertaças há muitas (nós que o digamos) e não contam para grande coisa para lá do número de conquistas oficiais. As Ligas, a lusa e a dos campeões, essas é que interessam.