Balancemos – Q3 2013

Seguimos em frente com o terceiro trimestre do balanço do ano que ontem nos deixou:

Julho

foram quase 1700 posts totalizando cerca de 615 mil palavras escritas que receberam mais de 9700 comentários, muito vernáculo, alguma arrogância, temperadas com um misto de parvoíce e racionalidade que é, admito, uma espécie de imagem de marca.

Recuso-me a aceitar que a opinião fundamentada, pessoal e completamente transmissível pelos bítes e baites dos tubos interligados, se deixe cair num fosso que canalize para duas fontes apenas o “textbyte” absurdo do comentário rápido ou a longa análise em jornais e revistas da especialidade.

a nossa história tem de ser lida, conhecida, estimada e guardada para transmitir às novas gerações. Para que saibam que o FC Porto não é feito só de pipocas no Dragão, cartazes ou cânticos para jogadores que chegaram ao clube há 20 minutos ou patrocinadores mais ou menos obscuros nas bordas das camisolas.

Notou-se a mudança de Carlos Eduardo para Lucho como se tivéssemos pegado numa jarra de cristal com tulipas e a colocássemos na mesa em vez de um tupperware de sopa de nabos.

Primeiro de tudo: puta que pariu a “raça latina”. Este tipo de equipas para jogos de pré-época devem ser um Deus me livre para os jogadores porque o adversário simplesmente não pára. Correm como chitas atrás de saborosas gazelas, acertam em tudo o que vêem com uma intensidade tal que mais parece que estão a disputar uma final da Libertadores.

se demorar mais tempo a escrever uma crónica ou uma análise ou se falhar alguns jogos do FC Porto ao vivo e tiver de os ver em directo ou diferido pela têvê, o motivo é o que está na foto.

Quanto ao nosso, a ser inaugurado daqui a cerca de dois meses, que tenha mais visitantes que o vosso (very unlikely, mas ninguém me impede de sonhar) , que seja mais bonito, com melhor circulação de ar, esteticamente mais agradável, arquitectonicamente inovador, que cheire melhor e que tenha taças mais bem polidas. E que ambos sirvam para enaltecer as glórias próprias e não as infelicidades alheias.

Não queiram fazer omeletas sem que a galinha acabe de parir o ovo. Tenham calma, não se exaltem, critiquem o que devem criticar, mas façam-no jogo-a-jogo, não exacerbando a parvoíce como já vi em muito blog durante todo o dia de ontem, porque estamos tramados e porque não houve evolução desde o ano passado e a merda é a mesma e as comissões e os empresários e falta um jogador para a frente que faça a diferença e yadda yadda yadda.

Agosto

muito se vai dizer deste primeiro jogo, onde as dores de crescimento ainda vão ser evidentes e que podem causar muito desconforto se as coisas correm mal. E se correrem bem, vais ver que os maldizentes, internos e externos, vão arranjar sempre maneira de descobrir podres. É isso. Bem-vindo ao FC Porto.

É em campo que os campeões se fazem, é neste nível de domínio territorial com bola que devemos sempre entrar em campo, aniquilando os jogos logo de início para gerir a posse de bola até ao fim com os ritmo que nós quisermos impôr.

É um regresso aos tempos em que debaixo de um calor abrasador, talvez no Algarve ou em Espinho ou em vários outros sítios onde tive a sorte de poder ir passear nos estios que já vivi, enquanto a família dormia uma merecida sesta sob uma qualquer sombra ou no fresco de uma divisão arejada e bem resguardada do sol, lá me deslocava a caminho da papelaria mais próxima, usando o dinheiro que tinha na altura e poupava para poder gastar neste tipo de extravagâncias, e comprava o guia para a próxima temporada.

Tenho pena, acreditem que sim. Mas também quero ver o FC Porto a vencer e quero ter os melhores jogadores nas melhores posições. E Castro, muito à imagem de Paulo Machado, Vieirinha ou Atsu ou vários outros que surgiram em tantos momentos diferentes do nosso passado e que subiram da formação para não conseguirem vincar um lugar no plantel principal, não seria a melhor solução para o lugar.

Serão quarenta e quatro jogadores, com outras quarenta e quatro notáveis omissões que me sentiria mal se não mencionasse. Porque esta escolha de apenas onze não bate com a minha maneira de pensar e não me consigo limitar a apenas uma equipa, tantas foram as que me deram alegrias durante a minha vida.

Vamos apanhar muitos destes, na sua parte boa e má. A boa é que são gajos lutadores, rijos, que se antecipam muitas vezes aos nossos avançados, médios, defesas, guarda-redes e apanha-bolas, o que nos deve deixar sempre atentos. A parte má, é que são mais caceteiros que uma padaria num Domingo de manhã.

Foi um daqueles jogadores iluminados pelos deuses que transforma alguém que deteste futebol num ávido amante da bola. Por toda a magia que me deste, número dez, por fintares tantos adversários com os dois pés, pelas centenas de vezes que gritei que eras melhor que o Pélé, obrigado.

Setembro

Vinte e seis remates. Há jogos assim, acontecem na 3ª Divisão búlgara, na Liga de Amigos das Estátuas da Ilha da Páscoa e nós não somos imunes a isso. Mas há jogos que me levam a ficar nervoso, palavra, porque começava a parecer injusto demais não termos já enfiado três batatas na baliza do Degra e a equipa continuava a não conseguir meter a bola lá dentro e CHUTA, RICARDO, OH FODA-SE que lá vai outra pro keeper e ANDA JACKSON, É FÁCIL! pronto e lá foi mais uma. São oportunidades a mais sem serem concretizadas e não podem deixar que seja um hábito. Dão-me cabo do batente.

É muito fácil converter facilidade em estupidez. As tradicionais idiossincrasias dos jogadores transformam-se rapidamente em idiotissincrasias, o povo chateia-se, boceja, aborrece-se e espera pelo próximo jogo.

Não estamos habituados a ver o Porto fraquejar nestas alturas e há um medinho particular que me atravessa os poros e me faz pensar que se calhar ainda nos vamos ver lixados para mandar abaixo estes moços. Mas quero que saibas que estamos todos à espera de uma vitória, com mais ou menos dificuldades.

chegamos ao local do costume, onde o habitual hiperbólico adepto portista tem um pequeno ataque de nervos quando a equipa joga mal e em vez de olhar para o jogo e analisar o que lá se passou, logo vai apontar armas a tudo que mexe de azulebranco. Eu, como tantos outros, não gostei do jogo de ontem, mas para tanta gente há uma distância de um palito partido entre um mau passe do Josué e o bota-abaixismo da SAD, de todos os treinadores, do plantel, da relva e do calendário.

Fomos roubados hoje na Amoreira. Os adeptos portistas que lá se deslocaram, juntos com os que viram pela televisão, os que não puderam ver o jogo em directo e os que nem sequer viram o jogo de propósito (sim, meus caros, há muitos portistas assim), todos eles foram despudoradamente assaltados hoje à noite. Roubaram-nos a alma. Tiraram-nos a estrutura que tínhamos, a inteligência competitiva, a capacidade de resistir a uma pressão que empurra com a força de um infeliz sem-abrigo que dorme ao relento em noites de inverno. Pilharam a calma de uma defesa férrea que oxidou e não parece resistir a semi-equipas e avançados lutadores mas pouco mais. Pior, roubaram-nos um meio-campo que betumava buracos e abafava contrariedades com espírito de luta.

Há confusão, desorganização, desatenção, há tanta coisa mal que vou desesperando sempre que saímos em posse para o ataque. Há pouco tempo para construir uma equipa do início, mas temos de tentar corrigir alguns dos problemas para evitar males maiores.

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Baías e Baronis – Sporting 0 vs 0 FC Porto

Nota prévia: esta crónica vai estar repleta de vernáculo. Assim cheia cheiinha como um prato de bacalhau de Natal com couves e pencas e batatas e molho fervido, como se faz cá em casa. Porque vi o jogo com um nervosismo acima do normal e porque me ia sentindo mais chateado à medida que a partida ia decorrendo. O jogo foi vivo, dinâmico, demasiadamente partido para ser visto com normalidade, apesar da baixa importância da competição. Um clássico é um clássico, goddamnit, por isso a emoção foi crescendo dentro de mim e ia saindo aos poucos sob a forma de insultos genéricos, diatribes descontroladas e palavras avulsas atiradas para o écran. E no final, uma sensação de dever cumprido mas sem a força de outros tempos. Somos uma equipa jeitosa, com pouco talento e demasiados erros, mas que ainda sinto poder ser trabalhada para vencer esta e outras provas nacionais. Enfim, vamos a notas que se faz tarde:

(+) Fabiano. Não há grande volta a dar: o rapaz deu muito bem conta de si e confirmou que é uma excelente opção para funcionar como understudy do Helton. Se tirarmos da vista algumas falhas nos cruzamentos, onde pareceu sempre apontar para a cabeça de Maicon, esteve em grande durante todo o jogo, defendendo tudo que lhe apareceu à frente (e não foi pouco). Com os pés jogou sempre simples e sem inventar, mesmo quando a tarefa não lhe foi facilitada por Alex Sandro que lhe passou várias vezes a bola para tão longe que o rapaz teve de se esticar todo para não fazer cagada. Mas aquela jogada do Carrillo onde Fabiano lhe sacou a bola dos pés, para depois defender um remate à queima do André Martins (creio) e correr para a baliza para se lançar e evitar o golo do Cedric…é estupenda e mereceria um aplauso de pé se lá tivesse estado. Grande jogo.

(+) Os centrais. Quase impecáveis na defesa da área, tanto Maicon como Mangala conseguiram evitar quase todas as situações de perigo pelo ar e pela relva. Maicon esteve excelente nos cantos defensivos, aviando tudo que lhe aparecia pelo ar, e Mangala também muito bem na marcação e no corte de alguns lances perigosos que os jogadores do Sporting, na sua forma oh-tão-rápida de atacar e de lançar bolas lá para o meio, perceberam que não seria por ali que criariam perigo e toca de mandar a bola para as alas onde se saíram bem melhor. Com dois centrais assim…não calça mais nenhum.

(+) Fernando. Enquanto esteve em jogo foi o único elemento do meio-campo portista que conseguiu lutar contra as debulhadoras de verde que por ali andaram e que jogaram mais vezes com os braços e com as pernas sem a bola (e sobre os nossos macios jogadores) do que de facto com ela. E se tivesse um poucochinho mais de talento para saber o que fazer com a bola depois de subir a cavalgar pelo terreno fora…era do carago, isso é que era.

(-) Herrera. Tem de ir rapidamente ao médico para perceber se sofre de qualquer forma mexicana de narcolepsia. Há alturas do jogo em que lhe parece parar o cérebro e alhear-se do lance que está a decorrer QUANDO TEM A PUTA DA BOLA NOS PÉS! Não consigo entender-te, coño, palavra que não, mas se não mudas rapidamente a tua capacidade de estar atento 100% do tempo em que estás em campo, vais levar muitas mais notas destas. O que custa mais é perceber que o rapaz até tem talento e é invulgarmente forte para a constituição física aparentemente débil…mas deita tudo a perder com passes falhados em demasia (e em situações perigosas para a defesa) e esses blackouts pontuais. Acorda, homem!

(-) Os laterais, especialmente a defender. Danilo até tem vindo a fazer uma época jeitosa, mas insiste em falhar consecutivamente no primeiro passe/arranque/sprint ofensivo, desiquilibrando a equipa e tornando-a permeável a contra-ataques rápidos. Diversas falhas defensivas por mau posicionamento, corrigiu e melhorou na segunda parte. Alex Sandro continua a jogar mal, sem garra e sem cabeça, com passes cruzados de trinta metros que estão destinados ao falhanço antes sequer de sairem dos pés dele e incompreensíveis momentos apáticos em que parece esquecer-se da bola. Haverá um vírus Herrera?

(-) Licá. Inconsequente. Sem capacidade de ultrapassar o adversário directo, insistiu em cruzamentos que batiam sem falha no gajo que estava à sua frente. Lutar é giro e tal mas para isso já cá tivemos um argentino (que até marcou um golaço ao Sporting) que fazia o mesmo e pouco mais. Juro que pensei que ia conseguir ser mais do que está a mostrar ser. Parece que me estou a enganar com o rapaz.

(-) A habitual filhadaputice do gamanço. Ora então vamos lá a isso. Já não é de agora que esta merda me fica atravessada (lembro aos leitores esta pérola de aqui há uns anos: http://www.porta19.com/2012/01/basta-me-pensar-um-bocadinho-lembro-me-logo-sempre-saimos-de-alvalade-sinto-como-uma-ourivesaria-na-almirante-reis/) mas parece que há uma insistência divina em fazer com que a história se repita. E acontece sempre no mesmo caralho do mesmo estádio que agora até tem nome diferente mas onde já devíamos estar habituados a ser assaltados quando lá passamos. E raramente são lances parvos de penalties, que só hoje houve praí quarenta reclamações de mãos e saltos e pinchadelas de verdes para a piscina, porque André Martins e Wilson Eduardo devem gostar mais de lamber cricas do que jogar à bola e andam sempre com os dentes a roçar na relva. Mas ao mesmo tempo, esse mesmo André Martins adooooooooooora dar pontapés nos gémeos dos adversários e safa-se com muita facilidade. Uma palavra também para o próximo trinco da Selecção, que é um jogador muito acima da média mas que hoje devia ter levado um vermelhinho por uma trancada que deu no Varela que só não lhe pôs a perna a sangrar porque não lhe acertou em cheio. E esse mesmo Varela, que foi parvinho por responder a mais um encontrão do insurrecto do defesa-esquerdo que joga naquela zona (porquinho mas normal num jogo destes) e levou um cartão amarelo, ficou à espera que o adversário também levasse um da mesma cor, mas nada acontece. E Cedric, no meio das suas quarenta e nove faltas, todas elas reclamadas com mãos na cara e lamentos de virgem fodida por doze hunos, lá se foi safando até ao final. Ou Adrien, que foi ou será lenhador noutra vida e que parece pensar que o futebol se joga acima do joelho, também escapou pelos pingos da chuva dourada que aposto deve gostar. Tudo isto para depois, inclemência nunca única e certamente repetida (como, citando os exemplos do post acima, Maicon, Emerson ou Costinha e as facilitadas de Rui Filipe, Kostadinov, McCarthy, Mielcarski, Seitaridis e Domingos), toca a expulsar Carlos Eduardo por uma falta que tantos, mas tantos, TANTOS FILHOS DA PUTA DO OUTRO LADO TINHAM FEITO ATÉ AÍ! Enerva-me, pois claro que me enerva. Enerva-me porque é sempre a mesma merda com aquela gente. Os que se queixam mais são habitualmente como o defesa que levanta o braço para reclamar fora-de-jogo. A culpa, na maioria dos casos, é mesmo dele.


Empatámos, o que nem se pode considerar um mau resultado tendo em conta que era o jogo mais complicado e que os dois próximos encontros se jogam no Dragão e onde duas vitórias podem selar a qualificação para a próxima fase. Esperava mais da equipa? Sinceramente, não. Tive o que estava à espera, algum controlo emocional perdido, inúmeros passes falhados na saída para o ataque, ineficácia ofensiva e suficiente cobertura defensiva para aguentar um jogo complicado. Meh.

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Baías e Baronis – Rio Ave 1 vs 3 FC Porto

É uma vitória que assenta bem e apesar da qualidade do nosso futebol não ter sido nada que me faça lançar foguetório, a verdade é que conseguimos sacar três pontos num campo complicado. O jogo foi melhor, mais solto mas polvilhado por enormes nuvens de incerteza pela lentidão de longos momentos da partida e pela constante intrusão das falhas defensivas, onde Otamendi esteve hoje em grande nível…negativo. As notas explicam melhor, vamos a elas:

(+) A troca (no terreno) do triângulo do meio-campo. Há naturalmente um enorme beneficiado com a cambiante 1-2 do meio-campo: Fernando. Não há dúvida que joga melhor quando está solto, a controlar a “sua” zona sem o atropelo de ter um homem a seu lado nem com a prisão de manter um contacto directo com ele. A verdade é que Lucho joga melhor quando está mais recuado (apesar de hoje não ter estado em grande nível) e o facto de ser ele a ocupar aquela posição faz com que o triângulo vá rodando com a posse de bola, mas é Fernando que aproveita a liberdade da melhor forma. Fonseca, por favor, mantém os gajos neste esquema. Dá muito mais moral aos rapazes.

(+) Carlos Eduardo. Entrou para a equipa cheio de vontade, sem pressão e com fome de bola. Ainda lhe falta ritmo e persiste nalgumas quedas parvas quando perde o controlo da bola e a trajectória que quer traçar. Mas mostra o que Lucho não tem conseguido mostrar nos últimos jogos: pega na bola, corre com ela e mexe com o jogo. É um bom exemplo que este rapaz representa, aquela noção que por vezes uma passagem pela equipa B a ganhar ritmo e a mostrar qualidade fazem maravilhas por um jogador. Com Carlos Eduardo, parece ter funcionado. Espero pelos próximos jogos para confirmar a valia do moço.

(+) Maicon. Está em boa forma e acima de tudo está a jogar simples como aprendeu a fazer em virtude das circunstâncias…diria populares. É isto que eu quero de um central, carago: um gajo alto, forte, que jogue bem de cabeça, marque golos em livres cruzados para a área e limpe a bola da zona defensiva ao biqueiro. Isso é o mínimo que peço e Maicon continua a montanha-russa que tem sido a sua carreira no nosso clube. Nunca será um jogador que põe a malta indiferente. Love him or loathe him, é o central em melhor forma no FC Porto.

(-) Otamendi não está bem. Parece que há sempre um defesa que me vai andar a comer a mioleira durante o ano e nesta altura é o argentino. Já foi Mangala e Alex Sandro tem também papel importante na estupidificação de alguns lances com bola controlada na defesa, mas Otamendi está a bater qualquer um aos pontos porque está a tomar as opções erradas em quase todas as jogadas em que é interveniente. O primeiro golo é culpa sua, pela saída absurda da posição para interceptar uma bola impossível. E só não sofremos um segundo pelo mesmo lado porque Helton defendeu e Maicon cortou para canto. Merecia o tratamento do costume: umas chibatadas do Paulinho, às quais somava um banhinho em alcatrão e uma bela cobertura em penas. E um ou dois jogos na bancada.

(-) Jackson, apesar do golo. Demasiado complicativo e a jogar quase sempre para as costas, sem ver sequer se um colega estava pronto para receber a bola. Marcou o golo, mas espero sempre mais dele do que perder bolas consecutivas e desperdiçar ataques como um ricaço a acender charutos com notas de quinhentos. Implorei a Fonseca que o tirasse a meio da segunda-parte, mas acho que o mister só me ouviu aos 88 minutos. Como de costume.

(-) Licá não pode ser extremo. Não pode. Criou duas jogadas de perigo quando apareceu na pequena área. Não conseguiu um lance decente pela linha. Tem sido uma constante em quase todos os jogos de Licá pelo FC Porto e questiono se pode ter lugar no onze se não cumpre na posição onde é colocado. Gosto do rapaz, luta muito e ajuda a equipa sempre que pode…mas as lacunas técnicas e tácticas podem lixar-lhe a vida a curto prazo.


Vencemos bem mas tive as minhas reservas, especialmente depois de ter reparado que a minha filha estava vestida com um casaco de malha…com riscas verticais verdes e brancas. Agoeirenta, a estuporada, mas ao que parece deu sorte. Sai um casaco vermelho quando formos à Luz!

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Baías e Baronis – Académica 1 vs 0 FC Porto

foto retirada de maisfutebol.iol.pt

E depois de dois empates, uma derrota. São sete pontos cedidos em circunstâncias que têm tanto de igual como de enervante. Não há estrutura física, táctica e mental no FC Porto em Novembro de 2013. Já atravessei momentos maus com o FC Porto e este é mais um que vai direitinho para um pódio que já lá tem o FC Porto de Octávio em 2001 e o de Couceiro em 2005, sem que consiga dizer ao certo qual deles apresentou pior futebol. A derrota é merecida porque me ponho a olhar para o jogo e tento perceber o que raio se passa na cabeça dos jogadores para se exibirem sem um mínimo de inteligência, organização em campo e convicção que têm um jogo pela frente que é imperioso vencer. Neste momento estamos na merda. Notas, apenas negativas, abaixo.

(-) Zero. Ora então aqui vamos nós. Zero. Foi isto que fizémos hoje em Coimbra. Zero ideias, zero concentração, zero vontade de jogar com cabeça, zero movimentos de ruptura no ataque, zero capacidade técnica, zero remates com perigo, zero jogadas de entendimento, zero concretizações, zero. Zero. É inútil pensarmos que as coisas são facilmente remendáveis com a mudança de um ou onze jogadores na equipa principal do FC Porto porque há uma deriva mental na grande maioria dos jogadores que faz com que raramente se consiga mais que um lampejo de um ataque fugaz que resulta invariavelmente numa tentativa amadora de criar perigo contra qualquer adversário que se nos é colocado. E podemos continuar a fugir para a frente, a pensar que a culpa é de A ou de B, do treinador ou dos jogadores, da SAD ou da senhora que muda o WC Pato, mas a verdade é que a culpa é geral. E não há culpa, havendo-a a rodos. Temos actualmente um plantel com soluções razoáveis, composto por um misto de experiência e juventude que milhares de clubes por esse mundo fora invejaria ter. Sim, perdemos James e Moutinho. Mas esses dois nomes não começam a tocar a pontinha do majestoso iceberg de estrume em que se transforma qualquer jogo do FC Porto desde que o árbitro apita para começar a partida. Paulo Fonseca lidera este bando de rapazes, uns com mais vontade que outros, uns sem dúvida com mais talento que outros, uns com mais garra que outros. Mas todos mostram uma fibra moral e uma determinação que neste momento vale…zero. Zero. Vale zero e hoje valeu zero porque qualquer corrida de um academista foi mais rápida que Danilo. Vale zero porque Mangala parece crer que é um Yaya Touré e decide começar a fintar a partir da sua própria zona de acção, perdendo a bola ao fim de quinze metros. Vale zero porque Alex Sandro se perde em fintas só para entregar a bola ao adversário. Vale zero porque Jackson está consistentemente sozinho e Lucho aparece longe, quase tão longe como Josué ou Fernando, ambos com vontade mas inoperantes em virtude da desorganização geral. Há dois lances que mostram na perfeição o que é o FC Porto neste momento. No primeiro, Varela tem a bola à entrada da área pelo lado direito. No processo de procurar centrar a bola para a área, escorrega e perde a bola para Fernando Alexandre. O médio da Académica, rápido e com sentido prático apurado, pontapeia imediatamente a bola contra o dezassete do FC Porto, ganhando o pontapé de baliza. No segundo, Maicon tenta proteger a bola de Magique, que lhe ganha (mais uma vez) em velocidade e em garra, conseguindo ainda tocar na bola contra o brasileiro, ganhando o lançamento. Estes lances sucedem-se um após o outro em noventa insuportáveis minutos de não-futebol. E tudo isto com o mesmo treinador de braços cruzados, sem perceber o que se passa. Só que eu, cá fora, posso não perceber. Ele, para ser sincero, não.


Um amigo, um dos poucos bons amigos que tenho e que vejo muito menos vezes do que queria, respondeu-me a um email onde discutíamos o último álbum dos Arcade Fire, usou a seguinte frase: “estavam bem era a tocar esta merda de música nova no funeral do Fonseca, enquanto o Vitor Pereira ejaculava para cima da campa e da boca do Danilo, Otamendi, Mangala, Defour, Ricardo, Licá, Josué e Quintero!“. É portista convicto, este meu amigo e usa o vernáculo como poucos. E com maior ou menor badalhoquice, dou-lhe razão na metáfora.

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A pressão, a sobrepressão e as putas das sinédoques

Vou começar a repensar a minha visão dos jogos pré-Champions. Faço-o no rescaldo de uma vitória que valeu três pontos e uma batelada de dinheiro, apesar do mau futebol que a equipa mostrou em quase todos os momentos do jogo. Sim, ganhámos, mas os sinais de nervosismo e desconcentração generalizada não deixam perspectivas muito positivas.

Quando enfrentamos um adversário em vésperas de jogo grande, doméstico ou internacional, há uma pressão simpática. Ganhar o jogo sem demoras, com calma e futebol aceitável, é essencial para que o próximo encontro possa ser preparado nas calmas, sem chatices e inconvenientes de última hora. Mas a pressão que é colocada nos ombros dos jogadores, os mesmos que vão disputar ambas as partidas, é atirada sem problemas por todos para o próximo desafio, onde todos os adeptos esperam uma exibição convincente que decorra com naturalidade das poupanças físicas e mentais do jogo anterior. E a pressão, crescente, acaba por resultar numa avalanche de tremideira que não poupa ninguém. As mãos suam, as pernas não reagem, os corpos tremem e a caravana acaba por não sair dos blocos de partida como se antecipava. Mas espera-se mais, espera-se que haja mais esforço, mais luta, mais inteligência e acima de tudo mais maturidade. Talvez ainda não estejamos prontos para estas andanças, mas não desisto. Levei com um barrote nas têmporas mas não desisto. Mas penso no jogo que foi e espero que tenha abanado os rapazes e os tenha preparado para novos desafios, mais duros, mais apertados, com mais pressão e menos margem para falhas. Não desisto e ninguém deve desistir. Mas…

…mas chegamos ao local do costume, onde o habitual hiperbólico adepto portista tem um pequeno ataque de nervos quando a equipa joga mal e em vez de olhar para o jogo e analisar o que lá se passou, logo vai apontar armas a tudo que mexe de azulebranco. Eu, como tantos outros, não gostei do jogo de ontem, mas para tanta gente há uma distância de um palito partido entre um mau passe do Josué e o bota-abaixismo da SAD, de todos os treinadores, do plantel, da relva e do calendário.

Já vi tantas alusões a James e a Moutinho que me começa a enjoar. É o mesmo tipo de comparações à ausência de Falcao em 2011/12 ou de Hulk em 2012/13. Uh, mas agora são dois! E vendemo-los por sei lá quantos zilhões de euros. Yoo-fucking-hoo. O que nunca ninguém menciona, para lá do facto de Josué e Licá serem agora a escumalha da Terra que merecem ser transformados em pilares de areia mijada pelo crime de tocarem na bola, é que os mesmos James e Moutinho estiveram presentes na derrocada em S.Petersburgo, no desmoronamento em Manchester ou, e ainda pior, na humilhação em Nicosia, onde Hulk também jogou. E esses jogos também mereceram críticas a tudo e todos, para que a nação portista se erguesse nos pilares dos detestadores crónicos, que só estão bem a dizer mal.

Construir, corrigir, acertar as agulhas, não. Destruir e desmoralizar, já parece bem. Há dias em que é difícil ser portista, palavra.

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