Balancemos – Q4 2013

Terminando a retrospectiva até porque começa a ser tempo de olhar para a frente em vez de para o passado, aqui fica a última parte do olhar pelo que foi 2013 aqui no Porta 19:

Outubro

É um FC Porto pequeno, sem ideias na construção de jogo e com uma incapacidade assustadora de criar lances de perigo e de manter a bola controlada mais de alguns segundos perante pressão adversária. Perdemos e perdemos bem, com ingenuidades que se pagam muito caro a este nível.

Dói cá dentro, corrói a alma e desanima o corpo, faz-me atravessar sempre um deserto de ideias e uma invulgar incapacidade de olhar para o mundo de uma forma racional que pauta o meu dia-a-dia. É mais doloroso porque me bate a fria percepção que o nosso planeta encolheu para o tamanho de uma uva mirrada, que o nosso destino não passa do provincianismo de ganhar cá dentro, aos rivais de sempre e aos sacos de pancada que compõem a nossa triste Liga.

O Arouca fez o que o FC Porto o deixou fazer (e que foi muito mais do que devia) e vimos mais um episódio da actual subalternização do FC Porto, a baixar o ritmo de tal maneira que se torna difícil terminar o jogo sem um bocejo.

Não posso dizer ao certo, mas creio que um dos sinais do Armagedão acabou de bater à porta. Estou à espera de ver cavaleiros em chamas a cruzar os céus, elefantes cor-de-rosa a saltar delicadamente de nenúfar em alegre nenúfar, sem-abrigos a beber Glenfiddich de ’55 à golada, Elvis em concerto na Casa da Música, unicórnios com crinas bem escovadas e o Rui Gomes da Silva a dar mérito ao FC Porto.

Olho agora para os nossos rapazes de vermelho e verde e não vejo nem metade do talento, do espírito, da capacidade de luta e esforço. Vejo indolência, arrogância competitiva, lentidão na execução e desorganização colectiva que humilha os antecessores. Não vejo uma equipa. Não vejo alma, força, garra, vida. Dependem de Ronaldo como se de um Deus se tratasse, e rezam para que esteja em dia bom para que os outros possam estar em dia normal.

Estás-te a sentir sonolento, meu estupor. As pernas vão-te fraquejar, todo o teu corpo vai tremer e nem sabes o que te passa pela cabeça enquanto sobes os degraus que dão acesso ao relvado. Ao entrar em campo, vai-se-te soltar a bexiga e uma pinguinha de urina vai escorrer pelas tuas pernas abaixo e cair para o relvado. O Danny vai sorrir, esse cabrãozinho, mas não repete a celebração porque tu já lhe amarraste os guizos no balneário e lhe prometeste que o penduravas do telhado do estádio se se voltasse a armar em parvo.

Cheguei a casa destruído. Saí do estádio com a cabeça virada para o pavimento, os olhos firmes no solo à minha frente e uma sensação de quem acabou de receber um remate do Hulk direitinho no estômago depois de comer uma enorme malga de sarrabulho.

Fonseca, põe os gajos a apontar para um poste a cinco metros. Falha, enche vinte e leva uma chibatada do Paulinho Santos. Falha outra vez, enche mais e o Paulinho dá um nó na chibata. Ao fim de três, começam a acertar no meco, garanto-te.

É este o melhor exemplo do quarto poder, o condicionamento de almas e mentes que é tentado continuamente por este tipo de súcia anti-portista (anti-o-que-quer-que-dê-jeito, para ser correcto) que insiste neste tipo de highlightificação do pormenor, esquecendo o pormaior.

Novembro

A transmissão da experiência de vários anos a jogar em campeonatos diferentes, com convívio e partilha de balneários com culturas, raças e passados tão diversos que os transformam numa espécie de cicerone de uma torre de Babel que só existe dentro das cabeças de quem os nomeia.

E não percebo como é que o Nico falha tantos passes, como é que o Alex Sandro não pode com uma gata bébé pela cauda e porque caralho é que o Lucho faz tantas tabelinhas se os colegas não conseguem dominar a bola de primeira. Isso é outra coisa, também não sei porque é que o Licá controla bolas que vem pelo ar como um míssil e depois a cinco metros atrapalha-se como um virgem a meter um preservativo

Lembro-me da elegância de Aloísio, que deslizava pelo relvado à procura do momento certo para o toque perfeito a interceptar um ataque adversário. Era um prazer assistir aos jogos do brasileiro a partir das velhinhas bancadas das Antas, enquanto me sentava no cimento ou em poeirentas cadeiras de um azul que já o tinha sido mas que gradualmente se ia transformando num tom claro, gasto, poído. Vintage, para soar melhor. Bintage, com o sotaque certo.

Continuamos a oferecer lances de golo aos adversários e há uma indolência que raramente vi numa equipa do FC Porto que parece invadir os jogadores e possuí-los de uma forma inacreditável, tornando-os lentos, torpes, sem imaginação, sem vontade de jogar e acima de tudo de ganhar.

Já perdoei tanta coisa aos rapazes que vestem a nossa camisola. Aturava os copos do McCarthy, não ligava à lentidão do Capucho ou às fungadelas do Jardel. Não me chateava muito com o Quaresma que não defendia, o Sapunaru que não atacava, a mesma porra da mesma finta que o Tarik fazia, os remates tortos do Maniche, os passes transviados do Lisandro ou os cabeceamentos falhados do Derlei. Todos estes tinham o seu papel a desempenhar e faziam-no bem, com afinco, com vontade e com garra. O que vejo hoje é diferente.

Dezembro

Começa a ser perigoso para a minha espinha opinar sobre as exibições deste estupor. Talvez tenha sentido na pele o que é esperado dele depois do jogo contra o Nacional, onde jogou ao nível de um caracol bêbado, e despertou para um belo jogo em que lutou que se fartou e saiu, ao contrário do que tinha acontecido nesse jogo, com uma salva de palmas bem merecida.

Há nervosismo a mais, precipitações e excessos de confiança e uma aparente incapacidade de tantos rapazes em parar para pensar, em conseguirem ter a calma de perceber o que podem ou não fazer durante um jogo. Acima de tudo, parece haver uma ridícula quantidade de passes falhados pela tentativa atabalhoada de executar depressa o que nem devagar se consegue. E todos já vimos aqueles mesmos fulanos a fazer tão melhor do que têm vindo a mostrar em campo, o que torna as coisas ainda mais enervantes.

Devemos ser, neste momento e em situações de nervosismo mais elevado, o ataque mais lento e menos perigoso da Europa. A táctica não ajuda e o treinador não parece disposto a alterar a esquematização da equipa em campo, usando apenas um médio recuado em vez dos dois que agora coloca lado a lado.

Ouço Pink Floyd enquanto te escrevo estas palavras. Há tanta pequena coisa que te podia escrever, sobre a qualidade do nosso futebol, a facilidade com que a nossa defesa parece abrir brechas do tamanho das trincheiras dos campos cinzentos de Verdun ou pela ineficácia do nosso ataque, qual nerf gun defensiva apontada ao lombo de um elefante em investida perante o teu indefeso corpo.

Já não sabia o que isto era, para vos ser sincero. Sair do Dragão com quatro golos marcados já parecia uma memória antiga que se ia esfumando enquanto o tempo alegremente passa para mim, como o faz para todos, esse cabrãozinho.

acontece sempre no mesmo caralho do mesmo estádio que agora até tem nome diferente mas onde já devíamos estar habituados a ser assaltados quando lá passamos. E raramente são lances parvos de penalties, que só hoje houve praí quarenta reclamações de mãos e saltos e pinchadelas de verdes para a piscina, porque André Martins e Wilson Eduardo devem gostar mais de lamber cricas do que jogar à bola e andam sempre com os dentes a roçar na relva. Mas ao mesmo tempo, esse mesmo André Martins adooooooooooora dar pontapés nos gémeos dos adversários e safa-se com muita facilidade. Uma palavra também para o próximo trinco da Selecção, que é um jogador muito acima da média mas que hoje devia ter levado um vermelhinho por uma trancada que deu no Varela que só não lhe pôs a perna a sangrar porque não lhe acertou em cheio.

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Alguém viu o unicórnio?

imagem sacada de record.pt

Não posso dizer ao certo, mas creio que um dos sinais do Armagedão acabou de bater à porta. Estou à espera de ver cavaleiros em chamas a cruzar os céus, elefantes cor-de-rosa a saltar delicadamente de nenúfar em alegre nenúfar, sem-abrigos a beber Glenfiddich de ’55 à golada, Elvis em concerto na Casa da Música, unicórnios com crinas bem escovadas e o Rui Gomes da Silva a dar mérito ao FC Porto.

Saiu-me um peso das costas, que acartava há tantos anos (até escrevi sobre isso e vocês sabem que prefiro falar dos meus que dos outros, mas naquela altura, tal como hoje, não consegui resistir) e que me deixou mais leve, como se tivesse acabado de obrar a produção diária da Cimpor.

Quebrou-se um mito e eu não vi em directo. Maldição.

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Ouve lá ó Mister – Vitória SC


Mister Paulo,

Começa hoje. Tudo começa hoje, em Aveiro. Não te iludas com eventuais elogios que possas ter recebido até agora, porque todos caem num saco mais roto que a moralidade do Rui Gomes da Silva. Muito se disse até agora, dos jogadores que tens e não tens, dos meninos que possam pensar que têm lugar garantido no onze, das entrevistas para jornais cor-de-rosa mascarados com couro de uso desportivo e a cheirar a relva de plástico. E muito se vai dizer deste primeiro jogo, onde as dores de crescimento ainda vão ser evidentes e que podem causar muito desconforto se as coisas correm mal. E se correrem bem, vais ver que os maldizentes, internos e externos, vão arranjar sempre maneira de descobrir podres. É isso. Bem-vindo ao FC Porto.

Já vi que convocaste muita malta nova e não tem mal nenhum em teres optado dessa forma. Afinal de contas, tens pelo menos quatro habituées do ano passado que não podes chamar, três que saíram e um que foi estupidamente expulso em Paços de Ferreira e por isso também fica a ver o jogo da bancada. Não me choca, como te disse. E também não me vai chocar se escolheres dois ou três deles para avançarem para o onze. Diria três, mas um deles acho que todos conseguimos adivinhar quem será e espero que o meu homónimo esteja em condições físicas e morais. Mau era. Os outros dois…pá, deixo contigo. Tu é que sabes como é que eles estão, e se escolheres Defour ou Licá, Quintero ou Josué, Herrera ou Kelvin, it’s all fine by me. Nesta altura ainda é cedo para opinar acerca da forma individual de cada um, por isso deixo ao teu critério e não contesto. Nem é esse o meu papel, como vais perceber ao longo da época, só te dou a minha opinião e se não a seguires, a escolha continua a ser tua. Raios, até posso nem acertar numa única das tuas escolhas (com o Oliveira falhava consistentemente nas apostas) e se ganhares o jogo, eu não me importo nadinha, garanto-te.

O jogo não vai ser fácil, como nenhuma final é. Mas as finais, já diz o teu patrão e com toda a autoridade, não são para jogar, são para ganhar. Por isso boa sorte, arranca bem, e ganha. Acima de tudo, ganha o gosto pela vitória, para que a queiras sempre saborear em todos os jogos que por aí vem, tão ou mais difíceis que este.

Sou quem sabes,
Jorge

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Supporters Direct – EC Project Fan Survey

O amigo João Coelho, sociólogo e estudioso do fenómeno futebol, que editou o livro Porto 1987-2012: 25 anos no topo do Mundo que contou com a participação aqui de quem vos escreve, solicitou a minha ajuda na divulgação de um inquérito criado pelo Supporters Direct, um grupo de associações de adeptos de futebol por essa Europa fora que procura a melhoria do nosso desporto preferido de todos nós através de uma participação mais activa neste fenómeno que nos fascina a todos.

Este inquérito pretende perceber a visão de adeptos de toda a Europa sobre a forma como vêem o futebol e como crêem que deveria ser organizado, dando espaço a uma maior interacção entre os actores principais (Ligas, Federações e outras entidades oficiais) e nós, os humildes adeptos.

Dêem lá um salto e participem. Garanto que estão a fazer mais pelo desporto que o Rui Gomes da Silva.

 

LINK PARA O INQUÉRITO

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