Acabou o jogo. Salto, com braços erguidos no ar, a voz rouca a ecoar nas paredes do restaurante onde estava e os gritos eufóricos (fica o pedido público de desculpas a quem se tenha sentido ofendido com frases como: “a tua mãe havia de ter um avc, meu filho da puta!” mas não me consigo controlar, mea máxima culpa) depois de uma vitória épica a invadirem o panorama auditivo da cidade. Ganhámos. Graças a uma combinação quase perfeita de querer, de garra, de alma e de “nunca nos digam que esta merda está perdida porque ainda estamos vivos, caralho, e vamos estar vivos até ao fim!”, fomos a Lisboa arrancar três pontos da segunda melhor equipa em Portugal. E que jogo foi, meus amigos, com o resultado a saltar de um lado para o outro, luta leal pelo resultado, disputa até ao fim e uma vitória que nos assenta bem mas que podia tão facilmente ter tido um final completamente diferente. Valeu-nos a vontade de vencer e a coragem de Vitor Pereira, que vinte jogos depois decidiu afirmar a todo o mundo: “Olhem para mim, porra! Vejam o que eu sou capaz de fazer! É para ganhar? Vamos lá, cambada, vençam!”. Épico. Inesquecível. Siga para as notas:
(+) Os jogadores do FC Porto Não acreditava na vitória antes do jogo, palavra. Durante o dia, sempre que me perguntavam como é que achava que ia correr o jogo, só dizia: “Pá, não sei. Não estou confiante, admito”. Errado. Tão errado estava. Desconfiei de vocês e hoje provaram que estava enganado. Porque hoje foram heróis. Porque hoje, ao contrário do que já fizeram em tantos jogos, não se importaram em estar a perder contra uma excelente equipa. Porque apanharam uma primeira facada num golpe de sorte e uma segunda facada, bem mais profunda, num lance de bola parada bem apontado. Mas nunca desistiram. A imagem de cima mostra tudo, revela a união, a força de um balneário, a junção das vontades de todos para criarem a emoção da turba que vos apoia, que vos idolatra, que vos ama. A energia que colocaram em campo nas transições, na cobertura defensiva e passagem para o contra-ataque, nas bolas paradas e corridas, na intensidade do contacto com o adversário, na alma que precisam de mostrar para vencer um jogo destes…heróis, enormes, gigantes, deuses. A enorme mol portista que falará do vosso feito nunca vos esquecerá. E provaram hoje que são homens. Que conseguiram subir ao zénite e ficar por lá a apreciar as vistas. Hoje dormirei feliz por vossa causa.
(+) Os gigantescos testículos metafóricos de Vitor Pereira Cinquenta e oito minutos de jogo. Olho para a televisão e não acredito: sai Rolando, entra James. Em conversa com um amigo disse-lhe repetidamente que James não era a melhor escolha, que ainda não me parecia que tivesse fibra para estes jogos, que não ia resultar. E o demente do nosso treinador, quiçá possuído do espírito Adriaansiano, toca de enfiar Djalma a defesa-direito e James na frente por trás de Janko. Loucura, pensei. O homem está a arriscar a carreira em dois números que enviou ao quarto árbitro. E fê-lo, com uma coragem tão férrea como a Ponte D.Luiz, e ganhou. E a substituição de Moutinho, que adivinhei por ser mais que esperada, ainda mais risco trouxe, porque mostrou ao Benfica: “Estão a ver isto? É para ganhar, amigos, nós estamos aqui para ganhar o jogo!”. E o golo aparece. Vitor Pereira grita. Eu também. E respeito a força de vontade, a resolução granítica de pugnar pela vitória. Eu não teria tido a coragem de fazer a primeira substituição, quanto mais a segunda. Ele teve. E é por isso que lá está. Parabéns, Vitor.
(+) Maicon Simples. Prático. Eficaz. Dominador. Controlador. Marcador. Vitorioso. Nosso. Maicon está a ser uma excelente surpresa não só pela qualidade de passe e pelo controlo emocional durante o jogo (juro que se fosse eu que tivesse tido o Gaitan com a cabeça colada à minha tinha-lhe dado uma cornada de tal força que o mandava procurar o nariz na nuca), mas principalmente pela evolução que tem vindo a mostrar. “É o próximo senhor trinta milhões”, disse-me o meu amigo ao lado. Não sei. Mas que está nitidamente a crescer como jogador, não tenho dúvida.
(+) O golo de Hulk Só tenho uma pergunta: porque raio não tens tentado fazer isso mais vezes nos últimos jogos?!
Não há Baronis hoje. Até Jesus merecia um semi-Baía pela audácia na entrada de Rodrigo em vez de Aimar, mas optei por não o fazer. A glória é nossa e quero saboreá-la na totalidade. Ainda assim, para ser justo, é verdade que o golo da vitória é irregular porque Maicon está em fora-de-jogo. Mas é difícil de marcar e nestes casos, como sabem, dou sempre razão ao bandeirinha (podem inventar seiscentos nomes diferentes para a função, continuarei a chamar “bandeirinha”). No entanto, a vitória é justa pelo que conseguimos fazer depois dos momentos-chave do jogo. O golo de Hulk é um portento, a recuperação depois dos dois golos seguidos do Benfica é notável e a forma como soubemos manter a bola em nossa posse depois do 3-2 é prova que estes rapazes, quando querem, sabem jogar futebol do bom. Se não o fizeram num passado recente…já são outras histórias. Saímos de Lisboa (para não mais lá voltar neste campeonato, felizmente) com três pontos de avanço e vantagem no confronto directo. Voltamos a depender só da nossa própria performance. Não estava a contar. Estou feliz. Estou muito feliz.