Começo por citar algumas palavras que escrevi aqui há uns anos, na altura que Villas-Boas arrancou como treinador principal do FC Porto:
“Naquele que será talvez o início de época mais importante dos últimos anos, em que precisamos de estabilidade e tempo para maturar, para evoluir positivamente, para solidificar ideias e estratégias, para crescer como colectivo numa altura de indefinição…numa época onde temos muitos novos jogadores todos eles bastante jovens, com o período de adaptação que todos atravessam numa fase de mudança de hábitos, ritmo e vida…e é nessa altura que esta corja de adeptos aparece para se congratularem com o que para eles é o óbvio, eles que provavelmente eram os primeiros a contestar Jesualdo quando as coisas corriam menos bem.”
Parece-me lógico que as coisas mudaram um pouco desde então. É verdade que não estamos no arranque de uma nova era. Não há passagem de testemunho de um treinador cansado com uma equipa cansada e adeptos cansados. Não acabamos de sair de uma temporada em que a Taça de Portugal pouco serviu para limpar a imagem de uma temporada fraca com um pecúlio limitado. Não tivemos duas derrotas consecutivas num torneio fora de Portugal contra adversários de calibre igual ou até um pouco inferior ao nosso. Mas houve algumas coisas que não mudaram.
Continuamos com a desconfiança natural num treinador que era jovem, inexperiente e olhado de lado por ter passado um naco da carreira dele ao lado de um dos homens que se tornou um vencedor a nível europeu da forma mais rápida que há memória triunfadores do futebol mundial. Continuamos com o plantel instabilizado com notícias diárias de putativas saídas de membros fulcrais (Bruno Alves e Raul Meireles em 2010, Álvaro Pereira e Hulk em 2012). Mas acima de tudo continuamos com adeptos a reclamar por tudo, com tudo e de tudo, antes mesmo de vermos a bola a rolar num ambiente diferente, onde os pitões podem rasgar e a competição já magoa. Continuamos numa espécie de limbo virtual, como se nos colocássemos num qualquer football manager ou casino online em que os jogadores e apostadores se lançam numa demanda doentia pelo cinismo do botabaixo e ficam chateados quando vencem porque não vencem como queriam vencer. Onde se compram e vendem nomes e números pelo prazer do jogo e da competição pessoal em detrimento da causa maior: o FC Porto.
Por isso, meus caros, vamos lá ter um bocado de calma. Ao menos esperem até haver algo que possam criticar, se é que vai aparecer. Villas-Boas, depois do fraco Torneio de Paris, surgiu na Supertaça em grande e venceu o Benfica por 2-0. Dêem o benefício da dúvida a Vitor Pereira. Sim, mais uma vez. Deixem o homem fazer o trabalho dele. Depois, se as coisas não resultarem, critiquem. Mas façam-no com factos, não com conjecturas. Vocês, os portistas, são melhores que isso.