Estávamos aí aos 15 minutos de jogo, quando Maicon recebe a bola de Helton e segue com a redondinha controlada pelo lado direito do centro da defesa, o “seu” lado em qualquer jogo. Arranca com a pelota na sua frente, lento, hesitante, sem linhas de passe visíveis e a pedir que os colegas se movimentem para criar qualquer tipo de jogada ofensiva com um mínimo de coerência. Herrera está tapado, Defour longe, Lucho ainda mais. Varela colado à linha direita, Josué e Jackson a duzentos quilómetros de distância. Maicon olha e vê Danilo, como um desiderato tão perto de atingir, ali mesmo à beirinha da relva, uns meros vinte metros entre ele e o descanso mental, a recuperação da posição e a injecção de moral que precisa para não se preocupar mais nos próximos dois, três segundos. Trinta e tal mil no estádio viram o que se ia passar a seguir. Maicon não viu. Não viu que havia um fulano de vermelho e branco prontinho para lhe sacar a bola com um ou dois passos ao lado, tal foi a facilidade com que interceptou o passe longo (rasteiro) que o brasileiro tentava endossar ao compatriota. E os assobios, que até então eram esporádicos, acentuaram-se não só para o careca mas para o resto dos jogadores da equipa.
Enervei-me nesse momento e comecei a disparatar. “Pára e olha para o que estás a fazer, caralho! Pensa! Tem calma!”, gritei para o campo, com vários colegas de bancada a olhar para mim, uns a concordar, outros a dizer frases no mesmo tom com palavras diferentes. Foi “o” lance principal que definiu toda a primeira parte e, no fundo, uma enorme porção das primeiras partes (e algumas segundas) que temos vindo a fazer nos últimos meses. Há nervosismo a mais, precipitações e excessos de confiança e uma aparente incapacidade de tantos rapazes em parar para pensar, em conseguirem ter a calma de perceber o que podem ou não fazer durante um jogo. Acima de tudo, parece haver uma ridícula quantidade de passes falhados pela tentativa atabalhoada de executar depressa o que nem devagar se consegue. E todos já vimos aqueles mesmos fulanos a fazer tão melhor do que têm vindo a mostrar em campo, o que torna as coisas ainda mais enervantes.
É preciso calma, tanto eles como nós. A táctica é secundária quando os seus intérpretes estão a ser assobiados mal recebem a bola.