Foi talvez o jogo mais fácil do ano, pelo menos do campeonato. E foi fácil não só pela inepta participação do Olhanense, digno representante da segunda Liga do próximo ano se mantiver este nível de qualidade que mostrou hoje, mas também porque o soubemos tornar fácil. Sem um futebol extraordinário, a equipa foi prática e ofensiva nos momentos necessários, com várias peças em sub-rendimento mas acima de tudo com um rapaz que está a cair bem no goto dos adeptos pela capacidade criativa, desenrascada e inteligente com que tem vindo a jogar e a fazer jogar o FC Porto. Carlos Eduardo é o homem do jogo e é um bom exemplo da forma como podemos aproveitar a equipa B para ir construindo a imagem de um jogador para que ele próprio saiba aproveitar as oportunidades quando lhe são dadas. Vitória grande que podia (e devia, não fosse o guarda-redes do Olhanense defender montes de lances de golo feito) ter sido bem maior. Vamos a notas:
(+) Carlos Eduardo. É diferente de tudo que tinha visto este ano, o que se torna ainda mais importante quando percebo que o faz a partir de uma posição que estava tão necessitada de um jogador mais irreverente que Lucho, perdido em teias defensivas que o faziam perder-se em campo e obrigavam o FC Porto a jogar quase com menos um jogador. Carlos Eduardo, que até começa a fazer lembrar Deco pelo estilo de controlo da bola e pelo remate fácil (e que grande golo marcou hoje), pode ser uma peça importante para a contínua evolução da equipa e acima de tudo para conseguir fazer o que nenhum colega até agora tinha conseguido: um meio-campo ofensivo que desiquilibre quando chega perto da área. Gostei de o ver mais uma vez e estou certo que só perde o lugar que ganhou a pulso se baixar muito de produção.
(+) Fernando. Com Lucho “a seu lado” mas não literalmente na horizontal do agora luso-brasileiro, Fernando solta-se. Há mais espaço, menos Defour, menos Herrera, menos Josué, menos factores que atrapalham a progressão do 25 em campo e essa liberdade, por muitos reclamada desde o início da temporada, nota-se na perfeição quando recebe a bola em balanceamento ofensivo e procura um colega na lateral, levando o jogo mais para a frente, cada vez mais para a frente. Esteve bem na intercepção mas particularmente bem na rotação da bola em posse.
(+) Olha, golos! Já não sabia o que isto era, para vos ser sincero. Sair do Dragão com quatro golos marcados já parecia uma memória antiga que se ia esfumando enquanto o tempo alegremente passa para mim, como o faz para todos, esse cabrãozinho. E ver golos a aparecerem a partir de cantos (mais uma vez, Carlos Eduardo a assistir), ou em remates espontâneos de fora da área, dão um alento extra a um futebol que já foi extremamente pobre mas que parece, a espaços, dar alguma confiança aos jogadores e mostrar que eles são capazes disto e de muito mais. É só quererem e, com alguma sorte, a bola lá vai acabar por entrar.
(-) Lucho. Aí pela metade da temporada de 2007/2008 houve um intenso abaixamento de forma de Lucho, que parecia locomover-se à velocidade de uma vela pousada numa mesa. Hoje, tal como em Vila do Conde e em Madrid, Lucho mostrou-se com muito pouca rapidez de execução, estranhíssimas falhas técnicas e uma quase total inoperância no pautar do jogo ofensivo da equipa. Questiono-me se é um abaixamento momentâneo, se está finalmente a ceder à pressão do PDI ou se ainda se está a adaptar a uma nova posição, mas é neste momento um elemento com produção nula.
(-) Licá. Insisto: o rapaz não é extremo e não me parece uma postura sã insistir em colocar o rapaz a jogar numa ala onde nunca terá o rendimento que procuramos a não ser em jogos que exijam contra-ataques em vez de um ataque permanente e persistente à baliza adversária. Continua esforçado mas as falhas técnicas e a incapacidade de driblar um defesa paralítico fazem dele mais uma peça que está desadequada à posição e que não produz pelo simples facto de não saber como o fazer. Estamos a queimar um rapaz que pode ser útil num futuro próximo, mas nunca a partir da ala.
(-) A opção por Mangala na esquerda. Sou talvez um bocado suspeito, especialmente olhando para a miríade de adaptações que se fazem no futebol actual e pelos louvores divinos que Ferguson recebeu no Manunaite, muito embora tenha sido um dos principais responsáveis por alinhar com defesas compostas por quatro centrais, que me faz uma comichão que nem imaginam. Chamem-me redutor, parvo, leigo, pouco instruído, mas prefiro ver um central a jogar como central e um lateral na lateral. Fonseca, talvez com um enorme cagaço de introduzir ainda mais entropia numa defesa propensa à falha fácil, optou pela “segurança” do francês à esquerda em vez de promvoer Quiño ou Rafa da equipa B. Discordo da opção, a equipa fica manca numa das alas e é triste ver o pobre do Eliaquim a fazer o que podia, com arrancadas tão subtis como uma divisão de Panzers numa loja da Vista Alegre, que só consegue fazer porque é mais forte e tem uma passada mais larga que os adversários. Até pode funcionar, mas nunca funcionará sempre e é uma falta de confiança também nos rapazes que trabalham para conseguirem um lugar quando a “sua” vaga está livre. Assim…mais vale não trabalharem.
A equipa parece estar numa rampa ascendente de forma e especialmente Fonseca parece começar a perceber a melhor forma de colocar as peças em campo. É verdade que Lucho está em baixo e que falta um extremo em condições para poder equilibrar uma formação que age de uma forma mais débil do que pode fazer em campo, mas os erros defensivos vão sendo corrigidos e o meio-campo, apesar de ainda não ter a rotação que é exigida, parece mais intenso na recuperação e mais prático na criação de lances ofensivos. Conseguiremos continuar a jogar decentemente até irmos à Luz? Espero que sim.