Vêm aí os campeões e os outros que também quase são campeões mas não foram campeões

 

Vamos lá analisar isto sob várias perspectivas de “sorte”:

  • “é para passar, sem desculpas”:

FC Porto, Marselha, Basileia, Austria Viena

  • “o Platini é um corno e esta merda é para nos tramar”:

FC Porto, Paris Saint-Germain, Dortmund, Nápoles

  • “não queria nada andar a passear pela santa pachacha da Europa no Outono”:

FC Porto, Shakhtar, Zenit, Steaua

  • “vá lá, ao menos poupa-se nos voos”:

FC Porto, Atlético Madrid, Ajax, Anderlecht

  • “já lhes ganhámos antes”:

FC Porto, CSKA Moscovo, Olympiakos, Celtic

  • “é tudo azul e branco, caralho!”:

FC Porto, Schalke, Zenit, Real Sociedad

  • “pronto, lá vêm os novos-ricos”:

FC Porto, Paris Saint-Germain, Manchester City, Nápoles

  • “não foram estes que nos mandaram c’as couves aqui há uns anos?”:

FC Porto, Schalke, Manchester City, Anderlecht

  • “não entendo nada do que eles dizem”:

FC Porto, CSKA Moscovo, Galatasaray, Viktoria Plzen


Seja qual for o sorteio, venham eles. 17h anda à roda.

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Vectores do potencial insucesso: psicológico

Este é o que creio ser o mais importante e menos fácil de resolver de todos os problemas que podemos encontrar na equipa do FC Porto 2012/2013, independentemente de virem ou não a ter o sucesso que todos esperamos possa ainda surgir. Não me lembro de ver um onze portista tão desanimado em jogo como nos últimos tempos. Os rapazes parecem-me tristes, infelizes, com pouca vontade de jogar, de levar a água ao proverbial moínho com a velocidade e o ritmo que grande parte dos jogos assim obrigam. E não consigo interpretar o que se vai passando pela cabeça dos moços só de uma forma, porque não consigo vê-los só como mercenários (porque lhes tenho respeito) ou apenas como miúdos sem experiência (até porque não são). Mas o que se passa?

Há uma espécie de desânimo precoce que se apodera da equipa e que os faz quase desistir depois de meia-dúzia de infortúnios. Começamos logo pela aparente ausência de critério no passe depois de várias jogadas sem que consigamos um remate ou uma incursão perigosa pela área. Cedo, cedo demais se começa com passes longos para as alas, sem que o apoio do lateral esteja pronto a chegar ou os médios correctamente posicionados. Muitas vezes se vê Jackson a receber a bola de costas, sem linha de passe que tenha uma remota possibilidade de sucesso, obrigando-o a descer até zonas impróprias para um jogador da sua habitual posição. Movimentação mais curta no meio-campo leva a que os laterais subam por vezes em demasia, fazendo com que uma perda de bola se torne numa chatice para a zona recuada, que naturalmente inclinada para o ataque se vê à rasca para defender em condições.

Não há melhor imagem que a de Danilo, que falha os simples passes que deveriam arrancar uma jogada ofensiva de uma forma…quase ofensiva para os adeptos. Da próxima vez que tal acontecer (e acreditem em mim, vai haver uma próxima vez), reparem na expressão corporal do homem. Desânimo, frustração, que se traduzem no baixar de braços, no abanar da cabeça e na corrida lenta para trás, como que se tivesse já desistido de continuar a dar o contributo à equipa. E Danilo é só um exemplo do que vejo em Varela ou em James, em Otamendi ou até em elementos com mais experiência como Lucho ou Helton, que em alturas pivotais no decorrer de uma partida parecem cair numa profunda fenda e ficam a moer sozinhos, como um “emo” depois de uma bem sucedida tarde passada perto de tantas oh tantas lâminas.

E isto é que não compreendo. Não foi esta a equipa que por duas vezes esteve a vencer na Luz e que, deixando-se empatar depois de cada golo, nunca perdeu o Norte e continuou a apontar para a vitória? Não foi esta equipa que incapaz de porfiar contra o Paris Saint-Germain, continuou até ao fim à procura do golo da vitória? Não digo para terem o mesmo comportamento dos “alumni” de 2009/2010 e daquela vergonhosa (sim, é esse o termo) final da Taça da Liga, onde a frustração de uma derrota inequívoca contra o Benfica levou a que meia-equipa começasse a dar pancada no adversário, com o próprio capitão a encabeçar as tropas. Aliás, grande parte dessa temporada foi passada à patada e ao murro, o que em nada ajudou na caminhada para um terceiro lugar que a única coisa boa que trouxe para o clube foi a presença na Europa League no ano seguinte, que viríamos a ganhar. Mas pelo menos nessa altura via-se um lampejo de orgulho, uma reacção a quente de uma equipa que há muito não sabia perder e que encarou essa derrota da pior maneira possível. Nessa época perdemos, e perdemos bem, mas no meio da rebaldaria que se tinha tornado o balneário e a desorganização colectiva, ao menos via-se alguma mágoa por estar a ser derrotado em campo e fora dele. Este ano, só vejo resignação. Na cara dos jogadores, do treinador, até de alguns adeptos. Não vejo espírito de luta, de garra, de afirmarem que são melhores porque são de facto melhores e provarem-no dentro do relvado. Vejo muitos braços caídos e são essas manifestações de desinteresse que deixam um sócio estupefacto e a pedir melhores momentos.

E francamente, é a faceta negativa de Vitor Pereira. Uma espécie de anti-Adriaanse, que se parece dar bem com todos os “seus” jogadores, mas que é incapaz de os motivar a jogar a um nível alto em todos os jogos. Mas estico-me, e isso são contas para outra altura, corra bem ou corra mal até ao final do campeonato. Agora…só precisava que alguém arranjasse uma injecção de moral para os nossos rapazes. Deus sabe que precisávamos bem dela neste momento.

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Malaguemos, então

Não fiquei alegre nem triste com o sorteio, antes pelo contrário. Há qualquer coisa neste tipo de pontarias daquelas bolinhas que me convence que há um ser bem lá por cima e que se alheia das desventuras da Humanidade durante uns segundos e simplesmente lança ao ar uma moeda cósmica e deixa que seja ela a decidir o nosso fado. E desta vez o arbítrio da sorte divina atirou-nos para cima uma equipa com cores semelhantes e suficientemente perto para arrastar uma pequena multidão de portistas até lá na segunda mão.

Pelo que tenho lido, as opiniões dividem-se. Há quem diga que tem medo do que o Málaga já fez na Champions e afinal está em quarto lugar na liga espanhola, o que não é nada fácil. Tem jogadores experientes, alguns que até nos conhecem e tudo, lusos e estrangeiros, o Saviola ainda sabe jogar à bola e o Gooch sabe saltar e quase que afunda na trave da baliza. Há o Buonanotte e o Toulalan, o Santa Cruz e o Joaquín, o Monreal e o Demichelis. É uma equipa sólida, inteligente, de futebol prático e pouco rendilhado, que usa jogo directo, pelos flancos quando necessário mas acima de tudo com a prioridade de olhar para a baliza adversária e atirar a matar quando é preciso. E não me importa absolutamente nada que sejam assim, porque é contra estas equipas mais abertas que gosto de jogar. Mas…

Mas não gosto de sorteios em que olho para o adversário e me sinto mais forte. E apesar de continuar a achar que o FC Porto, este FC Porto, que no jogo contra o Paris Saint-Germain no Dragão mostrou que tem talento suficiente para andar da perna até aos quartos e arrumar com o Málaga…este FC Porto que tenho visto parece não estar ao mesmo nível do que vi nessa noite. E não me refiro aos jogos que podemos lutar para demolir paredes defensivas do outro lado, aqueles treinos rijos contra os Moreirenses do nosso campeonato. É nestes jogos de Champions, onde os jovens são mais nervosos e as defesas tremem e os médios falham passes e os avançados chutam por cima, é aqui que se vê se o betão vai partir ou se vai aguentar estóico durante um milhar de anos. E não sei como vamos chegar a Março nem me sinto particularmente inclinado para o pessimismo ou para a leviana euforia, mas não estou convencido que consigamos manter esse nível. Ou pelo menos até agora ainda não me confirmaram as expectativas. A Champions é uma competição de ciclos, e a fase de grupos é muito diferente dos jogos a eliminar, muda muito no inverno, nos campeonatos, nos plantéis, na moral e na coesão. Esperamos por Fevereiro para falar de novo?

Ao mesmo tempo que vou escrevendo, lembro-me de outros jogos contra equipas espanholas emergentes. Os três és que nunca me lixaram. O Sevilha e o Villareal no Annus Europus de AVB, o Espanyol que caiu com Pena e Drulovic a cravarem as lanças, o Deportivo com o penalty do Ninja que vi embebedado no final de um cortejo da queima das fitas ou o Atlético de Madrid que apanhou com Lisandro antes de Hulk. Caíram todas, todas, e das espanholas que não caíram só me ficam na memória os grandes, Barça e Real, esses cabrões que nos empalam os sonhos e violam as ambições.

Há talento para eliminar o Málaga? Concerteza que há, por quinhentos balões de conhaque! Qualquer equipa que tenha o Duda como titular é passível de ser eliminado e com estilo. E conseguiremos mandá-los abaixo? Não faço ideia. Mas vou estar lá para ver, no Dragão com certeza e talvez até no sul de Espanha.

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Achas o quê, ó imbecil?

Se alguém estiver com problemas a arranjar motivação para este jogo que amanhã nos vai arrastar para o Dragão, é só olhar para as declarações do treinador do Dínamo Zagreb depois do jogo contra o Paris Saint-Germain e enquanto punha uma pomadinha para as almorródias, inchadas enquanto os croatas levavam quatro na pá dos franceses:

Ante Cacic, treinador do Dinamo Zagreb, já defrontou o FC Porto e o Paris SG e não tem dúvidas em assumir que os parisienses são «a melhor equipa do grupo».

«No início, teria dito que o FC Porto era o favorito mas, depois de ver o que o PSG pode fazer, acho que esta é a melhor equipa do grupo», reconheceu Ante Cacic.

Quem viu o jogo que disputámos em Zagreb certamente se lembra da pouca qualidade dos rapazes ao dispôr desta idiota com aspecto de sargento russo dos anos 80 num posto fronteiriço, antes de levar uma rebarbadela por estar a beber vodka a mais em hora de expediente.

Venham ao Dragão amanhã. Há uma promoção que permite a um detentor de Dragon Seat comprar um bilhete por dez euros e levar outro à borla para um amigo. Se fosse possível, era bonito o estádio estar cheio para nos ver a dar uma mão-cheia de lapadas na boca deste infiel.

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A incerteza das substituições

No jogo contra o Paris Saint-Germain houve dois pormenores que me ficaram guardados na memória. Aos 73 minutos, Vitor Pereira tira Varela e faz entrar Atsu. Nada de estranho, de extraordinário ou questionável. As pernas do português estavam a ceder depois de muita correria e de uma intensa pressão sobre ambos os flancos onde alinhou, ajudando a carregar sobre o adversário e a tapar o flanco para as eventuais subidas de Alex Sandro ou para proteger contra o eventual overlap dos franceses. O ganês entrou, cheio de garra e vivacidade, desfez várias vezes os rins a Jallet, então o seu adversário directo, arrancou dois remates e vários cruzamentos perigosos e ajudou o FC Porto a empurrar o inimigo para dentro da sua área até que James se lembrou de dar aquele toque na bola que nos deu três pontos e saciou a sede de uma vitória que demorava a chegar. A substituição tinha sido óbvia, esperada e correu muito bem.

Oito minutos depois, ainda com o resultado a zeros, Vitor Pereira manda sair Lucho e entrar Defour. O argentino, esgotado depois de correr por ele e pelo que James não conseguia, ajudando a pressionar o adversário pelo chão e pelo ar, com intercepções valiosas e uma mão-cheia de passes brilhantes, sai de campo para dar lugar a um belga voluntarioso, bom tecnicamente, com uma visão de jogo prática, simples, de posse. Defour entrou…e o meio-campo ressentiu-se. Sofreu porque nada corria bem a Steven, nem um passe calmo ou uma desmarcação tranquila antes ou depois da obra-prima de James. A bola parecia queimar e as corridas saíam sempre para o lado errado, deixando o centro do terreno entregue ao mini-mega-Moutinho ou ao Rochedo de Goiás, Fernando, que já cansados ainda tiveram de cobrir as falhas de Defour, que até vinha de uma série de boas exibições com a nossa camisola. O meu colega do lado gritava: “Se foi para esta merda que o meteste mais valia o Lucho cansado, pá!“, dirigindo-se a Vitor Pereira como o principal responsável pelo mini-terramoto que abalou o nosso meio-campo e ajudou a somar ao sofrimento do resto das bancadas, felizmente por pouco tempo. E, no entanto, a substituição fez todo o sentido e só não terá sido feita mais cedo porque o jogo não estava ainda ganho.

É ingrato seleccionar um jogador para sair quando estão todos a jogar bem. Ainda mais quando a equipa, até aí estável emocional e estruturalmente, pode vir a desagregar-se fruto de uma opção menos acertada do treinador que vê o jogo como nós vemos, mas a uma altitude bem mais baixa. E é difícil compreender o porquê de uma ou outra substituição, por muito que seja uma tradição acontecer sempre por volta dos mesmos minutos com quase sempre os mesmos intervenientes (lembrem-se das trocas de Meireles por Tomás Costa, de Tarik por Mariano ou McCarthy por Jankauskas, entre muitas outras), ser oscilante no efeito que traz a uma equipa.

A cabeça do treinador está sempre no cepo durante um jogo. Mas nunca está mais em xeque como depois de uma substituição que não lhe corre bem, especialmente quando a culpa não é dele, nem dos jogadores. It just is.

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