Baías e Baronis 2013/2014 – Os médios

Naquele que terá sido o sector mais rodado de todas as equipas do FC Porto desde Oliveira, houve tanta indefinição e incapacidade de manter um fio de jogo que conduzisse à vitória que espanta olhar para estes nomes que aqui estão em baixo e pensar que estes eram os que esperávamos poder suprir a falta de um jogador tão extrordinariamente importante como Moutinho…mas foi o que tivémos e não conseguiríamos nunca substituir o 8 à altura que o rapaz brilhou.

Se Moutinho foi o organizador de jogo do FC Porto durante três anos consecutivos, o ano começou com a opção pelo segundo médio por parte de Paulo Fonseca, que cedo se percebeu que não iria resultar. Cedo, para a malta cínica de fora, que vê os jogos com olho de adepto, porque para o treinador principal do FC Porto havia sempre algo que poderia funcionar no plano teórico, mas nunca o conseguiu traduzir em jogo jogado. As experiências foram muitas e nem vou aqui enumerar todos os meios-campos do FC Porto que alinharam ao longo dos 53 jogos disputados porque a página ficaria pesada e demoraria tanto tempo a carregar que o meu caro leitor rapidamente encheria o balão metafórico e desatava a carregar no botão de refresh com a intensidade de um jovem masturbador dos anos 80 a folhear edições antigas do National Geographic. Se Fernando foi dos poucos elementos que conseguiu destacar-se porque salvou a equipa em muitos jogos da derrota certa (ONZE Baías, a maior parte na primeira metade da temporada, como este, na eliminatória da Taça em Guimarães: Ouve lá, ó maluco, se tu me vieres dizer que fizeste de propósito para marcar aquele golo, meu menino, mando-te dar uma volta ao maior bilhar que encontrares! Mas lá que foi bonito e me fez dar um salto que acordou a minha filha que ia dormitando nos meus braços, lá isso não haja qualquer dúvida. E para lá do que fez nesse lance, foi o que fez em todo o resto do jogo que me continua a fazer crer que está a ser “O” jogador do FC Porto versão 2013/2014, pela luta, pelo posicionamento e pela inusitada inteligência a levar a bola para a frente.), mantendo a intensidade com que disputava cada lance, apenas Defour lhe chegou perto em termos de força e garra colocadas em campo. Mas o belga não é Moutinho, nunca foi e nunca será, e esse selo que lhe foi colado no início da temporada passada foi demasiado para que o rapaz conseguisse mostrar que é um jogador certinho, habituado a receber e rodar a bola para o melhor sítio…mas só isso. É trinco na selecção mas joga bem nessa posição porque tem jogadores na sua frente como Witsel, Fellaini ou Dembelé, fortes como Guarín e dinâmicos como um Lucho nos bons tempos (já lá vamos). A jogar “à Porto”, com um trinco varredor disposto a lutar pelo ar e a despachar pelo chão…não chega. E perdeu muito crédito com os adeptos por ser, convenhamos, honesto ao dizer que preferia sair do que ficar no banco, o que leva sempre a malta a irromper em idiotices tacanhas e proto-xenofobia de trazer por casa. Enfim, o costume. Não o escondo, gosto do rapaz. Escrevi isto no jogo em casa contra o Nápoles: o estupor do tolinho andou a correr em todo o lado como se Derlei e Lisandro tivessem sido juntos e fechados num invólucro de chocolate belga. Esforçou-se imenso e deu o impulso de força e de combatividade que o nosso meio-campo tão desesperadamente precisava há alguns MESES a esta parte.

Lucho foi o maior sacrificado da época e a forma como foi obrigado a jogar perto de Jackson durante vinte e muitos jogos fez com que o argentino, que nunca foi rápido mas sempre foi resistente, fosse abaixo das pernas e não aguentasse um jogo até ao seu final a um ritmo que era incapaz de manter e acima de tudo de o fazer sendo minimamente produtivo. Foi-se perdendo e chegou a um ponto em que os próprios adeptos pediam que o treinador se decidisse: ou o punha a jogar numa posição condizente com o seu talento e capacidades…ou mais valia tirá-lo do onze. Oh inclemência, oh martírio! Acabou por sair a meio da temporada, numa altura que acabou por fragilizar ainda mais a equipa, já de si órfã de referências e líderes. Disse, na altura: “A notícia bateu-me como se tivesse levado um estalo no focinho. Lucho teria comunicado à Direcção que tinha uma oferta do tamanho da Torre dos Clérigos para ir jogar ano e meio para o Qatar e encher os bolsos de uma maneira que o ia obrigar a comprar calças novas todas as semanas. O FC Porto teria aceite a saída e o capitão já não ia jogar contra o Marítimo. Pumba, embrulha.”

Herrera foi um jogador em que depositei alguma esperança mas que raramente conseguiu mostrar o que vale. Melhorou na segunda metade mas a semelhança com um motor start-stop é enervante e não fosse o facto de lhe reconhecer talento, não conseguiria encontrar muitos pontos positivos na época. A exibição no Sporting vs Porto para a Taça da Liga é um bom exemplo: “Tem de ir rapidamente ao médico para perceber se sofre de qualquer forma mexicana de narcolepsia. Há alturas do jogo em que lhe parece parar o cérebro e alhear-se do lance que está a decorrer QUANDO TEM A PUTA DA BOLA NOS PÉS! Não consigo entender-te, coño, palavra que não, mas se não mudas rapidamente a tua capacidade de estar atento 100% do tempo em que estás em campo, vais levar muitas mais notas destas.”.

Quintero foi uma exigência dos adeptos durante vários meses até que se percebeu que ainda tem muito para aprender. Mas ao ver Carlos Eduardo e Josué a desaparecerem gradualmente dos bons índices de aproveitamento que mostraram nos primeiros jogos em que estiveram presentes, o português no arranque da temporada (que até lhe valeu uma chamada à Selecção) e o brasileiro a partir de Dezembro, era notório que a aposta no colombiano poderia ter sido mais constante e a titularidade seria mais natural e poderia ter rendido mais se tivessem apostado mais nele. Josué foi a imagem do jogador à Porto (e do Porto) que jogou demasiadas vezes fora da posição em que mais rende. O facto de ter sido utilizado na ala ou a 10 limitou-o inevitavelmente à condição de fringe player e nunca conseguiu sair do fosso em que parecia entrar quando o jogo não lhe corria bem. Demasiados passes falhados, hesitações em excesso, perdas de bola assassinas. Carlos Eduardo foi pior, incapaz de assumir o jogo quando alinhava numa posição de criação de jogo, onde a irreverência é obrigatória e a intervenção em jogo é essencial em determinados pontos da partida. Já o brasileiro pareceu sempre fisicamente longe do jogo, escondido atrás das marcações dos densos meios-campos que nos enfrentaram esta época. No jogo fora contra o Nápoles: “não merece ser titular do FC Porto neste momento e depois da boa entrada no onze aqui há uns meses, o capital de confiança perdeu-se e a deambulação pelo relvado, escondido dos colegas e longe de qualquer linha de passe, é algo que devia envergonhar qualquer médio criativo. Francamente, o que fez hoje foi o equivalente ao que a minha filha faz diversas vezes por dia. A diferença é que ela tem várias fraldas para mostrar o trabalho realizado.”

Marat quase não jogou, Tozé e Mikel foram usados no finzinho da época…e questiono-me o que lhes teria acontecido se tivessem jogado mais vezes durante o ano. Talvez tivessem perdido a aura de esperança que agora ostentam…

O quadro-resumo dos médios fica abaixo:

CARLOS EDUARDO: BARONI
DEFOUR: BAÍA
FERNANDO: BAÍA
HERRERA: BARONI
IZMAYLOV: BARONI
JOSUÉ: BARONI
LUCHO: BARONI
MIKEL: BAÍA (em grande parte pela época nos Bs)
QUINTERO: BAÍA (pelo talento e potencial mal aproveitado)
TOZÉ: BAÍA (em grande parte pela época nos Bs)

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Baías e Baronis – Sevilha 4 vs 1 FC Porto

foto retirada do MaisFutebol

Pum. Pum. Pum. Pum. Quando me levantei, logo a seguir ao apito final, havia algo que me incomodava, causando desconforto quase físico. Fechando os olhos, imaginei que quatro bacamartes sevilhanos se encontravam a expandir o meu esfíncter até ao ponto de ruptura, sem que me tivesse apercebido de como raio lá tinham chegado. E regressei a um tempo não muito distante, aqui há uns simples meses atrás, em que via o FC Porto a defender como se estivesse no recreio da escola, a correr atrás da bola sem um semblante mínimo de organização, temendo o pior e vendo-o a acontecer à sua frente, não conseguindo fazer nada para o evitar. Hoje, em Sevilha, fomos exactamente o que temos vindo a ser durante quase toda a época. Ineficazes no ataque, amadores na defesa. E caímos com estrondo e com a equipa caiu também o poucochinho resto da moral de uma temporada. A notas:

(+) Quaresma. Perdeu muitas bolas, falhou muitos cruzamentos e não conseguiu ser decisivo. Conseguiu fazer com que o atrasado do Coke fosse expulso e marcou um golo estupendo que já não serviu para absolutamente nada a não ser para entrar na compilação de golos do ano da segunda prova de clubes a nível europeu. Mas foi dos poucos que tentou, ao seu estilo, sempre a olhar para o que *ele* podia fazer, com pouco jogo de equipa e sem a velocidade de outros tempos mas sempre a tentar fazer pela vida com vontade de vencer. Não foi genial, longe disso, mas foi lutador.

(-) Os laterais. Já disse várias vezes que “este foi o pior jogo de Danilo/Alex Sandro”. Hoje é só mais um jogo que trouxe mais um saco cheio a somar à quantidade de imbecilidades que estes dois rapazes têm vindo a fazer este ano. E se Danilo tem estado menos mal durante a época (mal, mas não tão mal como no ano passado), Alex Sandro é o poster-child da idiotice competitiva, perdendo bolas absurdas em zonas proibidíssimas, causando problemas irresolúveis aos colegas, dificultando (sim, DIFICULTANDO) o trabalho do guarda-redes e fazendo uma exibição, mais uma vez, a roçar o absurdo. Danilo, com o permanente pessimismo que o afecta desde que cá chegou, nunca pareceu concentrado no jogo e abriu o jogo com um penalty depois de um carrinho exagerado em plena pequena área. São jogadores de top, dizem-me. Não se têm mostrado como tal.

(-) A fraquíssima mentalidade competitiva. Sevilha, essa cidade de tantas alegrias no passado, escorregou hoje do panteão para um terreno lamacento onde o nosso espírito hoje permanece, afundado depois de uma exibição que teve tanto de fraca como de, lamento dizê-lo, esperada. Dizer que a equipa que venceu o Nápoles é quase a mesma que hoje se apresentou na Andaluzia é uma idiotice como tantas outras, pelo simples facto destes rapazes não conseguirem manter um jogo coerente. Tremem, os pobres, com os infortúnios. Acham que conseguem fazer exibições sofríveis e continuar a brilhar no meio dos outros que outrora envergaram a mesma camisola e mostraram ao Mundo o que é que um clube de uma pequena região de um pequeno país consegue fazer se tiver mentalidade para isso. E hoje, ao ver a lentidão de Herrera na execução, a ausência quase total de Varela e Carlos Eduardo, a incapacidade de Defour em lidar com um meio-campo que nem estava assim tão densamente povoado (já não parecia tão mal ter jogado o Mikel, pois não?), o desânimo de Danilo ou a atitude estúpida e arrogante de Alex Sandro, ou até o desnorte de Mangala e de Reyes, o pouco sentido prático de Kelvin (não terás culpa de jogar tão pouco, mas por favor pára de fintar a bola. essa merda só enerva, acredita) ou o invulgar apagão de Ghilas, tive a perfeita sensação que a época acabou. Temo os jogos contra o Benfica porque a honra está aí para ser defendida mas não vejo nesta malta a força moral para o conseguir. Falha-se demais e lamenta-se demais. Corre-se menos que os outros, sempre menos que os outros, perdem-se lances de ataque consecutivos e baixam-se os braços. Alinhamos com meios-campos eternamente renovados e esperamos frutos de árvores que nem sequer raízes criaram. Este grupo, este penoso e infeliz grupo de jogadores que este ano apoiámos, incentivámos e tentámos elevar a mentalidade para que fossem de novo uma equipa de vencedores, nunca o será. E não o é por culpa própria, porque perdeu jogos demais contra equipas que estão abaixo deles, sem que os preocupasse em demasia. Acabam o jogo e perdemos, ó que raio de coisa, perdemos outro jogo. Os adeptos, da parte de fora, não compreendem. Eu não compreendo. Ninguém compreende.


E agora, meus amigos? Empacotamos o resto da temporada ou vamos tentar limpar a honra nas Taças que sobram? Se tirarmos o jogo de hoje como uma amostra do que se pode fazer, é certinho que o único highlight que vamos ter até ao Verão vai ser mesmo o campeonato do Mundo…

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 0 Sevilha

foto retirada de desporto.sapo.pt

Vencemos, mas não soube a vitória. Soube a falhanço, por muito que o resultado traga uma agridoce satisfação de não termos sofrido golos, que nem estiveram sequer perto de acontecer. Mas soube a falhanço porque depois de uma primeira parte com muita bola e um golo veio um segundo tempo onde se notaram tantos dos problemas que têm vindo a marcar esta temporada, especialmente estes últimos jogos. Faltaram pernas e seguiu-se a falta de cabeça…ou terá sido ao contrário? Não sei, sinceramente, mas acredito que as duas ausências deixaram uma tremenda incapacidade de furar contra um adversário que nos é inferior mas que conseguiu um resultado simpático à custa das nossas lacunas, físicas, tácticas e especialmente mentais. Um desperdício, foi o que foi. Vamos a notas:

(+) Defour, enquanto teve pilhas. Correr por dois cansa a dobrar, ao que parece. Foi isso que Defour fez hoje, ajudando Fernando atrás mas cobrindo o terreno que Carlos Eduardo deveria percorrer, o espaço que o brasileiro nunca ocupou foi o belga que tratou de encher. E ainda teve tempo para ser dos primeiros a pressionar os centrais e Beto, sempre em esforço mas a empurrar a equipa para a frente. Excelente remate ao poste…mais um…

(+) Reyes e Mangala. Apesar do francês ter feito uma daquelas palermices que por vezes se lembra de fazer, tentando sair com a bola controlada de uma zona impossível, ambos estiveram bem. Bacca quase não cheirou a bola e o mexicano esteve muito bem na cobertura e no posicionamento, com noção perfeita de onde estava o seu colega, ajudando a cobrir bem as subidas de Danilo e incentivando a equipa nas bolas paradas. Mangala, pelo golo e pela forma como conseguiu impôr o físico e desequilibrar no meio-campo, foi importante especialmente na primeira parte.

(-) Quaresma. Teve dois lances estupendos, um remate de primeira depois de um balão que lhe foi enviado do lado esquerdo e que deixou Beto com as mãos a arder; outro, no final do jogo, depois de (mais) um livre por si cobrado, onde aproveitou o ressalto para atirar outra bola ao poste. Mas é no resto do tempo de jogo que Quaresma não conseguiu brilhar, em grande parte por culpa própria. É verdade que somos parciais na tolerância que damos a Quaresma (quando digo “nós” refiro-me aos adeptos de estádio) mas nunca se sabe quando é que vai sair um lance genial que nos faz esquecer o resto dos minutos passados com a bola tempo demais perto dos pés, as inúmeras fintas inconsequentes e as perdas de bola quando pode passar a bola para o colega do lado mas insiste em tentar fazer tudo sozinho. Quando Quaresma está numa noite destas, em que pensa demasiado nele e menos na equipa, todos perdem, a começar por ele.

(-) Carlos Eduardo. Fez seis jogos a titular com Luís Castro, foi substituído em cinco deles, sempre por volta dos 60 minutos e sempre por sub-rendimento. E continuo a não perceber como é que um homem que joga numa posição criativa consegue passar tanto tempo alheado do jogo, sem se desmarcar para ganhar posição ou criar linhas de passe para conseguir receber a bola. Foge do jogo, esconde-se no meio dos médios adversários e quando recebe a bola raramente passa mais de dois segundos com ela nos pés, passando de imediato e fugindo outra vez para uma zona onde não a pode receber. Actualmente temos um jogador a menos em campo quando Carlos Eduardo lá está.

(-) Façam treinos técnicos, por favor. Não consigo ser mais directo que isto: este é o pior FC Porto em nível técnico dos últimos dez anos. Lula, Jankauskas, Tomás Costa e Mariano González envergonhariam alguns dos executantes do nosso plantel actual a nível do passe ou do cruzamento. É altura de alguém conseguir explicar aqueles rapazes que se aprende toda a vida e que é inadmissível falhar tantos passes e cruzar tantas vezes para a bancada ou directamente para o primeiro cornaduro que aparece na frente.

(-) A expulsão de Fernando. Ao ritmo de uma mãe com o filho dobrado nas pernas, de rabo espetado para cima: “Não. Podes. Reclamar. Com. Os. Árbitros. Dessa. Maneira!”.

(-) E com as pernas foi a cabeça. O Sevilha é uma equipa banal. There, I said it. Qualquer equipa que tenha o Daniel Carriço como titular não nos pode meter medo, por isso fiquei tão desiludido quando vi que no início da segunda parte, quando pensei que o Sevilha viria com alguma força durante dez minutos para tentar marcar um golo e recuaria depois de acalmarmos o jogo e retomarmos o domínio da partida, o FC Porto entregou a bola voluntariamente aos moços. Numa altura em que era preciso pernas, não houve. E a cabeça foi atrás das gâmbias, porque já começava a ser complicado para Danilo e Alex Sandro aguentar constantes subidas pelos flancos (e descansar um deles? ou os dois? isso é que era!) e para Quaresma e Varela ajudar a defender as laterais. O meio-campo então desfez-se com a saída de Defour, porque Quintero entrou perdido e Herrera medroso. Foi penoso ver a equipa no final do jogo, sem força nem alma, exaustos depois de um jogo que não foi tão exigente como tantos outros que já disputámos…


Não foi um 1-0 como o resultado que conseguimos frente ao Nápoles aqui há umas semanas. Será suficiente? Vamos à Andaluzia sem Fernando e sem Jackson…com Defour a trinco e Ghilas na frente, talvez? Não faço ideia. Só sei que no Domingo prefiro ver meia equipa B no Dragão para ver se alguns rapazes descansam as pernas e a cabeça…

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Baías e Baronis – Napoli 2 vs 2 FC Porto

Há jogos assim. Um gajo passa dezenas de minutos a sofrer, come qualquer coisa à pressa no intervalo, volta a ver o jogo e continua a sofrer. Sofre sempre que o Nápoles envia a bola para as costas de Danilo ou Ricardo, treme quando Reyes reage ainda a medo, quando Mangala sai com a bola controlada e a perde pela lateral, abana todo quando Pandev e Higuaín quebram o fora-de-jogo e desespera com o remate de Defour ao poste. E pela primeira vez desde que me conheço, contive-me na celebração do golo, saltando do sofá com as veias a pulsar no pescoço mas estóico na demanda de não proferir um único som para permitir que o bébé continue a dormir ao lado. O mesmo no segundo, e que golo, e quem é que consegue dormir nesta altura, tu não deves ser minha filha, carago, salta, mulher, salta e grita e levanta os braços e ergue-te em direcção a um céu que parecia tão longe e que afinal está ali pertinho. E sofre de novo. E habitua-te a sofrer, porque vais passar muitas noites a ver o teu pai a sofrer a teu lado, sem perceberes muito bem porquê. Jogos europeus, meus amigos. É outra coisa. Vamos a notas:

(+) Fabiano. Primeiro jogo como titular numa competição europeia, num estádio conhecido pelo ambiente pressionante e hostil para adversários. Acontece isto quatro dias depois do titular absoluto e capitão de equipa se lesionar gravemente. E faz uma exibição deste nível, com segurança na baliza, agilidade nas saídas e acima de tudo a dar confiança e a transmitir calma à defesa. Evitou várias vezes o 2-0 que podia ter sido fatal para o FC Porto e saiu do San Paolo com sensação de dever cumprido, com a titularidade mais que garantida e a confiança dos adeptos. Uma noite simpática, pronto.

(+) Fernando. Foi obrigado a fazer o trabalho de dois (Carlos Eduardo andava a tentar perceber se o jogo já tinha começado e porque é que ninguém o avisou), foi enorme no meio-campo e com a ajuda menos útil de Defour, tapado por dois gigantes turc…perdão, suíços, foi Fernando que conseguiu fazer o possível para segurar aquela zona central que estava muito bem povoada por meninos de camisolas cianas. Prático no corte, eficaz no passe, deve ter marcado pontos para uma eventual saída no Verão…

(+) Ghilas vindo do banco. Jackson está a trabalhar imenso durante as partidas e a bola não chega lá. O desgraçado do colombiano anda a correr de um lado para o outro a tentar encontrar espaços para tabelar com os colegas, mas a bola não chega lá. Salta e luta na área mas a bola raramente chega lá. E depois entra um chaimite argelino, dois toques na bola e pum, golo. E é um pouco disto que estamos a precisar, um jogador mais repentista, com mais presença física e acima de tudo mais fresco. Não contesto que Jackson é melhor que Ghilas em muitas circunstâncias, mas creio que o Nabil já fez o suficiente para merecer a titularidade, pelo menos num ou noutro jogo.

(+) O golo de Quaresma. João Rosado teve toda a razão nos comentários que ia fazendo na SIC. Quaresma entraria como uma luva para o panteão de amor/ódio napolitano se lá tivesse jogado. O golo é soberbo, cheio de pequenos grandes nadas que resultam numa jogada para a eternidade, desde a primeira finta a dois toques, a finta de corpo que tira o adversário do caminho e o remate estupendo de pé esquerdo sem hipóteses para Reina. E continuo a achar que Quaresma está mais lutador, mais esforçado para o bem da equipa e apesar de exagerar nos lances individuais, não acredito que seja possível mudá-lo. Não acreditava da primeira vez que cá esteve e continuo a não acreditar agora. Mas depois sai uma pérola destas. Para rever…e rever…e rever…e continuar a rever.

(-) Carlos Eduardo. O que é que posso dizer sobre (mais) uma exibição deste nível? Carlos Eduardo não merece ser titular do FC Porto neste momento e depois da boa entrada no onze aqui há uns meses, o capital de confiança perdeu-se e a deambulação pelo relvado, escondido dos colegas e longe de qualquer linha de passe, é algo que devia envergonhar qualquer médio criativo. Francamente, o que fez hoje foi o equivalente ao que a minha filha faz diversas vezes por dia. A diferença é que ela tem várias fraldas para mostrar o trabalho realizado.

(-) Varela. Mais um enorme zerinho para o Silvestre, tanto que um amigo me sugeriu mudar a rubrica para Baías e Barelas (boa ideia, meu caro, bem boa!). Ebb and flow, dizem os ingleses, para justificar ciclos de negócio, produtividade ou o movimento das marés. Neste momento está num “ebb” bem fundinho e tem estado lá já há vários jogos, sem perspectivas de poder regressar a um “flow” que nos traga alegrias. Não contesto que o rapaz até tentou, mas tentou muito devagar, sem força, sem capacidade de lutar contra qualquer adversário, desde o diminuto Insigne até ao grandalhão Henrique. Talvez esteja cansado mas se fosse possível espetar com o rapaz no banco um ou dois jogos, era giro.

(-) Falta de agressividade. Ainda há de aparecer alguém a criticar Martin Atkinson por ter permitido jogo duro, várias vezes a roçar a violência, tantas foram as vezes que jogadores do FC Porto foram para o chão depois de confrontos directos com os italianos. Mas foi mais um exemplo da forma como o FC Porto tem vindo a jogar acanhado, sem virilidade, sem velocidade, sem agressividade positiva que nos faça acreditar na força do colectivo durante mais de vinte ou trinta minutos de cada vez. É verdade que as características de muitos dos jogadores do actual plantel não permitem um jogo mais físico e com rapidez acima da média na troca de bola e muito menos na subida no terreno, mas como é que é suposto jogarmos contra Inlers e Behramis que usam o corpo em cada jogada contra os pobres Varelas e Carlos Eduardos?! Com garra, carago, com MAIS garra. Hoje em dia parece que passamos mais tempo a fugir com a bola do adversário em vez de os enfrentarmos olhos nos olhos. Deixa-me triste e ansioso porque cada jogada que começamos a construir parece destinada ao fracasso mal vejo que o adversário está mais célere na zona de pressão e muito mais activo a rodar em posições defensivas do que os nossos próprios jogadores que têm a bola nos pés…


Admito que perdi a esperança ao intervalo, depois da primeira parte fraquinha e medrosa que fizemos. Mas Luís Castro convenceu-me que tudo está perdido só quando se lavam os cestos ou quando a gorda canta ou qualquer um desses clichés entediantes que a malta adora usar. E agora, Porto? Estamos nos oito melhores…só não quero o Benfica nos quartos. Juro que prefiro a Juve com dez Pirlos e um Buffon.

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 0 Napoli

Enquanto passeava pelos arredores do Dragão, nas horas que antecediam a partida, acompanhado por um grupo de vários lusos e quatro americanos, que por cá andam a trabalhar no mesmo sítio que eu e que acedi a acompanhar até ao jogo, ia vendo o ambiente e dizendo aos estrangeiros: “não me parece que seja um jogo especialmente bonito e bem jogado. vai ser duro mas acho que vão achar que a atmosfera dentro do estádio vai ser morna e que o jogo em si não vai ser nada de especial.”. Estava, como é hábito, completamente equivocado. Foi um jogo tenso, difícil, com um Nápoles firme e prático nas trocas de bola e com extrema facilidade em lançar bolas nas costas dos nossos defesas. Mas o FC Porto, este FC Porto de Luís Castro que começa a mostrar algo de diferente do de Fonseca, este FC Porto parece diferente, mais audaz, mais inteligente e acima de tudo muito mais lutador. Fomos homens, hoje, fomos gente a sério e conseguimos uma vitória (a primeira na Europa este ano) com alguma sorte e azar à mistura para os dois lados mas que nos pode embalar para um final de época bem melhor que o arranque. Vamos a notas:

(+) Defour. Aplaudi-o de pé quando Luís Castro o tirou e fez entrar Herrera, que o afastou do onze durante muitos (demasiados?) jogos. Steven esteve em grande, a lutar todo o jogo num meio-campo que foi mais móvel pela sua presença. E que presença, amigos, porque o estupor do tolinho andou a correr em todo o lado como se Derlei e Lisandro tivessem sido juntos e fechados num invólucro de chocolate belga. Esforçou-se imenso e deu o impulso de força e de combatividade que o nosso meio-campo tão desesperadamente precisava há alguns MESES a esta parte. Os últimos dois jogos que fez pelo FC Porto foram talvez os melhores que já o vi a fazer com a nossa camisola e só espero que as pernas aguentem e este derradeiro push do rapaz para ser convocado para o Mundial seja premiado com o mérito que ele está a fazer por merecer.

(+) Espírito de sacrifício e luta. Já tinha saudades de ver um FC Porto a fazer pressão, não muito alta mas constante na intercepção de linhas de passe e acima de tudo no posicionamento e reposicionamento do meio-campo (a defesa é outra história e vai dar muito mais trabalho a reestruturar, táctica e mentalmente) mas também na entre-ajuda das peças no relvado. Apesar de Carlos Eduardo parecer um elemento perdido quando temos a bola e Varela ter estado num jogo diferente dos colegas, o resto da equipa esteve sempre a um ritmo muito alto e sem fugir às responsabilidades de uma eliminatória europeia contra um dos melhores clubes desta competição. Estaremos a recuperar o “velho” FC Porto? O tempo o dirá.

(+) O público do Dragão. O Dragão não encheu, longe disso, mas a forma como o público apoiou a equipa desde o início do jogo foi notório, como se uma nova simbiose estivesse a ser encontrada entre equipa e adeptos, muito por culpa dos jogadores e da forma como o treinador mostrou que queria vencer o jogo por mais que um golo, mostrando-o bem nas substituições que fez. O povo gostou e mostrou que percebe o estado da equipa, apoiando-os sempre que um lance do Nápoles causava mais perigo para Helton (bom jogo apesar de uma ou duas tradicionais parvoíces que o capitão tende a cometer em jogos europeus) e incentivando o grupo nas saídas para o ataque. Houve muitas bolas trocadas entre os laterais e não ouvi um único assobio. Gostei.

(+) Reina. Vai. Defender. Ao. Caralho. Se não fosses tu, o Fernando tinha marcado um golo extraordinário, meio segundo depois de eu gritar: “não chutes, foda-se!”. Chutou. E o ‘panhol defendeu. Cabrón.

(-) Varela. Esteve em campo? Não o vi, sinceramente, porque estava tão entusiasmado a ver o FC Porto a movimentar-se tão bem com as peças distribuídas elegantemente no relvado, que nem percebi que Luís Castro o trocou com Quaresma a meio da primeira parte para ver se Silvestre conseguiria fazer alguma coisa de jeito com Danilo pelas costas (e para que o cigano deixasse de se desentender com um brasileiro…para se começar a desentender com o outro). Não funcionou muito bem e Varela passou quase completamente ao lado do jogo. Temo que possa ter passado mais um dos tradicionais picos exibicionais que duram 3 ou 4 jogos, para termos um Varela trapalhão, lento e complicativo durante mais 4 ou 5. Espero que não, caso contrário mais vale colocar lá Ghilas, esse Zamboni argelino que corre como uma debulhadora mas…ao menos corre.

(-) Carlos Eduardo. Passou tempo demais preso de movimentos, sem procurar a bola e escondendo-se no meio dos jogadores de amarelo como se tivesse medo de mostrar a tromba para ser visto por um colega. Continuo a não gostar de o ver a 10, apesar dos bons dois primeiros jogos que aí fez e acho que teria a ganhar se jogasse como 8…mas com Defour a jogar desta maneira ninguém o tira da equipa.

(-) Tantas falhas. Não critico as oportunidades falhadas, algumas por azar (Quintero), outras pelo cabrón do Reina (Fernando e Jackson). Critico o tempo excessivo para reposicionamento das unidades defensivas, critico a incapacidade de entendimento entre Quaresma e Danilo, critico os passes centrais de Maicon, critico as distracções de Mangala e critico também as imbecilidades pontuais de Helton, que deve sonhar em aparecer no Watts da Eurosport ou em compilações de “Piores erros de guarda-redes” no youtube. Há melhorias na equipa e são nítidas pelo futebol que apresentamos hoje, mas há ainda muito caminho a percorrer até que possamos falar de uma equipa consistente ofensiva e defensivamente. Especialmente esta última.


Um-zero não é um excelente resultado mas se tivermos em conta as oportunidades claras que houve para ambos os lados, foi bem melhor que um putativo 3-2 ou 4-3. E a verdade é que se conseguirmos jogar em Nápoles com esta força e a capacidade de manter a bola nos pés…e se marcarmos um golinho antes deles…podemos perfeitamente passar aos quartos de final. Who’d have thunk it?

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