Ouve lá ó Mister – Gil Vicente

Amigo Vítor,

Não esteve mal para primeiro jogo. Segundo, pronto, porque a Supertaça também conta. Amigáveis não interessam a ninguém, certo? Certo. Continuando. Não esteve mal, mas podia ter sido melhor. Ainda deu para roer um naco de meia-dúzia de unhas, mas se calhar eu é que continuo a ser pessimista, até porque ainda me lembro em jogos com o Mourinho que eram daquele estilo: “Pronto, já está 1-0, acabou o jogo aos 34 minutos”. Até nesses jogos eu me enervava e já se sabia que raramente havia alterações no marcador para a outra equipa. E ainda não estamos lá, nem sei se vamos estar, porque tu não és o Mourinho e ainda bem. Gostas mais de atacar, de cascar no adversário, deixas-te estar menos na retranca à espera que os gajos façam pela vida. Pelo menos é isso que dás a entender e concordo contigo. Para além disso, as gabardines do Mourinho são caras e o contrato com a Armani ainda não chegou para as tuas bandas, mas estás a caminho disso, pá. É só trabalhar e ter fé! (e um bom agente não faz mal nenhum)

E agora, de volta ao Dragão para o primeiro jogo a sério em casa. No meio desta salgalhada de transferências para aqui e para ali, com gajos novos a chegar e tipos conhecidos (quase) a sair, tens um belo dum caldo para mexer. Os sócios estão em sobressalto com o Radamel e o Ruben, anseiam por ver jogar Mangala, Defour, Alex Sandro e Iturbe, lamentam Castro, desistem do Cebola e do Fernando…e tu estás no meio de tudo. As decisões são tuas mas para além da definição de quem vai e quem fica, que ainda vai aguentar mais uns dias, é preciso ir ganhando jogos. O Gil é daquelas equipas que não assusta mas é preciso ter cuidado. Olha o que aconteceu ao Benfica…e não me venhas dizer que os vermelhões não tem equipa para ganhar aos galitos! Nestas alturas é que a superioridade teórica tem de ser mostrada ao nível da relva, homem, e há que manter a distância.

Vai gerindo as situações o melhor que puderes, porque já percebemos que ainda não sabes com que forno vais pôr a assar o plantel. Estou farto de metáforas de retrosaria, pronto.

Sou quem sabes,
Jorge

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Adios, muchachos!

Gostava de descobrir agora uma prosa adequada para dedicar à saída de Falcao, mas não consigo encontrar palavras melhores que as que escrevi sobre ele em Junho deste ano, no resumo da temporada:

“Como é que se descreve uma temporada do nível que Falcao fez desde Agosto de 2010? Podia citar os quase quarenta golos que apontou. Ir buscar as dezenas de artigos que foram escritos a louvar a capacidade goleadora do nosso Radamel. Podia até citar montanhas de opinadores, analistas, treinadores, jogadores, agentes, velhos e novos, todos a elogiar os feitos do colombiano. Chegava o camião de estatísticas que provam que foi um dos melhores jogadores da Europa na época que agora terminou. Decidi, como fiz para o compatriota Guarín, ir buscar um texto que escrevi sobre ele depois do “poker” ao Villarreal: “Quatro golos. Quatro lanças, quatro facas, quatro patadas, quatro tacadas. Quatro vezes me fizeste saltar em euforia nas bancadas hoje no Dragão, distribuindo high-fives pelos meus companheiros. E a cada um desses pulos de puro êxtase futebolístico, só conseguia pensar: que privilégio é ver-te a jogar ao vivo. Assistir às desmarcações, às fintas de corpo, aos remates e aos cabeceamentos que fazes e continuas a fazer. Já levas quinze golos marcados na Europa esta temporada e gostava muito de te ver a fazer qualquer coisa de parecido na próxima com a nossa camisola. Uma vénia para ti. Uma não, perdão: quatro!”. Falcao é dos melhores pontas-de-lança que já vi jogar. Ponto.”

Já sobre Ruben, recupero o que escrevi sobre ele na mesma altura:

Uma pequena decepção. No ano passado, quando apareceu em Janeiro para tentar ajudar uma equipa desmoralizada, partida e com algumas das suas peças mais importantes postas de lado, surgiu como um rei mirolho num grupo de invisuais, porque não sendo genial acabava por estar acima dos colegas…até porque com Raul Meireles a jogar como um refugiado somali, notava-se bem a diferença. Prometeu muito e talvez por isso a malta estava à espera que confirmasse o bom arranque, mas a lesão que sofreu no final da temporada (e que o afastou do Mundial de 2010) levou a que o início de época não corresse muito bem. Belluschi pegou no facho e tirou-lhe o lugar de vez, para depois ceder a posição a Guarín que não deu hipótese a mais ninguém. Ruben nunca conseguiu surgir a um nível que o pudesse fazer recuperar uma posição no onze. Medroso, quase sempre com pouco ritmo e com pouca vontade, só em Fevereiro/Março voltou a jogar decentemente, mas nunca como tinha feito no Nacional, por isso espero muito mais da parte dele em 2011/12. Em termos númericos é evidente: em meia temporada de 2009/10 levou 8 Baías e 1 Baroni. Em 2010/11 foram 5 Baías…e 8 Baronis.

Boa sorte, rapazes. Não guardo rancores, garanto. Para vosso bem,  só espero que tenham feito a opção certa.

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Baías e Baronis – Vitória Guimarães 0 vs FC Porto

 

First things first: foi um jogo fraco de ambas as equipas. Entramos com alguma força mas rapidamente a velocidade perdeu-se e voltamos à organização lenta, arrastada e inconsequente que é o habitual quando se colocam Rolando e Otamendi a trocar a bola a 60 metros da baliza contrária. Como o meio-campo não está nem com metade da capacidade física do ano passado, quando se encontram equipas que defendem com onze, como mais uma vez o Vitória se apresentou (ficou-lhes marcado o jogo da Taça, porque se abriram um bocadinho…e 6 pantufadas lá entraram), as dificuldades aparecem. Juntemos a desinspiração de Hulk e Varela e a ineficácia de Kléber…e só se ganha este jogo com uma bola parada. Muito trabalho pela frente mas uma coisa ficou de positivo: ganhamos um dos jogos mais tramados do campeonato. Vamos a notas:

 

(+) Helton Esteve todo o jogo a controlar a defesa e mandou em tudo o que lhe apareceu à frente, com defesas mais ou menos complicadas e muitas bolas pelo ar agarradas quase sempre com facilidade. Acima de tudo foi a confiança que transmitiu aos colegas na defesa, aquela voz de comando que qualquer defesa precisa de ouvir para jogar no pleno das capacidades, especialmente quando ainda não estão com os níveis físicos ideais. Bem a todos os níveis, até quando tentou acalmar João Paulo, num lance em que o ex-companheiro de equipa estava suficientemente nervoso para ser amarelado. Bem, Helton, muito bem.

(+) Otamendi Um jogo excelente do argentino, que faz com Rolando a melhor parceria possível que temos no plantel. Sai bem a jogar, com a bola controlada, e só precisa de ter mais calma na distribuição longa para melhorar a eficácia no jogo. É daqueles gajos que vemos na defesa e sabemos que garantem segurança quando os jogadores contrários desatam a subir desenfreados pelo relvado fora, porque Otamendi mantém a postura e intercepta bola atrás de bola usando bom posicionamento e instinto de quarto-defesa. Gosto deste moço.

(+) Fucile Mais uma boa exibição à imagem do que fez no jogo da Supertaça, Fucile esteve bem no flanco e melhor quando vinha ajudar ao centro. Responsável pela marcação a Faouzi ou Targino, nunca se deixou intimidar por nenhum dos extremos adversários e lutou como sabe. Facilitou pouco (uma ou duas bolas perdidas no meio-campo adversário a partir dos 80 minutos, nada de perigoso) e salvou várias bolas perto da linha. Não sei se Álvaro está a ser poupado porque ainda pode vir a sair ou porque não está com força para aguentar um jogo ao “seu” ritmo, mas Fucile por agora serve e bem.

(+) João Moutinho Melhor que na Supertaça, conseguiu ter bola durante mais tempo e fez muito mais com ela do que no passado Domingo. Pegou no jogo atrás do meio-campo e notou-se a maior liberdade dada pela força de Guarín (enquanto houve força de Guarín) que João aproveitou para subir com a bola e reger o jogo como a equipa precisa que faça. Com a indefinição quanto ao seu futuro, continua a ser penoso pensar que podemos ficar sem ele. É que não há substituto à altura no plantel e dificilmente haverá no mercado. Defour? Não faço ideia, nunca o vi a jogar…

 

(-) Ineficácia ofensiva O puto é novo, eu sei. E é novo aqui no clube, também sei disso. Mas não pode falhar o que falhou, com um remate que parecia ter sido pontapeado por um três-quartos dos All-Blacks. Podemos somar a incapacidade de Varela em chegar à linha (esteve melhor, mas não esteve bem) e Hulk a ser persistentemente bloqueado por Anderson Santana (um dos jogadores mais enervantes que me lembro de ver, ao nível de um Heinze ou de um Marcelo. hmm, parece que tenho alguma coisa contra laterais-esquerdos do Real Madrid…) e o resultado é a impossibilidade de criar jogadas de perigo para o adversário. É preciso ser mais prático, mais ritmado, menos previsível. Dizer é fácil, eu sei…

(-) Pouca rotação de bola no meio-campo Compreendo que a rotina não esteja ainda bem implementada, para mais com um elemento novo, outro que ainda não tem pernas para um jogo inteiro e apenas o “cérebro” a funcionar em pleno. Mas é preciso recomeçar a rodar a bola no meio-campo contrário ao invés de fazer o mesmo no nosso. E mais, os médios é que devem rodar a bola, não os centrais, porque essa foi uma das causas da intensa quebra de produtividade em 2009/2010, a incapacidade de levar o jogo para o meio-campo adversário e a contínua perda de tempo na troca de bolas a distâncias absurdas da baliza.

(-) Muita falta de ritmo Ainda não há pernas para a pressão que se quer fazer, mais uma vez é compreensível. Os joelhos ainda tremem, os músculos não estão quentes o suficiente para as tensões de noventa minutos, a velocidade é baixa e o discernimento não consegue ultrapassar a falta de força. É preciso aguentar com esperança que rapidamente vamos conseguir subir o nível, porque os desafios já começam a aparecer e o plantel ainda não está fisicamente capaz de responder como os adeptos desejam.

 

Uma nota rápida para a arbitragem. O penalty é daquelas faltas que todos os árbitros vêem mas nunca marcam porque acontecem em cantos onde os jogadores todos se puxam uns aos outros. Neste caso foi demasiado ostensivo para deixar passar e o Sapu nem tocou no defesa do Vitória, por isso a decisão parece-me correcta. E sim, diria isto mesmo que fosse na outra área. Quanto ao resto do jogo, é preciso melhorar mas estou convencido que quando a malta aguentar mais que 70 minutos sem “rebentarem” das pernas, vamos ver a rotação no meio-campo como o fizemos aqui há meia-dúzia de meses. Hope springs eternal…

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Ouve lá ó Mister – Vitória Guimarães

Amigo Vítor,

Há uma semana, enquanto saía do caos que estava em Aveiro depois do jogo, ia pensando em ti. Devias estar bem disposto, com uma taça de prata numa mão e outra taça de espumante na outra, a primeira prova superada e a malta satisfeita. E o jogo, que não foi fácil, acabou por confirmar tudo o que pensava sobre ti e os nossos rapazes: o saber está aí, só faltam as pernas.

Mas hoje, pá, tens a oportunidade perfeita para entrares a sério na Liga. É que isto de Supertaças e outro tipo de Taças cá na pátria, interessam pouco, sabes disso. O que conta mesmo para o povo é o campeonato, não tenhas a mínima dúvida! Podes ganhar 29-0 ao Rio Ave para a Taça do Ligueiro ou dos Suspensórios ou lá como se vai chamar este ano aquilo que era da cerveja, mas se não ganhares no campeonato, acredita que o pessoal começa a ficar chateado. Também é verdade que vais ter uma pressão extra, já sei. Afinal estamos sem perder no campeonato desde Fevereiro de 2010!!! São 532 dias sem perder!!! É obra, rapaz.

E lembra-te que no ano passado foi neste estádio que perdemos os dois primeiros pontos, naquele jogo parvo em que estivemos mais que bem na primeira parte e depois começámos a brincar às casinhas na segunda e o estupor do mouro do Faouzi (sim, mouro, esse é mesmo mouro) lá percebeu que o Fucile estava a dormir e lixou-o. O que interessa mesmo é ganhar o jogo, vingar esse empate do ano passado e ganhar avanço logo desde o início do Benfica e do Sporting. E não era tão bonito limpar a sequência contra estes rapazes, com três vitórias em três jogos seguidos em três estádios diferentes? Faz lá o favor à malta, homem!

Sou quem sabes,
Jorge

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Duelos para a temporada – parte III

Avançamos para o terceiro duelo, este na frente de ataque. Ou melhor, do lado esquerdo da frente de ataque:

 

Silvestre Varela
James Rodriguez
Posso chutar, mister?
(características ofensivas)
É daqueles que a malta gosta, porque vai para cima do lateral e tenta sempre passar por ele, mas quando não consegue tem a inteligência de rodar para trás. Faz a linha toda, cruza razoavelmente bem e tem boa noção táctica para o contra-ataque. Comporta-se mais como um avançado móvel do que como um extremo e rende mais no meio que na ala. Não é rápido mas compensa com visão de jogo e técnica individual muito acima da média.
Defende em condições?
(características defensivas)
Muito útil na cobertura defensiva ao lateral, acaba os jogos esgotado pelas correrias que faz pela linha. Fraco no contacto físico com os adversários. Tem de melhorar muito. Parece distraído quando a bola passa por ele e cai muitas vezes num “meiínho” entre dois jogadores adversários, sem saber o que fazer. Pouco poder de choque.
O guarda-redes abdica da barreira…
(lances de bola parada)
Nem bom, nem mau, muito pelo contrário. É melhor a sacar as faltas que a produzir alguma coisa depois de as ganhar. Marca bem penalties e pode ser uma boa aposta para livres directos perto da entrada da área.
Oh amigo, até jogo à baliza!
(versatilidade)
É gajo para estar numa ala, seja a esquerda ou a direita. Não rende quando é colocado no centro do ataque. No centro, por trás do ponta-de-lança, é onde produz mais, porque não tem necessidade de se prender a tácticas. Pode jogar nas alas mas descai para o meio sempre que pode.
Parto-te todo, ouviste?!
(sistema nervoso)
Trabalhador, simpático, sorridente, um amor de pessoa dentro de campo. Ainda é um miúdo e nota-se que em alguns lances mais divididos acaba por ceder à pressão e põe-se na conversa com os árbitros.
So ready for my fucking close-up
(imagem)
Formado no Sporting, aproveitado pelo FC Porto. Uma história de sucesso: Casa Pia > Sporting > Huelva > Amadora > Porto. Sempre a subir, portanto. E continua humilde. Está presente em todas as listas de “50 jogadores com potencial” que já saíram desde 2009. Pretendido por tudo que é clube italiano de topo. Dá para vender um ou dois desodorizantes, pronto.
Como é a música que cantamos a este gajo?
(relação com os adeptos)
Começou em alta mas está a começar a perder o lugar. Não é que o pessoal tenha deixado de gostar dele, mas a luz que surgiu bem forte no início está a ser ofuscada pelo brilho de outros mais jovens e com mais pernas. Reputação em alta com os adeptos depois de sozinho ter chegado para ganhar ao Vitória de Guimarães na final da Taça. O Mundial sub-20 está a cotá-lo como um elemento importante no FC Porto, resta saber se aguenta a pressão.
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