foto retirada do MaisFutebol
É uma crónica difícil de escrever, tanto como foram difíceis de aguentar os onze minutos finais do jogo, descontos incluídos. A ruptura física e emocional da equipa foi penosa de ver e à medida que o relógio avançava para esse infeliz minuto 82, havia uma sensação de insegurança como há muito não sentia num clássico, que poderia ser perfeitamente plausível caso o jogo tivesse sido muito complicado, o que não tinha acontecido até então. O Benfica entrou defensivo mas bem estruturado e o 4-4-1-1 deu-nos muito trabalho a quebrar, mas quebramos. E depois de mais uma parvoíce levar ao empate, lutamos para passar de novo para a frente, e conseguimos…e a partir daí, a equipa desfez-se como um castelo de cartas numa tempestade tropical. Não vale a pena reclamar com o árbitro, porque apesar de achar que houve algum exagero nos amarelos e dualidade pontual de critérios, a verdade é que o empate deve-se a mérito do Benfica como a demérito nosso e por muito que possa custar admitir, o jogo não devia ter acabado assim. Só faltou concentração, alguma inteligência emocional, mais alguma força nas pernas e acima de tudo calma e confiança, que parece estar em baixo. Vamos a notas:
(+) Fernando Foi o melhor jogador da equipa. Não chegam os dedos que tenho nas mãos e nos pés para contar as intercepções e excelentes posicionamentos defensivos que o “Polvo” hoje mostrou no relvado do Dragão, cortando lance após lance de investida atacante do Benfica, tanto no meio como na ajuda aos laterais. Era evidente que com Aimar em campo a jogar em apoio a Cardozo, Fernando ia ter trabalho intenso e a verdade é que o argentino viu-se pouco por culpa dele, provando que para jogos a sério quando é preciso alguma estrutura no meio-campo enquanto não funciona a rotatividade entre os membros do sector, a utilização de uma âncora inteligente e firme é essencial.
(+) Guarín Deve ter saído chateado. Eu sei que sairia, porque depois do jogo que fez merecia ter acabado a partida. É verdade que falhou algumas bolas no ataque e vários passes triviais que Fredy insiste em transformar em remates laterais mas a forma como ajudou Kleber na pressão a Luisão e especialmente a Garay foi bonita de ver. Jogou solto, como deve jogar, em apoio defensivo bem alto, e se houve algum elemento que impediu Javi e Witsel (bom jogador esta besta) de fazerem o que bem queriam no nosso próprio meio-campo, esse rapaz foi Guarín. Ia marcando um golo fenomenal num chapéu a Artur de pé esquerdo, mas o brasileiro estava atento.
(+) Otamendi O golo é de raiva e de esforço mas ainda assim saliento o trabalho defensivo, porque foi o mais certinho, apesar dos golos sofridos. Saiu sempre com a bola controlada e só por falta de apoio não conseguiu desiquilíbrios maiores, já que sempre que aparecia a correr pelo meio-campo dentro, parecia que o resto da equipa (tirando Hulk, mas como estava inconsequente acabou por não ajudar muito) ficava tão surpreendida que simplesmente não lhe dava o auxílio necessário e perdemos fulgor com isso. Bom no corte, aguentou o amarelo que levou muito cedo (correctamente) sem qualquer problema e foi o melhor jogador atrás de Fernando.
(+) Ambiente nas bancadas Por muito que tenha achado piada à galinha no ano passado, este foi um clássico mais digno. Não houve problemas com público, com pedradas, bolas de golfe ou bilhar ou bowling ou lá o que raio alguns animais gostam de levar nos bolsos. A polícia fechou tudo o que tinha para fechar, controlou bem a área e o ambiente, apesar de tenso como é natural para estes jogos, não teve a força negativa que no ano passado. Não fica na memória, mas por bons motivos.
(-) Desconcentrações Se o segundo golo nasce de falta de pernas e de intranquilidade defensiva, o primeiro é pura estupidez e falta de sentido prático. Não consigo compreender como é que Hulk perde a bola, Fucile fica a olhar e Cardozo aparece sem qualquer problema para encostar lá para dentro. Se Robson tivesse visto este golo mandava-os todos correr à volta do estádio durante uma hora, tal foi a falta de sentido prático e de concentração na tarefa que mostraram durante a segunda parte.
(-) Artur Aquele pé no ar é a imagem que me fica deste fulano, que fez com que lhe perdesse o respeito vocalmente com excelente vernáculo nortenho. E Guarín (ou Kleber, a memória falha-me) só não teve a clarividência de continuar e ir contra a pata da besta para ver se o animal falhava o pé de apoio com medo que lhe marcassem um penalty e caísse redondo na relva. Por vezes, caro neandertal brasileiro, são atitudes dessas que levam a que um jogo normal acabe num arrojo de pancada. E ainda bem que a malta se controlou, porque se dependesse de mim era bem capaz de chamar a brigada da braguilha e fazer de ti o primeiro guarda-redes do Benfica a levar um golden shower em pleno Dragão. Merecias.
(-) Hulk Inconsequente, foi uma pobre exibição ao nível das que fazia quando cá chegou em 2008. Parecia sempre complicar as coisas fáceis e estranhei que não tivesse rematado mais vezes, ainda que em má posição. Mas não, hoje Hulk passou o jogo todo a discutir com Fucile sobre o que presumo fossem regras de condução, porque fez dezenas de gestos com as mãos a simbolizar um “força, passe, minha senhora” e ainda agora não percebo o porquê de tanta conversa; perdeu bolas fáceis com fintas parvas; desperdiçou oportunidades de remate para fazer oh-só-mais-uma-fintinha-e-já-está; e pareceu apático com a presença de Emerson ou Gaitán no ataque pelo flanco. Volta rápido, Givanildo.
(-) Fucile Tu não aprendes, Jorge. Convences-te que és jeitoso e depois acabas por fazer jogos destes, e olha que já não é o primeiro monte de trampa que sai dos teus pés este ano, rapaz. Foi muito mau, homem, mau demais, e se tens desculpa para algumas bolas em que apanhaste com dois em cima, não te perdoo perderes bolas para aquele anão espanhol do Nolito, pá, o jogador mais sobrevalorizado desde que o Skuhravy chegou a Lisboa. Falhaste muito e em alturas importantes, moço, e só te pergunto: porquê? Qual é a necessidade de fintares gajos na linha quando podes ser prático e chutar contra eles para ganhar um lançamento? Porque é que tentas sempre fazer a coisa mais complicada quando a simples é mais melhor boa? Desiludes-me assim desta maneira? A mim que sempre te apoiei? Não se faz, Jorge, não se faz…
(-) Vitor Pereira Não me junto à turba que se parece ter formado à minha volta no Dragão, com gritos de “este gajo não percebe nada de futebol” e “és uma vergonha, caralho, era despedir-te já”. Bullshit. O que me faz dar uma nota negativa ao nosso treinador foi a forma como não conseguiu coordenar a equipa e elevar-lhe a alma quando era evidente para todos que havia ali uma desagregação iminente, tanto física como táctica. Talvez os jogadores não tenham pernas, talvez não gostem do estilo, mas algo se passa que está a roubar a alegria aos nossos putos. Hoje, tirou Kleber porque estava lesionado, como o ouvi a dizer na conferência de imprensa enquanto estava no trânsito. Mas não podia alterar a forma da equipa jogar e principalmente manter o Varela em campo, que já não tinha pernas para aquelas andanças. Mas optou por colocar o Hulk ao meio, mesmo vendo-o a complicar tudo que parecia fácil e apostaste num rapaz que cruzou duas ou três vezes sem sequer olhar para quem lá estava e que não consegue manter uma bola controlada na relva nem que lhe apontem um taser ao testículo esquerdo. E Guarín, tirar o Guarín e pôr lá o Belluschi em vez dele foi mais uma decisão que não entendi. O meio-campo estava em igualdade mas era preciso um rapaz para cobrir uma ala, MANTENDO uma pressão intensa pelo centro…e mantém-se o Varela que era um zombie no flanco, com o Belluschi a jogar enfiado entre Javi e Witsel? Não compreendi, palavra. O problema que Vitor Pereira enfrenta é complicado e estes últimos dois jogos serviram para perder mais algum capital de confiança perante muitos sócios que ainda aqui há uns meses viram a equipa a jogar como raramente tinham visto nos últimos anos e só pensam: “Mas só saiu o Falcao e o Villas-boas, que mais pode ter mudado?”…e vão-lhe começar a apontar o dedo. É um selo difícil de tirar e as vitórias terão de começar a aparecer rapidamente, caso contrário a vida pode começar a ser muito difícil para o treinador do FC Porto.
Depois de passar o jogo, é fácil perceber que perdemos dois pontos e o Benfica ganhou um. Fomos mais fortes durante boa parte do jogo mas fraquejámos nos momentos mais importantes, quando tínhamos de reter a posse de bola e trocá-la com confiança e atitude altiva de campeões, evitando que o Benfica, que tem jogadores tecnicamente melhores (Por favor: Fucile, Moutinho e Guarín, são capazes de trocar a bola pelo chão sem ser aos saltinhos? Agradecido.) e estava a jogar no erro como fez quando cá veio vencer para a Taça, pegasse na bola e fizesse o jogo rápido de transições que costuma aplicar aos adversários. Não conseguiu e tal como nesse jogo sofreu dois golos perfeitamente evitáveis. Bottom line? Um empate em casa é mau, contra o Benfica é uma desilusão. Mas não deixamos de estar na luta, muito longe disso, e o campeonato ainda vai dar muitas voltas, por isso vamos com calma que amanhã é um novo dia. E só pode ser melhor que a noite de hoje.
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