Ouve lá ó Mister – Zenit


Amigo Vítor,

Vamos fazer um pequeno exercício e esquecer aqueles últimos vinte minutos contra o Benfica. Estás pronto? Posição de Tai Chi ou Yoda ou lá o que se faz para meditar e siga. Já está. Ainda tiravas o Guarín de campo? Bem me parecia. E com as opções que tomaste e que levaram a dois resultados desagradáveis por motivos diferentes, já reparaste como toda a gente começou a cascar logo nas tuas escolhas, nas decisões que tomas e é evidente que se passa logo para o discurso, que é pouco motivador e que parece soar a um pequeno tinitar de arrogância, que já está tudo ganho e que os jogadores já nem precisam de correr e portanto se distraem, até chegarmos ao plantel, que é curto e porque é que o Iturbe não joga e valha-me Deus que não percebo como é que o Mangala é titular num jogo e no outro nem é convocado. Mas para lá desse desterro todo, gradualmente o povo começou a perceber que não foi assim tão ridículo e que a sorte foi madrasta. Não quero acreditar em incompetências, Vitor, acredito sim é no teu trabalho, acredito que estás a dar tudo o que tens para que esta tua nova vida corra bem, para lá dos pequenos sobressaltos que sempre irás ter.

Mas hoje é outro dia e nem o Guarín tens para este carnaval russo por isso agora ninguém te pode criticar por meteres ou não o moço. Por muito que não pareça que o dia é muito famoso na nossa história (duas derrotas na Champions’ em 28 de Setembro como podes ver aqui ao lado, com Real Madrid e Artmedia – e eu estive lá nesse jogo, upa upa, isso é que foi uma rica parvoíce), o que interessa é que este jogo é diferente dos que já tiveste e assim é por vários motivos. A Champions’ é como uma gaja rica e boa num bar da moda, cheia de dinheiro mas que só lá deixa chegar quem tiver argumentos para isso. E este Zenit, por muito que tenha enfiado a pata na poça cipriota na primeira jornada, é uma equipa que assusta. Em primeiro lugar assusta porque tem jogadores bons. Danny, Kerzhakov, Zyryanov, Lazovic, entre outros, são rapazes com experiência nestas andanças e não podemos facilitar um décimo de pentelho. Para além disso, não cometas o erro de pensar que lá por serem russos vão dar a mesma luta que deram os compatriotas no ano passado na Liga Europa. Tanto o CSKA como o Spartak jogaram contra nós quando estavam ainda a arrancar o campeonato, os plantéis eram mais fracos e nós estávamos já com a equipa estabilizada e fisicamente em grande forma. Como não me parece ser o caso, pelo menos por agora, espero que montes uma estratégia que nos deixe descansados em casa (ou no café, que é onde a maioria do pessoal vai ver o jogo) e que possamos sair de São Peterburgo com pelo menos um ponto. Já me dava por satisfeito, sinceramente. Não sou nada derrotista, não venhas com essas conversas, mas temos de ser realistas, homem! É entrar para ganhar mas se calharmos de empatar…seria o único de três empates seguidos que não me punha às voltas na almofada.

Por isso força nas canetas e vamos lá mostrar de que massa somos feitos. Matriosca-os!

Sou quem sabes,
Jorge

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Ui, partiu-lhe as pernas!

Onde estão os gajos duros da bola? No actual plantel do FC Porto não consigo vislumbrar um único jogador que me meta medo se fosse jogar contra ele. Sempre tivemos uma tradição de alinhar pelo menos com um ou dois gajos que assustam só de olhar para eles, como um Fernando Couto, um Jorge Costa ou um Paulinho Santos nos anos 90 e o Costinha ou o Bruno Alves (menos que os outros, já que este era mais bruto porque saltava muito mais que os outros. Não era nenhum menino mas não se comparava aos primeiros da lista, por muito que a imprensa e os adeptos adversários adorem dizer que sim e abanem todos com a cabecinha). O FC Porto que joga no futebol moderno, está cheio de gajos como o Materazzi, o Essien ou o Witsel (sim, porque o rapaz para além de saber jogar, sabe acertar e bem), parece ter abdicado deste tipo de jogadores em função de homens mais colectivos, mais pontualmente agressivos em vez de passarem o jogo todo a pensar na melhor forma de romper os gémeos do qualquer infeliz que se atravesse à sua frente. É verdade que qualquer equipa deve ter pelo menos um elemento que faz tremer o mais virtuoso dos avançados quando pensa no que será um simples treino confrontado com o que só pode ser visto como pura e inconfundível maldade. Hoje em dia, não o temos. E não vale a pena falar de algumas entradas rijas do Fernando ou do jogo de braços do Guarín, porque nenhum deles é um Roy Keane ou um Vinnie Jones. Nem perto.

É verdade que se torna um risco enorme ter um jogador deste calibre no onze, pela fácil constatação que esse mesmo onze se pode transformar num dez numa questão de segundos. Mas gajos como Souness, Gentile, Stiles, Montero ou Goikoetchea (“O carniceiro de Bilbau” não é uma alcunha derivada, estranhamente, do talento para desmanchar carnes verdes) foram vitais na ascensão das suas equipas ao zénite do futebol europeu noutros tempos. Hoje em dia é quase impensável assumir que há a necessidade de manter uma besta deste nível numa equipa de profissionais, mas admito com as bochechas ruborizadas que sinto algumas saudades de ver o medo nos olhos do jogador adversário que se vê envolvido numa entrada dividida contra o Paulinho Santos e que o faz pensar numa fracção de segundo em telefonar à seguradora e mandar uma carta aos pais a dizer que se calhar já não volta.

Gostava de rever algum tipo de jogador à imagem do que Bill Shankly, esse eminente poço de citações futebolísticas, disse uma vez de Tommy Smith, defesa do Liverpool nos anos 60/70: “Tommy Smith wasn’t born; he was quarried.”, que se traduz toscamente para qualquer coisa como: “Tommy Smith não nasceu: foi extraído de uma pedreira.”. E acho que não estava a falar do estádio do Braga.

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Oh Captain, my Captain!

Não é nenhum segredo que muitas vezes uma equipa que parece mais fraca no papel acaba por ter um desempenho bem mais positivo graças à liderança inspirada do seu capitão. Seja através da voz de comando a partir da rectaguarda, pelo exemplo na inteligência a controlar a posse de bola e o tempo de jogo ou pela audácia ofensiva que eleva a equipa a novos patamares de confiança, é em grande parte para o capitão que os colegas olham como pilar de orientação, como que vislumbrando um futuro próximo com todas as respostas certas. É também uma questão de opinião pessoal, que se altera de treinador de bancada para treinador de bancada, quando se escolhe o principal motivo de escolha do capitão de uma equipa. Senioridade, carisma, experiência, empatia com os adeptos ou talento, qualquer um destes pilares seria um forte indicador da valia e mérito da selecção do líder que leve a equipa às costas, solidários como formigas e unidos como centúrias romanas.

Quando olho para a fantástica temporada de 2010/2011 e em tudo que conseguimos vonquistar, o nome de Helton surge naturalmente na minha memória como um dos principais responsáveis pelo caminho percorrido. Nos factores que apresentei em cima, o nosso guardião e capitão tem notas elevadas em todos eles e é o mais forte candidato ao cargo de “general-de-campo” das nossas tropas, com a liderança natural no terreno e no balneário, a confiança que transmite aos colegas e a boa relação com os adeptos a transformarem-no na melhor escolha possível. E se nos lembrarmos de outras épocas do passado vemos nomes como Vítor Baía, Jorge Costa, Lucho, Pedro Emanuel, Aloísio, Oliveira ou o grande João Pinto, todos eles homens que simbolizaram o espírito do clube em campo, dando tanto à equipa como aos adeptos razões para estarmos tranquilos quanto à integridade e tranquilidade das suas vozes.

Apesar das conhecidas condicionantes impostas pela distância da zona onde o jogo costuma decorrer, é o homem que melhores condições tem para usar a braçadeira multi-colorida com o nosso emblema que representa o reconhecimento dos seus pares e superiores da confiança que nele depositam para ser o coordenador moral da equipa. Incidindo numa lógica puramente estratégica, gosto mais de capitães que joguem no meio da acção, que estejam em permanente proximidade dos colegas e dos adversários, gravitando num raio de acção que abrange o máximo de terreno possível. No entanto, sem saber se Moutinho (o segundo melhor candidato ao lugar) vai andar por cá nos próximos tempos, o tipo que escolhe o lado da moeda antes de começar o jogo está bem escolhido. Ainda esta sexfa-feira, o único jogador do plantel do FC Porto que é mais velho que eu mostrou nas flash-interviews tanto na SportTV como na RTP uma vez a imagem que o nosso capitão está bem escolhido, sabe falar, foge dos clichés habituais e mostra-se sempre com a confiança dos vencedores e dos líderes. Helton, os meus parabéns, pá.

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