São estes jogos, nas circunstâncias em que são disputados, com a relva nos dentes e os olhos raiados de vermelho-sangue, que fazem ou desfazem campeonatos. É com a força interior, com a capacidade de esforço e dedicação a uma causa conjunta, lutando contra uma equipa de grande valor que sente o mesmo que nós e luta pelo mesmo objectivo, que se consegue chegar ao ponto mais alto da classificação de uma temporada tão atípica e tão cheia de altos muito altos e baixos demasiadamente baixos. E foi esse FC Porto que vimos hoje na pedreira de Braga, um FC Porto que trabalhou em conjunto, que se uniu nos momentos difíceis e encarou este jogo como uma partida de importância vital para um final que se quer perfeito depois de uma época imperfeita. Foi enervante, difícil, cansativo. E foi nosso.
(+) Maicon e Otamendi Mais até que Hulk, os dois homens no centro da defesa do FC Porto foram quase perfeitos nas posições que ocupavam. Tanto o brasileiro como o argentino estiveram em grande na cobertura defensiva, no controlo do ataque do Braga que raramente conseguiu criar perigo para Helton porque não conseguiram passar pela parede que foi formada pela nossa dupla de centrais. Parece estranho ver Otamendi a brilhar a tão grande altura em Braga (no ano passado marcou lá dois golos) depois de o termos visto em tantos jogos a fazer tanta borrada, mas a verdade é que talvez tenha feito a melhor exibição da época. Maicon não complicou, mais uma vez, e apesar de alguns passes falhados no desenrolar de jogadas ofensivas, ajudou muito a equipa com a força e a imponência do jogo aéreo em zonas recuadas. Rolando, rapaz, parece que começas a ficar com os dias contados.
(+) Hulk O herói da noite. Só parou de correr quando não conseguiu mais e mesmo assim foi muito útil a tapar as subidas de Elderson e continua a ser o elemento mais profícuo no nosso ataque, por vários motivos. Porque é por ele que obrigatoriamente as jogadas de ataque têm de passar para que os desiquilíbrios o sejam de facto. Reparem nas duas jogadas que na primeira parte deram remates de Lucho para boas defesas de Quim. E o remate quase sem ângulo que daria o golo do ano e que fez com que Quim fizesse uma das melhores defesas que me lembro de ver na minha vida, de puro instinto e perfeita noção de espaço. Hulk, para além do golo, é importante acima de tudo quando joga a este nível, com força, garra e a complicar pouco. Se conseguirmos ser campeões este ano, o título é em grande parte dele.
(+) Defour Tinha as minhas dúvidas acerca da capacidade do meio-campo do FC Porto aguentar o do Braga sem Fernando no onze. Mas o belga esteve em todo o lado, com garra, esforçado, prático, sem inventar. Não tem e nunca terá a disponibilidade física de Fernando mas compensou essa natural inépcia com um excelente posicionamento, intercepções importantes e saídas rápidas para o contra-ataque com passes bem apontados e boa visão de jogo. Soube quando driblar, quando passar, quando correr e quando parar. Gostei.
(-) Álvaro Pereira Não dou um Baroni a Álvaro pela reacção à substituição. Falava com um amigo acerca disso enquanto via o jogo e ambos concordávamos que preferimos ver um jogador chateado por sair quando acha que pode e deve continuar em campo e discordar abertamente do treinador. Não me maça minimamente desde que as coisas sejam esclarecidas a posteriori, mais a frio. Mas Álvaro estava a fazer um jogo tão trapalhão, com inúmeras perdas de bola por mau domínio do esférico, cruzamentos para ninguém e mau posicionamento defensivo. Não fosse a ajuda de James e de Moutinho pelo seu lado e Alan teria sido bastante mais produtivo. Saiu bem.
(-) Kleber Compreendo a opção de Vitor Pereira. Um avançado mais móvel, mais mexido, menos posicional e que pudesse recuar para vir buscar jogo, tudo faria sentido…se Kleber conseguisse estar em jogo mais vezes. Mas foi quase impossível porque o brasileiro não parece assentar bem na equipa, produz muito pouco e perdeu até a loucura dos primeiros jogos em que corria mais do que tocava na bola, parecendo desistir com enervante facilidade dos lances. Custa-me olhar para este rapaz e pensar que era a aposta para titular no FC Porto 2011/2012.
(-) A continuação da saga “Porque é que falhamos tantos passes?” É a mesma história semana sim, semana sim. A quantidade de passes falhados e lances que consequentemente se perdem na sequência dessa inépcia técnica é assustadoramente elevada para uma equipa do nosso nível. Não consigo compreender o porquê de tanto falhanço, de não se conseguir ligar o jogo entre sectores de uma forma consistente, porque gostaria de pensar que as nossas sessões de treino incluem algo mais que umas corridas e meia-dúzia de peladinhas. Palavra de honra que os punha a acertar num poste a distâncias variáveis e quem falhasse tinha de limpar o telhado do Dragão preso só por um fio dental. Era só para ver se os gajos começavam a acertar os passes em condições.
Cinco pontos à frente do Braga e doze pontos em disputa. Não os afastámos de vez do campeonato, mas demos uma facada nos gémeos da qual não será fácil aos bracarenses recuperar. Já o Benfica…é outra história. Se os rapazes de vermelho decidirem ir vencer a Alvalade, podemos ter campeonato até ao fim. Raios, mesmo que não consigam ganhar na retrete do Lumiar, também vamos ter época até à 30ª jornada, quando muito até à 29ª. De uma coisa não podemos fugir: o FC Porto está na posição mais que primária para poder garantir o bicampeonato. E hoje, depois do jogo, enquanto me acalmava depois da quarta ou quinta cerveja, fiquei a pensar que este podia ter sido o jogo do título. Bastava termos feito mais três ou quatro jogos com esta intensidade. Merda, custa-me tanto reviver Barcelos, Olhão ou Aveiro…só espero que esse tempo tenha ficado para trás.