Crónica de uma saída anunciada

Recebi a notícia enquanto almoçava. Fiquei surpreendido, admito, até porque a esta altura da época não pensava que houvesse qualquer alteração no leme, por muito complicada que a situação estivesse, e está. Mas fui inundado por uma sensação de alívio que decerto não durará muito tempo, essa tradicional descarga de adrenalina negativa como tivesse acabado de desistir da subida a uma montanha íngreme enquanto a meio da ascensão, enquanto via os colegas mais à frente, quase a perder de vista. Era esse cume a que apontávamos, que agora ainda está ao alcance mas quase impossível de tocar com mãos virgens, e que vemos ao longe enquanto paramos para lamber as feridas, os rasgões que fomos sofrendo ao longo do percurso pelo matagal rasteiro mas cheio de cardos e cactos e espigões que nos foram fazendo sangrar ao longo de nove meses. Não estamos bem, estamos tristes, vamos sofrendo e queixando enquanto levantamos as mãos para o céu e perguntamos se ainda demora muito para acabar. E sabemos que há arbustos com bagas rejuvenescedoras pelo caminho, vermelhas com o sumo da fonte de um qualquer Ponce de León que nos faça erguer com a força e vitalidade de trezentos espartanos e que nos dê a hipótese de continuar a subir. Sempre a subir. Mas paremos com as metáforas e a hiper-deambulação poética para voltar ao assunto mais palpável e fácil de analisar.

Paulo Fonseca sai por culpa própria. Não duvido disso e estou para lá de ser um desculpadista das opções da SAD, das piadas de Pinto da Costa ou das falhas dos árbitros. A culpa de Fonseca é nítida em três vertentes: resultados, opções tácticas e liderança.

Os resultados são a parte fria da questão. É inegável que um treinador chega ao FC Porto com a perene necessidade de vencer. Não há volta a dar a esta exigência, a este zénite doméstico que é quase impossível de manter e que só os grandes alguma vez conseguem com assertividade e consistência. E ninguém lhe pedia para ser um Mourinho ou um Villas-Boas, mas pedia-se que não fizesse, no mínimo, pior que o seu antecessor. E não o conseguiu, espalhando-se ao comprido no campeonato, saindo da Liga dos Campeões com estrondo e mantendo-se amarrado com um fio à Europa League. Venceu a Supertaça, sim, com um jogo até bem razoável, mas foi numa fase tão incipiente da temporada que já ninguém se lembra, nem sequer dá grande importância. E o resto dos meses foi passando com vitórias quase sempre difíceis e demasiadas perdas de pontos. A derrota na Luz foi tão simples para os da casa que nem parecia natural a disputa de um jogo que não é suposto correr-nos bem mas que tantas vezes nos últimos anos tinha sorrido para os nossos lados. E o desaire no Dragão, anos depois do último, foi tão inusitado como esperado por quase todos e lamento dizê-lo, até pelo próprio treinador.

A parte táctica acaba por ser mais questionável tendo em conta o que é a hubris habitual de um treinador de futebol. Ninguém quer simplesmente pegar no trabalho que já estava feito, embrulhá-lo num papelinho todo catita e dizer que o conteúdo é todo novo, esperando que o mérito seja entregue por inteiro. Há uma contínua necessidade de afirmação, de deixar uma marca para o futuro e de dizer que “aquela” equipa é minha, “aquela” estratégia foi criada, inventada e aplicada por mim, pelo que agora está cá e o passado que se lixe. Não o questiono e é uma das formas que um novo nome tem de se fazer ouvir, especialmente quando houve uma ou outra alteração nos elementos que o rodeiam diariamente. Mas chega a uma altura em que os observadores mais atentos do resultado do seu trabalho (não do trabalho em si, atente-se), os adeptos, perdem a paciência. E este ano foi fácil perceber que algo não estava a funcionar. A insistência nos dois homens mais recuados no meio campo pareceu sempre estranha a um grupo que nunca o tinha feito e em especial a um ou outro jogador que pareciam desconfortáveis em demasia com o que lhes era pedido. Havia buracos enormes no centro do terreno, falta de apoio nas alas, um tremendo abismo entre o centro do ataque e o resto das posições ofensivas…tudo parecia estar a funcionar mal, sem entrosamento e com demasiadas hesitações na altura de colocar em campo o que todos já vimos que aqueles rapazes podem e sabem fazer. Fonseca foi-se perdendo em hesitações nas alas, mudando constantemente a estrutura sem deixar de privilegiar a sua visão, nunca querendo perder a estratégia geral e desperdiçando tempo e oportunidades em alterações que eram nucleares, não o parecendo.

E quando as coisas não funcionam, chega a altura da terceira falha, talvez a mais grave: a liderança. Nunca o treinador pareceu forte, nem no discurso e muito menos durante o jogo, onde os aplausos sempre pareceram exagerados e sem efeito na moral dos jogadores. Falhas após inconcebíveis falhas defensivas eram saudadas com uma ronda de incentivo em forma de meia-dúzia de palmas vindas do banco, de onde pouco mais parecia sair a não ser a compreensão pelo trabalho mal feito e a crença cega que iria melhorar no futuro. Dava a impressão que o treinador era pouco pai, pouco chefe, pouco disciplinador e muito amigo, muito compreensivo, muito new-age. Quando a espiral negativa dos resultados começou então a abanar a estrutura, não havia pulso. As falhas sucediam-se e a ausência de uma palavra forte para fora que ecoasse para dentro foi-se notando, ajudando a desfazer as fundações de uma equipa que é feita de massa fraca, com muitos jogadores a cederem psicologicamente às suas próprias ineficiências sem que conseguissem elevar a moral durante mais de cinco minutos de cada vez. E foi aí que Fonseca começou a perder o grupo, perdendo os adeptos por arrasto.

Perdemos, por isso, um treinador que foi uma aposta no início da temporada e que nunca chegou a conquistar seja quem fosse dentro do FC Porto. Há várias atenuantes (as perdas de Moutinho e James; a falta de um jogador decisivo nas alas que Quaresma, pelas características que tem, nunca será em pleno; o constante assédio a jogadores do núcleo central durante o mercado de Inverno) mas nenhuma delas pode explicar a quase completa implosão que o FC Porto atravessa neste ano. Exigia-se mais e melhor. Fonseca nunca conseguiu o mínimo e por isso sai, com consciência de um trabalho feito com honestidade mas sem capacidade para um clube deste nível.

Obrigado, Paulo. Que tenhas sorte no futuro, mas deixo-te um conselho: não tentes ser amigo dos jogadores a não ser que te retribuam em campo. Porque quer queiras quer não, antes de seres amigo deles, tens de ser chefe.


PS: Um bom exemplo da forma como a comunicação do FC Porto funciona está na notícia que foi colocada no site oficial do clube em relação à saída de Fonseca. Nem um agradecimento pelo trabalho efectuado ou uma palavra simpática. Estamos a passar de clube regional para clube grande, sem a mentalidade de gente superior. Entristece-me.

PS2: Interino ou não, Luís Castro é o nosso novo treinador. E eu, que ando desde o início do ano a ver os jogos da B e a apreciar o trabalho do “mister” (e há meses que ando para escrever sobre os valores que vão aparecendo na equipa secundária…o que prova que o timing é tudo e que eu, sinceramente, sou uma bestinha), não espero nada de extraordinário nos próximos tempos. até porque já tenho idade suficiente para não acreditar em milagres. Seja como for, bem vindo, caríssimo!

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Há uma camisola do FC Porto no 8bitfootball!!!

Sou um fulano que usa t-shirts regularmente. Um daqueles parolos que vagueia sites de camisolas com motivos geek, um pouco à imagem do Sheldon do Big Bang Theory, em versão pançuda, atarracada e consideravelmente menos inteligente e com maior apetência para situações sociais. Assim sendo, possuo uma diversa selecção de t-shirts que muita gente considera “de cromo”, com piadas tecnológicas e/ou sobre futebol e ando sempre à procura de edições porreiras para poder usar no corpo e assim poder dizer ao mundo: “estão a ver? eu sou fixe!”. Não é fácil ser eu, garanto.

Um desses sites que habitualmente visito em busca de novas imagens é o 8bitfootball, onde já tinha comprado este belo espécimen de camisola que ostento pontualmente. Um destes dias decidi desafiar o talento do criador para que pixelizasse a equipa do FC Porto que venceu a Europa League em Dublin para que pudesse assim ser colocada à venda e rapidamente adicionada à colecção caseira. O autor, sem dúvida ofuscado pela tarefa hercúlea, aceitou…e cá está ela:

Estupendo, certo? Certíssimo! Façam como eu e encomendem já uma obra de arte onde podem facilmente identificar, pixel a pixel, os nossos eternos vencedores europeus. Não se vão desiludir e terão uma oportunidade de mostrar ao vosso mundo que são adeptos do FC Porto e não precisam de dar dinheiro extra a ganhar à Nike, ajudando assim um designer com estupendo talento.

Link para a camisola aqui: http://8bit-football.com/2013/11/06/porto-uefa-europa-league-2011-winners/

Link para a loja aqui: http://8bitfootball.spreadshirt.nl/men-t-shirt-portuguese-dragons-2011-A26167113 (o desenho é o mesmo, as palavras são diferentes por motivos de copyright…)

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Ouve lá ó Mister – Belenenses

Mister Paulo,

Já não vimos aqui a Belém há uns tempos. E já sentia a falta de dar o salto ao monumento do Pepe, deixar as flores e prestar a homenagem que o homem merece. Era uma tradição bonita, das poucas que me davam um gozo do caraças. E depois os camelos deixaram-se cair na segunda divisão (será sempre segunda divisão, quero lá saber quem a patrocina) e a tradição caiu por terra. Não estavam à espera que fizéssemos os penosos trezentos quilómetros na A1 para ir lá espetar uma coroa de flores, era só o que faltava.

Hoje, regressámos ao Restelo, esse belo estádio à beira-rio construído que enche quando o Papa cá vem e pouco mais. O estupor do clube já foi quinze vezes à falência e regressou dos mortos como um zombie no Walking Dead que descobriu uma cura miraculosa e já cá anda a pinchar e a cantar. É bonito o futebol, não é? É sim senhor, quem disser o contrário é mentiroso e cínico e não percebe nada desta treta. Por isso vamos lá fazer deste jogo ainda mais bonito e ganhar o primeiro jogo do ano em Lisboa. Já percebi que vais levar os mesmos gajos que ganharam ao Sporting, por isso tens tudo nas tuas mãos já que os que jogaram bem na semana passada também têm condições para fazer igual hoje à tarde. E aproveita para explicar ao Otamendi que se a jogar da maneira que tem feito consegue ser chamado à selecção…ele que imagine o que pode acontecer quando estiver em grande! É titular, porra, saca o lugar ao Garay ou a qualquer outro tono que joga lá no San Lorenzo ou no Gimnasia coiso e tal e vai ao Mundial de caras.

Ganha lá o jogo, recupera os cinco pontos de avanço para a vermelhagem e manda a malta para o descanso do campeonato com a bomba bem cheia. É só isso, como de costume.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Sporting

Mister Paulo,

Nos últimos anos temos apanhado um Sporting fraquinho. Débil, com garras de plástico, juba a cair, osteoporose felina a foder-lhes os ossinhos todos. Ainda no ano passado, quando cá apareceram, apanharam dois e só não entraram mais porque não calhou. E tem sido assim há vários anos desde Março de 2007, a última derrota no Dragão com esta malta, quando o Tello se armou em Roberto Carlos e marcou um golaço. Cabrão do chileno, pá.

Este ano, parece que as coisas estão diferentes. Pelo menos se olhares do lado deles, com toda a certeza que estão. Os rapazes estão com mais força que um caloiro em dia de queima e não me parece que falhem muito na garra e na vontade, aí não duvido. Mas é aí que conto contigo para lhes dares uma lição. Para lhes mostrares que todo este crescente verde que anda a invadir todos os meus sentidos e começa a rasgar caminho até à minha alma. Estou farto de ouvir dizer que o Sporting está em grande, que o Montero marca mais golos que o Van Basten, que o Capel é melhor e mais rápido que o Overmars e que o Maurício manda na defesa como o De Boer (não sei porque raio me deu para comparações com holandeses, mas que se lixe, é adequado). Estou farto de ouvir falar bem deles e mal de nós.

Vira o disco a esses camelos. Põe os gajos a tremer ao fim de quinze minutos, carrega em cima deles com a força de uma horda de hunos, massacra a defesa dos gajos, desfaz o meio-campo e neutraliza o ataque. Joga com quem quiseres mas lembra-te que este é um clássico e não cometas o erro do Co que menosprezou estes grandes jogos e perdeu crédito com o povo à custa disso.

Ganha o jogo. Empurra-os para baixo e mostra que ambos somos grandes…mas nós somos mais maior grandes que eles.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Trofense

Mister Paulo,

Os ingleses, pelo menos alguns dos que escrevem nas internetes, chamam a este período “Interlull”. É mais uma daquelas atitudes curiosas e cheia de pequenos duplos-significados que os bifes adoram usar (e fazem-no diariamente nas capas de jornais e nas televisões, tanto que os amaricanos agora fazem o mesmo) e que no fundo quer dizer qualquer coisa como “o intervalo entre jogos a sério que dá sono de tão entediante e não-competitivo”. É assim que me sinto durante estes períodos sem jogos do FC Porto. Seco, frio, infeliz, de ombros caídos, sem alma e sem vida. Mas hoje, felizmente, regressamos à bola, ainda que numa competição que só é grande porque o Benfica ainda não foi eliminado.

Já percebi, pela convocatória, que optas por poupar alguns rapazes que têm jogado mais (perguntou-me um amigo que se diz portista: quem é o Victor Garcia?! Herege, é o que és!). Não te aconselho grandes exageros até porque o FC Porto tem tendência para facilitar a mais nestas tralhas (pergunta ao Jesualdo e ao Fernando Santos o que acontece quando brincam em serviço), mas aprovo que dês minutos a alguns moços que também merecem. Fabiano, Reyes, Ghilas, Carlos Eduardo e talvez Kelvin podiam entrar no onze, mas não mudava mais ninguém. Mantém o meio-campo forte com o Fernando e o Defour, espeta com os laterais do costume e tenta matar o jogo depressa para descansares para terça-feira. Mas não sacrifiques um resultado positivo por uma melhor preparação para um futuro encontro. O que conta é este e não sendo preciso entrar com todos, entra com o suficiente para garantir que não levam todos uma assobiadela no final.

Não vou lá estar em corpo nem devo ver o jogo em directo, mas amanhã voltaremos a falar. O tom da conversa depende de ti.

Sou quem sabes,
Jorge

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