Vais estar dentro do balneário com dezoito rapazes com o equipamento vestido. Sentados nos bancos de correr, esperam que fales, esperam que lhes dês as últimas palavras antes de um jogo que pode marcar mais uma etapa em grande na carreira de todos. As faces, já suadas do treino, viram-se para ti com a ansiedade de quem sabe não poder falhar, de quem atravessou vinte e oito jornadas de euforias, dores, alegrias, gritos, súplicas, ilusões e desilusões. E tu, que te manténs estóico à frente desse galeão com velas esburacadas mas vontade férrea de insistir a caminho de terra firme, voltas-te para eles nos cinco, talvez seis minutos que te restam até se encaminharem todos para o corredor.
Fala-lhes de Belluschi e da forma como levantou a bola para torpedear Quim. De Quaresma, que na Luz e no Dragão lhes marcou vários e de diferentes estilos, com o nível que sempre teve cá e nunca mais recuperou depois de sair. De Lisandro, com a força e a determinação de um gigante que não era em estatura mas em alma. De Hulk, esse louco que rebentou as redes de Roberto e Artur, esse mesmo que está do outro lado. Fala-lhes de Wetl, o austríaco dos cinco na Luz. De Jardel que deixou Preud’homme a olhar para a bola que entrou a rasgar a baliza. Fala-lhes do Capucho, que enfiou ao pobre do Enke um balão tão lindo. Do Deco, com aquele livre directo por cima do Moreira. Do Timofte e o penalty no nevoeiro. Do Falcao e o calcanhar no ar no meio da pequena-área. Fala da força do Emerson, da vida do André, dos sprints do João Pinto e da garra do Jorge Costa. Fala de todos estes nossos grandes jogadores dos últimos anos e explica-lhes que daqui a mais alguns, outros virão a falar deles pelos mesmos motivos.
O campeonato começa hoje, Vitor.
Sou quem sabes,
Jorge