We may need to buy

Estou sentado no sofá na minha sala a ouvir Billie Holiday e a beberricar um copo de vinho. Do Douro, forte, com corpo suficiente para empurrar o Hulk e deixá-lo prostrado no chão. E enquanto sorvo mais um gole do néctar no copo com pé que pouso delicadamente na borda do encosto para o braço que não uso, vou pensando em futebol. Prosaico, não acham? Talvez, mas não dá nada de jeito na caixa e poucas coisas melhoram estes momentos de descanso e puro lazer idílico (para mim, que sou um maldito epicurista wanna-be) que dissertar um pedacinho sobre a bola e acima de tudo sobre a bola dos meus. Não sobre as minhas bolas, descansem, não terão prosa de índole testicular por estes lados nos próximos tempos a não ser que me surja um instinto incontrolável de pontapear alguns e descrever sensações alheias.

Olho para o plantel e concordo com o mister. Parece-me curto. Infelizmente curto. E se tirarmos os que estão de fora da equação porque nunca foram opção (Rafa e Rolando), somarmos os que não serão opção válida pela pressão que têm já em cima deles para apresentarem níveis de performance mínimos para impedirem vaias quando entrarem em campo (Kleber e Iturbe) e adicionarmos os que são segundas-escolhas por demérito próprio (Kelvin ou Castro), ficamos com…pouca gente. Se a baliza Helton não oferece contestação e mesmo com a alternativa Fabiano não estaríamos a arrancar cabelos, na defesa as coisas começam a tremer. Danilo e Alex Sandro estão seguros nas laterais e no centro Otamendi e Maicon estarão na mesma situação, com Mangala sempre pronto a entrar para o lugar de qualquer um dos…quatro. Alternativas? Algumas. Credíveis? Poucas. Miguel Lopes pode render Danilo, tudo bem, com mais coração e muito menos cabeça, mas safa o lugar. Abdoulaye teve alguns bons momentos mas espera mais uma vaga e de Quiñones ainda não vi nada. E nos bês há alguma qualidade mas dificilmente entrarão como opção para os ás. Diogo e Victor Luís são miúdos a defender, David é mais fraco do que parece e no centro talvez Tiago Ferreira seja opção daqui a uns anos. Falta alguém? Depende de quem sair, se alguém sair.

No meio-campo é que a casa treme toda. Fernando vai batalhando com Defour, Lucho com Kelvin e Moutinho com Defour. Mas Defour já jogou mais vezes na posição de Fernando e Castro, a outra alternativa, também fez o mesmo. Lucho está sozinho e tem-lhe sido exigida uma carga de trabalho bem maior do que esperava que aguentasse. Lembro-me das quebras do argentino a meio da temporada e temo que o mesmo aconteça este ano, o que me deixa receoso que tenhamos de lá colocar um outro milieu-de-terrain com um nível parecido. Quem? Não há mais nenhum no plantel, A ou B, que se equipare. Podem pensar que qualquer um faz o papel dele mas quem vai lá ver os jogos sabe que não é verdade e isso é evidente quando Lucho sai de campo. Kelvin desposiciona-se com demasiada facilidade, James joga à frente demais, Defour atrás demais. Sérgio Oliveira, talvez? Não lhe reconheço consistência nem maturidade competitiva para tal. Pedro Moreira? Parece-me de futebol curto, pouco imaginativo e acima de tudo pouco líder. É preciso uma alternativa a Lucho. E se Moutinho sai? Mete-se lá o Tozé? Coitado do moço, até tem jeito mas precisa de continuar a jogar, a aprender, a crescer. Por isso vamos com calma, um passo de cada vez.

Chegamos ao ataque. Jackson tem raízes no lugar, James é indispensável. E do outro lado? Atsu começou bem a época, Varela é mais consistente, tacticamente mais astuto e mais experiente, mas a boa forma do início da época está a roçar o medíocre nos tempos que correm, e fazem-no mais que Varela. Kelvin, que pode fazer o lugar, não parece ter o sentido prático para decidir jogos. Se no meio Kleber perdeu confiança dos adeptos apesar do treinador o manter por perto, não vejo em Dellatorre uma solução eficiente e acima de tudo suficiente, muito menos o faço em relação a Vion. É preciso uma alternativa a Jackson. E na ala, quando vejo Sebá a jogar penso em tantos extremos que passaram por clubes menores em Portugal ou na estranja e que nem deram má conta de si nesses clubes…mas olho para os que cá chegaram e penso na pressão que recebem. E desconfio que o rapaz ainda não tenha o que é preciso. Estarei a ser pessimista? Não creio, olhem para os exemplos de Marco Ferreira, Alan, Djalma ou Mariano, para não falar nos putos que subiram como Candeias, Vieirinha, Bruno Gama ou Helder Barbosa, entre outros. Temo que Sebá tenha de progredir mais para não ser contestado. É preciso uma alternativa a Varela.

Assim sendo, vejo três posições que podem precisar de remendo. Médio organizador, extremo e ponta-de-lança. Ideas, anyone?

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OK, FCP B v2 – Parte I – A última equipa bê, sete anos depois

Algumas reflexões nos próximos dias sobre a importância de uma equipa B e as melhores formas de a aproveitar. Comecemos pela história. Acima está o plantel do FC Porto B em 2005/2006 (dados sacados do zerozero) e a evolução dos mesmos jogadores nos sete anos que se seguiram à extinção da mesma equipa.

Algumas curiosidades de uma análise rápida aos nomes e às carreiras:

  • Nenhum jogador evoluiu na sua carreira ao serviço do FC Porto, pelo menos de uma forma consistente. Nuno André Coelho, Helder Barbosa, Vieirinha e Bruno Gama, todos eles tiveram hipótese de provarem as suas qualidades na equipa principal mas nunca foram opção de fundo;
  • Vários rapazes conseguiram crescer no mundo do futebol fora do Dragão. Os quatro nomes de cima talvez sejam os exemplos mais evidentes de sucesso, particularmente Vieirinha mas também Helder Barbosa, André Leão e Nuno Coelho, estes últimos na Liga Portuguesa.
  • Muito talento precoce foi desperdiçado. Os manos Paixão, Pedro Ribeiro, Márcio “O novo Deco” Sousa, Zequinha (o mesmo que sacou o cartão da mão do árbitro que o expulsou num Mundial de sub-20)…todos eles foram despachados sem terem conseguido dar aquele salto qualitativo que se espera de um jogador aquando da passagem de uma prometedora jovialidade para uma idade adulta, onde o nível é mais alto e o nível de exigência mais apertado.
  • Notem que alguns dos jogadores que passaram pelo FC Porto B (em 2005/2006, isto é) e prosseguiram a sua carreira no estrangeiro conseguiram inclusivamente jogar em divisões superiores às que alguma vez tinham conseguido em Portugal (casos indicados a negrito na penúltima coluna). Isto deve querer dizer alguma coisa mas temo que não seja aquilo que todos gostávamos que dissesse.
  • Só três jogadores são actualmente jogadores sem contrato (31 de Maio de 2012) o que dá um índice de desemprego de 9.6%. Afinal a escola é mesmo útil para se arranjar emprego.
  • Nuno Coelho e André Leão na mesma equipa. Só tenho pena do meio-campo da equipa adversária.
  • Helder Barbosa, Bruno Gama e Vieirinha no mesmo plantel. Qualquer um deles podia ter sido melhor aproveitado no plantel principal. Havia meia dúzia de problemas que os impediram de o fazer. Um deles chamava-se Ricardo Quaresma e secou tudo o que aparecia perto dele. O outro, como de costume, foram os adeptos…mas deixo essa para outro dia.
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Mais putos

Quando li que Christian Atsu tinha sido blindado com uma cláusula de rescisão de dois milhões de contos (ou dez milhões de euros, para os mais jovens), só me vieram à cabeça exemplos como Helder Barbosa, Ivanildo, Vieirinha, Candeias ou Bruno Gama, como falei aqui há uns tempos. Qualquer um destes moços, cada qual com o seu estilo e talento e elogiados por toda a gente quando eram the next big thing nos escalões de formação, foram injustamente feitos alvo primário de assobiadores compulsivos nas bancadas das Antas e do Dragão, muitos deles os mesmos que exigiam a sua inclusão nos plantéis das épocas onde os putos tinham 19 ou 20 anos e que os tratam como se fossem rapazes com a experiência de um Sérgio Conceição ou de um Capucho. E quando leio tanta gente empolgada com a nova pseudo-blindagem do talento ganês que temos emprestado ao Rio Ave e que ganhou o prémio de melhor jogador do Blue Stars/FIFA Youth Cup (aqui representado na foto com o troféu entregue pelo homónimo com apelido Karembeu), o meu cérebro reptiliano não consegue evitar a memória destes rapazes que já cá tivemos e que eram erguidos como bandeiras de combate para alinharem no onze “porque não se aposta nos jovens neste clube”, só para serem assobiados ao segundo passe falhado.

A pressão que os miúdos sofrem no FC Porto é intensa, criada de fora para dentro e nem todos conseguem aguentar. Espero que Atsu prove a todos que tem estaleca moral para lidar com ela.

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Porta19 entrevista João Paulo Meneses (reisdoave.blogspot.com)

Como já não publicava uma entrevista destas há algum tempo (a última foi com os Light-Fans, adeptos ucranianos do Shakthar Donetsk já no longínquo mês de Setembro de 2011), lembrei-me de voltar ao contacto com João Paulo Meneses, credenciado jornalista da TSF, professor no ISLA e co-autor do blog Reis do Ave, um exemplo na blogosfera nacional pelo ritmo de publicação e afecto clubístico. Se bem se recordam, o João Paulo já teve a amabilidade de me aturar em Agosto de 2010 naquela que foi a segunda mini-entrevista que conduzi aqui no Porta19. Desta vez num estilo mais telegráfico, para não se entediarem do formato:

 

Porta19: Haverá uma reedição da épica vitória de 1981?

João Paulo Meneses: Isso gostava eu. Mas apesar do FC Porto não estar (parece-me) muito forte, o Rio Ave atravessa uma crise de confiança. Não estou optimista.

 

Porta19: Adérito, Zé Manuel e Quim…ou Braga, Wires e Vitor Gomes?

João Paulo Meneses: O Vítor Gomes ainda não estará completamente operacional, penso, mas é um dos melhores do Rio Ave. Prevejo mais Wires, China e Braga ou Jorginho. O meu meio campo ideal seria Vilas Boas (pela raça), Vitor Gomes (pela qualidade) e Braga (pela ousadia).

 

Porta19: É desta que João Tomás marca ao FC Porto pelo Rio Ave?

João Paulo Meneses: É muito provável; preparem-se…

 

Porta19: O plantel do Rio Ave é curto? Mau? Adequado?

João Paulo Meneses: O plantel tem 24 jogadores, portanto não é curto (há, até, excesso de médios, embora com as lesões nunca se saiba…); tem muita qualidade em certos sectores mas, como todos, nunca é perfeito. Falta um defesa-direito inquestionável, mas de resto seria suficiente para estar na parte de cima da tabela.

 

Porta19: Carlos Brito tem condições para terminar a época?

João Paulo Meneses: Já tive mais certezas disso; a verdade é que 14 jornadas depois (e uma eliminação inaceitável na Taça de Portugal) o Rio Ave joga demasiadas vezes mal, ganha à rasca ou com sorte e, pior, falta ânimo à equipa. Há solução para isso?

 

Porta19: Huanderson ou Paulo Santos?

João Paulo Meneses: Nenhum deles é, parece-me, um fora de série, mas nenhum tem comprometido e até têm sido dos melhores. Neste momento Huanderson.

 

Porta19: Kelvin e Atsu devem ficar no Rio Ave até Maio?

João Paulo Meneses: Por nós sim; por vocês, penso que isso também vai acontecer; Kelvin ainda tem muita farofa para comer (e parece-me que extremo não é a posição mais adequada às suas características) e Atsu tem de evoluir bastante para poder ser titular no FC Porto (defende mal, é muitas vezes inconsequente no ataque), independentemente de não haver duvidas de que é um excelente jogador.

 

Porta19: Depois do negócio Júlio Alves, há hipótese de reconciliação com os rivais da Póvoa?

João Paulo Meneses: A zanga é institucional; entre adeptos há e haverá sempre rivalidade, nada mais; mas desde que eles não ganhem estará sempre tudo bem…

Como nota de rodapé, gostava de agradecer novamente ao João Paulo Meneses pela disponibilidade. Não o conheço pessoalmente mas sinto que identifico perfeitamente a forma como vive o seu clube em todas as vertentes, tanto pelo contributo para a preservação da história como para a divulgação das modalidades amadoras e dos escalões de formação. O intuito é sempre o de engrandecer o Rio Ave FC e o próprio clube tem muito que agradecer aos autores deste blog incluindo o outro co-autor, Gil Ribeiro Silva, a quem estendo os meus agradecimentos e elogios.

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