Vai ser um jogo do carago. E se ainda tivesse alguma noção do que o Sporting joga, talvez pudesse inferir alguma estratégia pura e simples para na minha cabeça, longe das desventuras do relvado, criar uma ideia base do que o nosso adversário vale. Não vejo um jogo do Sporting há meses, desde o longínquo Novembro em que ainda me lembro de estar à mesa a jantar em família e a ver o Sporting a empatar com o Genk ou a apanhar três do Videoton. Eram outros tempos, distantes e obscuros na minha mente, em que me lembro de ver os rapazes de verde e branco a correr pelo campo fora, distraídos e nervosos, enquanto colmatavam falhas tácticas com piores falhas técnicas, formando um conjunto para ser recordado por anos que ainda hão-de vir como uma das piores formações que há memória, sem entrosamento, com nomes mas com pouca inteligência competitiva, a rezar para que Patrício conseguisse livrar o clube de mais uma humilhação. Lembro-me disso. Não me lembro de muito mais.
Há meses que não os vejo, como disse. Não sei o que vale o Bruma ou o Ilori, ainda não vi o Miguel Lopes a jogar mais de cinco minutos e nem sei quem é que tem jogado no meio-campo. O Schaars ainda lá está? O Rinaudo continua a ser titular e capitão e caceteiro? O Joãozinho é titular? O Wolkosfinkel ainda marca golos? Vão alinhar com sete gajos da B ou com onze gajos experientes da A? Não faço ideia e o pior é mesmo este desconhecimento que me tolhe o raciocínio, porque não me lembro de nenhum clássico em que não consiga dizer com algum grau de certeza quem serão os onze que vão estar do outro lado. E acredito que muitos adeptos portistas estão na mesma situação que eu. Não gosto.
Assusta-me pensar que vamos jogar a Alvalade com trinta pontos de vantagem. Preocupa-me muito perceber que num jogo que não sendo de vida ou morte, me falte o mais básico entendimento da estratégia do adversário. É que ir a Aveiro e apanhar um Beira-Mar defensivo ou dar um salto à Madeira e esperar que o Marítimo jogue ao ataque é uma coisa. Aparecer naquele estádio em Lisboa e agir como se fosse só um jogo entre FC Porto e qualquer outro clube que está à espera que lá apareçamos com atitude de campeão e perceber que tudo pode correr ao contrário do que tantos esperam, é outra completamente diferente.
Por isso este jogo está-me a deixar mais nervoso que os outros. Não tenho medo de profissionais porque o mundo está cheio de amadores perigosos. E nem sei se vamos apanhar um Sporting rápido e agressivo no ataque, ou uma equipa que só o é em nome. Não sei se Jesualdo vai jogar pelo seguro ou se lhe vai dar para inventar porque acho que nem consigo perceber se uma invenção não passa do tradicional ou se o tradicional já é em si uma invenção. Só posso esperar que os nossos estejam a fazer o trabalho deles e tenham tirado a pinta aos putos do Jesualdo. Porque só vou perceber isso quando a bola começar a rolar.
No fundo, não estou confiante.