Baías e Baronis 2012/2013 – Os avançados

Há um nome que está a vários parsecs de todos os outros nesta lista: Jackson. Foi o homem-golo que apareceu depois de uma temporada em que Hulk tinha sido senhor feudal de todos os seus domínios, da ala direita para o meio, no centro da área, de fora e lá dentro. Jackson chegou, viu, venceu a Supertaça e só parou trinta e um golos depois. Foi sem qualquer dúvida o homem do campeonato dentro da área, com golos acrobáticos (aquele de calcanhar contra o Sporting no Dragão foi qualquer coisa…) e outros nascidos de perfeito posicionamento para a recepção e remate, mas trabalhou que se fartou fora da zona de assassínio de guarda-redes, servindo muitas vezes como parede para segurar a bola enquanto os colegas subiam no terreno. Tecnicamente muito acima da média, esteve em grande na Liga e a espaços também na Champions. Uma pequena nota: teve aquele pequeno AVC quando tentou panenkar o penalty contra o Rio Ave mas redimiu-se com um golo e foi humilde nas reacções. Ficou-lhe bem. O melhor dos avançados, de longe.

Atsu foi uma pequena desilusão. Começou bem a roubar o lugar a Varela, ainda coberto do hype que lhe colocaram em cima, mas foi perdendo a força das primeiras exibições e acima de tudo deixou de ser a opção primária de apoio dos adeptos, que lhe reconhecem o valor mas esperam mais. É rápido e prático mas pouco eficiente, com incessantes corridas até à linha sem produzir o suficiente para podermos dizer que ali estava um titular absoluto. Talvez tenhamos pedido demais para a primeira temporada como membro efectivo do plantel do FC Porto, mas a verdade é que me deu uma sensação do “síndroma dos extremos” que já tinha afectado tantos outros (Helder Barbosa, Vieirinha, Candeias, Bruno Gama, Ivanildo, para citar alguns nomes) que no passado prometeram muito nas camadas jovens sem se conseguirem afirmar inequivocamente na primeira equipa. Cedeu o lugar a Varela, que começou mal (como tem sido um hábito desde 2009/10, a sua melhor época), com jogos em que parecia estar fisicamente exausto e incapaz de se tornar num elemento de mínimo perigo para o adversário. No entanto, conseguiu recuperar e terminou a época como um jogador vital no onze e estranhamente influente na criação de lances ofensivos para a equipa, ajudando na defesa sempre que era necessário. Na luta Varela/Atsu, o português levou a melhor especialmente pelo photo-finish fantástico que mostrou e fez por merecer uma nota positiva.

Iturbe perdeu-se em infantilidades, amuos e pequenas grandes parvoíces para desaparecer do imaginário dos adeptos e passar a ser um menino mimado que ainda não aprendeu a jogar num futebol que lhe é alheio e que pareceu sempre ser uma espécie de mundo alienígena para o puto argentino. É um miúdo e não deixou de ser um miúdo desde que cá chegou, ao contrário de um Anderson ou até de um…James. Não sei se voltará tão cedo e pouco fez por cá para merecer o regresso com coroas de louros.

Kléber e Liedson são dois casos estranhos da temporada. Se o segundo chegou para ser um remendo que nunca deixou esperanças em muitos portistas e confirmou a incapacidade (física ou psicológica, creio que nunca viremos a saber ao certo) para ser uma alternativa credível a Jackson, Kleber esteve cá desde o início e nunca justificou a contratação e a estúpida guerriúncula com o Marítimo. Sempre nervoso, trapalhão, triste, pouco lutador e muito pouco produtivo, cheguei várias vezes a olhar para o banco e a pensar se não valeria a pena pôr lá o Vion ou o Dellatorre porque não lhe conseguia ver qualidade para ser uma mais-valia para a equipa. Não deve voltar e ainda bem, porque por vezes há que assumir as inadaptações e perceber que nem sempre se acertam as contratações, por muito pensadas que possam ser. Sebá, por seu lado, trabalhou bem nos Bs mas não lhe vi maturidade suficiente para ser um jogador importante nos As e continuo a achar que cinco milhões de euros pelo seu passe é um valor alto demais para a sua valia a curto-prazo. Talvez venha a ser uma boa peça no futuro, mas não no imediato.

Faltam os dois jogadores mais curiosos das opções ofensivas do plantel: Kelvin e James. James não teve uma grande temporada no ano em que a imprensa cedo lhe colocou o rótulo de “gajo que vai substituir o Hulk e vocês é que vão ver o que é que o moço sabe fazer a sério”. Não foi, nem tinha de ser. James é James, um dez obrigado a jogar na ala algumas vezes mas que brilhou bem mais quando foi colocado no centro, naquele híbrido táctico que Vitor Pereira criou e que nem sempre funcionou. A verdade é que o colombiano foi várias vezes genial mas muitas vezes pouco influente na criação de jogo e a lesão que o afastou dos relvados durante mais de um mês não ajudou em nada ao crescendo de forma que vinha a exibir (Outubro e Novembro muito bons, Fevereiro e Março sofríveis), mas James foi a imagem da equipa durante toda a temporada. Quando jogava bem, tudo estava bem. Quando estava em dia de desinspiração, os colegas sentiam a falta da criatividade e produziam menos. E quando um jogador tem este tipo de influência numa equipa, é natural que ceda à pressão. James fez uma boa época mas não fez a temporada estupenda que esperava. Too bad, valham os 45 milhões da transferência.

E o herói…foi Kelvin. Bem pode guardar as bolas dos jogos contra o Braga e o Benfica porque não creio que tão cedo (se alguma vez) volte a fazer igual. Foi o jogador certo na altura certa contra as equipas certas e se os jogos tivessem sido disputados durante o dia, estou certo que se veria um raio de sol a brilhar com intensidade redobrada por cima da trunfa gelificada que pauta a moleirinha do miúdo. Hesitei em dar-lhe uma nota positiva porque pouco fez durante o resto da temporada para o merecer, mas o simples facto de ter marcado aquele golo ao Benfica e de me ter proporcionado um orgasmo futebolístico ao nível do que muitos devem ter sentido em Sevilha quando Derlei enfiou o terceiro aos escoceses…só por isso merece um Baía de ouro.

Uma curta nota para Djalma, que jogou meia-dúzia de minutos na Supertaça antes de zarpar para a Turquia, longe de ser o suficiente para receber nota. Tive pena de o ver sair, merecia melhor sorte e talvez na próxima temporada regresse para fazer parte do plantel. Não me parece ser uma hipótese muito provável, mas até gosto do moço, sinceramente.

O quadro-resumo dos avançados fica abaixo:

ATSU: BARONI
ITURBE: BARONI
JACKSON: BAÍA
JAMES: BAÍA
KELVIN: BAÍA
KLÉBER: BARONI
LIEDSON: BAÍA
SEBÁ: BARONI (nos As…)
VARELA: BAÍA (por pouco)

Link:

Baías e Baronis 2012/2013 – Os defesas


Falou-se muito da zona defensiva do FC Porto durante o ano e houve muitos bons motivos para o fazerem. Foi talvez o único sector onde se notou alguma evolução nos jogadores, com dois em particular a merecerem a ressalva de serem olhados com admiração pela forma como cresceram durante a temporada: Alex Sandro e Mangala. O francês começou ao mesmo estilo do ano passado, ainda com alguma agressividade em excesso e alguma dificuldade em manter esses exageros controlados. Mas aproveitou bem a infeliz lesão de Maicon para lhe roubar o lugar e exibir-se em nível digno de transferência à FC Porto para um grande europeu. Tem tudo, o rapaz. Alto, forte pelo ar, rijo na marcação, raramente hesita no corte e é mais prático do que estamos habituados. Foi um prazer vê-lo a crescer, especialmente jogando ao lado de Alex Sandro, outro moço que subiu de produção quase exponencialmente, com sete Baías. Já no ano passado tinha mostrado que podia ter oportunidade de jogar a sério se fosse utilizado regularmente. E mostrou que Álvaro Pereira está tão bem no Inter que ninguém se lembrou dele, já que este rapaz desfez dezenas de adversários (os médios-ala e os laterais) com inteligência, criatividade, postura ofensiva mantendo o posicionamento e recuperação defensivas bem efectuadas, remate forte e apoio constante ao ataque. Algum excesso de confiança fez com que tremesse num ou noutro jogo, mas nunca deu hipótese sequer a que nos lembrássemos do Palito. Mangala tapou várias vezes o brasileiro durante a sua lesão mas era evidente que Alex traz uma profundidade ao flanco que Mangala, jogando sempre com empenho e força de vontade, não consegue.

Abdoulaye jogou pouco e foi coerente, apesar de ficar sempre ligado à final perdida da Taça da Liga. Coerente pela agressividade, coerente porque é lento e porque parece um Mangala mais alto e magro. Tem a vantagem de ser jogador “da casa” que dá muito jeito para compôr plantéis para a UEFA, mas não creio que venha a ser opção para titular a curto-prazo. Squad-player, through and through. Quiño também, passando a grande maioria da época nos Bs, não entrou mal quando foi chamado mas nunca conseguiu ser sequer uma sombra para Alex Sandro e perdeu inclusivamente o lugar para Mangala em várias circunstâncias. Talvez para o ano, rapaz.

Não me quero esquecer de Otamendi, porque seria uma injustiça. Várias paragens cerebrais durante o ano não mancham o que foi uma época excelente do argentino, à volta do qual foram rodando os restantes elementos daquela zona. Ota soube pegar no lugar desde que chegou no Verão de 2010 e este ano foi mais uma vez a rocha defensiva. A menor produção ofensiva foi contrariada com consecutivas e excelentes prestações defensivas em que mostrou que nem sempre os mais vistosos são os mais influentes. Atrás de um Mangala que voa por cima dos adversários, há um Nico que comanda os colegas, que manda no eixo e que raspa a relva com um sorriso nos lábios.

Com estes dois, Maicon pouco pôde fazer. Entrou muito bem, com rótulo de marcador de livres ainda desde a pré-temporada que perdeu a cola poucas semanas depois de começar a temporada. E lesionou-se em casa contra o Marítimo (que para lá do 5-0 também perdemos Fernando e Helton) para nunca mais recuperar em pleno a posição. Teve um momento horrível quando foi assobiado em pleno Dragão durante o mal-conseguido jogo contra o Rio Ave. Na altura disse: Ouviam-se gritos quando Maicon tocava no esférico, assobios quando demorava mais de dois segundos com a bola nos pés (muito embora raramente tivesse uma linha de passe decente), insultos quando o rapaz fazia algo que fosse contra o que as pessoas gostavam. É assim que querem apoiar os vossos jogadores? Quando as coisas estão a correr mal e vêem que um dos jogadores que conhecem há quatro anos, que já nos deu troféus atrás de troféus, que marcou o golo que deu a vitória na Luz no ano passado…quando vêem que esse rapaz, que perdeu a titularidade depois de uma lesão, está a ter um mau momento…o que optam por fazer é insultá-lo!? Nunca vou perceber este tipo de atitudes de alguma gente, palavra.. Não retiro um pixel.

Passemos aos Baronis. Um para Rolando, que preferiu sair por uma porta pequenina, no fundo de uma parede pequenina…e que desapareceu da minha mente ao ponto de ter chegado a pensar que tínhamos apenas quatro centrais desde o início do ano enquanto pensava neste artigo. Rolando escolheu o caminho que decidiu trilhar e não censurarei ninguém dentro do clube se o puserem a treinar sozinho. No Parque da Cidade. À noite. Mas agora para o Baroni da época. Danilo. Sim, vou por aí.

Danilo foi uma decepção. Quem me lê sabe que sou um gajo para dar oportunidades a todos os jogadores para mostrarem o que valem em todas as posições, em vários esquemas tácticos, com as nuances de cada competição a pesarem na minha noção sobre a valia do jogador. E Danilo esteve abaixo da média em todos os vectores que me posso lembrar de o pesar. Danilo mostrou durante toda a temporada o porquê de ser um jogador que sofre a contestação dos adeptos baseada em grande parte no valor pelo qual foi comprado. E o problema foi mesmo esse, o valor que lhe subiu a cotação e que colocou um rótulo que ainda não conseguiu sacudir. E vê-se em campo, porque mostra uma indolência que não acredito seja devida apenas ao espírito do jogador. Danilo não acredita que possa render na lateral-direita o mesmo que poderia render no centro do terreno e nota-se pela forma como tende com uma precisão de um relógio de césio para o centro do terreno, valendo-se do seu pé mais fraco para poder deambular por zonas onde se sente melhor e mostra mais produtividade. E falta sempre qualquer coisa, na corrida, na intercepção, no momento certo e na altura certa…Danilo falha mais do que acerta. Tem de reabilitar a sua imagem perante os adeptos, perante aqueles que o apoiam até ao ponto que vêem que nunca desiste, que nunca baixa os braços. E viram-se esses momentos a acontecer vezes demais durante a época.

O quadro-resumo dos defesas fica abaixo:

ABDOULAYE: BAÍA (por pouco)
ALEX SANDRO: BAÍA
DANILO: BARONI
MAICON: BAÍA
MANGALA: BAÍA
OTAMENDI: BAÍA
QUIÑO: BAÍA
ROLANDO: BARONI

PS: uma pequena adenda para Miguel Lopes, porque a sua ausência aqui da lista me foi chamada à atenção e com toda a razão. Miguel Lopes, lateral direito de raiz, não conseguiu sacar o lugar a um homem inadaptado à posição. ainda tentou, mas nunca consegui ver nele mais que um suplente glorificado. Esforçado, sem dúvida, mas demasiadamente incerto para ser titular. Fez um bom jogo em Vila do Conde, mas pouco mais.

MIGUEL LOPES: BARONI

Link:

Baías e Baronis 2011/2012 – O treinador

Como corolário lógico, a análise ao treinador:


VÍTOR PEREIRA

A primeira temporada de Vitor Pereira ao comando do FC Porto foi cheia, foi longa, foi dura. Parecia impossível um defeso começar tão rijo, continuar tão tranquilo até terminar tão anti-climático. Afinal saem dois jogadores, um vital, outro nem por isso. E Vitor, ex-segunda liga, ex-segundo, ex-subalterno, é empurrado para a frente com a confiança da direcção e a desconfiança dos adeptos. E as coisas começaram mal por culpa de todos. Jogadores, apoiantes, o próprio Vitor incapaz de lidar com um plantel gordo de conquistas e obeso de ego. Desconfiava-se de tudo e de todos, porque os rapazes não corriam, a alma não era a mesma e a vontade não estava ali. Não me juntei à turba com as forquilhas em riste. Critiquei e muito, como acho ser o meu dever. Mas nunca recorri à humilhação pública que tanto portista ousou fazer passar das goelas para fora e hoje orgulho-me disso. “O problema que Vitor Pereira enfrenta é complicado e estes últimos dois jogos serviram para perder mais algum capital de confiança perante muitos sócios que ainda aqui há uns meses viram a equipa a jogar como raramente tinham visto nos últimos anos e só pensam: “Mas só saiu o Falcao e o Villas-boas, que mais pode ter mudado?”…e vão-lhe começar a apontar o dedo. É um selo difícil de tirar e as vitórias terão de começar a aparecer rapidamente, caso contrário a vida pode começar a ser muito difícil para o treinador do FC Porto.“, disse contra o Benfica. Porque Vitor Pereira era exactamente aquilo que se via: trabalhador, honesto, pouco mediático, sem pachorra para holofotes, para homilias em frente ao microfone da sala de imprensa. Não era um Mourinho que ali via de fato-de-treino na relva do Olival. Era um homem simples, sem hábitos caros, sem vida pública e exposta, sem chama mas sem falsidade. E a equipa sentiu isso, os jogadores sentiram isso e perderam a fé durante meses. Vitor foi incapaz de pegar na amálgama de nações e feitios e convertê-los na máquina que há poucos meses se via a calcorrear os estádios da Europa e a humilhar equipa atrás de boa equipa. Falhou. E eu, ainda desaminado, quis acreditar do alto da minha eterna e ingénua fé à Padre Américo que não há rapazes maus e que Luke vencerá sempre Vader mesmo que Vader esteja dentro de portas. E Vitor Pereira levantou-se. Num épico e eterno jogo na Luz, quando arranca uma vitória que poucos esperavam mas sustentada numa exibição de garra, de força, de vida portista como há tanto tempo não se via. Porque levou adeptos a pontapear cadeiras em restaurantes, a gritar até as vozes fugirem para longe, a viver o clube que amam e do qual nunca desistem. Como Vitor fez. Um amigo disse-me que a partir daquele jogo na Luz nunca mais perdíamos para o campeonato. Acertou. Nessa incrível partida disse: “Cinquenta e oito minutos de jogo. Olho para a televisão e não acredito: sai Rolando, entra James. Em conversa com um amigo disse-lhe repetidamente que James não era a melhor escolha, que ainda não me parecia que tivesse fibra para estes jogos, que não ia resultar. E o demente do nosso treinador, quiçá possuído do espírito Adriaansiano, toca de enfiar Djalma a defesa-direito e James na frente por trás de Janko. Loucura, pensei. O homem está a arriscar a carreira em dois números que enviou ao quarto árbitro. E fê-lo, com uma coragem tão férrea como a Ponte D.Luiz, e ganhou. E a substituição de Moutinho, que adivinhei por ser mais que esperada, ainda mais risco trouxe, porque mostrou ao Benfica: “Estão a ver isto? É para ganhar, amigos, nós estamos aqui para ganhar o jogo!”. E o golo aparece. Vitor Pereira grita. Eu também. E respeito a força de vontade, a resolução granítica de pugnar pela vitória. Eu não teria tido a coragem de fazer a primeira substituição, quanto mais a segunda. Ele teve. E é por isso que lá está. Parabéns, Vitor.“. E Vitor Pereira soube aprender com os erros, mantendo-se firme na convicção e pondo a mão por baixo dos jogadores tal como a direcção soube pôr a mão por baixo dele, ajudando-o em Janeiro a reequilibrar as contas da casa com saídas exigidas e necessárias (se bem que a ausência de alternativas no meio-campo podia ter sido mais penalizadora) e a chegada de alguns elementos fundamentais como Lucho, Janko e…Paulinho para o banco. Vitor agarrou a equipa e fez dela o que teve de ser: trabalhadora e empenhada quando desinspirada e acima de tudo eficaz. Com todo o mérito.

Não podia haver melhor altura para fazer esta análise. Mesmo no dia seguinte a uma das melhores entrevistas que me lembro de ler de um corrente treinador do FC Porto (Zé Luís lembrou Jesualdo e Villas-Boas pela negativa mas eu recordo uma excelente conversa de Fernando Santos, creio que ao JN, na altura da polémica segunda temporada), com uma honestidade invulgar e uma candura sem vícios, sem as prepotências tão alvissaradas pelos media deste país, ávidos pelo sangue do diz-que-disse e do nojento bate-boca. Vitor Pereira, campeão na primeira temporada, falou de tudo que quis e de todos pelo todo, com poucos nomes e muitos conceitos, a dar o braço ao torno sem esquecer os méritos que o grupo lhe deu e que ele próprio soube retribuir. Porque esta primeira temporada foi cheia, foi longa, foi dura. E no fim, foi dele.

Momento Baía: Sem a mais pequeníssima das pequeníssimas dúvidas: a vitória na Luz. Não só pelo que significou para a equipa e para os adeptos pelo resultado obtido em casa do então líder do campeonato, mas principalmente pela forma como lá chegou e pela influência que Vitor Pereira teve a partir do banco. A atitude “winner takes it all” foi essencial e foi o fim do mito que o treinador não aguentava até ao final da temporada. Até podia não ter sido campeão, mas tinha vincado uma imagem perante os adeptos que era mais do que até lá tinha mostrado ser. Com tomates de ferro.

Momento Baroni: Houve vários momentos bastante maus. Muito, muito maus, e Vitor Pereira tem a noção perfeita disso. A derrota em Coimbra para a Taça foi humilhante. A derrota em Manchester foi muito má, especialmente pelos números, bem como a derrota em Barcelos apesar das condicionantes da arbitragem. Empates contra Feirenese e Olhanense…frustrantes. Mas dois desses momentos foram particularmente baronizantes na época de Vitor Pereira: a derrota com o APOEL em Chipre e com o Zenit em São Petersburgo. Ambos deixaram evidentes lacunas de organização em campo, de solidariedade entre colegas e um espírito de desunião a que foi penoso assistir.

Nota final 2011/2012: BAÍA

Link:

Baías e Baronis 2011/2012 – Os pontas-de-lança

Fecho os jogadores com os pontas-de-lança. Em frente, companheiros:


KLÉBER

Herdar a camisola nove não é fácil, mas parece que a onze também não. Kleber entrou a medo e com uma titânica pressão em cima dos ombros que nunca conseguiu sacudir nem fintar, muito à imagem do que fez em campo contra os defesas contrários. Sempre que o via pensava aquilo que um adepto crente nas boas opções dos dirigentes do seu clube pensa: “Ele vai atinar, o puto vai atinar!”. Mas nunca atinou. Meses após meses se passaram sem que Kleber conseguisse atinar. Com a baliza, com os colegas, com a relva, com a bola, com tudo. Boa vontade? Sim, definitivamente. Alguma técnica? Certo. Instinto de goleador? Meh, mais ou menos. Nervosismo? Podem apostar o escroto que sim. Kleber não é Falcao, percebamos isso de uma vez por todas. E foi comprado para evoluir ao lado de Falcao, para aprender e servir como uma alternativa digna no caso de ausência do colombiano. Mas Falcao decidiu sair para Madrid e a opção, muito à imagem do que foi feito com o treinador, foi a de apostar num cavalo desconhecido. Correu mal. E agora? 2012/2013 é “vai ou racha” para o brasileiro, porque a época que agora acaba não foi boa. Longe disso.

Momento Baía: Marcou um golo ao Benfica no Dragão, mas os jogos fora contra Leiria e Rio Ave foram os mais produtivos.

Momento Baroni: Montanhas de jogos em que andou inconsequente a galgar relva sem que produzisse um mínimo de lances de perigo para a rede adversária.

Nota final 2011/2012: BARONI


WALTER

Alguém se lembra dele? Depois de tanto se falar de Kleber e actualmente de Janko, parece tão longínqua a utilização de Walter na equipa do FC Porto e ainda mais estranho perceber que em determinadas alturas da primeira volta o enorme carequinha chegou a ser pensado como alternativa ao ex-Marítimo. Alguns jogos a titular em Outubro de 2011 puxaram o ânimo de tanto portista para cima mas a moral foi curta e vivida com pouca paixão. Walter nunca convenceu treinador e adeptos e foi despachado de volta para o Brasil. Teve problemas pessoais, que não ajudaram a subir a rentabilidade em campo mas é uma das grandes apostas furadas dos últimos anos.

Momento Baía: Os quatro golos ao Pêro Pinheiro para a Taça.

Momento Baroni: O peso. É impossível para um jogador de topo ter aquela quantidade de gordura e continuar a ser um jogador de topo.

Nota final 2011/2012: BARONI


JANKO

O pinheiro austríaco chegou e pôs todos com dúvidas. Não podia jogar na UEFA mas vinha com nome de goleador, tinha ar de bom rapaz mas a capacidade técnica de um guaxinim alcoolizado e uma altura que deixa sempre toda a gente sem confiar a cem por cento no potencial de se adaptar a um jogo “à latina” como todos gostam de dizer que fazemos. A questão é que Janko chegou em Janeiro e não tendo tido o impacto de um Jardel (cinco golos em doze jogos não é muito…), a verdade é que esteve acima de um Mielcarski ou um Quinzinho. Não imagino se Janko ficará no plantel para 2012/2013 mas a verdade é que a experiência do rapaz pode vir a ser uma mais-valia em alturas complicadas. Porque a altura dele pode complicar. O adversário. Com a altura. Já falei na altura dele?

Momento Baía: O golo ao Nacional na Madeira. É para aquilo que se quer um ponta-de-lança!

Momento Baroni: Diversos lances com falhas em cima da linha de golo. Lances demais.

Nota final 2011/2012: BAÍA


Mais uma pequena nota para…chuiff chuiff…Falcao, que como Ruben Micael fez os dois jogos contra o Guimarães…we miss you, please come home!

Link:

Baías e Baronis 2011/2012 – Os avançados

Nota prévia: recuso-me a alimentar polémicas com candidatos presidenciais a outros clubes. Se quiserem mais conversa sobre isso vão até ao site do Record.

Penúltimo post sobre o assunto, desta vez sobre os avançados, excluindo os pontas-de-lança. Onward:


CRISTIÁN RODRIGUEZ

Por onde começar? Uma época, meia época? Meia época cheia de algum do futebol mais improdutivo que me lembro de ver…e mesmo assim houve alguns jogos em que foi um dos jogadores que mais trabalhou em campo. Mas Rodriguez teve uma contínua curva descendente desde 2008/09 e o espaço que foi perdendo na equipa deve-se em grande parte a dois factores: o hype criado aquando da chegada e a sua incapacidade de manter um nível de exibições aceitável para uma equipa como o FC Porto. Dir-me-ão: “Mas, Jorge, o rapaz até se esforça, tu não gostas dos que se esforçam? Nem parece teu!”. Pois é. Mas também gosto dos que se esforçam com cabeça e dos que conseguem manter um equilíbrio custo/benefício rentável. E, meu amigo Cebola, nesse ponto falhaste redondamente. Para além disso pegou-se com Moutinho no treino. Estava à espera de quê?!

Momento Baía: O jogo na Madeira contra o Nacional: “Afirmo e reafirmo: Rodriguez perdeu espaço no FC Porto e é caro demais para o rendimento que apresenta. Mas há alguns jogos em que a força e a atitude do Cebola são muito importantes e este era claramente um deles.

Momento Baroni: A ruptura com o grupo pós-chatice-cena-no-treino-com-Moutinho e consequente afastamento da equipa.

Nota final 2011/2012: BARONI


HULK

Chega? Jogador do ano.

Momento Baía: Tantos. Em Donetsk, na pedreira e no Dragão contra o Braga, no Dragão contra o Sporting, na Madeira contra o Marítimo…mas é de realçar o primeiro golo na Luz para o campeonato. Que míssil!

Momento Baroni: Poucos. Talvez o jogo em casa contra o Zenit onde não conseguiu marcar o golo que nos apuraria para a próxima fase da Champions ou contra o Paços no Dragão, onde saiu chateado mas onde também soube ser humilde e pedir desculpa pela atitude no final do jogo.

Nota final 2011/2012: BAÍA


VARELA

Fez o suficiente no final da temporada para receber a convocatória para o Europeu muito à custa da lesão de Danny (que lamento, ou talvez não) e da ausência de outra alternativas para o lugar. Mas o resto da temporada foi uma sequência de near-misses onde Varela nem se viu nem se fez ver, intercalado com um ou outro jogo acima da fraca média geral. Jogos consecutivos de inépcia técnica, lentidão, exasperante inconsequência com a bola e uma terrível e enervante inércia que lhe valeram muitos assobios e uma boa dose de indiferença pela parte dos adeptos que chegaram a considerar Djalma como uma melhor solução para o flanco. Varela começou muito bem no último ano de Jesualdo, baixou de produtividade no ano passado e este ano foi uma miséria de ideias, atitude e capacidade física. Se fosse outro qualquer e não o Silvestre que já vi a voar pelo flanco com a garra de um Amunike com anfetaminas, já o tinha despachado há mais tempo.

Momento Baía: O jogo contra o Guimarães no Dragão foi simpático: “Esforçado, lutador, com alma, velocidade e empenho. Este Varela hoje não se limitou a passear pelo relvado como tinha feito durante toda a primeira volta do campeonato, mas sim um Varela que parece ter recuperado alguma alegria e a convicção que consegue voltar a fazer tudo o que já fez na Invicta.“.

Momento Baroni: O jogo em casa contra o Leiria foi um entre várias exibições muito más: “Foi tão pouco, Silvestre, tão pouco e tão mau que o meu próprio compincha da bola há tantos anos se virou para mim e disse: “Se eu estou aqui a desejar que entre o Djalma para sair o Varela, o que é que isso diz do Varela?”. Diz muito, rapaz.“.

Nota final 2011/2012: BARONI


JAMES RODRIGUEZ

Fico ambíguo ao analisar a época de James. Por um lado olho para os números do colombiano e vejo que marcou 14 golos e é o segundo melhor marcador da equipa atrás de Hulk e à frente de qualquer um dos pontas-de-lança. E se virmos alguns dos excelentes jogos que fez durante o ano, especialmente quando jogou pelo centro logo atrás dos pré-designados goleadores que raramente o foram, a verdade é que James mostrou qualidade, inteligência, talento e um pé esquerdo de alto nível. Mas…e há sempre um mas…James não foi consistente. Mais que isso, em muitos jogos pareceu alhear-se da luta pela posse de bola de uma forma que me enervou de uma forma tão intensa que não resisti a criticá-lo durante e depois do jogo. É o único jogador que fez de mim um cronista bipolar e incoerente na variação entre crítica e elogio que alternavam semana após semana. Admito-o sem qualquer tipo de problema e assumo a culpa da oscilação moral e mental. É isso que James fez este ano: alternou vezes demais o brilhante com o sofrível.

Momento Baía: No jogo contra o Shakthar em casa: “Convenceste-me, homem. Sim, chamo-te homem porque o que vi hoje no Dragão foi um homem com a bola e sem ela, ao deambulares por entre os adultos que apanhaste pela frente. Tens vinte anos de vida mas já pareces um maduro homem de meia-idade, com a experiência de uma vida bem vivida mas sempre com aqueles lampejos de genialidade que pareces querer mostrar vez após vez após saborosa vez. Aquela jogada para o segundo golo, meu menino…perdão, meu caro senhor, é uma beleza. Aquele que sentaste é um homem com experiência como poucos e o facto de apenas ter uma vogal para quatro letras no nome só te deu para rir. Riste-te quando o viste a passar para o lado, não foi? Eu sei que foi.“. Isto foi em Setembro…

Momento Baroni: O jogo na Madeira contra o Marítimo (que nos havia de dar o título, mas na altura ele não sabia disso): “Estou farto. Palavra que estou. Se não queres jogar à bola durante noventa minutos, porreiro, mas não impeças os outros de o fazer, miúdo. E alguém me explica como é que um jogador com o talento que este rapaz tem para jogar futebol tem tanta dificuldade em manter a bola estável no relvado e o primeiro instinto dele quando recebe uma bola aérea não é o de a colocar parada na relva mas deixá-la a pinchar como uma miúda num trampolim?! Não percebo, palavra, e estou a perder a paciência com o puto, porque a produtividade tem de começar no momento em que o jogo arranca e não só quando lhe apetece. Não se chama Ricardo Quaresma e ainda não tem estatuto para isso.“.

Nota final 2011/2012: BAÍA (a custo)


DJALMA

Não se pode apontar nada ao moço em termos de empenho. E apesar de compreender alguma inconsistência nos mesmos argumentos futebolísticos que uso para desgostar do trabalho de Cristián Rodriguez ao mesmo tempo que louvo o empenho de Djalma, tentem perceber que não tenho nada contra um nem a favor de outro a um nível pessoal. Só que Djalma deve ganhar aí 1/10 do que ganha Cebola e corre o mesmo ou mais. Tacticamente certinho e obediente, várias vezes preferi que jogasse ele em vez de James. Foi usado várias vezes a tapar o flanco direito (na Luz acabou por fazer o flanco todo depois de Vitor Pereira ter tido aquele ataquinho de “fuck it, all steam ahead!”) e sempre que foi chamado ao jogo alinhou com garra, vontade e empenho. Parece-me claro que é um rapaz que não pode ser considerado como aspirante a titular no FC Porto mas é útil para ter no plantel como opção para jogos em que é necessário um jogador rápido, prático, sem espinhas. Reafirmo: Djalma fez uma boa época e se me derem a escolher entre ele e Varela, opto pelo angolano.

Momento Baía: Um jogo ficou-me na cabeça: o miserável empate em casa contra a Académica depois da vitória na Luz, onde Djalma foi dos menos maus. No jogo de Paços para a Taça da Liga escrevi sobre o rapaz: “Nunca desiste e apesar de dizer que é trapalhão é um claro nivelamento por baixo, a verdade é que por vezes dá jeito ter um rapaz destes no plantel, que dá sempre o litro e que força a que o lateral fique retraído com receio da flecha lhe passar ao lado. É, para tirar quaisquer dúvidas, o nosso Mariano Africano.“.

Momento Baroni: Quase todos os lances em que precisa de controlar uma bola aérea de primeira. Ui.

Nota final 2011/2012: BAÍA


ITURBE

Sofreu com a enorme antecipação que criaram muito antes da chegada à Invicta e a verdade é que nunca mostrou méritos para ser opção firme no onze e pouco fez para ficar no banco à frente a nomes como Djalma ou até Cebola. Nervoso, inconsequente, teve o azar de se lesionar no sintético do Pêro Pinheiro e só foi aparecendo a espaços na equipa. Todos esperam ver “aquele” YouTurbe mas Iturbe ainda não é esse Iturbe. Talvez na próxima época.

Momento Baía: Nenhum que me lembre.

Momento Baroni: A lesão em Sintra no jogo para a Taça. Bienvenido a las canchas portuguesas, niño!

Nota final 2011/2012: BARONI


Link: