Começo a ficar chateado com o que se tem vindo a passar com a equipa do FC Porto. Dois jogos, duas derrotas e duas enormes doses de azar em cada uma delas. Saímos de Paris com a cabeça enfiada numa camisola de gola alta, com a vergonha de uma derrota que surge depois de um lance que ninguém pode evitar a não ser o principal actor na tragicómica actuação que deu o segundo golo dos novos-ricos. Mas o FC Porto, com alguns problemas que foram pontuais e que de uma forma curiosa funcionaram como um espelho do jogo da primeira mão no Dragão, esteve no jogo para o vencer e não (sempre) para aguentar o empate. A não ser naqueles primeiros 15/20 minutos da segunda parte, quando se acomodaram tempo suficiente para permitir que a sorte sorrisse aos gajos lá do burgo. Não gosto de perder e custa-me ainda mais perder quando não é totalmente merecido. Mas neste tipo de competição contra uma equipa que está aproximadamente ao nosso nível…acontece. Segundo lugar, venham os primeiros! Notas abaixo:
(+) A dupla de centrais Estiveram ao mesmo nível que no jogo do Dragão, com a pequena nuance que Maicon deu o lugar a Mangala mas a qualidade da exibição não foi afectada. Otamendi esteve mais uma vez em grande, intercepções perfeitas, posicionamentos certíssimos, agressividade correcta, cortes milimétricos de carrinho e acima de tudo uma vontade inabalável de fazer explodir tudo o que fosse francês ou que lá pagasse impostos. Mangala esteve também muito acima da média contra a “sua” equipa, agressivo no contacto, forte no choque e agressivo no transporte da bola para a frente. Com estes centrais, Maicon e Abdoulaye na margem, não tenho problemas no centro.
(+) Alex Sandro Excelente na luta contra Lavezzi, é forte e resiste ao choque de uma forma firme, forte, com intensidade, com garra. Gosto de o ver nas diagonais para o centro com a bola controlada no pé direito, sempre com os olhos paralelos à relva, a ver Moutinho ou Lucho para funcionar na triangulação, Gosto de o ver a subir mas essa já é a parte conhecida. O que estou mesmo a gostar é o de ver a defender, com critério na intercepção, inteligência no posicionamento e cada vez menos displicência na saída com a bola. Esteve muito bem.
(-) Os melhores no Dragão foram os piores em Paris Fernando e Varela estiveram em baixo hoje no Parc des Princes. O médio complicou em demasia a posição que deve ser das mais práticas e simples em campo. Bola chega, bola sai. Rasteira na construção, rápida na recuperação. Não tem muito que saber se o jogador é bom (e como neste caso estou a falar de Fernando, não tenho dúvida quanto à valia do rapaz) mas hoje tudo pareceu sair com excessivas brincadeiras e pouco sentido prático. O homem tentou fazer TRÊS “cuecas” sem o conseguir. TRÊS! E Varela esteve ao nível de 2011, sem brilho, a escorregar nos momentos mais certos para os contra-ataques do PSG e sem qualquer produtividade visível no ataque da equipa. Ambos saíram de campo tarde demais.
(-) O frango de Helton Foda-se. É isso, só isso. Acontece aos melhores. Foda-se.
(-) As bolas paradas Mais um golo sofrido de bola parada e é impossível deixar de correlacionar o tipo de lances do género com os golos sofridos pelo FC Porto. Não consigo perceber como é que um dos melhores jogadores do adversário em termos de bolas impactadas com a cornadura se deixa andar solto, com uma marcação à zona tão fraca. Somos uma equipa pequena? É verdade. Ganhemos na antecipação, no choque, na luta, na movimentação na área. Estou farto de tremer quando a bola é flutuada para a nossa área.
(-) Esperar pelo infortúnio dá…em infortúnio O nosso primeiro golo depois do primeiro golo deles foi excelente. A reacção a quente, forte, com impacto, a empurrar o adversário durante meros quatro ou cinco minutos de uma forma tão insistente que bastou o lateral direito subir um pouco pelo flanco e cruzar para a área que o ponta-de-lança tratou do assunto num instante. Ponto. E no início da segunda parte, numa altura em que podíamos (e devíamos, porra!) ter imposto um ritmo de jogo com a bola por nós controlada, ao invés de ficar atrás da linha de acção à espera do que é que o adversário pudesse fazer, foi exactamente isso que fizemos. Esperamos, porque jogamos para o empate durante vinte minutos. Uma fraqueza que durou tempo demais, em que nos deixámos embalar pelo jogo mais pousado do PSG e cedemos a um recuo das linhas, a uma organização mais atrás do que deveria ser forçado a acontecer numa equipa como a nossa. Não tendo nada a temer do PSG, mostrámos em campo que não os temíamos. E eles, com alguma sorte, fizeram-nos engolir a arrogância. Que nos sirva de lição.
(-) TVI Tenho algum respeito por Fernando Correia, muito mais do que tenho pelo Manha. Mas ou o homem está a perder as suas faculdades mais depressa que a direcção de Desporto da TVI quer admitir, ou está a perder o contacto com o futebol moderno e/ou com o seu oftalmologista. Foram dezenas as vezes que se enganou durante o jogo, com Manha a ser incapaz de o corrigir de uma forma adequada todas as vezes, se bem que acredito que o próprio Manha estava a achar curioso que o colega estivesse a ver o jogo de uma forma tão consistemente errada. Para lá das falhas nos nomes, nos lances, nas direcções do vento e na previsão metereológica, o relato é mau. É muito mau. É fraquíssimo, gramatical e semanticamente. É como se Ray Charles relatasse lacrosse na Mongólia. Às vezes, e não me levem a mal, acho que eles bebem vinho em directo. Muito vinho.
Sempre disse que não me preocupa nada ficar em primeiro ou segundo na fase de grupos da Champions. O que me interessa mesmo é passar à próxima fase e quem vier a caminho, que venha. E se me chamarem “menino” e “pessimista”, so be it. Não sou um optimista, nunca o fui, e continuo a achar que o FC Porto é um clube que deve tentar sempre estar presente nos dezasseis melhores da Europa. Para ultrapassar essa fase, o que me preocupa é mesmo a qualidade do plantel e acho que temos o suficiente para enfrentar qualquer adversário com os olhos firmes nos olhos deles. Seja o Barça, o Unaite ou o Baierne. Fuck’em. Venham eles.