Não fiquei alegre nem triste com o sorteio, antes pelo contrário. Há qualquer coisa neste tipo de pontarias daquelas bolinhas que me convence que há um ser bem lá por cima e que se alheia das desventuras da Humanidade durante uns segundos e simplesmente lança ao ar uma moeda cósmica e deixa que seja ela a decidir o nosso fado. E desta vez o arbítrio da sorte divina atirou-nos para cima uma equipa com cores semelhantes e suficientemente perto para arrastar uma pequena multidão de portistas até lá na segunda mão.
Pelo que tenho lido, as opiniões dividem-se. Há quem diga que tem medo do que o Málaga já fez na Champions e afinal está em quarto lugar na liga espanhola, o que não é nada fácil. Tem jogadores experientes, alguns que até nos conhecem e tudo, lusos e estrangeiros, o Saviola ainda sabe jogar à bola e o Gooch sabe saltar e quase que afunda na trave da baliza. Há o Buonanotte e o Toulalan, o Santa Cruz e o Joaquín, o Monreal e o Demichelis. É uma equipa sólida, inteligente, de futebol prático e pouco rendilhado, que usa jogo directo, pelos flancos quando necessário mas acima de tudo com a prioridade de olhar para a baliza adversária e atirar a matar quando é preciso. E não me importa absolutamente nada que sejam assim, porque é contra estas equipas mais abertas que gosto de jogar. Mas…
Mas não gosto de sorteios em que olho para o adversário e me sinto mais forte. E apesar de continuar a achar que o FC Porto, este FC Porto, que no jogo contra o Paris Saint-Germain no Dragão mostrou que tem talento suficiente para andar da perna até aos quartos e arrumar com o Málaga…este FC Porto que tenho visto parece não estar ao mesmo nível do que vi nessa noite. E não me refiro aos jogos que podemos lutar para demolir paredes defensivas do outro lado, aqueles treinos rijos contra os Moreirenses do nosso campeonato. É nestes jogos de Champions, onde os jovens são mais nervosos e as defesas tremem e os médios falham passes e os avançados chutam por cima, é aqui que se vê se o betão vai partir ou se vai aguentar estóico durante um milhar de anos. E não sei como vamos chegar a Março nem me sinto particularmente inclinado para o pessimismo ou para a leviana euforia, mas não estou convencido que consigamos manter esse nível. Ou pelo menos até agora ainda não me confirmaram as expectativas. A Champions é uma competição de ciclos, e a fase de grupos é muito diferente dos jogos a eliminar, muda muito no inverno, nos campeonatos, nos plantéis, na moral e na coesão. Esperamos por Fevereiro para falar de novo?
Ao mesmo tempo que vou escrevendo, lembro-me de outros jogos contra equipas espanholas emergentes. Os três és que nunca me lixaram. O Sevilha e o Villareal no Annus Europus de AVB, o Espanyol que caiu com Pena e Drulovic a cravarem as lanças, o Deportivo com o penalty do Ninja que vi embebedado no final de um cortejo da queima das fitas ou o Atlético de Madrid que apanhou com Lisandro antes de Hulk. Caíram todas, todas, e das espanholas que não caíram só me ficam na memória os grandes, Barça e Real, esses cabrões que nos empalam os sonhos e violam as ambições.
Há talento para eliminar o Málaga? Concerteza que há, por quinhentos balões de conhaque! Qualquer equipa que tenha o Duda como titular é passível de ser eliminado e com estilo. E conseguiremos mandá-los abaixo? Não faço ideia. Mas vou estar lá para ver, no Dragão com certeza e talvez até no sul de Espanha.