Um segundo vector explorado até aos limites da estupidez e carneirice humana por opinion-makers (e ainda mais por opinion-inventors e outros elementos da obsessão comum do anti-coiso) e que serve para explicar as razões pontuais para o sucesso do FC Porto é a arbitragem. E sempre que há um lance que beneficia o FC Porto, de forma ligeira como um lançamento erradamente assinalado ou um canto trocado por um pontapé de baliza, ou de uma forma mais intensa por um penalty transformado numa falta ofensiva ou um fora-de-jogo que leve a uma jogada perigosa ou até (heresia!) a um golo, por muito questionável que possa ser a chamada do árbitro, cedo se levanta um tsunami de insultos, correlações factualmente incorrectas ou teorias da conspiração envolvendo três patos marrecos, setecentos guerreiros zulus e um artefacto azteca misteriosa e parcialmente enterrado nas futuras ruínas de Angkor Wat. Ou parecido, já ouvi de tudo.
Eu avanço que é uma masturbação intelectual levada a cabo por um grupo de autistas acéfalos determinados a tingir de mácula todas as vitórias do meu clube. E nem sempre pelos melhores motivos, pelo menos nas suas cabeças. E não estou a falar de pessoas que jogam com baralhos sem manilhas ou gamão só com peças brancas, o meu problema é que este tipo de lavagem cerebral colectiva surge através das penas de montanhas de gente que todos poderíamos ter em boa estima pela carreira e opinião dedicada ao nosso desporto preferido, mas que optam por fazer um “whitewashing” (o termo em português será qualquer coisa como “censura selectiva”, mas como em tantos casos o inglês dá-nos o que o luso não pode) de tudo o que possa ser facto que aponte noutra direcção, porque faria com que todo o castelo de cartas delicadamente construído durante anos de meias-verdades caísse por terra como uma torre no bairro do Aleixo. Porque se olharem bem, se olharem mesmo bem, conseguem perceber a lavagem de factos que não interessam nada quando não ocorrem às partes interessadas, porque aquele penalty é que foi roubado e o nosso menino nunca mas nunca se atirava para a relva daquela maneira. É claro que o fora-de-jogo não foi marcado porque o gajo está comprado e vê-se logo que não tem nada a ver com o nosso caso em que está quase em linha, via-se da bancada. E aquele boi que está sempre às cotoveladas na área, o árbitro isso não vê, pois não? Quem, o nosso? É luta para ganhar posição, o futebol só é para meninas nos estados unaites, não é aqui, vê-se logo que você é tendencioso, assim não dá para ter uma conversa em condições consigo, deviam era partir-lhe os dentes como o vosso gajo fez aquele outro naquele jogo em tal sítio! Você tem uma lata, o nosso rapaz só estava a agir em defesa própria, andou a levar pancada todo o jogo, é uma vergonha, parece que já não se lembra quando vocês se encostavam à cara do árbitro, não é como o nosso que ainda no outro dia fez peito ao árbitro e muito bem porque ele estava a ser um ladrão!
Acredito na Lei dos Grandes Números, que me diz à medida que um evento ocorre um determinado (alto) número de vezes, a tendência da probabilidade é a de se aproximar da sua real probabilidade. Ou seja, em linguagem menos matematicamente pedante, quando uma equipa disputa um número suficiente de jogos com todos os árbitros, a probabilidade de ser prejudicada e/ou beneficiada aproxima-se da metade. Trazendo a linguagem ainda mais para baixo por forma a não ficarem dúvidas a quem não tiver pachorra para ler palavras com muitas sílabas: às vezes ganhámos, outras perdemos. E é exactamente por isso que não ando a alvitrar golpes de estado e comissões de investigação, não critico loucamente casos que são passíveis de má interpretação, não alivio a minha azia criticando os erros que beneficiam outros nem ando a fazer posts à doente sobre arbitragens (no ano de 2012, aqui no Porta19, este é o terceiro sobre o tema). Mas acima de tudo vejo com os meus próprios olhos e coloco-me nas botas do árbitro. Terá visto bem? Terá o fiscal visto bem? Está a cumprir o mesmo critério? Costuma ter este mesmo critério? Isso são as questões que me preocupam durante o jogo.
E quando acontece o caso de ser beneficiado…já sei que um prejuízo está aí ao virar da esquina. Por isso não me preocupo muito com isso. Nem com os outros.
PS: se a palavra “iudicis” em latim não estiver formalmente correcta como significando “juíz” no genitivo, as minhas desculpas. aceito correcções de qualquer índole, mas uma cervejola serve perfeitamente.