Ouve lá ó Mister – Belenenses

Estimado Professor,

Já estamos todos recuperados da emoção da passada quinta-feira e já temos o prato cheio para mais uma sequência de jogos que fazem da vida de um portista uma correria imensa para o Dragão. É uma alegria e a eliminação do Nápoles, apesar de me fazer gastar mais algum dinheiro para agora ver o Sevilha, logo depois de uma semana em que dois clubes da capital nos visitam. Hmm, parece bom demais para ser verdade…mas vamos com calma. Primeiro, o Belenenses.

Espero que o Mangalhão, agora promovido a capitão de equipa (foi uma reguada nas mãos do Fernando depois de ter sido expulso em Alvalade, meu caro?), se lembre bem da cagada que fez no Restelo aqui há uns meses, quando deixou que a bolinha lhe passasse calmamente pela frente, só para ser encostada para a baliza pelo adversário. Se não aprendeu, veja lá se o recorda dessa imbecilidade para que não haja falhas novamente. O Sporting já ganhou e se temos alguma fugaz esperança em chegar ao segundo lugar (já nem penso no primeiro, para ser sincero), a vitória não pode escapar. E já sei que há alguns titulares que não vão poder jogar, mas já reparei também que não colocou nenhum B nos convocados para lá do Mikel e do Kadu. Gostava de poder ver o Victor Garcia a jogar no lugar do Danilo, o Mikel em vez do Fernando e o Kelvin a substituir o Quaresma. Não gosto de adaptações, sinceramente, e ver o Ricardo a esforçar-se sem estar adaptado ou o Ghilas a jogar pela ala não me agrada. O treinador é o meu caro amigo e não contesto que ache que eles rendem nessas posições, mas eu não gosto na mesma. Enfim, dou-lhe o benefício da dúvida…mas também gostava imenso de ver o Quintero em vez do Carlos Eduardo. Vá lá, faça-me só esse favor. Pago-lhe um fino. Dois, pronto.

Acima de tudo, queremos a vitória e queremos que os rapazes não se estourem todos porque quarta-feira a conversa é outra. Ui, se é.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Napoli 2 vs 2 FC Porto

Há jogos assim. Um gajo passa dezenas de minutos a sofrer, come qualquer coisa à pressa no intervalo, volta a ver o jogo e continua a sofrer. Sofre sempre que o Nápoles envia a bola para as costas de Danilo ou Ricardo, treme quando Reyes reage ainda a medo, quando Mangala sai com a bola controlada e a perde pela lateral, abana todo quando Pandev e Higuaín quebram o fora-de-jogo e desespera com o remate de Defour ao poste. E pela primeira vez desde que me conheço, contive-me na celebração do golo, saltando do sofá com as veias a pulsar no pescoço mas estóico na demanda de não proferir um único som para permitir que o bébé continue a dormir ao lado. O mesmo no segundo, e que golo, e quem é que consegue dormir nesta altura, tu não deves ser minha filha, carago, salta, mulher, salta e grita e levanta os braços e ergue-te em direcção a um céu que parecia tão longe e que afinal está ali pertinho. E sofre de novo. E habitua-te a sofrer, porque vais passar muitas noites a ver o teu pai a sofrer a teu lado, sem perceberes muito bem porquê. Jogos europeus, meus amigos. É outra coisa. Vamos a notas:

(+) Fabiano. Primeiro jogo como titular numa competição europeia, num estádio conhecido pelo ambiente pressionante e hostil para adversários. Acontece isto quatro dias depois do titular absoluto e capitão de equipa se lesionar gravemente. E faz uma exibição deste nível, com segurança na baliza, agilidade nas saídas e acima de tudo a dar confiança e a transmitir calma à defesa. Evitou várias vezes o 2-0 que podia ter sido fatal para o FC Porto e saiu do San Paolo com sensação de dever cumprido, com a titularidade mais que garantida e a confiança dos adeptos. Uma noite simpática, pronto.

(+) Fernando. Foi obrigado a fazer o trabalho de dois (Carlos Eduardo andava a tentar perceber se o jogo já tinha começado e porque é que ninguém o avisou), foi enorme no meio-campo e com a ajuda menos útil de Defour, tapado por dois gigantes turc…perdão, suíços, foi Fernando que conseguiu fazer o possível para segurar aquela zona central que estava muito bem povoada por meninos de camisolas cianas. Prático no corte, eficaz no passe, deve ter marcado pontos para uma eventual saída no Verão…

(+) Ghilas vindo do banco. Jackson está a trabalhar imenso durante as partidas e a bola não chega lá. O desgraçado do colombiano anda a correr de um lado para o outro a tentar encontrar espaços para tabelar com os colegas, mas a bola não chega lá. Salta e luta na área mas a bola raramente chega lá. E depois entra um chaimite argelino, dois toques na bola e pum, golo. E é um pouco disto que estamos a precisar, um jogador mais repentista, com mais presença física e acima de tudo mais fresco. Não contesto que Jackson é melhor que Ghilas em muitas circunstâncias, mas creio que o Nabil já fez o suficiente para merecer a titularidade, pelo menos num ou noutro jogo.

(+) O golo de Quaresma. João Rosado teve toda a razão nos comentários que ia fazendo na SIC. Quaresma entraria como uma luva para o panteão de amor/ódio napolitano se lá tivesse jogado. O golo é soberbo, cheio de pequenos grandes nadas que resultam numa jogada para a eternidade, desde a primeira finta a dois toques, a finta de corpo que tira o adversário do caminho e o remate estupendo de pé esquerdo sem hipóteses para Reina. E continuo a achar que Quaresma está mais lutador, mais esforçado para o bem da equipa e apesar de exagerar nos lances individuais, não acredito que seja possível mudá-lo. Não acreditava da primeira vez que cá esteve e continuo a não acreditar agora. Mas depois sai uma pérola destas. Para rever…e rever…e rever…e continuar a rever.

(-) Carlos Eduardo. O que é que posso dizer sobre (mais) uma exibição deste nível? Carlos Eduardo não merece ser titular do FC Porto neste momento e depois da boa entrada no onze aqui há uns meses, o capital de confiança perdeu-se e a deambulação pelo relvado, escondido dos colegas e longe de qualquer linha de passe, é algo que devia envergonhar qualquer médio criativo. Francamente, o que fez hoje foi o equivalente ao que a minha filha faz diversas vezes por dia. A diferença é que ela tem várias fraldas para mostrar o trabalho realizado.

(-) Varela. Mais um enorme zerinho para o Silvestre, tanto que um amigo me sugeriu mudar a rubrica para Baías e Barelas (boa ideia, meu caro, bem boa!). Ebb and flow, dizem os ingleses, para justificar ciclos de negócio, produtividade ou o movimento das marés. Neste momento está num “ebb” bem fundinho e tem estado lá já há vários jogos, sem perspectivas de poder regressar a um “flow” que nos traga alegrias. Não contesto que o rapaz até tentou, mas tentou muito devagar, sem força, sem capacidade de lutar contra qualquer adversário, desde o diminuto Insigne até ao grandalhão Henrique. Talvez esteja cansado mas se fosse possível espetar com o rapaz no banco um ou dois jogos, era giro.

(-) Falta de agressividade. Ainda há de aparecer alguém a criticar Martin Atkinson por ter permitido jogo duro, várias vezes a roçar a violência, tantas foram as vezes que jogadores do FC Porto foram para o chão depois de confrontos directos com os italianos. Mas foi mais um exemplo da forma como o FC Porto tem vindo a jogar acanhado, sem virilidade, sem velocidade, sem agressividade positiva que nos faça acreditar na força do colectivo durante mais de vinte ou trinta minutos de cada vez. É verdade que as características de muitos dos jogadores do actual plantel não permitem um jogo mais físico e com rapidez acima da média na troca de bola e muito menos na subida no terreno, mas como é que é suposto jogarmos contra Inlers e Behramis que usam o corpo em cada jogada contra os pobres Varelas e Carlos Eduardos?! Com garra, carago, com MAIS garra. Hoje em dia parece que passamos mais tempo a fugir com a bola do adversário em vez de os enfrentarmos olhos nos olhos. Deixa-me triste e ansioso porque cada jogada que começamos a construir parece destinada ao fracasso mal vejo que o adversário está mais célere na zona de pressão e muito mais activo a rodar em posições defensivas do que os nossos próprios jogadores que têm a bola nos pés…


Admito que perdi a esperança ao intervalo, depois da primeira parte fraquinha e medrosa que fizemos. Mas Luís Castro convenceu-me que tudo está perdido só quando se lavam os cestos ou quando a gorda canta ou qualquer um desses clichés entediantes que a malta adora usar. E agora, Porto? Estamos nos oito melhores…só não quero o Benfica nos quartos. Juro que prefiro a Juve com dez Pirlos e um Buffon.

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Ouve lá ó Mister – Nápoles

Estimado Professor,

Aqui há pouco mais de um ano, estava Vitor Pereira semi-firme no comando da ponte de controlo do Dragão, recebemos o Málaga nos oitavos de final da Champions. Fizemos um jogo muito bom, com excelente futebol, oportunidades a rodos mas alguma dificuldade em furar a defesa bem estruturada dos espanhóis. Vencemos por um magro 1-0, que nos deixou a temer o que poderia vir a acontecer na segunda mão, num estádio adverso com o apoio do público local a cascar nos lombos dos nossos muy nobres rapazes e todos receávamos que se não aguentássemos a primeira parte da partida, estaríamos a caminhar para um tenebroso túnel onde a única luz seria a de um combóio que certamente nos esfrangalharia as hipóteses de passagem à próxima eliminatória. Na altura foi Defour que deitou tudo a perder, com uma expulsão que teve tanto de parva como de inútil e que deixou a malta cabisbaixa a olhar para o resto das equipas que seguiram em frente com uma sensação de dever não-cumprido. Na altura escrevi como antevisão ao jogo: “um jogo que vai ser difícil, contra um adversário matreiro e dinâmico, que nos vai tentar fechar todas as possibilidades de avançarmos em frente na competição. (…) Temos de ser fortes, Vitor, temos de ter as lanças afiadas, as soqueiras bem carregadas e as biqueiras de aço firmes na ponta das botas. E vamos mostrar que não há Málaga que nos meta medo, porra!“.

Há muitas semelhanças entre este jogo e esse de Fevereiro de 2013 e se mudares o nome do clube naquela última frase, o sentimento é exactamente o mesmo. A diferença, este ano, é que não temos mesmo nada a perder, porque o campeonato já parece uma longínqua miragem e o resto das competições pouco mais trazem que algum prestígio em caso de vitória mas um grande nada se formos eliminados das duas Taças que ainda nos faltam disputar, ainda por cima contra o Benfica. Por isso, sem querer pressionar o grupo que o meu caro amigo agora lidera, a verdade é que as fichas estão empilhadas em cima do quadradinho que hoje tem o San Paolo em fundo e Nápoles como destino. Tem de ser um jogo de bom nível, bem acima do que fizemos em Alvalade, mas acima de tudo terá de ser um jogo em que ninguém pode inventar. Nem os avançados, nem os médios e muito menos os defesas, porque estes gajos já mostraram que com um bocadinho mais de sorte podem-nos começar a tramar a vida antes sequer de entrarmos no jogo a sério. Mandem as bolas para a bancada, rematem de longe, acertem-lhes nas pernas, mas impeçam que cheguem perto da nossa área com a força de homens que todos queremos acreditar que são. E vamos passar esta treta à frente para podermos sorrir mais um bocadinho. E estamos todos a precisar de sorrir, não acha? Eu acho que sim.

Vamos lá, malta!

Sou quem sabes,
Jorge

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Cansados

  • Sapunaru em 18 de Março de 2011: 32 jogos
  • Danilo em 18 de Março de 2013: 34 jogos
  • Danilo em 18 de Março de 2014: 38 jogos
  • Álvaro Pereira em 18 de Março de 2011: 27 jogos
  • Alex Sandro em 18 de Março de 2013: 29 jogos
  • Alex Sandro em 18 de Março de 2014: 38 jogos
  • Fernando em 18 de Março de 2011: 31 jogos
  • Fernando em 18 de Março de 2013: 29 jogos
  • Fernando em 18 de Março de 2014: 36 jogos
  • Varela em 18 de Março de 2011: 35 jogos
  • Varela em 18 de Março de 2013: 34 jogos
  • Varela em 18 de Março de 2014: 37 jogos
  • Falcao em 18 de Março de 2011: 31 jogos
  • Jackson em 18 de Março de 2013: 34 jogos
  • Jackson em 18 de Março de 2014: 39 jogos

Três épocas: a de Villas-Boas, com um plantel curtíssimo; a segunda de Vitor Pereira, com um plantel mais extenso mas onde jogavam quase sempre os mesmos; e a época que ainda dura.

Pode não ajudar a explicar tudo…mas que os rapazes andam estourados, não tenho grandes dúvidas…

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Baías e Baronis – Sporting 1 vs 0 FC Porto

Está a ser difícil arrancar esta crónica. Não pelo resultado em si, apesar de ter surgido de um lance irregular, ou pelo penalty que nos foi roubado quando Cedric empurrou Jackson, nem mesmo pela expulsão (outra, injusta, em Alvalade, uma de TANTAS e TANTOS LANCES ONDE FOMOS PREJUDICADOS NAQUELE CAMPO…mas estão a ver-me a lançar uma demanda pela purificação da visão dos árbitros? Juízo, amigos, porque não sei ser intelectualmente desonesto nem sportinguista, que aparentemente são cada vez mais verdadeiras redundâncias), mas pela sensação que podíamos perfeitamente ter ganho o jogo se tivéssemos sido um pouquinho mais eficazes. Só um bocadinho. Bastava um dos lances de Jackson, o remate de Varela, o petardo de Quaresma ou a oportunidade de Ghilas, bastava um desses ter entrado e não estaria aqui a coçar a cabeça para perceber o que é que me está a moer o estômago. Perdemos sem grandes culpas para lá dos inúmeros passes falhados, e apesar do Sporting ter exibido melhor futebol (especialmente na segunda parte), mantenho a ideia que deveríamos ter saído de lá com pontos. Um ou três, já não sei. Vamos a notas:

(+) Quaresma (especialmente na primeira parte). Continua a ser um gajo muito esforçado, diametralmente oposto ao que estaria à espera quando regressou em Janeiro. Mantém o estilo pessoal de “guloso”, passando pouco e tentando muito mas mesmo não tendo a capacidade de outros dias, lá vai insistindo enquanto tem pernas para isso e os vários nós que deu em Cedric foram mais que merecedores de um golo, que a trave tratou de lho negar. Com Varela com a produtividade equivalente a uma garrafa de água vazia em campo, Quaresma é o grande municiador do ataque do FC Porto, já que Quintero continua a sentar-se no banco. Se calhar só pode ser titular um gajo começado por “Q” em cada jogo. Deve ser regra da Liga, é isso.

(+) A expulsão de Fernando. Pode ser um Baía duvidoso, o aplauso a uma expulsão, ainda por cima uma que foi puxada pelo adversário e que resultou perfeitamente como o colombiano quis que funcionasse. Mas o gesto é necessário para mostrar à equipa que tem de ser dura, que nunca pode virar a cara à luta e que tem de combater as atitudes “inteligentes” dos adversários com os dentes cerrados e sem permitir esse tipo de facilidades. Teve azar porque Proença decidiu (exageradamente, na minha opinião) expulsá-lo, mas aprovo a atitude.

(-) Inacreditáveis falhas no passe. Compreendo que os rapazes estivessem nervosos. Até sou capaz de entender a falta de confiança que possa haver sabendo que o Sporting jogava em casa, num estádio cheio e com uma fome de títulos que faz com que um sírio num campo de refugiados pareça um americano suburbano. Mas vamos lá ver uma coisa. Quando o primeiro conjunto de passes começa a falhar, eu compreendo. O segundo, compreendo. Ao terceiro, ainda compreendo. A partir daí deixo de compreender e começo a questionar a sanidade mental da maioria dos jogadores. Hoje foram muito poucos os que se salvaram de uma espécie de milagre do passe falhado, em que cada jogador do FC Porto, especialmente da zona defensiva (excluo Danilo porque não esteve tão mal como os outros) onde Mangala, Abdoulaye, Alex Sandro e Fernando passaram a grande maioria do tempo, foram incapazes de sair de uma zona de pressão alta, com cinco jogadores do Sporting em permanência a procurar impedir passes correctos e transições eficazes para o ataque. E o FC Porto transformou-se numa equipa de bairro com a agravante de não mostrar a agressividade que um qualquer Atlético Raismafodense exibe em campo. A ausência de confiança transformou-se em excesso, onde todos pensam ser Beckenbauers e o alívio para longe parece sinal de derrota antecipada que nenhum quer admitir já ter acontecido há muito tempo. Não há ninguém que lhes ponha a mão no pescoço e diga: “Meu menino, acerta-me ali com a bola naquele poste que está aí a uns quinze metros. Cada bola falhada, siga uma voltinha ao campo. Não, não estou a brincar.”?

(-) A lesão de Helton. A par da lesão de Derlei em Alverca em 2003, onde rodou para receber uma bola e encostou-se sozinho por seis meses, foi talvez a lesão mais ridícula que me lembro de ver. Ao que parece será uma rotura total do tendão de Aquiles, o que não pode trazer boas notícias para o resto da temporada e receio que o possa afastar mesmo do futebol. Seja de que lado sopre o vento, boa sorte, capitão!

(-) Alex Sandro. Sem ritmo, sem cabeça, sem grande vontade para correr a apoiar pelo flanco, está a fazer uma época miserável quando comparada com o que fez no ano passado. Este jogo foi apenas mais um onde o brasileiro nunca conseguiu ser um jogador normal, fraquejando ao mínimo toque na bola, incapaz de a controlar em condições e a exibir-se com uma ausência quase total de velocidade e de empenho na disputa dos lances. Falta uma alternativa decente naquele flanco.


O campeonato estava complicadíssimo e agora parece mesmo inatingível. Nada que surpreenda qualquer adepto do FC Porto, tendo em conta o percurso nesta época, por isso resta-nos apostar nas restantes competições, todas a eliminar. Mas há uma inegável falta de capacidade de concentração e calma em campo que parece não conseguir desaparecer…

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