Jogo futsal aos sábados de manhã há mais de treze anos com o mesmo grupo de amigos. As equipas são feitas na hora porque nem sempre os jogadores são os mesmos. Às vezes, quando só estamos nove porque um caramelo lhe apeteceu ficar a dormir e se esqueceu de avisar ou porque alguém se lesionou a meio do jogo, uma das equipas fica em inferioridade e luta mais que a outra, a entre-ajuda cresce, o espírito de sacrifício é mais alto e a vida dos que estão com mais um elemento fica mais complicada. Mesmo assim, é raríssimo haver um jogo em que os 4 vençam os 5 e costumamos dizer que não há desculpa para que tal aconteça. Hoje, no nosso estádio, os cinco perderam contra os quatro. E é fácil perceber porquê: os cinco não têm pernas nem cabeça para vencer quatro que estão bem mais organizados, lutam mais e querem vencer. Os cinco perderam antes de começar. E perderam também o respeito de muita gente, porque pior que perder contra quatro é deixar que os quatro queiram ganhar mais que os cinco. Enfim, dói, mais uma vez. A notas:
(-) O FC Porto na máxima força perdeu contra as reservas do Benfica a jogar com 10. Cheguei a casa destruído e nem consigo ficar chateado com isto. Há apenas uma indolente sensação de cansaço mental, de incapacidade de compreender como é que chegamos a este ponto. O Benfica, sem qualquer exagero, foi melhor que nós em tudo e tem sido essa a imagem da temporada. Foi melhor a defender, melhor no meio-campo e melhor a atacar (mesmo com 10). Foi mais lutador, mais inteligente e mais astuto. Foi melhor tecnicamente, tacticamente e moralmente. E o Benfica jogou sem seis ou sete titulares, só para termos uma ideia do nível a que o FC Porto chegou em 2013/2014. É um bola de neve que se foi formando desde o início da época, com má gestão física (Herrera, Defour, Fernando, Varela, Jackson, Danilo e Alex Sandro acabaram o jogo de rastos), pobre gestão de pessoal (o meio-campo em constante mudança, avançados como alas, duplas de centrais em permanente mutação, diferença enorme entre sectores, pouca alternância de jogadores-chave), fraco talento em campo (inúmeros passes falhados, golos desperdiçados, cruzamentos mal efectuados, bolas paradas ineficazes) e uma inexistente estratégia de jogo que me faz pensar que se passou o ano todo em treinos que consistiram num total vazio. Ainda por cima, hoje o Benfica não foi nada de especial, como já não tinha sido em Lisboa no jogo da Taça. Foi simples, directo e prático, com as segundas linhas a lutarem mais que as nossas primeiras, sem que as nossas primeiras tivessem um pouco de brio para perceber o que raio haveriam de fazer para contrariar o que estava ali tão perto e ao mesmo tempo tão longínquo. Sucedem-se os passes ridículos, curtos e longos, os cruzamentos sem nexo, os golos falhados à boca da baliza, as perdas de bola em progressão e a tradicional borrada nos penalties que todo o estádio adivinhou mas ficou a ver se o destino nos mudava as sortes. Passamos noventa minutos a atirar o equivalente a bolas de algodão a uma carapaça de ferro, cheia de brechas mas que fomos incapazes de descobrir no tempo certo e com a intensidade certa. Fracos de espírito, sem ideias concretas, sem concepção de um fio de jogo que passe por mais que endossar a bola a Quaresma ou a Varela e esperar que dali saia algo de produtivo. Um meio-campo sem elasticidade, sem força, sem tino. Todos incapazes de se agarrarem a uma fugaz bóia de salvação de uma época miserável, esta merda desta Taça da Liga que todos os anos desdenhamos e que este ano podia ser algo que nos desse algum (pouco) alento. Não há cabeça, nem para isso. E continua a ser isso, acima de tudo, que vejo ausente da equipa há tantas semanas e que me leva a desistir de acreditar em quase todos os jogadores do FC Porto que vejo com a bola nos pés: cabeça. Continuo a insistir que é a cabeça que mais falha e as pernas vão atrás, mas atrevo-me a fazer uma matriz rapidinha: com cabeça e com pernas, como na época de Mourinho, tudo parece fácil; sem pernas mas com cabeça, como no ano de Adriaanse, o esforço é máximo e nenhuma bola é dada por perdida e o talento eventualmente dá frutos; com pernas e sem cabeça, como no ano passado, lá se vai dando uma para a caixa de vez em quando com mais força, mais um bocadinho de garra e com um bocadinho de sorte chegamos lá; sem pernas e sem cabeça…eis o FC Porto 2013/2014, a pior equipa do meu clube que me lembro de ver jogar desde que comecei a gostar de futebol.
Faltam dois jogos para terminar este pesadelo. Dois jogos em que vamos entrar em campo cada vez mais vergados ao peso de uma mentalidade fraca, sem espírito vencedor, que esmaga a alma e derrota o espírito. O FC Porto é um estado de alma, dizia Bitaites. Oh, Professor, e agora como é que nos vemos livre desta?