Acabei por não sair de casa e fiquei a sofrer ainda mais pela televisão. Impedido de gritar, gesticulava como um doido e punha as mãos na cabeça como se estivesse novamente com febre. E lentamente me ia apercebendo que este era um resultado há muito adiado porque até este jogo tudo corria bem. Porque entre trezentos e tal passes por jogo, um ou dois ou até mais saíam em condições e direitinhos para o avançado que não falhava, ou para o extremo que não cruzava para a bancada, ou até para o médio que rematava certeiro. Mas este resultado, mesmo com os 39 remates fruto de 67 ataques, há muito que era esperado. Tinha de haver um momento em que o futebol rendilhado não funcionasse, quando as opções fossem minúsculas (Tozé e Sebá são bons na B, ainda não suficientemente bons para a A) e o terreno bem ocupado, quando o adversário fosse agressivo e nada corresse bem. Um desperdício que espero não nos venha a custar caro, porque nestas corridas a dois importa mais a moral que a bagagem que se leva. Vamos a notas:
(+) Moutinho. Foi o melhor jogador em campo do FC Porto (do outro lado Bracalli esteve em grande) e mesmo depois dos noventa penosos minutos pela selecção a meio da semana, notou-se que era dos poucos que tinha cabeça para ali andar e aguentar. Izmaylov ajudou-o enquanto pôde, mas Lucho esteve abaixo do que sabe e pode fazer e Fernando teve um jogo fraco. Moutinho foi, mais uma vez, Moutinho. Não chegou.
(-) Ineficácia. Não só no remate Falhar um penalty, Jackson? Não pode. Falhar mais dezanove remates, por cima ou contra Bracalli? Não pode. Pecamos por não marcar mas pecamos também por enormes falhas técnicas que se notam há meses nesta equipa e para as quais já avisei há muito tempo. Demasiados passes falhados, cruzamentos imbecis, remates tortos…tudo elementos fundamentais do futebol que a nossa equipa continuamente descura ao longo de vários anos e que tanta gente se surpreende quando vê Defour a fazer um domínio de bola perfeito, questionando o porquê de tal desiderato. É treino, senhores. E se os nossos fizessem mais vezes esse tipo de treino, talvez os passes de Varela não fossem quase sempre parar ao guarda-redes, ou os cruzamentos de Danilo não fossem parar ao antigo sucateiro das Antas. Talvez.
(-) As displicências Houve vários jogadores a quem todos devemos apontar o dedo e gritar: “SHAME!”. Porque houve alturas em que me pareceu que o granizo que caiu na primeira parte não o era mas sim bolinhas de vodka congelada que os nossos rapazes procederam a engolir com dedicação, só para ficarem levemente alcoolizados e baixarem a guarda ainda mais do que é costume. Fernando com passes inaceitáveis para o centro, Danilo passava bolas para trás sem ver se o receptor lá estava, Alex Sandro tentava fintar meio Olhão sem perceber se tinha o flanco coberto por um colega, Mangala (et tu?!) levava a bola para a frente uns 30 ou 40 metros sem a proteger só para ser desarmado pelo adversário…foi um sem-fim de parvoíces, distracções e facilitismos que fizeram com que o FC Porto tivesse não só não marcado, como também sofrido. E era total e completamente desnecessário.
Dois pontos que desaparecem como o granizo que ficou na trampa de relvado que, continuando a levar com este tipo de pragas divinas, tarde ou nunca se endireitará. Dois pontos como os de Barcelos, que me ficam atravessados na garganta porque temos mais futebol do que isto e temos obrigação de mostrar muito mais do que fizemos hoje. Tivemos algum azar, não questiono isso, mas houve acima de tudo uma enorme falta de concentração para colocar a bola no sítio certo e no local certo na altura certa. E quando isso falha…normalmente perdem-se pontos. Espero que não volte a acontecer este ano, porque a margem é curta demais para nos darmos a estes luxos.