foto retirada do zerozero
Uma noite que podia ter acabado com uma neura do tamanho do rabo do Marega acabou por se transformar num estupendo espectáculo de simbiose entre uma equipa e um público que começam a dar sinal de nervosismo precoce como há algum tempo não se via. Há jogos que servem para isto mesmo, para as pessoas perceberem que nem sempre as coisas podem correr bem desde o arranque e que há alturas em que é preciso trabalhar não só mais mas melhor. Em que é preciso pensar antes de fazer as coisas e que se não sair bem à primeira, talvez seja melhor parar um bocadinho antes de tentar logo a segunda. Uma boa e importante lição a tirar da vitória indiscutível de hoje. Notas já aqui abaixo:
(+) Brahimi. Cada gota de suor que pinga daquela maravilhosa carequinha é composta por cerca de 73% de talento e o restante de esforço. Mas Brahimi tende a inclinar as mesas de qualquer jogo em que entre e tenho medo de um dia vir a sentar-me à mesa com ele e que o gajo me finte e saque a melhor coxa de frango, beba o vinho todo antes de eu tocar no copo e consiga traçar a empregada sem que eu consiga avaliar a prateleira da moçoila. Está um jogador melhor desde que Sérgio pegou na equipa, este nosso Yacine, que agora vem para o meio e não tenta fintar todo o mundo e o pai dele, mas consegue ainda brilhar ao nível de um Lockheed Blackbird SR-71 como fez naquela pequena obra de arte que foi o segundo golo do FC Porto hoje à noite. Que. Go. Lão!
(+) A vontade de Danilo, Telles e outros. Danilo é sempre o mais irrequieto quando está a perder, gritando para os colegas e hoje fazendo o papel deles quando estão mais distraídos ou cansados (aquele gesticular para Aboubakar subir no terreno é notável e vai ficar na minha mente muito tempo… apesar de ter uma vertente negativa – e se o Guimarães marcava golo aproveitando a ausência de Danilo no meio campo depois do homem disparar como uma gazela a anfetaminas para pressionar o guarda-redes?), mas há que dar o mérito a Alex Telles, Óliver ou Ricardo, que foram lutadores e que pareciam sentir no corpo uma injustiça que só o seria por sua própria culpa, pela primeira parte miserável que fizeram como colectivo. Mas mostram sempre este empenho, este cerrar de fileiras e morder de língua que os faz querer sempre mais e melhor e que dão garantias ao povo que não vai ser por falta de empenho que não vamos chegar ao título.
(+) O click para a segunda parte. Se havia dúvidas acerca da forma como um treinador pode motivar os jogadores, podemos perceber que a equipa que entrou para a segunda parte foi a mesma equipa que arrancou a primeira. E nos primeiros dez minutos já tinha criado oportunidades decentes de golo e acima de tudo tinha recuperado um flanco direito que esteve nervoso e inconsequente durante os primeiros quarenta e cinco minutos. Ricardo e Corona foram a imagem perfeita do que deverá ter sido o discurso ao intervalo, porque não sei se o Sérgio lhes gritou aos ouvidos enquanto brandia um ferro em brasa em pêndulo perto do escroto dos moços ou se, por outro lado, os sentou ao seu colo e lhes contou qualquer história Dickensiana sobre a vontade dos desfavorecidos em tempos Vitorianos. O que é certo é que funcionou e funcionou muito bem. Tão bem que deu para quatro golinhos, bom futebol e sorrisos na bancada.
(+) O público e as luzinhas Foi querido, não foi? Para quem não percebeu, aquela espécie de árvore de Natal generalizada foi exactamente o que os visitantes fizeram aquando da visita ao Dragão aqui há umas semanas, no jogo da Taça, algo que até foi bem recebido pelo nosso povo. Mas a resposta foi ainda melhor, com todo o estádio a associar-se organicamente à “revanche” iniciada pelos Super Dragões, à qual me juntei com um enorme sorriso, eu que nem sou muito dessas coisas. Foi fofinho e serviu mais uma vez para unir o povo. Como se precisássemos de mais motivos para nos unirmos, mas tudo serve para colocar a malta toda a cantar para o mesmo lado.
(-) Toda a primeira parte. A pior primeira parte da época, sem qualquer dúvida. Um flanco direito mais desligado que um telemóvel sem bateria, com Corona sem cabeça ou pernas ou ambos e Ricardo sem acertar um passe de cinco metros. Dois avançados sem conseguirem controlar uma bola, a perderem todos os ressaltos e bolas divididas. Brahimi e Óliver sem perceberem que zona ocupar no centro. Danilo fora de posição, sem rasgo de velocidade nem discernimento. Dois defesas centrais lentos a agir e a reagir. Um chorrilho de imbecilidades individuais, desde os passes sem nexo no centro à marcação na defesa, com um golo a aparecer fruto de mais um mau posicionamento – não contem comigo para discutir foras-de-jogo de milímetro…mas a não-expulsão do Rafael Miranda, isso…enfim, é “só” mais uma que perdoam aos outros – defensivo e que fez com que o resultado ao intervalo fosse merecido. O pior de tudo foi a tremideira e a noção que não podemos abanar tanto em Janeiro. Ainda há muitos jogos para ganhar e alguns, como este, não vão começar em grande, há que saber ultrapassar isso e continuar a viver e a trabalhar.
(-) A imbecilidade dos olés. Nunca gostei desta manifestação orgânica de gáudio e auto-elogio que a malta insiste em gritar nos jogos que estão mais ou menos resolvidos e em que dois ou três passes seguidos puxam logo um “OLÉ” das bancadas. Não gosto porque os jogadores, nessa altura já com os motores desligados, ainda os colocam a andar em contra-rotação e desligam os cérebros, o que normalmente não resulta lá muito bem. E mais uma vez, não resultou. Ou melhor, resultou num golo para a outra equipa. Para quê? Nobody fucking knows.
A equipa está com mais vontade de ser campeã do que o Marega de fazer finalmente um hat-trick. E com mais ou menos nervosismo, lá vamos aguentando a rusga…
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