Ano Zero

Há algo que me continua a intrigar nos plantéis do FC Porto dos últimos anos e que se prende com os extensos períodos de experiência que damos a alguns dos jogadores que contratamos e que parecem não justificar imediatamente o investimento. Fazemos inclusivamente algum espectáculo sobre o assunto, dada a incapacidade notória de outros clubes (leia-se Benfica) de fazer o mesmo. Quem não se lembra da permanente comparação de Lisandro com Bergessio? Em todos os jornais, toda a imprensa falada e escrita gritava a plenos pulmões: “Se isto fosse no FC Porto, o Bergessio era o melhor marcador porque eles sabem esperar que os jogadores assentem!”.

Desde a olvidável época de 2004/05, o annus horribilis em que a maior parte dos nossos hábitos foram quebrados em função do dinheiro investido e da incapacidade de lidar com a fama adquirida, e quando despachamos Diego e Luís Fabiano por meia dúzia de tostões por não sabermos regressar a esse tempo, o clube voltou a uma lógica de aguardar e de tentar trabalhar os jogadores como deveria ter feito desde antes: tentando adaptar o homem e não só o atleta.

Lembro-me quando Deco chegou às Antas no início de 1999, a equipa estava numa fase consistente, coroada com a conquista do pentacampeonato. Deco teve de ocupar uma vaga ao lado de Zahovic, o cérebro da equipa e o movimentador de todo o ataque, e o brasileiro não brilhou. O clube soube esperar, e Deco passou as próximas épocas a tentar liderar a equipa, com resultados mais ou menos negativos. Aquando da chegada de José Mourinho, Deco despontou para uma das melhores épocas de sempre em 2002/03, continuou a brilhar em 2003/04 e acabou vendido ao Barcelona, valorizadíssimo. O mesmo se pode aplicar a Lisandro, com uma primeira época não muito produtiva; Tarik, ostracizado por Jesualdo na primeira temporada; Alenichev, encostado por Octávio; ou Mariano González, que depois de uma época absurdamente má foi recuperado para uma segunda temporada com melhor rendimento, golos e aceitação pelos adeptos.
Mas há exemplos contrários, como Clayton, um homem que apesar da pouqíssima produção em campo acabou por passar 4 (QUATRO!!! PORRA!!!) anos de dragão ao peito, e acaba por ganhar uma Taça UEFA sem saber bem como.
Isto não serve por isso para louvar a política recente do clube. Por cada Lisandro ou Mariano há sempre um Benítez, Stepanov ou Guarín. Compreende-se que esperemos por alguns jogadores para tentar que eles se adaptem e melhorem o seu rendimento na segunda temporada, mas onde é que se coloca um stop? No fim da segunda? Na terceira? Quando o rapaz se reforma?
Se formos ao passado não muito longínquo, temos exemplos de jogadores que foram contratados para 4 ou 5 meses, sendo “cuspidos” no final da temporada com alegações de falta de adaptação e de incapacidade de transmitir melhorias ao plantel de que fugazmente fizeram parte. Homens como Kaviedes, Mareque, Bolatti, Maric, Ibarra, Chippo…todos jogaram de Dragão ao peito mas quase não tivemos tempo de perceber a diferença que fazem de Benítez, Guarín, Stepanov, Clayton ou Mariano González, todos jogadores que pouco tendo feito para o merecer, continuaram no plantel para a(s) época(s) seguinte(s).
Há que depositar esperança na equipa técnica. Eles tomam as decisões, eles escolhem os jogadores, eles decidem quem entra e quem sai. Mas a cabeça que está no cepo também é a deles, e se os resultados com estes jogadores não forem positivos, é a eles que se terá que pedir responsabilidades.
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Baías e Baronis – FCP vs Mónaco

O jogo em si não teve grande história. Valeu pelo regresso ao Dragão (ah, que saudades!) e pela homenagem merecida a Pedro Emanuel. Admito que fiquei sensibilizado ao ver um homem de barba rija a chorar como um menino a quem lhe foi roubado um rebuçado. Foi bonito de ver. Agora, às notas:

BAÍAS
(+) Tinha dito depois do jogo com o Leixões que o Belluschi parecia Roger. No sábado fez-me lembrar Alenitchev. Com aqueles pezinhos de lã, excelente toque de bola e ainda alguma debilidade física, espero que o rapaz se aguente alguns jogos seguidos. E espero que Belluschi me faça lembrar…Belluschi, em vez de procurar outros sósias.
(+) Hulk confirma-se como o porta-estandarte do FCP 2009/10. Vai ser a figura de ponta e não me surpreende nada se começarem com a Hulkodepenência daqui a dois meses. Isto se não lhe desfizerem as rótulas, porque quando um gajo que passa por 4 jogadores tenta passar pelo 5º…arrisca-se!
(+) Fernando continua a melhorar no passe e na distribuição de jogo, que é o que se pretende de um número 6 quando a equipa ataca. Simples, prático e sem inventar, é o nosso trinco do futuro.
BARONIS
(-) Guarín marca um golo de livre directo. Podia ter marcado 4. Confirma-se o “Baroni” que lhe atribuí aquando da análise à época passada. Só percebo a continuidade no plantel pela insistência de Jesualdo, a mesma que teve com Mariano e Stepanov. Um resultou (mais ou menos, vá), o outro não, vamos ver como se sai este. Até agora, muito mau.
(-) Benítez. Ler parágrafo acima. Mudar nacionalidade de colombiano para argentino. Mesma coisa, tirando o golo.
(-) A resistência física parece-me pior do que contra o Leixões, mas é esperado para esta altura da época.
(-) Não me saiu uma camisola no sorteio ao intervalo. Bah.
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Votação: Cores para equipamento alternativo


Coincidentemente, o dia em que foram lançados os novos equipamentos foi o último para votarem nas cores preferidas para a camisola alternativa do nosso clube para a próxima temporada. Como decerto toda a gente e os seus animais de estimação já viram a côr laranja da indumentária, a votação acabou por revelar uma vontade um pouco diferente, quiçá influenciada pela camisola imaginária que tinha sido revelada por vários blogs (Porta19 incluída) e que se revelou ser uma falsidade.

Assim sendo, cá vão os resultados, contabilizados que estão todos os 39 votos, o triplo da votação anterior (iupi!):
  • Azul escuro e branco: 10%
  • Amarelo: 15%
  • Cinzento e Preto: 5%
  • Toda branca: 33%
  • Toda preta: 15%
  • Azul escuro e laranja: 20%
A malta parece preferir uma camisola branquinha, a fazer lembrar 2007/08 mas sem as riscas verticais fininhas a azul (ver aqui) ou até na época de 2000/01, em que era de facto toda branca (ver aqui).
Por minha parte, devo dizer que alinho com o laranja. De qualquer forma, venham as 20h para os poder ver ao vivo!
Obrigado pela votação, mostra que a malta está a participar mais no blog e é exactamente isso que pretendo. Próxima votação: Qual o guarda-redes titular para o FC Porto 2009/10?
PS: os links vão ter ao site do DragãoPentaCampeão e aos exceptionais artigos sobre a história dos equipamentos do FC Porto. Desculpa colocar sem avisar mas aposto que não te importas ;)
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Carta aberta a Jesualdo Ferreira


Caro Professor,

Estamos no início de uma nova época. Temos jogadores novos, uma equipa renovada, treinadores experientes (V/Exa incluída) e uma direcção dinâmica. Temos força e ganas de vencer e nada nos pode parar se continuarmos fiéis aos nossos princípios e à nossa ideologia ganhadora. O sol ainda não brilha, culpa principalmente de frentes nubladas e da subida de vendas do Record, mas nada disso nos atemoriza.
No entanto, a razão de me dirigir a si é menos heróica e prende-se com uma ideia prosaica que me assola desde há uns tempos. E olhe que algo que assola um rapaz da minha estatura não pode ser ignorado durante muito tempo como o ferro de engomar, a separação do lixo ou a namorada. Enfim, continuemos.
Compreendo a ideia principal da sua estratégia dentro do campo. Habitualmente quando entro no Dragão e tenho de subir aquelas desgraçadas escadarias que me lixam os gémeos, vou a pensar na equipa que vai entrar em campo. Acaba por ser uma boa maneira de me distrair dos putos à volta a berrar com os pais e evita que patine nos inúmeros folhetos que vão sendo atirados para o chão. Mais um degrau. Voltando aos meus pensamentos, a equipa que costuma entrar em campo raramente é igual à que tenho na minha cabeça. Chame-me mau treinador, raios, chame-me otário, mas é a mais pura verdade. Quase nunca acerto, acaba sempre por jogar o Farías quando pensava que decerto iria entrar com Mariano, ou era o Fernando quando assumia que Guarín tinha mais capacidades para a posição (era no início da época, peço desculpa pela heresia). Havia sempre uma outra variável que me lixava e sempre que me sentava na cadeira falava com os meus colegas e descobria que mais uma vez tinha atirado B-4, água.
Cheguei a culpá-lo pelas miseráveis escolhas que fazia e que, quando comparadas com as minhas próprias selecções, empalideciam de timidez, tal era a minha arrogância ofensiva e determinação “footballmanageriana” de desfazer implacavelmente e sem complacências todo e qualquer rival que se apresentasse à frente. Destruir seria o termo mais indicado. Sim, era isso, destruir os outros. Como se atreviam a fazer-nos frente? Morte, hereges!!! No entanto, algum tempo passou e comecei a constatar, contra todas as fibras do meu ser, que lhe chamavam professor por algum motivo. O senhor ensinou-me a ter mais calma, qual Mourinho em frente a Ferguson, Sacchi perante Cruyff ou Tino de Rans à frente de um dicionário. E relaxei, confiei em si, e os resultados estão à vista.
Este ano tenho a certeza que vou começar por fazer o mesmo. São tantas as incógnitas no nosso plantel que tenho ainda mais indecisões mentais em tentar acertar com os 11 fulanos de azul e branco que vão subir ao relvado e por isso sinto-me renitente em parar o jogo de adivinhação. Mas sinto-me com força e assim sendo decidi deixar mais uma vez o benefício da dúvida para os intervenientes (S/Exa, neste caso) e encostar-me na cadeira de camisola vestida e cachecol ao pescoço e simplesmente apreciar os espectáculos que concerteza nos vai voltar a proporcionar nestes próximos 10 meses.
Tenciono arrancar esta nova filosofia amanhã, por volta das 21h, no meu jardim zen preferido. Aquele que tem vista para o Dolce Vita, por muito inestético que possa parecer para os que nunca visitaram.
Com os meus mais sinceros cumprimentos e votos de um bom arranque,
O Jorge da Porta19
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