Nunca saí do Dragão tão aliviado depois de ver o FC Porto a perder. Custou ver a quantidade absurda de golos falhados e perceber que com mais um bocadinho de calma podíamos ter goleado o Sevilha. No entanto, à imagem de muitos outros filmes do género em cenário europeu, mal se acaba de falhar (mais) um golo, o adversário aparece à frente e…pumba. Eficaz. Tudo o que nós não conseguimos ser hoje à tarde. Depois veio o abanão, o receio e a incapacidade de conseguir parar de tremer e jogar com a consistência que tínhamos mostrado na primeira parte. Natural? Sim, mas não podemos continuar assim nestes ambientes. Se a sorte nos sorriu nesta eliminatória, na próxima podemos estar a lamentar os remates de Hulk ao lado ou a cabeçada de Falcao ao ferro. Mas acima de tudo ficou uma tarde emocionante com muitas ex-unhas no chão e um alívio tremendo quando o careca de amarelo apitou para o final. Passamos. Next, please! Notas seguem abaixo:
(+) Espírito de luta De início a fim do jogo houve uma dedicação à partida e um espírito de luta e sacrifício que mostraram que os nossos rapazes querem ganhar, vencer, triunfar. Por muitos remates que falhassem, por muitas bolas que fosse parar às luvas do guarda-redes ou aos painéis publicitários atrás da baliza, a equipa nunca desmotivou e baixou os braços. Enervou-se, é verdade, tremeu um pouco, está certo, mas lutou. E se o dia não era claramente bom para os avançados, o meio-campo conseguiu (enquanto teve pernas) fazer uma primeira parte muito boa e apenas se deixou cair um pouco na segunda. Gostei, aplaudi, vibrei com os nossos putos.
(+) Fernando Foi o varredor de serviço na zona central e interceptou inúmeros ataques do Sevilha pela zona frontal. Já se sabia que os espanhóis eram mais fortes pelas alas e apenas usavam o meio para Kanouté olhar do alto dos seus sei-lá-quantos-metros e cabecear a bola para o lado. Fernando rarametne o deixou fazer isso mesmo e passou o jogo todo a rodar a bola para onde era preciso e a cortar lances de perigo do adversário. Foi simples, prático e eficiente, exactamente o que era preciso.
(+) Belluschi Mais um jogo em que era fundamental termos um Belluschi em forma. Mais uma vez falhou passes como se não houvesse dia seguinte, mas o que mais me impressionou foi vê-lo a correr como um louco depois de 90 minutos de alta rotação em campo. Fica na memória uma bola que salva na nossa área e que ia dar quase de certeza o 0-2 para o Sevilha (tendo em conta que era um deles a rematar e não um dos nossos). Esforçou-se imenso e reconquistou os adeptos. Pelo menos um.
(+) Falcao Com este rapaz a conversa é diferente, minha gente. Não marcou por 4 ou 5 centímetros mas durante toda a primeira parte conseguiu fazer o que Hulk não fez em mais que uma dezena de jogos: jogo de pivot. É a diferença de ter um jogador na sua posição natural a conseguir fazer naturalmente o que a sua natureza lhe deu de talento. Saiu por imperativos tácticos mas acredito que se tivesse ficado em campo não tínhamos falhado tantos golos.
(+) Trinta e cinco mil 17h de uma quarta-feira e o estádio estava com 35 mil pessoas. Se eu tenho a sorte de me ser permitido sair mais cedo compensando noutros dias o tempo dispensado, outras pessoas tiveram de fechar mais cedo a loja, faltar ao trabalho, matar um ou dois tios ou arranjar “más-disposições” e “consultas” no sôtôr para aparecerem no Dragão. Foi bonito de ver.
(-) Ineficácia Faça-se uma estatística dos remates ao lado/defendidos/interceptados da nossa equipa e podemos ter uma noção do quão infrutífero foi o nosso ataque hoje. Em conversa animada com um dos meus colegas de Porta discutíamos o nosso eterno fado, falado nas bancadas há muitos anos, que podia ter como estrofe qualquer coisa como “o golo falhado não será perdoado…perilimpimpim”. Já vi isto tantas vezes que já se tornou rotineiro, infelizmente, mas este ano está-se a tornar recorrente. Fica-me para o futuro aquela jogada do Guarín que depois de passar por dois jogadores do Sevilha com brilhantes fintas de corpo e colocar a bola pronta para o pé direito…acaba por “passar” a bola ao portero. Foi mais um lance numa sequência ridícula que contou igualmente com duas bolas a cruzar a pequena-área de ponta a ponta. Não sei o que se pode fazer para melhorar os índices de aproveitamento, mas alguma coisa tem de ser feita e rápido. Ponham-nos a acertar num poste ao longe, espetem os pais deles na baliza e apontem-lhes uma faca à traqueia se eles não marcarem golo, obriguem-lhes a usar os fatos do Rui Santos, qualquer coisa. Mas por favor metam a bola DENTRO da baliza.
(-) Álvaro É com um coração pesado que falo deste puto nesta secção. Estava a fazer um excelente jogo, a regressar em grande ao flanco que sempre foi seu e a brilhar tanto na defesa ao inconsequente Navas e a desfazer a cabeça ao Cáceres. E depois do golo sofrido…uma imbecilidade que não é admissível. Todo o estádio percebeu que Álvaro ia ser expulso antes mesmo de Howard Webb colocar a mão no bolso. Pôs a equipa em risco, pôs a eliminatória em risco e pôs-se de fora dos próximos jogos europeus do FC Porto.
(-) Hulk Não pode falhar tantos golos como hoje. Não está em grande forma, é verdade, mas se hoje à tarde no Dragão estivesse o mais humilde avançado do Atlético da Verga Mole era capaz de rematar na direcção da baliza mais vezes que o nosso 12. Em jogos europeus este tipo de falhas pagam-se…com golos na outra baliza. Safaste-te hoje, rapaz, mas tens de subir a produção. Se calhar já não estavas habituado a jogar nas alas, diz lá…
(-) Petardos Já há algum tempo que ando para falar disto mas hoje foi um exagero. Até compreendo as tochas, têm luz e côr e são tão lindas e lançam fumo e criam ambiente. Ok, as tochas entendo. Agora os petardos, palavra de honra que não chego lá. Quem é que gosta de ouvir mono-estouros monumentais durante um jogo? Pum. Eiiiii. Pum. Eiiiii. A única forma de entender o que é que o pessoal admira naquela manifestação sonora seria se fossem pré-pré-adolescentes a olhar para o céu no meio do Senhor de Matosinhos a dizer “Oh mãe, mãe! Olha os pum-pums! Góto dos pum-pums!”. E se dissesse isso mais que duas vezes levava-o ao pediatra para lhe dar umas vitaminas.
E agora…Moscovo. Não me incomoda jogar contra este CSKA como não me incomodou enfrentar o clube búlgaro homónimo. Se queremos chegar longe nesta competição temos de ganhar a todas as equipas que aparecerem pela frente e estes não vão ser diferentes. São bons? O Besiktas também era. São muito bons? O Sevilha também era. São geniais, ilustres magos da bola? Não, não são. E vão cair à nossa frente. Haja confiança!
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