2003/04, 2004/05
Públicas virtudes, pecados privados. Por causa de mais um caso em que o futebol português é, infelizmente, pródigo, o carro de um dirigente foi atingido por pedras lançadas não se sabe por quem. Lamentável. Condenável. Desta vez e de todas as outras em que aconteceu. Mas não mais desta vez do que noutras.
Apesar de tudo, o FC Porto saúda o ministro Rui Pereira, que menos de 12 horas depois do incidente já o estava a condenar publicamente e a anunciar ser “implacável neste tipo de situações”. Pena o silêncio ensurdecedor a que se remeteu quando o carro do presidente do FC Porto foi igualmente atacado e atingido por pedras ao passar por baixo de um viaduto quando circulava na auto-estrada A5, a 24/01/2010.
Rui Pereira é ministro de Portugal, não é ministro de nenhum clube ou de nenhum grupo de adeptos. Como responsável pela Administração Interna tem a obrigação de cuidar para que todos os cidadãos circulem à vontade no país, como tem a obrigação de ordenar investigações igualmente implacáveis para situações similares. Fazê-lo só às vezes, é lamentável e só ilustra como não reúne as condições para ser ministro de Portugal.
Todos nós condenamos a violência. Ninguém no seu perfeito juízo deixa de o fazer. No FC Porto condenamos todo o tipo de violência e não aceitamos que outros gostem de se colocar em bicos de pé, como de paladinos pela paz. Condenar a violência é um axioma de qualquer sociedade, como condenar a fome, porque isso faz parte do nosso ser.
Também jamais aceitaremos que sistematicamente se procure associar o nome do FC Porto e dos seus adeptos a qualquer tipo de incidentes. Para o sr. ministro Rui Pereira e para toda a gente que parece não o querer entender, os adeptos do FC Porto são cidadãos como outros quaisquer, nem melhor nem pior do que qualquer outro português. Que nunca mais seja preciso explicar uma evidência tão grande.
É contra este caldo de cultura que o FC Porto sempre lutou e continuará a lutar. Um caldo de cultura que leva a Comunicação Social a não cumprir as mais elementares regras de tratamento idêntico para situações equivalentes. Basta observar as capas dos três jornais desportivos do dia 25/01/2010, em que o apedrejamento do carro do presidente do FC Porto mais não é do que um título em fundo de página em corpo pequeno, enquanto as edições de hoje dos mesmos três jornais, duas fazem manchete e o terceiro dedica-lhe uma das chamadas mais nobres, com direito a foto. Haja decoro.
in fcporto.pt
Junto-me a todos os portistas coerentes e conscientes na condenação de mais um acto de violência gratuita. Mais um.
E não sei se foi da entrada de Francisco Marques para Director de Informação do FC Porto, mas este comunicado espelha na perfeição o que me passou pela cabeça mal vi as capas dos jornais de ontem. E dou comigo a concordar com ele muito por causa da tradicional forma como a imprensa minimiza o que não deve e se foca no que acha que deve. Mas para além disso, para além das culpas que atiramos de uns para os outros há tantos anos, há algo mais.
Ainda pior é este tipo de estrume em forma humana que acaba por criar nas mentes de todo o país uma imagem de nós aqui no Norte. Uma imagem de modernos neandertais, com iPhone numa mão e taço de baseball na outra, que procuram viadutos vazios para atirar pedras a alguém com quem não concordamos. E todos somos conotados com isso, como é normal neste mundo em que se toma o todo pela parte sem ligar a factos nem a opiniões e por muito que alguns de nós achem aberrante o que se tem passado, para alguns sectores da sociedade lusa estamos todos metidos no mesmo saco.
Um amigo (um bom amigo, que não vejo há mais tempo do que queria mas que continua a ser uma voz de boa consciência na minha cabeça e um contra-ponto quase perfeito às minhas loucuras) enviou-me um mail a criticar esta aberração. É uma guerra que ninguém ganha, diz ele. E diz bem. Porque se atirar pedras está transformado num lugar comum, não tarda nada deixa de ser notícia. E o mesmo para as bolas de golfe e os canivetes, para as facas e os bastões.
Não sei que mais possa dizer ou fazer para parar esta subida de mais um degrau violento. Tenho vergonha. Tenham vocês também.
Sinto-me no dever de apresentar os candidatos a Visconde Presidente do Sporting. Um destes senhores vai tratar de nos lixar a vida nos próximos tempos, se conseguir limpar o lixo que lá tem por casa. Ontem, ao ver o debate, entre o ridículo de algumas declarações, a fúria de Dias Ferreira e o ar arrogante de Bruno Carvalho, tomei algumas notas. Espero que ajudem:
Nome: Godinho Lopes
Look: Um cruzamento entre Avô Cantigas e Faria de Oliveira, com tom de voz e entusiasmo ao nível de um vogal do Conselho Leonino provisório da Casa do Sporting de Portalegre.
Catch-phrase: “No primeiro debate houve uma postura correcta. Essa postura correcta foi a minha.”
Postura: “Vocês estão todos contra mim. Haveis de morrer com pústulas no ânus, infiéis!”
Nome: Pedro Baltasar
Look: Queque. Perfeito para o Sporting, portanto.
Catch-phrase: “Eu não vou ser remunerado, vou ser remunerado por vitórias.”
Postura: Nervosa. Lê o Correio da Manhã, o que faz dele uma pessoa mais bem-informada que um recluso de Custóias. Ah, e tem uma vida sem mácula, diz ele. Repetidamente.
Nome: Abrantes Mendes
Look: Este, mais gordinho.
Catch-phrase: “Disse montagem ou sondagem?”
Postura: “Eu já não vou ganhar, por isso posso fazer o que quiser. Ó pra mim a fazer o pino? Então? Ninguém me liga nenhuma?”
Nome: Bruno Carvalho
Look: Uma espécie de D’Artagnan moderno, com fatos grandes demais, testa franzida e cara de mau.
Catch-phrase: “Você sabe de futebol porque tem sete satélites e quatro plasmas em casa?”
Postura: Dá um ar de entediado e intercala com o som de uma metralhadora apontada à cabeça de todos os adversários. Derrota-os com piadas de surdina, ataca para melhor defender e agride para melhor rechaçar. Vai ser o próximo presidente do Sporting e tem tudo para se transformar num rapazola que todos os Portistas vão adorar odiar. Eu sei que vou estar nesse grupo.
Nome: Dias Ferreira
Look: Ming the Merciless com mais 30 ou 40 anos em cima.
Catch-phrase: “O senhor alguma vez fez alguma coisa no futebol?”
Postura: “Eu é que estou cá há muito tempo. A minha pila sportinguista é maior que a vossa pila sportinguista. Vocês são trampa, roxa, negra, escura, que já cheira mal. Que já cheira mal. Que já cheira mal.”
Alguém já decidiu quem é que prefere ver à frente de um dos nossos maiores rivais? Eu, se fosse sportinguista, só não queria o Godinho Lopes. O homem é tão entusiasmante para um adepto de futebol como um poste de electricidade com a lâmpada fundida.
O erro no último parágrafo deste artigo chama-se:
Podem adivinhar à vontade. Qualquer uma das opções é válida.