foto retirada do MaisFutebol
Pela primeira vez desde há muito tempo, não sei muito bem o que escrever. As palavras que costumam sair fluidas, acertadas ou não, parecem presas num bloqueio emocional que sinto a pesar no meu peito. A memória que tenho desta noite vai ficar marcada na minha história de vida como Portista, naquela que foi (mais) uma noite épica no Estádio do meu clube e que me fez gritar, tremer, vibrar, sorrir, suspirar e aplaudir. Há oito anos, frente à Lázio, as sensações foram semelhantes: um golo sofrido, uma reviravolta de garra, crença e bom futebol, terminando numa goleada. No entanto, a união de um povo, a simbiose que se vive entre adeptos e equipa foi hoje posta à prova por uma primeira-parte que foi bem abaixo do que nos habituamos a ver esta época. Mas os rapazes de azul-e-branco, os colegas que mostravam o mesmo empenho com talentos diferentes mas nem por isso menos aplicados, mudaram o destino do jogo para uma jornada que gravou na minha mente um único nome: Falcao. Notas abaixo:
(+) Sacrifício e empenho dos jogadores Perder por um ao intervalo. Uma primeira parte fraca. Com quarenta mil nas bancadas a sofrer por eles. Sem pernas. Sem ideias. Este foi o FC Porto que saiu do balneário para uma segunda parte digna de ser mostrada a todo o mundo como exemplo de moralização. Escolhi a imagem acima por esse mesmo motivo: Falcao acabava de empatar o jogo com um penalty e imediatamente trouxe a bola para o centro. Não houve festejos, não houve alegria, um leve e rápido cumprimento ao conterrâneo que estava a seu lado e siga a rusga que se faz tarde. Os jogadores do FC Porto terminaram o jogo exaustos mas felizes. Porque os tais quarenta mil ficaram, mais ou menos gotas de suor, na mesma. Parabéns, rapazes.
(+) Falcao Quatro golos. Quatro lanças, quatro facas, quatro patadas, quatro tacadas. Quatro vezes me fizeste saltar em euforia nas bancadas hoje no Dragão, distribuindo high-fives pelos meus companheiros. E a cada um desses pulos de puro êxtase futebolístico, só conseguia pensar: que privilégio é ver-te a jogar ao vivo. Assistir às desmarcações, às fintas de corpo, aos remates e aos cabeceamentos que fazes e continuas a fazer. Já levas quinze golos marcados na Europa esta temporada e gostava muito de te ver a fazer qualquer coisa de parecido na próxima com a nossa camisola. Uma vénia para ti. Uma não, perdão: quatro!
(+) Fernando A estabilidade defensiva do nosso meio-campo tem muito a dever a este rapaz. Sóbrio, simples, prático, foi o primeiro tampão às movimentações do Villarreal pelo centro e a seguir a Falcao ganhou o prémio de principal jogador do FC Porto durante todo o jogo.
(+) Guarín Na primeira parte o que vi foi uma regressão do nosso Mr.Fredy à distante temporada de 2008/09. Tosco, trapalhão, a passar mal a bola, a pressionar cedo demais e a deixar espaço infindável nas costas. Yuck. Mas apareceu Dr.Guarín na segunda parte, a levar a bola com inteligência, criando espaços para Hulk e Falcao, forçando Borja e Bruno a sairem da zona de conforto do meio-campo e deslizando para o flanco, embatendo contra a parede colombiana que usa o número seis nas costas. O golo que marcou foi brilhante em termos de técnica e de vontade. Ninguém o podia parar naquele momento, nem os queixos de Diego López, nem o magote de defesas que o rodeavam, nem a relva, nem um relâmpago! Obrigado, Fredy, por marcares o golo que deu a volta ao resultado.
(-) Primeira parte Foi mau, admita-se. Entramos com medo, sem conseguir rodar a bola, com poucas ideias, a cair no engodo da troca curta de bola e a enervar-se com demasiada facilidade perante o árbitro e a aparente incapacidade de perceber que a pressão não podia ser feita tão alta e tão atabalhoada. Foi fácil demais para o Villarreal e tivemos sorte por não ter apanhado mais que um golo na padiola.
(-) A dicotomia ataque/defesa de Álvaro É um facto inegável: Álvaro é um dos principais municiadores do ataque e é um elemento fundamental na equipa. Mas hoje houve um elemento estranho que se enfiou no jogo como um gigantesco corta-relva num sistema de rodas dentadas e que deu pelo nome de Nilmar. Como Nilmar não defendia, Álvaro só queria atacar. Óbvio, claro como água nas Seychelles. Mas, e é um grande “mas”, como Álvaro estava sempre na frente…Nilmar só atacava. E fazia-o muito bem, furando entre Otamendi e Álvaro e recebendo vários passes a rasgar tanto de Borja Valero como do brilhante Cazorla (que jogador, amigos!) e aparecendo quase sempre a criar grande perigo. O golo do Villarreal era esperado mas completamente evitável.
(-) Otamendi Falhou demais na primeira parte e deixou-me nervoso com o que parecia uma incapacidade crónica de cortar a bola de uma forma prática. Confiou em excesso na capacidade de controlo da bola e esqueceu-se da principal função de um defesa-central: impedir que os avançados toquem na bola. Além do mais teve um Álvaro que andava como um louco no meio-campo adversário e nunca conseguiu fazer a cobertura a Nilmar da melhor forma. Subiu de produção na segunda parte mas não gostei dos primeiros 45 minutos.
Ainda dentro do Estádio, nos amplos corredores de acesso às bancadas, começou um cântico espontâneo das pessoas que saíam sorridentes das suas cadeiras, ecoando o que tinham gritado minutos antes: “Venceremos, venceremos…venceremos outra vez…o Porto vai ganhar a Taça…como em 2003!!!”. Não sei se a letra tem algum fundo de verdade profética, mas demos mais um passo nesse sentido. Um passo enorme contra uma grande equipa, que nos vai atirar com tudo que tem na segunda mão. Parou a euforia, descansem os rapazes no Domingo porque o que conta agora é o jogo da próxima quinta-feira. Hermanos, vamos a España!
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