Longa vai a história e só se passaram dois dias. De rumor com muito fumo passamos para um incêndio de proporções bíblicas entre o treinador com a ascensão mais meteórica desde Mourinho e o público que o apoiou durante um ano. E que ano, minha gente!
André sai. Sai pela porta pequena na perspectiva dos adeptos, pelos portões do Taj Mahal quando visto pela imprensa. Entram quinze milhões para a nossa bolsa, com a perspectiva de mais alguns “trocos” caso siga Moutinho ou Falcao ou qualquer outro juntamente com o técnico. É um negócio incrível numa altura em que teoricamente as proverbiais vacas estão anoréticas e ajudará a aditivar o orçamento que estará à disposição do próximo treinador para reforçar a equipa, ou simplesmente para manter algumas das peças-chave que possam não querer sair imediatamente. Urge saber que elementos do plantel terão ficado chateados com esta saída e perdido a vontade de permanecer na Invicta para saber com quem é que podemos contar no arranque da temporada 2011/12.
Esta é a análise racional que podemos fazer desta situação. Abaixo, segue a parte mais emotiva. Estão prontos? Vamos a isso.
É uma desilusão. E ao mesmo tempo que continuo a afirmar que compreendo a saída tendo em conta o tamanho da oferta e das condições que terá ao seu dispôr, tanto económicas como a nível de projecto e de ambiente (a única coisa verdadeiramente em comum de jogar na Premier e jogar em Portugal é que ambos começam por “P”…), sinto-me como se tivesse sido abandonado por um amor de Verão depois de quatro quecas extremamente bem dadas. Porque durante toda a época, apesar de me manter alheado das frases bombásticas e focar-me mais nas conferências de imprensa sobre futebol e menos sobre individualidades, havia qualquer coisa em André Villas-Boas que me fazia acreditar que podíamos ter aqui um rapaz que podia ser “dos nossos”. As frases iam ficando lá no fundo…mas ficavam. A atitude era guerreira, nossa, vibrante, alegre, nervosa, portista. Era igual a nós, celebrava as vitórias e sofria as derrotas como nós, como comentei tantas vezes com amigos ou colegas lá no meu sector do estádio. Aquela pequena parte dentro de mim, por detrás de várias camadas de racionalidade e algumas de cinismo, guardavam essas frases para num futuro próximo poder aproveitar o elogio do homem e do treinador.
E…tudo caiu por terra. O timing é mau, muito mau, se bem que nunca se sabe quando é que uma proposta destas se pode repetir. Mas o que André escusava de ter feito e dito tanta coisa durante a temporada sabendo que a malta lhe ia atirar tudo à cara se chegasse ao ponto em que se contradissesse. E o problema neste tipo de coisas é que a malta normalmente não tem memória de peixe. As marcas ficam e muita gente lembrar-se-á de tudo o que se passou desde segunda-feira de manhã, não do que André fez nos onze meses anteriores. A Supertaça, o Campeonato, a Europa League, a Taça de Portugal, os 5-0 no Dragão e a reviravolta da Taça na Luz, os 5-1 ao Villarreal, a demolição dos russos, a facilidade de tantas vitórias, o crescimento de Moutinho, a velocidade de Hulk, o instinto apurado de Falcao…tudo isto teve o dedo de André Villas-Boas.
Não lhe podemos retirar o mérito destes triunfos, por muito que estejamos magoados com a aparente indiferença com que temos sido brindados. Mourinho fez o mesmo e 7 anos depois ainda há quem não lhe perdoe. Com ou sem razão. E é por isso que não fico furioso. Apenas desiludido. Mais comigo que com Villas-Boas. Porque até eu tinha a esperança que fosse um dos nossos e não é. É acima de tudo um treinador profissional de futebol e portista sempre que pode. No ano passado calharam de coincidir.