Não gostei do jogo, mais uma vez. Irritou-me a pressão atabalhoada, os passes falhados e acima de tudo o número absurdo de desconcentrações defensivas que levou a momentos de pânico perto da nossa área. Compreendo que a equipa ainda não está a rodar ao nível que queremos e a malta ainda tem muito presente os brilhantes momentos do ano passado, mas assusta ver que duas peças mudadas na equipa se aliam ao momento menos bom de alguns jogadores para criar uma tempestade perfeita para avançados adversários, especialmente quando são rijos, agressivos e práticos. Há muito a melhorar e pouco tempo para o fazer. Vamos a notas:
(+) Hulk Esteve nos três golos. Marcou o primeiro (penalty bem apontado e ainda melhor marcado), assistiu Sapunaru no segundo e quase rebentava as redes no terceiro. Passou o jogo todo a tentar passar pelos laterais, tanto pela esquerda como na direita, e apesar de não o ter conseguido muitas vezes, há que lhe dar o mérito da produtividade. E o jogo não foi dos melhores para ele, porque apanhou sempre com pelo menos dois marcadores em cima, que não lhe deram grande oportunidade para as fintas do costume, daí a surpresa pelo aproveitamento nos lances de bola parada. Confirmou que quando pode marcar livres em força…é mandá-lo para o sítio da marcação e deixá-lo fazer o que quiser. Às vezes corre bem.
(+) Otamendi Foi o melhor dos quatro da defesa, o que hoje não significa que tenha estado muito bem. Esteve razoável, mas acima dos outros três, que tiveram uma noite horrível apesar de apenas terem sofrido um golo naqueles primeiros trinta minutos que foram do pior que me lembro de ver desde há alguns anos. Otamendi pareceu sempre ter aquele bocadinho extra de concentração, inteligência e capacidade de antecipação, o que resultou em várias recuperações de bola e coberturas bem feitas a lances corridos. Gostei.
(-) Muita confusão no meio-campo As primeiras impressões não são positivas, longe disso. Com Souza e Guarín em campo, as suas posições acabam por se mesclar sem necessidade, tal é a proximidade dos estilos e feitios. Analisando ponto a ponto, vemos que a entrada de Souza não está a ser positiva por motivos que não têm directamente a ver com o próprio jogador, mas sim com a sua integração no modelo da equipa. Prende a bola melhor que Fernando e sai bem melhor com ela controlada…mas ninguém está habituado a isso e ficam muitas vezes a olhar à espera do passe, que raramente sai. Guarín, por sua vez, parece ter enfeitiçado os adeptos com algo que não é coerente com o que sabe fazer. O povo portista habituou-se a ver Guarín como um cavalgador, um desflorador de defesas e trincos, que aparecia em drible rápido e audaz e rematava com a força de Aquiles antes de romper os ligamentos. O que a malta se está a esquecer é que o nosso Fredy, nesta altura da temporada, é só um rapaz bem-intencionado e trapalhão, porque não tem pernas para mais. No ano passado quando é que Guarín surgiu em grande? Outubro/Novembro. Pois. Moutinho é outra peça que parece render muito menos. Não querendo apelar à veia cínica, opto por falar da falta de ritmo, porque não quero pensar que está com a cabeça noutro lado. Recuso-me. Sou ingénuo? Talvez. Deixem-me ser.
(-) Falhas defensivas Aquelas trocas de bola na defesa são muito giras. Rolando para Otamendi, para Fucile, para Helton, para Rolando, para Fucile, pum, bola para a frente, lançamento para o Gil. Quando se começa com esse tipo de jogada, das duas uma: ou os médios recuam para pegar no jogo pela relva de trás para a frente, ou o avançado do centro recua ainda mais para fazer subir os extremos e lançar bolas longas. Assim, da maneira que estamos a fazer…é muito mais fácil para uma equipa agressiva sobre o tipo que está com a bola acabar por lha roubar, como aconteceu ao Sapunaru no início do jogo e que deu o penalty (e que poderia, talvez deveria ter dado a expulsão a Otamendi…e aí era bem mais difícil ganhar o jogo) mas que não foi ocasião única, porque durante quase toda a primeira parte a defesa andou perdida.
(-) Assobiadores É raro, admito, insultar colegas adeptos do FC Porto. Hoje, não me contive. Quando Varela tentava pela 3ª vez passar sem sucesso por um adversário na segunda parte, eis que alguns anormais começam a assobiar e a dizer, passo a citar: “Vai-te embora, só pensas no dinheiro!”. Houve qualquer sentimento mais fundo cá dentro que se ergueu, não segurei a língua e saiu cá para fora um chorrilho de profanidades direccionadas a essa gente, não adequadas a um blog de família. Se alguns de nós, como adeptos, não conseguimos estabelecer a diferença entre um mau jogo e um mau jogador, algo está muito mal neste mundo do futebol que tanto gosto. Porque é exactamente esse tipo de gente que vai à bola que ajuda a estragar uma equipa e a desmoralizar um jogador. E logo quem, Varela, um dos gajos mais humildes em campo que me lembro de ver a jogar pelo nosso clube. Tenho vergonha dessas atitudes símias.
Devo lembrar que o início da época passada foi qualquer coisa semelhante a este. Vitória na Supertaça, arranque fora com dificuldades e a vencer por um golo de diferença, seguido de uma vitória em casa com três golos marcados. A equipa ainda não está bem, nota-se nos níveis físicos e na atrapalhação colectiva. Mas o que preocupa mais os adeptos é mesmo a indefinição que decorre da permanente especulação sobre entradas e saídas. Até dia 31, não há nada que se possa fazer para assentar um estilo de jogo baseado nas performances do jogador A ou B, porque esses podem sair e os novos terão de reaprender rotinas e métodos. Até lá, só nos resta uma coisa: continuar a ganhar os jogos.