foto retirada de Record
Foram cinco batatas mas podiam ter sido muito mais. A segunda-parte do FC Porto, a somar a tantas outras, foi brilhante. Numa noite de calor no Dragão, o povo estava renitente ao intervalo, temendo que a equipa, que já mostrava que as pernas não estavam a funcionar como deviam, se fosse definitivamente abaixo das gâmbeas quando reentrasse para o relvado. Nada mais longe da verdade. Eu, semi-afónico, a rouquejar com uma voz digna de um jovem Plácido Domingo depois de levar um pontapé no testículo esquerdo, saltei como um louco com cada um dos nossos golos, com o excelente futebol que de novo mostrámos ao mundo, com uma nota de destaque: Falcao. O melhor ponta-de-lança a vestir a camisola do meu clube desde Big Jardas. Saí de barriga cheia (metaforicamente, porque na realidade saio sempre dessa forma) e com a convicção que podemos mesmo ganhar esta treta. Notas abaixo:
(+) Falcao Por onde começar? Três golos, qual deles o mais inteligente e oportunista, a somar a uma assistência, deliberada ou não, para Varela, nos quartos-de-final da Europa League, são a imagem de um jogador que está a um nível muito superior a qualquer outro que jogou naquela posição nos últimos 10 anos no FC Porto (Lisandro era um avançado móvel, não um ponta-de-lança, antes que comecem os insultos). É uma delícia observar a forma como se move na recepção e saída com a bola controlada, removendo da sua presença um qualquer defesa adversário como se fosse um jerrycan de gasoil e avançando vitoriosamente do duelo com leveza, noção estratégica e visão de jogo, sempre pronto a lançar um colega pelo flanco ou a rodar a bola para o médio mais próximo. Hoje fez o que quis dos centrais do Spartak e voltou a mostrar ao mundo que há mais um goleador latino em Portugal.
(+) Fernando Simples e prático, mais uma vez. Falhou um golo que faria um iniciado levar uma bela cachaçada depois do livre de Hulk à trave, mas cumpriu a principal função como de costume. Continua a melhorar na defesa e no controlo do 1v1, este rapaz que quando cá começou a jogar parecia um Zé-Sempre-No-Chão, tantas vezes caía nas fintas dos adversários. Está um jogador digno de jogar nos clubes de topo da Europa, talvez mais adaptado ao futebol italiano que a outras andanças, mas não fica a dever nada aos magotes de trincos que aparecem vindos sabe-se lá de onde. É actualmente indispensável no FC Porto.
(+) Guarín Foi dos poucos jogadores que não pareceu acusar alguma letargia inicial e não parou de correr durante 69 minutos. Para lá da produção que exibiu, que esteve um pouco abaixo do habitual, foi essencialmente o gajo que fazia os outros gajos correr. Lead by example, não é verdade, Fredy?
(+) Belluschi Jogou pouco, eu sei. Mas os 21 minutos que esteve em campo foram cheios de vivacidade, inteligência, talento e criatividade. Com a saída de Guarín temi que a equipa se pudesse desagregar fisicamente, mas Belluschi tratou de fazer com que o total domínio do meio-campo se mantivesse e que o FC Porto pudesse continuar a pressionar e brilhou com excelentes desmarcações e um remate estupendo com pouco ângulo que quase deu golo (pelo menos pareceu de onde estava sentado). Guarín tem o lugar seguro…mas há sempre Belluschi no banco para o chatear.
(+) Empatia com o público Falhou um passe? Palmas. Rematou por cima? Palmas. A intercepção correu mal? Suspiro, seguido de palmas. É incrível o que faz a vitória num campeonato à relação entre os adeptos e a equipa, mas o que é certo é que todos ficamos um pouco mais permissivos. Não creio que nos tenhamos tornado menos exigentes e ainda vivamos uma espécie de sonho em que flutuamos em tule, mas creio que a vitória do passado Domingo criou um escudo de protecção à volta das fraquezas pontuais e colectivas que nos habituámos a ver nestes rapazes. Todos sabem que Maicon inventa, que Belluschi falha passes, que Guarín remata torto e que Hulk finta demais. Mas hoje, naquele estádio, a malta não quis saber. Apoiou, gritou, saltou e felicitou. E era sempre assim que devia ser.
(-) Primeira-parte, por motivos diferentes dos habituais A palavra, em Inglês, é sluggish. Em Português, diria letárgico. Enquanto que a maior parte do pessoal à minha volta brincava com a hipótese da ressaca da festa do título se ter prolongado até hoje à noite, eu ria-me mas ia observando a movimentação dos jogadores. Moutinho parecia andar devagar a parado, Fucile não subia até à linha, Varela travava antes do tempo e Álvaro só subia quando Guarín descaía para aquele lado e ajudava a tapar o flanco. Estava a ser complicado sair da pressão dos russos e o meio-campo não conseguia criar o espaço necessário para trocar a bola no meio-campo adversário. O público, paciente, esperava melhores jogadas e o golo ajudou a acalmar os nervos, mas foi preciso ir buscar forças onde já não pareciam haver para lançar o ataque às meias-finais.
Não sei se foi o facto de ter passado no Café Bom Dia (que já reabriu, ficam a saber) antes do jogo que deu sorte. Nem tão pouco se foi uma bela duma bifana no Café Luís em frente ao antigo Matadouro de S.Roque que deu a fezada para o Radamel. Talvez a presença do senhor meu progenitor na cadeira do lado tenha feito com que os jogadores se soltassem e acelerassem para uma exibição de sonho na segunda-parte. Não sei se essas bruxas metafóricas existem, mas o que é certo é que os amuletos, voluntários ou não, funcionaram. Grande equipa, grande jogo, grande vitória!
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