Baías e Baronis – Académica 0 vs 3 FC Porto

foto retirada de fcporto.pt

Nervoso. Aparentemente só eu é que estava nervoso a ver o jogo, porque quem olhasse para o campo via uma equipa que estava mais calma do que eu, como se o jogo de São Petersburgo não tivesse abanado a estrutura mental dos jogadores. Vi um FC Porto mais igual ao que nos habituou, com um jogo mais estabelecido a meio-campo ainda que a espaços se tenha voltado a ver alguma displicência e falta de tranquilidade, com passes exageradamente rápidos e longos, várias perdas de bola e lentidão excessiva na construção de jogo até chegar ao meio-campo adversário. Mas é um FC Porto melhor que o da Rússia, que pode ter visto em Coimbra um acréscimo de confiança que tanta falta tem feito à equipa. Vamos a notas:

 

(+) Fernando Foi mais uma vez o melhor jogador do FC Porto. Apesar da posição que ocupa ser eminentemente defensiva, foi a partir das intercepções e recuperações de bola do “Polvo” que a equipa conseguiu estabilizar o jogo e dominar por completo a partida. Continua a não saber muito bem o que fazer quando sai de bola controlada para lá do meio-campo mas habitualmente toma a opção certa e roda a bola para o colega mais próximo ou para o lateral do lado onde está. Serve como complemento perfeito à menor mobilidade de Moutinho nestes dias e enquanto Guarín aguenta a pressão mais acima, Fernando mantém-se observador, posicional, astuto e controlador. Numa altura em que a equipa está tão necessitada de força física como de confiança no seu talento, Fernando funciona como a perfeita descida à Terra quando recupera uma bola e faz funcionar o ataque posicional de uma forma tranquila mas sempre em posse. Que continue assim.

(+) Helton Em pontos fulcrais do jogo foi sempre o guarda-redes que precisávamos. Brilhou pouco mas foi eficaz a tapar a baliza quando Éder lhe apareceu sozinho, a voar para defender um grande remate de Adrien e a agarrar alguns cruzamentos de Sissoko e Diogo Valente. É isto que uma equipa grande necessita sempre: um rapaz lá no fundo da equipa que não precisa de defender muito, só precisa de defender tudo.

(+) Walter O golo foi meritório, não tenho dúvidas. Acreditou que a bola (muito bem centrada) de Hulk iria ficar mesmo ali no intervalo entre os dois centrais e deu o toque perfeito como um ponta-de-lança deve fazer. No resto do jogo esteve esforçado ainda que pouco eficiente, mas a maior contribuição que deu à equipa acabou por ser a festa que os jogadores lhe fizeram aquando do golo, porque são estes gestos que indicam que o ambiente está bom e acabam sempre por mater as conspirações pela raiz. E exigem-se sempre golos a um ponta-de-lança, mas acima de tudo também precisa de ser mais móvel, mais rápido e estar mais em jogo. Só estranho que a última não aconteça mais vezes, porque pelo conhecimento que tenho da gravidade, a bola deveria ser mais atraída para Walter que para qualquer outro jogador…

(+) Apoio nas bancadas Sempre a gritar, sempre a apoiar, sempre presentes. Os nossos adeptos deram mais uma vez um sinal evidente que estão presentes nos bons e nos maus momentos, prontos a levar os rapazes aos ombros se tal fosse necessário e hoje em Coimbra viu-se mais uma vez que a malta está pronta e de gargantas bem afinadas com a equipa. Portistas unidos em prol da vitória e da continuação do sonho de ser campeão, porque não nos podemos deixar abater por resultados menos conseguidos quando sabemos que podemos fazer muito mais. É esta confiança que transmitimos para o terreno, este tipo de força que passamos para os jogadores e só podemos esperar que nos retribuam em golos e conquistas.

 

(-) Medo de falhar Se há alguma coisa que posso apontar à equipa hoje é o receio com que vi um grande número de jogadas a serem desperdiçadas com passes longos excusados e muito vagar na execução. Nota-se que alguns jogadores caminham como faquires inexperientes em camas de pregos novos e parece-me evidente que a confiança necessária para um tipo de jogo mais “nosso” ainda está longe de ser alcançada em pleno. Moutinho, Álvaro, Fucile mas sobretudo Guarín (que já de si não é em condições normais o jogador mais calmo do plantel) continuam a mostrar insegurança a mais nos lances em que estão envolvidos, ao ponto de fazerem Fernando, que joga mesmo ali ao lado deles, parecer um paladino da tranquilidade. Tempo, melhor condição física e resultados positivos farão com que eles regressem ao nível do ano passado, mas até lá vamos ter de suportar algum excesso nos recuos para o guarda-redes, nas trocas de bola entre os centrais sem que um médio venha buscar a bola, ou remates de longe que parecem não ter intenção de entrar para a baliza. Temos de ter paciência.

(-) Otamendi Um jogo muito fraco do argentino hoje em Coimbra. Ao contrário do que é habitual nunca conseguiu lidar com a velocidade de execução de Sissoko e Éder e deixou-se cair com uma consistência assustadora nas fintas dos adversários, especialmente quando os encarava em lances individuais, onde foi batido até me deixar enervado. Se somarmos os passes longos absurdos que davam quase sempre lançamentos laterais para a Académica, a produtividade hoje foi negativa. Valeu-lhe Helton por várias ocasiões porque do lado dele hoje passava quase tudo.

(-) Relvado Não sabia que no futebol profissional em Portugal eram permitidos relvados em gravilha pintada de verde. A bola saltava como se estivéssemos num sintético, e houve vários jogadores Portistas (Hulk e James, principalmente) que se viram lixados com a incapacidade de controlar a bola e colocá-la a rolar em condições, o que não parecia acontecer com os jogadores da Académica, provavelmente mais habituados ao estado do terreno. Para o estilo de jogo que temos é complicado manter a bola a rodar entre os jogadores de uma forma estável quando não se sabe se o passe vai parar onde previsivelmente deveria chegar, mas é um problema que os nossos meninos têm de conseguir resolver no futuro, porque a incapacidade técnica que parece disseminada no nosso plantel acaba por impedir um jogo simples como gostamos.

 

Não foi a exibição fabulosa que estaríamos à espera, mas foi suficientemente boa para manter o primeiro lugar antes desta absurda paragem de duas semanas, intercalada com um jogo da Taça. É preciso rezar para que nenhum dos nossos muitos seleccionáveis não chegue a casa com uma ou outra lesão muscular ou mesmo (knock on wood) traumática, porque o plantel é extenso mas não em todas as posições e como temos ainda alguns rapazes no estaleiro, temos de esperar que daqui a quinze dias possamos voltar em grande. Até lá vamos descansar, analisar alguns pormenores e perceber que Vitor Pereira precisa ele também de algum tempo para entender a melhor forma de jogar e quem são os melhores à sua disposição. Insisto, vamos ter paciência, minha gente, porque o trabalho tem sido atribulado mas sério e este grupo tem potencial para nos dar muitas alegrias. Cá as esperamos.

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Ouve lá ó Mister – Académica


Amigo Vítor,

Não está fácil a vida para ti, rapaz. A meio da semana conseguiste transformar uma semana de trabalho árduo e de poucas satisfações num pequeno inferno na minha vida de lazer. Isto de perder jogos daquela maneira já não é um hábito desde que…espera, nunca foi um hábito! Nem para mim nem para ti como portista, aposto, porque acredito que sofras da mesma maneira que eu sofro como adepto, e agrava-se com o sofrimento de veres os teus meninos em campo a não conseguirem dar a volta a uma situação negativa. Mas não podes desistir, nenhum de vocês pode desistir, porque os outros que ficam de fora a sofrer não podem entrar em campo e dar dois safanões em qualquer jogador, por isso dependemos de ti para o fazeres. Pode ser metafórico ou concreto, deixo à tua consideração.

Reparo que já perdoaste o Fucile. Já sei que é uma faca de dois legumes, como se diz, porque se não o convocas é porque está a ser castigado e há mau ambiente, mas se convocas é porque não achaste que foi tão mau assim e qualquer um tem carta verde para fazer o que lhe apetece, o que vai dar mau ambiente. Para quem quer ver as coisas sempre da mesma forma só pode dar em maledicência, a mesma do costume. Já estás habituado a isso por estas alturas e como já sabes como é que as coisas funcionam neste nosso país podre e inclinado sempre para o mesmo lado, é com o que vais ter de lidar todos os dias. E quando as coisas correm bem, uma pessoa pode-se sempre alhear dos trauliteiros ideológicos e mandá-los às favas, mas quando as coisas começam a correr mal…infelizmente há muita gente que guarda o fel para estas alturas. Aguenta.

E a Académica, por muito que esteja a fazer um bom campeonato, não se pode atravessar no nosso caminho. Não pode! A pressão que tu e os teus foram colocando em cima como uma pilha de cobertores num dia de Verão é uma bela borrada e agora, mais que nunca, dependemos de vocês para elevar a nossa moral que não está propriamente em alta. Lembra-te do ano passado, Vitor, da maneira como conseguimos lutar nesse mesmo sítio onde vais estar hoje a jogar. Recordas-te da piscina que havia aí, em que o Varela marcou um golaço, o Belluschi brincou com o adversário e o resto da equipa se atirou ao jogo com uma intensidade, um espírito de sacrifício e combatividade que mostraram ao país que aquele seria o próximo campeão? É isso mesmo que todos queremos ver hoje!!!

Sou quem sabes,
Jorge

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Leitura para um fim-de-semana tranquilo

  • Para quando o forte lobby à Nike para termos uma camisola com uma das nossas glórias do passado, como Pavão, Gomes, João Pinto ou Deco, como esta do Fulham no Maillots de Sport?;
  • Jonathan Wilson tenta perceber o desafio que se coloca a Ranieri no Internazionale;
  • À semelhança do que se passou com Carlos Tévez, uma lista das 10 greves mais famosas de jogadores de futebol no Off the Post;
  • Prova que a História não é imutável, no Em Jogo;
  • Teremos Sérgio Oliveira de volta em grande? A análise no Notícias do Futebol, o novo website da malta do Academia de Talentos;
  • Montanhas de screenshots do novo Football Manager 2012, que sairá a 21 de Outubro, colocadas nos SIGames Forums;
  • Os critérios tendenciosos do Record no Portistas de Bancada;
  • Um artigo que já tem uns meses mas tem alguma piada e lança o desafio: quais são as entradas mais parvas na Wikipedia sobre jogadores da bola? Ver algumas no The Spoiler;
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Até dá para pendurar toalhas

À semelhança do que fez Jon Stewart aqui há uns dias no Daily Show, esta capa remete-me para um conselho que dou com todo o gosto.

Malta da redacção d’a Bola: por favor consultem o vosso médico. A erecção que sentem neste momento, estranha e pouco familiar, não é natural e concerteza não é habitual. Devem consultar o vosso médico o mais depressa possível, afastem-se de qualquer animal doméstico e por favor não se virem de repente dentro de casa. Estou convencido que não estão habituados a este tipo de situações, por isso acredito que seja difícil lidar com isto, mas façam um esforço. Até me surpreende que não estejam mais preocupados porque se olharam bem para a capa e viram aquele híbrido do Leonor do lado direito e o inchaço não passou…deviam ter percebido que algo se tinha passado que não era como Deus mandava.

Se Ele quiser – e o Vitor e os nossos jogadores também – no Domingo já passa.

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Baías e Baronis – Zenit 3 vs 1 FC Porto

foto retirada de MaisFutebol

Antes de mais, há que dizer que o FC Porto não foi hoje banalizado em São Petersburgo. O FC Porto, por culpa própria, do treinador até aos jogadores, acabou por se banalizar. E fê-lo numa altura em que as musas conspiram para que a lei de Murphy seja levada ao extremo, porque quando tudo o que pode correr mal assim acontece, ao nosso clube actualmente acaba por acontecer, como diz o corolário, na pior altura possível. Não bastando a lesão de Kleber seguiu-se a estupidez de Fucile e algumas opções questionáveis de Vitor Pereira, qualquer um destes factores suficientes para abanar uma equipa. Mas o pior de tudo foi mesmo a forma como encaramos este jogo, lentos, conformados, pouco lutadores, sem alma nem espírito de luta, de conquista, de esforço e sacrifício. O Zenit é uma boa equipa mas nem precisava de ter o talento que mostrou porque a maneira como chegava sempre primeiro às bolas e interceptava constantemente os passes fracos e com pouca convicção fez com que o FC Porto saísse da Rússia pior do que lá tinha chegado e deixasse os adeptos ainda mais preocupados. Vamos a notas:

 

(+) Fernando, na primeira parte Complicado, muito complicado arranjar pontos positivos para este jogo. Pensei em dar um auto-Baía, pela capacidade inusitada de sofrimento que aguentei ao ver o jogo num café e a abafar os gritos animalescos e recheados do melhor vernáculo que conheço para evitar ser corrido de lá para fora, mas não me parecia correcto. Fernando, por seu lado, esteve bem na primeira parte, a interceptar a maioria das bolas que conseguiu e a servir como tampão na frente da área, obrigando o Zenit a descair sempre para as laterais. Na segunda parte não esteve nada bem mas as atenuantes são grandes para a fraca exibição: não sabe mais. Fernando é um jogador para aquilo e nada para lá daquilo, já o mostrou uma montanha de vezes nos últimos anos.

 

(-) Falta de garra / Má condição física Imaginem um caracol asmático e sifilítico a correr ao lado do Usaín Bolt. Foi aproximadamente essa a imagem que o FC Porto deixou transparecer hoje no Estádio Petrovsky. Lentos, sem força, sem intensidade competitiva sequer para a Taça da Liga, quanto mais para a prova mais importante de clubes a nível europeu, os nossos rapazes hoje desistiram de lutar por razões que só podem ser reduzidas a três hipóteses prováveis: alheamento total da imagem que passam para o exterior, com uma arrogância e soberba que os levou a assumir que este jogo seria fácil; incompreensão do modelo de jogo; ou a terceira…falta de pernas. Não aceitaria a primeira nem me pareceu tal coisa, porque vi os jogadores de braços caídos (a imagem de Álvaro quando é ultrapassado por Danny no final do jogo, numa altura me que pensei: “vais-lhe dar uma charutada e és expulso”, só para ver o uruguaio a lamentar a corrida mais intensa do número dez do Zenit) e se fosse esse o caso, o mais provável seria começarem a entrar em pequenas vinganças como Guarín na final da Supertaça. A segunda parece-me possível, tendo em conta a rotação de plantel e esquematização táctica que tem vindo a ser praticada. A terceira…custa-me a entender, mas é a mais provável de todas. Ainda assim, com todas as limitações físicas do mundo, não há nada que justifique a atitude que vi durante o jogo, com jogadores que representam o meu clube a desistirem de bolas fáceis, a optar pelo jogo directo para jogadores como Hulk ou Varela em vez de escolher o caminho mais difícil mas muito mais lucrativo que é o que sabemos fazer desde há um ano, a posse, a troca de bola entre os jogadores do meio-campo com envolvimento lateral simples e que acima de tudo obriga o adversário a correr atrás do esférico. Mas dá trabalho. Dá muito mais trabalho e é muito mais exigente que mandar um pontapé para longe. O rant vai longo e já merecia um post só dele, por isso termino com isto: é visível que os rapazes estão fisicamente em baixo. O que fazer? Aceitam-se sugestões.

(-) Fucile Já tentei e continuo a não conseguir perceber o que é que pode passar pela cabeça de um jogador profissional experiente para fazer uma estupidez daquela magnitude. Palavra que não consigo. A maneira como Fucile tenta dominar a bola já é sintomática de uma perspectiva permissiva e pouco empenhada no gesto que está a desempenhar. E depois: o regresso à tenra infância, numa mão que tem tanto de absurda como de desrespeitosa para com os colegas, o treinador e os adeptos. É o acto de um jogador que não está bem, que voltou a ser aquele Fucile de duas caras que nos habituamos a lamentar ver em campo porque não é de confiança e nunca se sabe o que vai fazer quando a bola chega perto dele. Sapunaru, como já o disse no passado, é neste momento a melhor opção para o lugar de defesa-direito. Mesmo lesionado.

(-) Vitor Pereira O jogo não foi fácil, como se previa. Mas Vitor Pereira mais uma vez atirou com dois ou três toros de madeira para uma fogueira que estava a crescer sem bombeiros à vista. A entrada de Varela para a saída de Kleber é uma ideia razoável, tendo em conta que o avançado alternativo para manter o esquema de 4-3-3 seria sempre Hulk, e não mudava grande coisa. Até aí, apesar da forma de Varela me fazer pensar que o rapaz está com vontade de fazer tudo menos jogar futebol, não me incomodei. Mas ao intervalo, a saída de James para entrar Souza e acima de tudo desviar Fernando para a direita, o único que percebia e conseguia manter a agressividade a meio-campo, é uma má opção. Compreendo o que quis fazer, mas discordo. A partir daí Moutinho e Belluschi continuaram a houdinização do meio-campo e Fernando, perdido na lateral, servia mais para colocar os avançados russos em jogo do que para ajudar a equipa. A desagregação que se tinha visto contra Feirense e Benfica manteve-se e em campo estava uma imagem tuberculosa do FC Porto, sem interacção entre sectores e com uma disposição táctica que ninguém conseguiria manter estável e unida. Foram mais algumas apostas que correram espectacularmente mal e continuo com a ideia que Vitor coloca fé demais nos jogadores e na sua capacidade em jogo. Não chega simplesmente dizer-lhes: “vais fazer A ou B”, porque a grande maioria das vezes não é o que acontece. A pressão que tem colocado em cima de si é exagerada e a culpa é em grande parte dele próprio.

 

Os cento e dezoito anos de história do FC Porto não se fizeram só de grandes vitórias e de passeios triunfais por Portugal e pela Europa. Há também momentos como o de hoje, em que tudo corre mal e nada parece ser possível fazer para melhorar o estado mental e físico dos jogadores que representam o nosso emblema. É nestas alturas que temos de dar a volta por cima e procurar soluções para os diversos problemas que hoje são visíveis e que aqui há duas semanas pareciam não existir. Vitor Pereira tem de descobrir a melhor forma de reanimar uma equipa que está de rastos, concreta e metaforicamente, e cada vez tem menos tempo e oportunidades para o fazer.

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