foto retirada do Maisfutebol
Fui a Aveiro bem disposto e saí de lá com o mesmo espírito. Uma final é uma final e não há espaço a jogos espectaculares nem a exibições fabulosas. O que interessa mesmo nestas alturas é a vitória, e se o jogo calhar de ser mais feio, não fico incomodado por causa disso se a taça no final acabar nas nossas mãos. Hoje, depois de saudar o autocarro da equipa ainda no exterior e à medida que me ia aproximando do meu lugar na bancada, vestido na minha camisola de 1996 (adidas, revigrés e telecel. ah, nostalgia!), era essa a forma como pretendia mergulhar no jogo. No entanto, além das excelentes jogadas com que começamos a partida, há ainda algumas coisas a melhorar, particularmente na zona defensiva. O ritmo de jogo foi de final, de contenção e de segurança, mas quase era deitado por terra pela mesma pessoa que proporcionou as duas grandes explosões de alegria. Sim, vou bater no Rolando, logo depois de o elogiar. Vamos a notas:
(+) Souza Como Fernando parece estar a ser encaminhado para fora do clube com a mesma discrição de um remate do Hulk, Souza aparece como o principal candidato ao lugar. E se continuar a fazer jogos como o de hoje, não vai ter dificuldade em sujar equipamentos todas as semanas. Impecável na intercepção, rijo e agressivo q.b., foi o trinco que precisávamos e ainda ajudou nas saídas com a bola dominada, rodando fácil para os colegas principalmente para Fucile, do lado esquerdo. Pareceu um jogador motivado, diferente, mais controlado e menos impulsivo. Espero para ver mais alguns jogos mas a evolução é notável.
(+) Rolando (os golos) Um central goleador, como Rolando, não é usual. Dois golos numa final ainda menos, e Rolando apareceu no local certo por duas vezes e deu o troféu à equipa. Acaba por ser um rapaz que não tendo uma movimentação muito agressiva na área adversária consegue ainda assim descobrir o local correcto para corresponder aos cruzamentos que são bombeados para a área, muitos deles com a precisão de um passe de letra do Sonkaya. Muito bem no ataque (abaixo vem a desancadela).
(+) Fucile Mais um jogo de querer, de garra interminável do meu uruguaio preferido. Se tivesse um pé esquerdo remotamente decente ainda podia ter somado mais à performance, porque o corredor foi todo dele já que Varela insiste em produzir pouco mais que uma abóbora de chuteiras, e Fucile arrastou o jogo todo enquanto pôde, furando pelo corredor fora, ganhando bolas pelo chão e pelo ar. Apesar de se notar a diferença para Álvaro que é mais prático, mais rápido e cruza bastante melhor, Fucile continua a ser um jogador que deve ser mantido no plantel pela versatilidade e espírito de luta que coloca em todos os lances. Quando não se arma em parvo, claro.
(+) Sapunaru À imagem do colega do outro lado, Sapu devia ser um case-study para o futebol nacional. Quando cá chegou era a representação física de um “choninhas”. Simples, tímido, e pouco audaz, parecia ser mais um rapaz para ser encostado depois da fogacidade de Bosingwa. Entra o “túnel-gate” e uma viagem de avião com a selecção com álcool ao barulho, e Sapunaru transformou-se. Hoje em dia pega na bola e faz o corredor até ao fim, apesar de na primeira parte ter ficado preso pela presença de Targino (um dos jogadores mais sobre-valorizados do nosso futebol desde o Cadete), mas mal arranjou um ou outro espaço era ver o romeno a voar baixinho pelo flanco fora. Depois do jogo, é vê-lo a pedir uma bandeira à claque e a levá-la para o campo como se fosse portista desde pequenino. Soube ganhar o apoio dos adeptos e continuará a tê-lo, desde que se mantenha com a sobriedade que nos habituou. Dentro e fora de campo, porque um vodkoólico merece sempre o meu apoio.
(+) A letra de Hulk É raro ser tão “menina saltitante” a analisar os jogos, mas não resisto: o cruzamento para o primeiro golo foi uma obra de arte.
(-) Rolando (as falhas) Ora cá vamos então: não sei se foram os dois golos que lhe deram a volta à cabecinha, ou se é fã de numerologia e de teorias de coincidência cósmica, mas se excluirmos os golos, Rolando foi uma granada sem cavilha hoje à solta no Municipal de Aveiro. Falhou vezes demais em zonas perigosas, e não fosse o par de golos tão importantes que marcou e teria um Baroni ainda maior. Atrasos mal calculados, passes de risco, reacção lenta demais para a rapidez dos avançados contrários…falhou mais que Maicon, o que só por si diz tudo. Como nem todos os jogos vão contar com um “bis” de Rolando, espero que tenha sido um jogo acidental e acidentado em todos os sentidos.
(-) João Moutinho Quando não joga bem, o FC Porto não joga bem. Moutinho esteve hoje abaixo do normal, falhando tanto no timing dos passes como na escolha dos caminhos certos para pisar com a bola, o que é estranho e pouco habitual. Acho mesmo que é a primeira vez que dou um Baroni ao nosso João, o que torna ainda mais incomum esta exibição apagada. O calcanhar para o cruzamento de Hulk é excelente, mas o que me fica do jogo é a incapacidade de ruptura e de rotação de bola a que Moutinho nos habituou, e a equipa sofreu com isso porque Ruben, com toda a boa vontade que mostrou, nunca conseguiu produção suficiente para si…e para substituir o colega.
(-) Adeptos do Vitória Que raio de gente é que se vai embora do estádio ANTES da equipa subir ao palco para receber a medalha?! Durante o jogo cantam e apoiam, mas quando a equipa acaba por não obter o resultado que gostavam de ver, “vamos embora que se faz tarde e depois está trânsito”? Já no Jamor tínhamos sido brindados com esta visão, um enorme grupo de adeptos amuados com a vida e com o mundo, incapazes de demonstrar o carinho pelos jogadores que tão ostensivamente exibem antes e durante do jogo. São falsos, hipócritas, que só estão bem quando vencem e deitam tudo fora quando perdem. É gentinha com g pequeno.
Mais uma Supertaça. Com esta já vamos em dezoito que vão estar no museu em Abril de 2012, mas esta simboliza mais que isso. Mostra que o estilo de jogo não mudou, os jogadores são os mesmos e sabem que têm de continuar a difícil tarefa de vencer e convencer, porque o nível do ano passado não vai ser esquecido pela maioria dos adeptos. Uma boa parte dos que estiveram este Domingo em Aveiro não voltarão a ver o FC Porto a jogar esta temporada, mas eu e muitos outros vamos continuar a assistir aos jogos tanto fora como no Dragão, e gostei de ver que o nível se manteve. É preciso subir o rendimento e recriar hábitos de jogar contra equipas que defendem com onze, mas as bases estão sólidas. Ainda bem.
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