O embaraço

“We have to be honest and say we haven’t been professional from the beginning of this competition,” he said. “I don’t know why, but maybe one or two of us have to look in the mirror and say we can do a lot better than we have done. There is always a lesson to be learned because, in the beginning everyone thought United would finish first in the group, with the teams we were drawn against. But in the end we came to qualify and we haven’t got the job done. I don’t have the words to describe how it feels all I can say is that it is a sad day. It feels like a dream and that I will wake up tomorrow and we will have qualified. But it is not a dream it is the reality and we should have woken up earlier in this competition. We deserve to be out. But it is embarrassing to be in the Europa League. Some players dream of playing for United in any competition and you have to respect that, but the way I feel now, it is Champions League or nothing. It is not just about tonight, though. It is about the whole competition. We threw away a chance to qualify. We have to get back to work and show that we are Man United and that we never die. If the players don’t believe the team are good enough to bounce back, then they can go and ask the gaffer not to play but I believe in the team.”

Patrice Evra, no rescaldo da eliminação do Man Utd da Champions’ League
(retirado do The Republik of Mancunia)

São frases de um dos melhores defesas esquerdos do mundo e um dos mais arrogantes, independentemente da posição. Aliás, aquela cidade tem o dom de criar pequenas bestinhas com cabeças do tamanho dos monos no Mount Rushmore, que olham para todos com aquela nojenta pseudo-superioridade que nem sempre têm. É por gajos como este que me dá um gozo bestial ver tudo que seja manchesteriano a bater com as fuças no chão, vistam que côr vestirem.

Mas se retirarmos a frase que coloquei em destaque, até podíamos rodar o palco e pôr as mesmas declarações na boca de James, Moutinho ou Helton. Só espero que nenhum deles pense da mesma forma que o amigo Patrice, porque ao contrário do francês não consigo olhar para a presença na Europa League como uma vergonha, apenas uma constatação factual que não conseguimos produzir o suficiente para nos mantermos à tona na Champions.

A verdade é que quem sofre mais com este tipo de frases é a própria UEFA e a diferença enorme que há entre as duas competições principais. Ter um jogador mediático a dizer barbaridades destas sobre a segunda competição mais importante da Europa a nível de clubes deve deixar Platini a espumar de raiva. Ainda bem.

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Baías e Baronis – FC Porto 0 vs 0 Zenit

foto retirada de record.pt

Não estive hoje à noite no Dragão, mas sofri como se tivesse estado. Aquela sensação de “E se?” que se apodera neste momento do meu corpo e da minha mente é de fraco consolo para a tristeza que vai inundando o coração. Porque sei, como a grande maioria dos portistas, que não foi neste jogo que saímos da Champions, mas nos dois jogos contra o APOEL em que pelo misto de facilitismo, desânimo e falta de empenho acabamos por marcar este jogo como decisivo quando não o devia ter sido. A forma como encaramos este jogo, com toda a garra e a alma que vi em campo, era assim que devíamos ter jogado naqueles dois jogos (e contra este mesmo Zenit na Rússia) e não estaríamos agora a re-agendar compromissos para limpar as quintas-feiras à noite à espera da Liga Europa. O Neuer russo que hoje esteve no Dragão ficou-se a rir, juntamente com o amigo Danny e a besta do árbitro espanhol. Nós, não o podendo fazer, seguimos em frente para o lado, sem medo e com um novo espírito. Qualquer jogo em que se perde o que se perdeu hoje e o povo termina a aplaudir a equipa é um sinal de empatia, uma conjugação de esforços para levamos a equipa de novo às vitórias. Parabéns à malta que lá esteve, leu exactamente o que eu estava a pensar quando acabou o jogo, em que só conseguia dizer: “Aplaudam os rapazes, aplaudam os rapazes que eles não têm culpa…”. Vamos a notas:

 

(+) A vontade No jogo da Rússia contra este mesmo Zenit, disse: “Imaginem um caracol asmático e sifilítico a correr ao lado do Usaín Bolt. Foi aproximadamente essa a imagem que o FC Porto deixou transparecer hoje no Estádio Petrovsky. Lentos, sem força, sem intensidade competitiva sequer para a Taça da Liga, quanto mais para a prova mais importante de clubes a nível europeu, os nossos rapazes hoje desistiram de lutar por razões que só podem ser reduzidas a três hipóteses prováveis: alheamento total da imagem que passam para o exterior, com uma arrogância e soberba que os levou a assumir que este jogo seria fácil; incompreensão do modelo de jogo; ou a terceira…falta de pernas.” Precisaram de mais de dois meses para mudar esta imagem terrível que tinha ficado queimada na retina dos adeptos que assistiram pouco impávidos e definitivamente nada serenos a essa exibição abaixo de medíocre em Setembro deste ano. Esta noite no Dragão viu-se uma equipa que nunca desistiu e que tentou com todas as forças que tinha, com um misto de nervosismo e impaciência, nunca conseguindo acalmar o stress que era quase palpável na fria noite do Dragão. Hulk falhava passes mas Moutinho e Fernando recuperavam as bolas. James perdia a bola mas Maicon ou Djalma surgiam por trás dele a forçar a pressão e a subir de novo com a bola na sua posse. Foi bonito de ver Álvaro a subir pelo flanco e Defour a ajudar, Moutinho a fazer a bola rodar e Otamendi a cortar. Foi bonito ver o FC Porto a jogar, mais uma vez, como tantas vezes fez no ano passado. Mas se a bola não entrou, a culpa é de todos e todos a assumem. Somos uma equipa de novo.

(+) Malafeev, o Neuer russo Não creio que tenha havido um único dragão que tendo estado sentado nestas mesmas bancadas no dia 5 de Março de 2008 não tenha feito o paralelismo entre a exibição de Malafeev de hoje e a de Neuer na altura. Remates de longe de Hulk ou Moutinho, à queima-roupa de James ou frente-a-frente com Djalma, o russo esteve em grande nível e acabou por ser o principal responsável pelo apuramento do Zenit para os oitavos da Champions. Voou para todos os lados, saiu muito bem da baliza e tapou todas as brechas que os defesas iam permitindo. Estupor.

 

(-) A ineficácia É no mínimo curioso que tenha passado meses a reclamar pela falta de capacidade de criar lances de ataque, como aconteceu contra Feirense, APOEL (x2), Paços de Ferreira ou Académica…e chegar a este ponto e lamentar que tenhamos criado tantas e mudar o enfoque da crítica para as falhas na concretização. É um sinal evidente que a equipa está a crescer, mas as arestas que surgem para limar agora são as mesmas que tanta gente tinha preconizado no início da temporada: a falta de um concretizador na área. É óbvio que as jogadas são criadas, mas por vezes, apesar de soar a cliché, falta presença na área, alguém que possa prender um ou outro central e impedir que saiam como loucos a bloquear as jogadas de James ou Hulk pelo centro. Estamos a canalizar em demasia o jogo para a zona central e não temos lá ninguém para apanhar os ressaltos quando as bolas não entram à primeira, como foi o caso hoje à noite. A rever.

(-) Hulk Exageradamente lento, com imensos passes falhados e sem conseguir furar pelos defesas que vendo-o a jogar numa zona mais central acabaram por lhe tapar os espaços todos e raramente lhe davam um mínimo de tempo para controlar a bola e seguir em progressão. Insisto que o homem não rende tanto no centro e ainda que tenha sido usado como “isco” para os defesas permitindo que o resto dos colegas o acompanhem um pouco mais atrás, neste tipo de jogos acaba por se apagar e o FC Porto perde uma das principais armas em velocidade e imprevisibilidade ofensiva. Hulk torna-se um ponta-de-lança mediano e não ajuda a equipa, pelo contrário.

(-) Danny É um merdas. Um autêntico merdas. Estou-me a cagar para o mijar metafórico, palavra, mas perdi-lhe o respeito quando se picou com o banco do FC Porto e passei os últimos dez minutos a gritar para o Maicon lhe deixar os gémeos à vista e lhe mijasse para o perónio quando chegasse perto dele. “Te gusta, coño?”. Era o que eu lhe diria, depois de lhe dar uma patada na traqueia. Fez-me febre, palavra.

 

O facto das regras ditarem que o terceiro classificado da Champions tomba para a Liga Europa é um completo absurdo. Dá uma vantagem competitiva a essas equipas, perpetuando as desigualdades e no fundo desconsiderando as outras formações que passaram a fase de grupos da segunda competição, tratando-as com o escárnio de quem olha para o futebol de cima para baixo. A UEFA é assim, como o Mundo, onde os grandes tratam mal os pequenos porque podem. Tendo isto tudo em conta…não há nada a fazer senão tentar ganhar a Liga Europa e aproveitar enquanto as regras não mudam, porque as águas devem ser separadas de uma vez por todas. Ainda assim…enquanto não são…força, rapazes, cá estaremos para ouvir aquela música parva. A Champions fica para o ano que vem.

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Ouve lá ó Mister – Zenit


Amigo Vítor,

Hoje é um dia importante na tua vida. Para lá da qualidade da exibição, do número de remates ao lado, da quantidade de foras-de-jogo tirados aos nossos jogadores, o resultado é vital. Os últimos jogos que ainda estão na nossa mente foram simpáticos, vitórias que saíram fruto do nosso empenho e de um espírito que pensávamos perdido. Mas sabes tão bem quanto eu que a malta ainda não está convencida e que falta um bom bocado para conseguires trazer de novo o povo para a palma da tua mão.

E hoje, só pode haver uma equipa em campo. Só onze (e mais três, caso precises ou aches necessário) é que podem mandar no relvado do nosso Dragão. Nenhum sócio admite que tenhamos de ver a exibição abaixo de medíocre que vimos em Leninegrado ou Petrogrado ou lá como se chama o estupor da cidade onde agora mora o Bruno Alves. E por falar nele, espero que não te preocupes quando vires que o rapaz vai ser aplaudido, e espero bem que o seja, porque bem merece e foi um rapaz porreiro enquanto cá esteve. Mas vai ser a única salva de palmas que os um zenítico vai levar hoje, garanto-te. Já o Danny, deixa lá o moço. Só alimentas a vontade de sangue daqueles que andam de caderno na mão…ah, espera, agora levam portáteis ou aipéde ou uma tablete qualquer para escrever o que eles acham do que tu dizes. Não lhes ligues, manda-os f**** para dentro e mostra dentro de campo o que valemos.

Não vou estar no Dragão hoje à noite, porque valores mais altos se alevantam e porque se tiver de dormir no sofá da sala prefiro que seja por opção e não por ser a única hipótese. Assim sendo, deposito em ti a minha esperança: não quero que o jogo contra o APOEL tenha sido o meu último da época na Champions. Faz por isso, se não te importas.

Sou quem sabes,
Jorge

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Inventonas

Aos domingos, no RCP, houve durante algum tempo um grande noticiário de informação desportiva lido a duas vozes. A recolha da informação era do Firmino Antunes, que sacava resultados de clubes quase desconhecidos em modalidades e escalões praticamente ignorados. Estava lá tudo. Quanto às duas vozes eram de quem calhava de serviço. Certa vez, estavam de plantão ao noticiário o Paulo Fernando e o João Paulo Guerra, escasseava a informação de outras modalidades mas abundava a da Volta a Portugal em Bicicleta. Lemos a classificação da etapa até ao vigésimo lugar e… não resistimos:
11º Paulo Fernando, disse o João Paulo; 12º João Paulo Guerra, respondeu o Paulo; nos lugares seguintes entraram os técnicos de serviço do outro lado do vidro, o Oliveira, o Gomes ou o Leal, de serviço à portaria, o Barata, atarantado atrás do balcão do bar. E ao 20 º lugar lá retomámos a classificação real: 20º Perna de Coelho, disse o Paulo Fernando, acrescentando apenas um de ao nome de um conhecido ciclista do Benfica, Joaquim Dionísio Perna Coelho.
Perguntarão: então e a direcção, não deu por nada? Deu. Ligou um director a perguntar que brincadeira era aquela? Como se houvesse algum ciclista chamado Perna de Coelho, ou Perna Coelho, ou lá o que era!? Com certeza. Paulo Fernando e João Paulo Guerra é que eram ciclistas de grande pedalada.

in kuandoosradioseramclubes.blogs.sapo.pt

Esta brincadeira aconteceu nos anos 60. Talvez nos 70. Nada de malicioso, nada de extraordinariamente ofensivo nem pejorativo, apenas uma brincadeira. Mas é uma imagem da falta de ética e de correcção jornalística que pauta o típico lusitano. Desde essa altura, se formos a ver pela grande maioria das notícias nos jornais que temos hoje em dia, não me parece que a evolução dos elementos que os compõem tenha sido positiva. O que mais enoja é o enaltecimento da classe, o elogio das figuras que constituem o núcleo do jornalismo desportivo português como se de cientistas sociais se tratassem, quando uma inacreditável percentagem deles é facciosa, descaradamente parcial e sem qualquer problema em escondê-lo e agir como armas de arremesso para interesses de vários clubes por aí fora.

Entretanto, os Nolitos deste mundo vão continuar a voar para o relvado, os Javis vão continuar a insultar e os Maxis a cotovelar. E quando vestem de azul-e-branco, como um qualquer Lisandro, Bruno Alves ou Quaresma aqui há uns anos, são gente vil e uma praga para o futebol moderno. Quando a camisola vermelha é usada com o orgulho que lhe injectam, a história muda.

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