Os não-blogs


Desde Maio de 2009 que por aqui ando. Não sou propriamente o decano dos blogs portistas, muito longe disso, mas o tempo que já passei a escrever (quase 1200 posts no curriculum começam a dar alguma bagagem) já me permitiu perceber algumas coisas sobre a forma como se deve encarar a criação e desenvolvimento de um blog. Se a primeira é feita de impulso, de vontade rápida, do instinto imediato de fazer a diferença, de contribuir com um pedaço de nós para uma discussão, para que possamos ter um espaço para libertar a nossa própria pena, encher a ponta de tinta (não sejam porcos, vá lá) e escrever o que nos vai na cabeça sem ter de esperar pela moderação de um comentário noutro blog ou de arrancar uma guerrícula num qualquer fórum de comentário alheio. A segunda…é outra conversa.

Gosto de me manter atento ao desenvolvimento da blogosfera portista. Não sou um particular fã de Facebook ou Twitter, admito, e uso-os primordialmente porque são excelentes meios para transmitir a palavra e espalhar o nome do blog para que seja cada vez mais visível. Que diabo, seria parvo se não o fizesse e hipócrita se não o admitisse. Mas é por isso que trabalho exclusivamente no blog, escrevendo e pesquisando para textos a serem aqui publicados. Disclaimer aparte, continuemos. Tenho reparado que há uma quantidade de blogs que aparecem na nossa pequena/grande comunidade e ao passo que vários se mantém activos, energéticos e dinâmicos, há outros que rapidamente perdem a força com que arrancaram a demanda. É verdade que isto dá algum trabalho e depende um pouco da forma como encaram o que querem fazer com o vosso próprio esforço. Se optarem por um blog orientado para cobertura noticiosa, precisam de estar permanentemente atentos a vários canais de informação sobre o nosso clube, entre televisão, rádio, sites nacionais e internacionais. Escolhendo uma via mais adaptada à crónica, não precisam de manter qualquer tipo de periodicidade e podem apostar na análise pausada e pensada sobre qualquer evento que queiram comentar.

Mas têm de se manter activos. É muito giro abrir um blog cheio de pompa e escrever dois posts cheios de garra, criar gráficos para pós-jogo, estabelecer contactos…para depois deixar tudo cair por terra como um penso rápido que se usou enquanto o sangue gotejava. Se chegarem à conclusão que não vão conseguir manter um ritmo de publicação razoável, seja por que motivo fôr (e todos os motivos são bons, mesmo os maus), pelo menos avisem o povo. Se calhar não é o vosso caso, mas vejo a criação de um certo laço de empatia com alguém que escreve como algo de muito interessante e quando uma das partes desaparece sem sequer deixar dinheiro para o táxi, a outra parte sente-se traída.

Por isso pensem bem antes de abrir um blog. A recompensa é simpática e para quem gosta de escrever é um excelente escape e uma boa maneira de comunicar com a comunidade. Mas só funciona se o mantiverem vivo.

Link:

Baías e Baronis – Paços de Ferreira 1 vs 2 FC Porto

A Mata Real estava fria, húmida e escorregadia, como um pneu careca deixado ao relento em Mirandela. Ainda assim, com uma estranha percentagem de cabelos recentemente aparados, os nossos rapazes bateram-se contra uma das piores equipas do campeonato com vontade de ganhar e de viver mais um dia na única competição profissional de futebol em Portugal que ainda não conquistamos. Podemos alhear-nos da luta pela Taça da Liga, mas se continuarmos a enfrentar os jogos da forma que fizemos hoje à noite em Paços, não há motivo para não conseguirmos pelo menos chegar até às meias-finais e quem sabe dar de novo um saltinho até ao Algarve com a esperança de poder trazer o bicho para o novo museu. Alguns pontos fracos mas uma larga maioria de notas positivas, num jogo que durante largos períodos me fez lembrar algumas partidas das épocas de Jesualdo: alguma atrapalhação, transições rápidas e a tentativa de chegar mais depressa do que era necessário a um patamar de segurança. Enfim, vencemos e bem. Vamos às últimas notas de 2011:

 

(+) Cristian Rodriguez Esforçadíssimo o nosso Cebola hoje à noite, marcou o primeiro golo com alguma sorte mas tentou todo o jogo ajudar a equipa e acabou por ser bastante mais produtivo do que é habitual. Continua a ser dos poucos extremos que não consegue passar pelo lateral que enfrenta (está quase na fronteira da desonestidade intelectual fazer esta comparação, mas notam a diferença para Hulk?…) mas hoje compensou com um jogo mais prático, mais eficaz e acima de tudo menos trapalhão.

(+) Djalma Começa a ser uma boa opção para o lugar que tem vindo a ocupar, especialmente pela versatilidade que permite ao treinador fazer uma aposta de ataque com a saída de Maicon (pela segunda vez consecutiva) e a passagem do angolano para a lateral direita, a fazer lembrar uma espécie de Duda (o que vendemos ao Boavista) a correr pelo flanco. Nunca desiste e apesar de dizer que é trapalhão é um claro nivelamento por baixo, a verdade é que por vezes dá jeito ter um rapaz destes no plantel, que dá sempre o litro e que força a que o lateral fique retraído com receio da flecha lhe passar ao lado. É, para tirar quaisquer dúvidas, o nosso Mariano Africano.

(+) Alex Sandro Já gostei mais do puto, apesar de ainda ter bastante a aprender. Excelente tecnicamente, sobe muito menos que Álvaro mas fá-lo com a bola controlada com os dois pés inclusivamente (oh Deus) para o centro do terreno sem a perder, algo estranhíssimo de ver num lateral esquerdo do FC Porto desde os tempos de Rui Jorge. Precisa de trabalhar nos cruzamentos mas nota-se que há ali talento, resta saber se vai continuar a jogar apenas nos jogos das Taç…perdão, esqueci-me que já fomos à vida na outra…da Taça da Liga ou se o vamos ver mais vezes como titular no campeonato.

 

(-) A insistência na bola rápida Não há portista que resista à quantidade de passes alados que foram parar à bancada hoje à noite. Ainda por cima sem qualquer necessidade, porque o jogador que optava pelo ataque aéreo lateral, fosse Otamendi, Mangala, Belluschi, Maicon ou outro, tinha melhores possibilidades de sucesso num passe curto, mas escolhia quase sempre uma bomba para lançamento a favor do Paços. Sei que os nossos não jogam de azul-e-grená e não são patrocinados pela Qatar Foundation. É verdade que aquele jogo de toca e roda não é para todos, mas preocupa-me perceber que apesar de haver uma atitude trabalhadora porém tranquila, a opção acaba por ser a bola pelo ar um número absurdo de vezes quando os passes simples são a maneira mais indicada para manter o jogo controlado e a bola longe do adversário. E ainda assim acabamos com 57% de posse de bola…

(-) Varela Onde está o Varela lutador que não desistia de uma bola quando cá chegou no Verão de 2009? Não faço ideia, mas o número 17 que hoje em dia se passeia pelo relvado não é o mesmo rapaz. Lento, sem alma, sem aquela vivacidade que me enfeitiçou desde que cá chegou e que tem vindo a perder há muitos meses. Seja por motivos pessoais, lesões, opções técnicas ou simplesmente por desmotivação, a verdade é que em qualquer posição que Varela jogue não parece neste momento conseguir render um mínimo exigível para ser opção para qualquer treinador e num ano em que Portugal vai jogar a fase final do Campeonato da Europa, Varela tem de subir a produção em grande escala para voltar a ser escolhido por Paulo Bento. Palpita-me que é um jogador que pode vir a ser emprestado em Janeiro para jogar com regularidade.

(-) Kleber As palavras “Luta, Kleber!!!” saíram da minha boca vezes demais e com a maior das facilidades. O rapaz pareceu sempre estar no sítio errado no momento errado e esteve tão ausente do jogo que pensei durante alguns minutos que estava lesionado e a ser assistido fora do campo. Pobre no controlo de bola e na movimentação, foi na lentidão das suas acções e na forma como demorava a pressionar guarda-redes ou defesas contrários que mais me desiludiu. Temos de decidir de uma vez por todas se chegará optar por ele a titular num tipo de jogos destes em que o meio-campo está remendado (com Varela a jogar como médio volante nunca mais, por favor), porque não é Lisandro nem Jardel. Nem sequer chega a ser um Farías. Neste momento, se as bolas não lhe chegarem direitinhas e só seja preciso encostar para a baliza…não consegue fazer muito mais.

 

Com maior ou menor dificuldade, lá levamos a água ao proverbial moínho e limpamos o jogo teoricamente mais difícil desta fase da Taça da Liga. Tive alguma pena de não ter visto Iturbe ou até Vion e Tiago Ferreira, mas a postura de Vitor Pereira, apesar da substituição de Souza por Fernando ser claramente conservadora, mostra que até numa competição que estamos ostensivamente a aproveitar para rotação de jogadores, o resultado é que manda, os pontos é que imperam. Fomos honestos e trabalhadores e saímos de Paços com a vitória e estamos bem lançados para vencer o grupo e seguir em frente. Será este ano que conseguimos vencer o caneco? Lá para Fevereiro voltamos a falar…

Link:

Ouve lá ó Mister – Paços de Ferreira


Amigo Vítor,

É a última vez que falo contigo este ano. Ou falo “para” ti, já que ainda não me respondeste a não ser no campo, o que já não me parece mau de todo. Ainda assim, esta minha oratória termina aqui no que diz respeito a 2011 e só regressa no ano em que os Maias dizem que o Mundo acaba, com lagos de enxofre, forquilhas em brasa, campeonatos ganhos pelo Benfica e o João Gabriel de tanga a dançar o créu. Sinais iminentes do apocalipse, portanto. De qualquer forma pró ano voltamos a esta brincadeira. Até lá, faltam mais noventa minutos de bola.

Já reparei que fizeste umas escolhas engraçadas nos convocados. Não posso dizer que discorde a 100%, pelo contrário, acho muito bem que tragas os putos para jogar nestas competições menos importantes e lhes dês minutos, só assim é que dá para começar a perceber se temos ali diamantes em bruto ou se só são simplesmente brutos. O Tiago Ferreira já o vi no Mundial e gostei imenso, já o Kadu é difícil que jogue mais do que fez contra o Pêro Pinheiro, aposto. E o Vion? Que bela surpresa!!! Admito que fiquei surpreendido por chamares a catraiada porque acho mesmo que até chegarem as equipas B, esta é a melhor forma de lhes dar minutos. Ainda que seja contra uma equipa de caceteiros que está no último lugar do campeonato. Mas nunca fiando…

E esta…esta falta-nos no futuro museu. Quanto mais não seja para podermos dizer: “Taça da Liga? Já há.”. E nunca mais se falava nisso. Enfim, tu é que sabes, espero que o jogo seja porreiro, que ganhemos e que passes um excelente Natal. E apanha uma rosca no Reveillon, tu mereces!

Sou quem sabes,
Jorge

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