Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 0 Rio Ave

 

Para quem esteve presente no Dragão hoje à noite e achou que o Chefão lá de cima estava tão aborrecido com o jogo e pensou que abrir as torneiras era a melhor forma de animar a partida…bem-vindos à Invicta. A chuva só trouxe dois golos mas o futebol foi interessante a espaços e atabalhoado durante uma grande parte deste encontro entre duas equipas em patamares claramente diferentes de talento. O FC Porto parece torto, desiquilibrado, com moral em baixo e ansiedade em alta, a misturar lances de bom entendimento com displicências estranhas, criando sentimentos antagónicos nos bravos adeptos que lá apareceram para aplaudir o regresso da chuva e das infantilidades de Rolando. Tão bem que ele tinha andado nos últimos tempos…enfim, cala-te boca. No final, o jogo resume-se a uma expressão inglesa: “utterly forgettable”, que é como quem diz: “ninguém se vai lembrar dele daqui a duas semanas ou depois de ver um episódio do Fringe”. Vamos a notas:

 

(+) Fernando Este é o mesmo Fernando que fez um jogo contra este mesmo Rio Ave na pré-época e na altura me enervou com a inépcia e falta de vontade. Este é o mesmo Fernando que terminou a época passada em ruptura com os adeptos que quase o insultavam pelas más performances. Este Fernando é exactamente o mesmo, mas joga com a vontade de quem chegou agora a um grande clube e parece saber perfeitamente o que fazer em qualquer momento do jogo. Transformou-se num trinco quase perfeito, com intercepções milimétricas, marcação intensa sobre o adversário directo e hoje ainda se lembrou de subir para a pressão alta sobre os centrais e até ao guarda-redes com o melhor nome de sempre (Huanderson, peço desculpa, mas ultrapassas qualquer Renivaldo ou Givanildo). Só não remata à baliza, vá-se lá saber porquê. Quem deve ter achado curioso foi Iturbe quando lhe endossa uma redondinha perfeita, para a ver a ser remetida para o fulano do lado. Porque Fernando raramente arrisca e na posição que joga, é uma mais-valia que agarro com as duas mãos e um cinto de couro.

(+) Otamendi Mais um jogo quase perfeito do argentino. Ao passo que pode ser um pouco injusto usar essa palavra, porque um defesa central pode ter um jogo “quase” perfeito…e fazer uma ou duas imbecilidades que custem golos, mas hoje não foi esse o caso com Nico, que parece estar a assentar a cabecinha, a cometer menos erros e a falhar menos passes. Joga prático, joga simples e não inventa nada, servindo como uma ligação directa para as arrancadas de Álvaro pelo flanco. Se continuar assim, está impecável.

(+) Os dois golos de James Não foi o melhor em campo, longe disso. Mas foi à custa dele que a vitória chegou com maior tranquilidade e em ambos os golos o colombiano mostrou a qualidade que tem e que deve continuar a mostrar. Com calma, inteligência e facilidade no controlo da bola e da situação, olhou bem para o que estava a fazer e colocou a bola no fundo da rede como se exigia naqueles dois momentos vitais para que a equipa descansasse mais um pouco. É curiosa a forma como me vejo a perdoar-lhe muito mais falhas quando joga ao centro do que faço quando o vejo na linha, o que diz muito sobre a forma como vejo o jogo e especialmente a utilização do jogador certo na posição certa. Porque é só no centro que ele pode render ao nível que todos queremos e Vitor Pereira já percebeu isso, como é evidente, e já insiste na utilização do 19 na criação de jogo ofensivo. E ainda bem.

(+) As recepções a Jorginho e Kelvin Foi bonito ver o estádio a aplaudir duas figuras que representam pontos extremos da nossa história: um brasileiro a caminho dos seus 35 anos que já foi bi-campeão pelo FC Porto (até nos deu um campeonato em Alvalade, vejam lá) e um puto com quase metade da sua idade e que começa agora a tentar a sua sorte no nosso clube, rodando fora para cá chegar. Ambos foram recebidos com o carinho que deve ser reservado aos jovens como incentivo e aos velhotes como louvor. Gostei.

 

(-) Os cruzamentos “pra lá” Começa a ser complicado perceber o porquê da maior parte dos cruzamentos que os nossos defesas/alas/extremos/apanha-bolas fazem para a área. As coisas aconteceram exactamente como em Alvalade, onde disse: “Não há um “bullet cross”, raramente a vantagem de termos um dos melhores alas do mundo consegue ser de facto uma vantagem porque não concretizamos situações de perigo dessa forma.”. Álvaro, Rodriguez, Belluschi, James, Maicon…todos eles cruzavam a área com as patadas que mandavam na bola, como se conseguisssem criar alguma situação de perigo com aqueles remates sem medir, sem olhar, sem pensar. Exige-se trabalho específico nesta área.

(-) Atrapalhação e anarquia táctica Várias vezes vi Álvaro Pereira a aparecer como interior direito, Cristian Rodriguez a surgir no centro do terreno à entrada da própria área e Rolando a aparecer na área pronto a finalizar um cruzamento de James. Compreendo que se queira versatilizar e agilizar a estrutura táctica da equipa, mas o que hoje vi foi mais anárquico que organizado. Ou terá sido uma anarquia calculada para enganar o adversário, arrastando-o para uma falsa sensação de insegurança planeada como um qualquer vilão num mau filme de acção? Não. Foi só desorganização, acreditem. E não pode acontecer contra equipas que nos ponham a correr atrás da bola porque pode ter resultados escandalosamente negativos.

(-) Rolando Perdoava a falha a um júnior. Porra, até lhe perdoava o gesto se fosse no decorrer de uma jogada em que um colega tivesse falhado e não houvesse outra opção senão a de rasteirar João Tomás para impedir que marcasse. Mas o alheamento do jogo e o excessivo relaxamento que Rolando insiste em exibir como um qualquer “poster-boy” a vender relógios de marca é que me enervam, porque independentemente de poder ou não queimar o jogo da Taça da Liga com este vermelho, é a imagem negativa que me fica depois de ver uma parvoíce daquela magnitude, especialmente com Otamendi a fazer tudo direitinho ao lado. Aqui há umas semanas era exactamente ao contrário…

 

A vitória pode não ter tido os números esmagadores mas é inegável que a produção ofensiva foi mais que suficiente para vencer por mais um ou dois golos. Algum nervosismo em excesso, especialmente em Iturbe, que entrou com ganas a mais e calma a menos, mostrando a todos o porquê de Vitor Pereira dizer que o miúdo ainda tem muito que aprender. É verdade que sim, mas também é verdade que é em campo que o vai fazendo e não haverá melhor oportunidade para entrar a titular contra o Estoril já na próxima quarta-feira. Mas isso é conversa para outro dia.

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Porta19 entrevista João Paulo Meneses (reisdoave.blogspot.com)

Como já não publicava uma entrevista destas há algum tempo (a última foi com os Light-Fans, adeptos ucranianos do Shakthar Donetsk já no longínquo mês de Setembro de 2011), lembrei-me de voltar ao contacto com João Paulo Meneses, credenciado jornalista da TSF, professor no ISLA e co-autor do blog Reis do Ave, um exemplo na blogosfera nacional pelo ritmo de publicação e afecto clubístico. Se bem se recordam, o João Paulo já teve a amabilidade de me aturar em Agosto de 2010 naquela que foi a segunda mini-entrevista que conduzi aqui no Porta19. Desta vez num estilo mais telegráfico, para não se entediarem do formato:

 

Porta19: Haverá uma reedição da épica vitória de 1981?

João Paulo Meneses: Isso gostava eu. Mas apesar do FC Porto não estar (parece-me) muito forte, o Rio Ave atravessa uma crise de confiança. Não estou optimista.

 

Porta19: Adérito, Zé Manuel e Quim…ou Braga, Wires e Vitor Gomes?

João Paulo Meneses: O Vítor Gomes ainda não estará completamente operacional, penso, mas é um dos melhores do Rio Ave. Prevejo mais Wires, China e Braga ou Jorginho. O meu meio campo ideal seria Vilas Boas (pela raça), Vitor Gomes (pela qualidade) e Braga (pela ousadia).

 

Porta19: É desta que João Tomás marca ao FC Porto pelo Rio Ave?

João Paulo Meneses: É muito provável; preparem-se…

 

Porta19: O plantel do Rio Ave é curto? Mau? Adequado?

João Paulo Meneses: O plantel tem 24 jogadores, portanto não é curto (há, até, excesso de médios, embora com as lesões nunca se saiba…); tem muita qualidade em certos sectores mas, como todos, nunca é perfeito. Falta um defesa-direito inquestionável, mas de resto seria suficiente para estar na parte de cima da tabela.

 

Porta19: Carlos Brito tem condições para terminar a época?

João Paulo Meneses: Já tive mais certezas disso; a verdade é que 14 jornadas depois (e uma eliminação inaceitável na Taça de Portugal) o Rio Ave joga demasiadas vezes mal, ganha à rasca ou com sorte e, pior, falta ânimo à equipa. Há solução para isso?

 

Porta19: Huanderson ou Paulo Santos?

João Paulo Meneses: Nenhum deles é, parece-me, um fora de série, mas nenhum tem comprometido e até têm sido dos melhores. Neste momento Huanderson.

 

Porta19: Kelvin e Atsu devem ficar no Rio Ave até Maio?

João Paulo Meneses: Por nós sim; por vocês, penso que isso também vai acontecer; Kelvin ainda tem muita farofa para comer (e parece-me que extremo não é a posição mais adequada às suas características) e Atsu tem de evoluir bastante para poder ser titular no FC Porto (defende mal, é muitas vezes inconsequente no ataque), independentemente de não haver duvidas de que é um excelente jogador.

 

Porta19: Depois do negócio Júlio Alves, há hipótese de reconciliação com os rivais da Póvoa?

João Paulo Meneses: A zanga é institucional; entre adeptos há e haverá sempre rivalidade, nada mais; mas desde que eles não ganhem estará sempre tudo bem…

Como nota de rodapé, gostava de agradecer novamente ao João Paulo Meneses pela disponibilidade. Não o conheço pessoalmente mas sinto que identifico perfeitamente a forma como vive o seu clube em todas as vertentes, tanto pelo contributo para a preservação da história como para a divulgação das modalidades amadoras e dos escalões de formação. O intuito é sempre o de engrandecer o Rio Ave FC e o próprio clube tem muito que agradecer aos autores deste blog incluindo o outro co-autor, Gil Ribeiro Silva, a quem estendo os meus agradecimentos e elogios.

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A média dos media é uma merda

Gosto de pensar que ainda sou de um tempo em que a diversidade é cultivada e estimulada. Em que um fotógrafo pode andar de pijama todo o dia ao lado de um músico com um fato de veludo ou um bombeiro de t-shirt.

Expresso – Barcelona vence e marca encontro com Real Madrid nos ‘quartos’ da Taça do Rei

RTP – FC Barcelona marca encontro com Real Madrid nas “meias”

Sapo – FC Barcelona marca encontro com Real Madrid nas “meias”

E ao ler estas três versões da mesma notícia, vejo toda essa utopia sociológica a cair a pique. A fonte (Lusa) é a mesma. Repare-se nos textos que são publicados sensivelmente à mesma hora pelo que se presume sejam três pessoas diferentes, sendo que o mais provável é ser o mesmo programa de computador que recebe o newsfeed da Lusa e formata a notícia segundo padrões pré-determinados para se adaptar ao critério estetico-jornalístico da companhia que o está a executar e publica a mesma notícia com um cheiro ligeiramente diferente. De salientar também o enorme faux-pas da RTP e do Sapo que colocam El Clásico…nas meias, onde o Expresso já corrige para os “quartos”.

Ainda assim, questiono-me sobre a utilidade de ler três fontes diferentes de notícias quando a informação está triplicada sem um mínimo cunho pessoal, replicada por entre páginas anonimizadas, pseudo-jornalistas desportivos em instituições de informação generalista e falhas sem justificação para um profissional. Ao menos deixem o desporto para quem vive o desporto.

Já não há jornalistas, gente, há autómatos.

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Na estante da Porta19 – Nº7


Mais uma leitura de algibeira escrita por Colin Murray, um dos nomes em alta no sempre ridículo mundo do comentário desportivo em Inglaterra, que fazem o João Querido Manha ou o Fernando Guerra parecerem alemães pré-adolescentes em 1935 a fugirem da Hitler Jugend porque lhes dói quando levantavam o braço. “A Random History of Football” reúne algumas histórias interessantes que nos deixam quase sempre com um sorriso e nos fazem recordar que o futebol, para além de toda a corrupção, impacto sociológico e violentas afectações clubísticas, é um desporto impecável e muito rico.

Sugestões de locais para compra:

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Perdão?!

Dragon Seat.

O meu lugar para toda a época…menos na segunda jornada da Taça da Liga, aparentemente.

Fico à espera de ser notificado oficialmente que não posso ir para o meu lugar porque o FC Porto se lembrou de implementar um “novo modelo de gestão” a meio da época.

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