Os amaricanos andam como os caranguejos

Um pequeno desvio da actualidade portista, se me permitem. Com todo o hype da SuperBowl a varrer os Estados Unidos como um daqueles robots que aspiram a casa sozinhos, deparei-me com um estudo interessante elaborado pela Harris Interactive, uma conhecida empresa especializada em pesquisas de mercado, sobre a evolução dos hábitos dos norte-americanos no que diz respeito às preferências em termos desportivos e à forma como têm vindo a mudar desde 1985, o primeiro ano que esta pergunta foi feita ao povo:

Se tivesse de escolher apenas UM, qual destes desportos era o seu preferido?

Os números são evidentes. O interesse no futebol (o nosso, não o deles) cifrava-se num singelo 1%, chegando a triplicar por alturas do Mundial lá disputado (1994) para uns enormes 3%, encontra-se em 2011…de volta ao 1%. Isto depois da MLS, de Beckham, Ljungberg, Henry e tantos outros, depois de excelentes prestações da selecção nacional nos campeonatos do mundo onde participou (com as mulheres sempre em excelente plano mas os homens também não se safaram nada mal) e da contínua exposição ao melhor que há no futebol europeu através de transmissões das Ligas Inglesa e Espanhola, para lá da Champions League e da Europa League. Podemos considerar que o período durante o qual o inquérito foi feito (início de Dezembro, quando a MLS está parada e a época de football está a entrar na fase decisiva) tenha alguma influência no resultado, mas até vendo o histórico recente podemos ver que nunca ultrapassou os 4% da preferência global do povo americano. E quando comparamos esse 1% com os 36% do futebol profissional ou a igualdade entre futebol universitário e baseball com 13% cada um, as diferenças são grandes demais para que possam sequer ser colocados no mesmo patamar de competitividade.

É uma verdade que o mercado é enorme e que 4% de 300 milhões já será um valor aceitável (afinal será mais que a população portuguesa) mas é indicativo do trabalho de marketing e contínua transformação de mentalidades que os fulanos da FIFA têm de continuar a fazer para insistir em quebrar os filhos do tio Sam. E para tentar fazer com que o processo de conversão prossiga e dessa forma evitar que a Time tenha de mudar constantemente a capa da revista que vende nos EUA até em termos desportivos. Porque se virar agulhas para a política, a comparação é demasiado evidente.

Se estiverem interessados em dar uma vista de olhos mais alargada pelo relatório, podem fazer download aqui.

Link:

Ser alto não significa jogar bem de cabeça

Com a chegada de Janko, aparece-nos uma solução possível para um problema que tem sido difícil de ultrapassar nos últimos tempos: o que fazer quando é preciso empurrar a bola para a baliza mas não há força nem criatividade para o conseguir? Muitas equipas usam os lances de bola parada (que no FC Porto têm tido a eficácia de tentar passar uma nota falsa de 40€ com a cara do Vale e Azevedo) ou em alternativa o tradicional chuveirinho, bola prá frente, jogo à Stoke e siga.

Tomando como inspiração um artigo do Zonal Marking, tentei adaptá-lo à nossa realidade e trazer de volta um pouco da nossa história. Aqui está:

 

Em que estilo se enquadrará melhor o nosso novo austríaco? A minha fé diz-me que é no sítio do Jardas…mas o pessimismo atira-me para o lugar do Vinha.

Até poder ver o rapaz jogar mais uns minutos, fico à espera das vossas opiniões e sugestões. Há outros nomes que poderiam ter sido usados, claro…mas quais?

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 0 Vitória Setúbal

foto retirada de desporto.sapo.pt

Parecia feito por encomenda. Os dois reforços que jogaram num onze bastante diferente do habitual (mas provavelmente idêntico ao que vamos ver no próximo Domingo contra o Leiria) acabam por marcar os golos da equipa, com o médio criativo a marcar de longe e o ponta-de-lança a fazê-lo quase em cima da baliza. Conto de fadas futebolístico no Dragão, povo animado, união entre adeptos e jogadores, aplausos, sorrisos, alegria. Alguém se lembra que aqui há quinze dias passamos um momento humilhante a 60 km deste mesmo estádio? No pasa nada e é surpreendente a forma como a chegada de Lucho foi suficiente para animar o povo portista. Ou pelo menos o povo portista que hoje foi ao estádio, uma amálgama de dragões indefectíveis, famílias completas com miúdos, pipocas e hamburgers e jovens casais que aproveitaram os preços baixos para irem ao futebol. Foi uma boa noite no Dragão. Sigam as notas:

 

(+) João Moutinho Enquadrou-se perfeitamente com o novo colega do lado, tanto o esquerdo como o direito tal foi a rotatividade que impôs ao meio-campo. Sempre o primeiro a criar lances ofensivos, a recuar para vir buscar a bola, foi o Moutinho que gosto de ver. O Xavi português, com o devido respeito ao catalão. E foi notória a preocupação de muitos adeptos em manter o apoio, o carinho, o respeito que todos já temos por Moutinho, especialmente numa altura em que a chegada de Lucho faz com que a atenção dos adeptos mude do 8 para o 3 como já se viu. Gostei de ver e Moutinho também deve ter gostado.

(+) Lucho Quem tivesse sido enfiado num bunker durante dois anos e meio e voltasse ao mundo nesta noite não estranharia em nada ver Lucho a jogar com os outros de azul-e-branco e pensaria que não tinha sequer saído. Jogou fácil, de cabeça levantada e a ver o jogo como sempre fez e tão poucos fazem. Se tiver forma física suficiente e se os colegas Moutinho (ao lado) e Fernando (mais atrás) se entenderem bem, este trio vai ser o melhor meio-campo da Liga a vários kms de distância de qualquer outro porque conjugam a técnica do argentino, a raça do brasileiro e a inteligência do luso. Lucho encaixa como uma luva, alterando o esquema de troca de bola a meio-campo mas sem criar clivagens na estrutura construtiva do ataque portista. Ah, e se continua a marcar golos daqueles…ainda ajuda a levar mais gente ao estádio.

(+) Danilo Se alguém imagina que Danilo vai ser a versão brasileira de Bosingwa nesta nova encarnação de Lucho, tire daí o pensamento. O nosso novo defesa-direito (porque imagino que não perca a titularidade) não tem a mesma velocidade mas anda lá perto e o que salta imediatamente à vista é a forma como descai permanentemente para o centro quando se lança em jogadas ofensivas. Várias vezes o vi a driblar num primeiro momento de construção e a avançar no terreno em tabelas com Lucho ou Varela, criando um desequilíbrio importante na defesa adversária, o que continua a ser um factor muito forte para a afirmação de um lateral no panorama europeu. Danilo tem todas as condições para o fazer e precisa de continuar a mostrar em campo para melhorar alguns pontos que foco em baixo. Vitor, não deixes este moço de fora.

 

(-) As ingenuidades dos laterais Qualquer um dos dois foi caro. Ao todo 23 milhões de euros + comissões que hoje jogaram nas laterais do FC Porto e nota-se que há ali talento. Talvez mais em Danilo que Alex Sandro pela versatilidade e capacidade ofensiva em força e em direcção porque tanto sobe pela ala como rompe para o centro. Ainda assim foram evidentes muitas falhas de concentração e houve um número excessivo de vezes em que foram, como dizem os ingleses, “caught in possession”, que é como quem diz “perderam a bola para o adversário porque se esqueceram que há alguns mânfios que gostam muito de aparecer pela socapa e sacar-lhes o esférico de couro”. Têm de melhorar nesse aspecto porque o Brasil já é passado e na Europa as coisas são mais rápidas.

(-) O trabalho inócuo de Rodriguez O tipo corre, desliza, patina, acelera, tackla, salta, foge, pincha, passa e corta. Mas a produção é curta e raramente consegue mais que um ou dois lances de real perigo para o adversário. É pouco para um extremo numa equipa como o FC Porto e começo a pensar que a expressão “bom esforço!”, tanta vez ouvida quando Rodriguez está envolvido no lance, foi criada especificamente para ele. A questão é que não chega ser esforçado, é preciso criar estatísticas positivas. Cruzamentos, passes perigosos, remates, coisas que dêem golos. E Cebola não está a fazer nenhum deles em condições, por muito que corra.

 

Vi o jogo num lugar diferente do normal. No meio da bancada central inferior, mesmo na linha do meio-campo. Não gostei. Já me apercebi que apesar da emoção que está invariavelmente contida numa partida de futebol, a minha forma de ver o jogo tornou-se gradualmente mais analítica e fria. As diatribes continuam a sair da minha boca como um estivador bêbado, é um facto, mas ver o jogo a partir do meu sector lá em cima é totalmente diferente e dá uma noção bem mais concreta da estratégia e da movimentação dos jogadores em campo. Dali, só mudo para um camarote porque às vezes tenho sede e não admito levantar-me do lugar para ir beber seja lá o que fôr. Ponto.

Link:

Ouve lá ó Mister – Setúbal


Amigo Vítor,

Um novo começo. É isso que os tolinhos que hoje vão ao Dragão (incluo-me nesse lote porque sou, como sabes, um pouco demente) apanhar frio no lombo na esperança de ver um bom espectáculo. Em alternativa, uma vitória para purgarmos o fedor da ignomínia de apanhar três do Gil Vicente na semana passada. Brrrr. Vês, até tremo com a recordação da noitus horribilus de há oito dias, Vitor. Foi mau, tu sabes que foi mau e por muito que atiremos as culpas para o Paixão, que admito ter a sua quota parte em particular naquela atitude irritante de expirar e inspirar todo o dia, todos os dias.

E exactamente por ter sido mau é que preciso de ver a minha equipa a jogar decentemente. Estou convencido que vais dar a volta à cabeça dos teus rapazes e vais-nos dar um novo arranque. Um novo horizonte está à nossa frente e os cinco pontos que temos atrás do Benfica podem parecer muitos mas acredita que se reduzem facilmente. Basta jogarmos o que sabemos. Hoje, no entanto, a história não é essa e a meada tem outro fio. Taça da Liga. Porra.

Lucho e Janko? Deixo ao teu critério. Mas se estás a pensar naquela dicotomia entre o “agradar os adeptos ao pôr os gajos a jogar e assim admito que me faltava mão-de-obra” e o “não jogam porque ainda é cedo e eu é que sei e ponto final!”, dou-te um pequeno conselho: com a equipa no estado que está e a periclitância de apoio dos adeptos, apostava honestamente em avançar com os moços. É certo que corres o risco das coisas ainda não estarem oleadas ao ponto de funcionarem às dez mil maravilhas, mas e se os gajos até jogam bem? Já viste que boost de moral davas à malta? Era bem bonito, sim senhor.

Acima de tudo tens a oportunidade de provar que não estamos mortos. Levanta-nos como Cristo fez a Lázaro.

Sou quem sabes,
Jorge

 

APOSTAS PARA HOJE NA DHOZE:

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Vinte-e-nove

 

Não quero que o nosso novo pontão-de-lançazão fique desiludido comigo logo à partida e como o moço tem ar de quem me espetava uma lapada no focinho que me punha a comer por uma palhinha até o Sporting ser campeão, optei por repetir o post de ontem, desta vez adaptado ao novo númbaro do austríaco, o vinte e nove:

 

1995/1996
1996/1997 Romeu
1997/1998 Costinha (GR)
1998/1999 Deco
1999/2000 Deco
2000/2001 Folha
2001/2002 Paulo Costa
2002/2003
2003/2004 Hugo Almeida
2004/2005 Hugo Almeida
2005/2006 Bruno Moraes
2006/2007 Bruno Moraes
2007/2008 Edgar
2008/2009 Rabiola
2009/2010 Orlando Sá
2010/2011
2011/2012 Marc Janko
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