Há muito a dizer sobre este espectáculo de horror travestido de jogo de futebol. Foram noventa minutos de uma inépcia completa de quase todos os jogadores do FC Porto para conseguirem impôr um mínimo de organização de jogo, para honrarem a camisola que ostentam e mostrarem aos adeptos que são os mesmos do ano passado. A somar a esta aparente parvoíce competitiva temos Vitor Pereira, que defendi durante tanto tempo e que desejava ardentemente que conseguisse pegar no leme do que parece ser um Titanic azul-e-branco a caminho de uma fossa profunda, mas que estou a ver que a tarefa, hercúlea de início, se está a revelar quase impraticável. Parece ser mais fácil ver o Toy bem vestido ou a Paris Hilton como Ministra da Saúde do que ver o FC Porto a jogar em condições, sinceramente. A única nota está já aqui em baixo:
(-) A maldita letargia É verdade que os todos os golos surgiram de erros defensivos. O primeiro porque Rolando se lembrou de cabecear a bola direitinha para o caminho do jogador da Académica e o segundo porque Maicon parece pensar que o futebol deixou de ser um jogo de contacto físico e alheou-se do lance para ficar a pedir uma falta que não existiu. Estes lances definiram o jogo e o terceiro, apesar de já não fazer mais nada pelo jogo a não ser colocar mais um belo dum calhau no nosso destino na Taça deste ano, também veio de (mais) um passe parvo de Fernando. Mas analisemos os golos, porque é fácil a partir daí perceber os nossos males. No primeiro, Rolando, distraído, sem noção do posicionamento dos colegas, cabeceia para onde lhe apetece e lança Sissoko para a entrada da área. Mau, como má tem sida a época de toda a defensiva, quase sempre mal colocados e com pouca intensidade na colocação no terreno. Foquemo-nos agora no segundo, que resume numa só imagem um dos dois grandes problemas actuais do FC Porto: Maicon a receber um mínimo contacto e a reclamar com o árbitro em vez de se recolocar e lutar pela bola. Houve luta? Nada. Houve empenho? Nenhum. Houve mais interesse na bola e em recuperá-la para impedir o ataque contrário? Mais uma vez, não. E tem sido isto, jogo após jogo, onde quase todos os jogadores falham no ponto mais básico de exigência dos adeptos: a transpiração pode ultrapassar momentos de menor inspiração. E o terceiro golo? Fernando falha um passe fácil a meio-campo. Se fosse Moutinho, Belluschi, James, Varela, Defour ou qualquer outro, ninguém se surpreenderia. Porque as falhas sucedem-se a um ritmo assustador e incompreensível, os domínios de bola parecem tão simples como ganhar um jogo ao Nadal com um garfo de sobremesa a fazer de raquete, um banal cruzamento é complicado como tocar o Rach 3 com as mãos amputadas e com três litros de vodka no bucho e um passe, seja curto ou longo, é tão difícil como trepar o Evereste com o Malato às costas. Vitor Pereira é culpado de pouco, mas também não nos podemos alhear de mais um falhanço táctico em vários níveis, que “partiram” a equipa de tal forma que ninguém se entendia dentro de campo. Mas é na incapacidade de despertar a malta da letargia em que parecem ter afundado que Vitor está a falhar mais e os adeptos já desistiram. Só uma grande devoção ao clube faz com que continue a haver portistas a ver a sua equipa a jogar por esses relvados fora, porque se a qualidade de jogo fosse o único chamariz para os espectadores se deslocarem aos estádios, onde jogasse o FC Porto soariam grilos e voariam folhas soltas de jornais. Porque não haveria lá sequer uma alma para os ver.
A eliminação da Taça acaba por ser o menor dos males desta noite de Coimbra. A imagem que fica, de jogadores cabisbaixos, tristes, com uma intolerável falta de inteligência táctica, capacidade técnica e espírito de sacrifício, de empenho, de luta, é tudo o que não consigo associar ao meu clube. Estes mesmos jogadores, geridos por outro homem aqui há outros meses, mostravam o total oposto desta paupérrima exibição e punham-me o peito para fora com orgulho. Continuo a atribuir algumas das culpas a Vitor Pereira, pela aparente incapacidade de gerir estes talentos, mas eles, os jogadores, são os principais culpados. Porque se o treinador não consegue fazer com que eles se exibam ao seu nível, eles próprios parecem desinteressados em contrariar a letargia que os possui. Resultado? Um enorme deserto para atravessar, para eles, para nós, para todos os Portistas. E sem oásis no horizonte.