Orgulho versus realismo


Não me consigo decidir. Vale a pena levar os grandalhões todos à Luz mesmo com a condição física nitidamente abaixo do que deveriam ser os índices para uma competição intensa como este campeonato está a ser, arriscando abanar ainda mais um plantel cheio de jogadores lesionados, cansados e pouco confiantes…ou será digno abdicar desta competição como Jesualdo fez em 2008/2009, quando apresentou uma equipa alternativa em Alvalade e o banco cheio de putos, trazendo um 1-4 no saco para a Invicta?

Como disse, não me consigo decidir. O orgulho aponta-me para a primeira opção, mas o pessimismo indica-me a segunda. Peço-vos ajuda aqui no questionário aqui ao lado direito da página.

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Os nossos rapazes não podem com uma felina pela cauda


Há vários jogos que assisto ao mesmo cenário triste. Os jogadores do FC Porto passam as primeiras partes a passar a bola de um lado para o outro com pouca agressividade ofensiva, fraca organização colectiva e uma absurda disfuncionalidade nos passes, curtos ou longos. E a falta de pernas parece-me um dos factores que levam a uma tão débil produção numa equipa que nos habituamos durante tantos anos a ver com a moral em valores variáveis mas sempre com um nível de esforço acima do que vemos noutras formações.

O meio-campo está despovoado. É evidente, já falei disso, e aconteceu aquilo que previ quando o fiz. Com quatro médios disponíveis para o treinador, o que acontece quando um deles se lesiona ou é excluído das opções por castigo? E, só para agravar, o que acontece quando o mesmo jogador (Fernando, para quem ainda não percebeu) que está impedido de jogar é o elemento mais consistente da equipa durante todo o ano? O resultado foi visível na Madeira. A equipa desagregou-se, perdeu consistência no centro do terreno, abriu espaços atrás de espaços e permitiu o domínio do adversário em situações que nunca teriam acontecido se houvesse mais um ou outro jogador que pudesse calçar as botas do ausente e estivesse de facto talhado para a partida e para a posição que ocupa.

As adaptações são perfeitamente viáveis. Só que não são. Continuando a apostar numa táctica com três elementos móveis no centro do terreno, usando a estratégia tradicional desde há vários anos de ter dois avançados mais deambulantes e um com características centrais e consideravelmente mais fixas que os colegas, as adaptações são curtas. E pelo que já vimos, inexistentes. Não concebo ver Cristian Rodriguez a “fazer” de Lucho com o argentino a “fazer” de Moutinho e o luso a “fazer” de Fernando. O mesmo com James, porque o espaço que ocupa é demasiado próximo do ponta-de-lança para o trabalho árduo que há a fazer no meio-campo. Ou acham que o meio-campo de Fernando+Moutinho+Lucho só passa a bola de uns para os outros por prazer e o resto do jogo anda a passear? Vejam o exemplo de Busquets+Xavi+Iniesta ou o clássico Cambiasso+Stankovic+Sneijder de Mourinho no Inter. Todos eles trabalham, todos lutam, todos se cansam. E com a única alternativa actual em Defour, um rapaz esforçado mas que tem tido pouca oportunidade para fazer o que sabe na posição que mais rende…temo que nos próximos jogos venhamos a ter um nó no estômago sempre que houver uma entrada dividida com qualquer um dos nossos putos.

E nem me falem do Javi Garcia na próxima terça-feira.

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Baías e Baronis – Nacional da Madeira 0 vs 2 FC Porto

foto retirada de maisfutebol.pt

Há jogos assim. Tantas vezes fomos até campos hostis com o apoio de poucos mas bravos portistas e perdemos mas lutamos com galhardia. Tantas outras vezes nos deslocamos a lamaçais ou a relvados de pisos sintéticos e perdemos mas lutamos com galhardia. Hoje, na Madeira, lutamos com galhardia. Sem pernas, sem cabeça, sem entrosamento, sem pernas e sem pernas. Disse sem pernas três vezes de propósito. Porque a ausência de Fernando e a falta de frescura de Lucho e Defour são tão evidentes que me deixam a pensar que as decisões tomadas em Janeiro foram ainda piores do que pensei na altura. Ainda assim valeu-nos São Helton, ele que este ano ainda não tinha tido uma exibição a este nível, a defender tudo de todos, a servir como barreira impossível de transpôr para o Nacional. E ainda bem. Seven to go. Notas abaixo:

 

(+) Helton Lembrei-me daquele jogo em Villareal no ano passado, onde Helton foi o garante da nossa passagem à final da Europa League. O homem esteve realmente em grande, tanto na baliza como fora dela, parecia que havia um íman nas luvas que fazia com que as bolas fossem quase todas lá parar. Alternou defesas excelentes e seguras com outras que foram de puro reflexo e agilidade. As grandes equipas não se fazem sem grandes guarda-redes e em muitos jogos a presença de um guarda-redes que segure vitórias quando a equipa não consegue evitar o perigo para as redes que o homem defende é muitas vezes essencial. Helton continua a ser o melhor guarda-redes a jogar em Portugal.

(+) João Moutinho Foi o único rapaz que correu noventa minutos ao mesmo ritmo e que se esforçou como poucos para vencer o jogo. Notável a quantidade de terreno que o João percorreu hoje à noite, na nossa área, na área deles, à esquerda a tapar as subidas de Álvaro e a cobrir a lentidão de Otamendi, à direita para rodar a bola com Lucho, atrás a trocar com Defour…até bolas de cabeça ganhou, carago! Esteve muito bem e não fosse Helton ter sido a parede que foi (no bom sentido) e Moutinho tinha o meu voto para melhor jogador portista em campo.

(+) Cristian Rodriguez, principalmente na primeira parte Afirmo e reafirmo: Rodriguez perdeu espaço no FC Porto e é caro demais para o rendimento que apresenta. Mas há alguns jogos em que a força e a atitude do Cebola são muito importantes e este era claramente um deles. O uruguaio correu muito e bem, pressionando tanto na esquerda como na direita e mesmo não tendo sido particularmente produtivo (a diferença para Hulk, mesmo nos dias maus, é enorme) acabou por forçar a que o Nacional não conseguisse subir pelo flanco como precisava e como conseguiu apenas na segunda parte, quando o gás acabou. Esforçou-se. Gostei.

 

(-) As perninhas dos nossos meninos Mais um jogo, mais uma exibição pobre no centro do terreno. Lucho não consegue aguentar noventa minutos, Defour esconde-se muito do jogo e Moutinho não chega para tudo. Aliás, não fosse o João e o resto do meio-campo ter-se-ia desfeito como um castelo de cartas atacado por um urso, tal era a incapacidade de James em correr mais de dez metros sem travar para descansar e Janko que estava tão perdido no meio dos defesas do Nacional que mais valia criar raízes. E os defesas? Lindo. Álvaro à rasca, Rolando tão arrastado que só lhe faltava um andarilho para efectivar a transição para a velhice, Maicon displicente e Otamendi…que já é lento por natureza. A entrada de Alex Sandro e Mangala ajudou, mas não chega. Precisamos de sangue novo, fresco, com mais ritmo e mais capacidade para correr. Quem? Não sei. Não sou eu o treinador.

(-) Maicon Parece de propósito, palavra. Um gajo elogia-o numa semana e na semana seguinte lá volta a fazer borrada. Quero acreditar que foi um jogo mau e que a espiral de parvoíce que culminou numa perda de bola após mais uma estupidez em que o Maicas tenta controlar a bola que surge pelo ar…no meio de três adversários (obviamente perdeu-a e Mateus quase marcava) não terá passado de hoje. Mas ver o ridículo da displicência que Maicon mostrou no ano passado, quando tinha de ser Moutinho a dizer-lhe para mandar a bola para fora e não inventar repetiu-se hoje na Madeira e as vezes que as câmaras focaram Helton ou Lucho a avisar Maicon para não se distrair deviam ser todas gravadas e exibidas ao brasileiro pelo menos uma hora por dia. Porque no FC Porto não pode chegar fazer alguns bons jogos e o nível não pode baixar por excesso de confiança. Vai para casa, dorme e amanhã volta ao normal. Obrigados.

(-) É obrigatório fazer tabelinhas? Admito que começo a ficar farto da mesma jogada. Alguns jogadores do FC Porto parecem incapazes de receber uma bola e mantê-la nos pés durante mais de dois segundos, sentindo uma vontade irresistível de a endossar de volta para um qualquer colega…independentemente do companheiro estar ou não tapado por um oponente a pressionar. Resultado? Quase sempre acaba num passe para Helton ou numa biqueirada para a frente…quando não se perde a bola e a nossa equipa, balanceada já para um ataque com apoio dos laterais, acaba por se tramar no posicionamento e o contra-ataque é sempre perigoso. Não chega olhar para o Barcelona e dizer: “sim senhor, gostava de jogar como eles”. É preciso saber como o fazer.

 

Não gostei do jogo. Enervaram-me as constantes perdas de bola, a forma como a falta de pernas afectou o raciocínio e o sentido prático de muitas intervenções directas e movimentações tácticas da equipa. Estive agitado desde os 60 minutos, quando vi que a equipa estava progressivamente a descer no terreno, sem conseguir jogadas de ataque a não ser as biqueiradas para a frente do Rolando para o Janko ou o James. Concordei com as substituições de Vitor Pereira mas creio que foram atrasadas. Já teria sacado o Otamendi há mais tempo porque estava a ver que o Candeias ainda calhava de ter sorte num cruzamento qualquer, o Mateus lá acertava na baliza e não no Helton…e o FC Porto nunca mais conseguiria ir tentar sacar mais que um ponto. Correu bem. Correu muito bem.

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Ouve lá ó Mister – Nacional da Madeira


Amigo Vítor,

Estou fodido contigo, Vitor. Contigo e com alguns dos teus pupilos. Não consigo perceber na minha cabeça como é que depois de jogarem daquela maneira contra o Benfica, numa altura em que não se permitem falhas, em que estávamos no cimo da onda, de pés bem assentes na prancha, acima da água e com o pescoço bem levantado…nesta mesma altura é que aparece aquele AVC colectivo e pumba, lá vamos nós dar uma bela chapa no oceano. E este jogo vem mesmo a calhar, não vem? Não, não vem.

Consigo, no entanto, perceber que não tens culpa de tudo. Roubaram-te metade do meio-campo (com a tua anuência, talvez, mas não me acredito que tenhas concordado com tudo), atiram-te à turba com as forquilhas bem afiadas e os archotes flamejantes, desistem de te apoiar em público quando aparece um peixe bem maior para grelhar na brasa e tu…como ficas? Tens de subir, Vitor. Tens de subir o tom, aumentar a indignação, crescer a voz e levantar o discurso. Tens de falar com os onze fulanos que hoje vão subir ao relvado daquele estádio no meio do monte e convencê-los que as quinas que usam na camisola foram ganhas com suor, com a aplicação prática do talento teórico que tantos gostavam de ter e poucos conseguem exibir. A treta do “ah e tal porque lhes demos quarenta e cinco minutos de avanço” tem de acabar, Vitor, tem de acabar de uma vez por todas! Já todos ouvimos essa história vezes demais neste campeonato e estamos todos fartos disso. Eu estou farto disso. Qualquer portista com o mínimo de orgulho está FARTO dessa atitude! Foda-se, Vitor, que até me enervas e me fazes entornar o chá. Cidreira, para os nervos. Ou Cardhu, quando o chá já não funciona.

Vou ver o jogo. Às dezanove, hora de Portugal Continental e Madeira, vais fazer com que onze rapazes entrem naquele desterro e usem a metáfora que quiserem: matem o borrego, ponham a carne toda no assador, qualquer coisa que tenha a ver com carne. E depois da vitória, que não pode deixar de ser uma vitória, podes ir lá comer uma espetada madeirense e enfiar dois litros de poncha pela goela abaixo. É bom, aconselho. Livra-te de saíres da Madeira com menos que quatro pontos de avanço. Os vermelhos jogam a seguir e vão adorar passar-nos à frente. Não lhes dês essa satisfação.

Sou quem sabes,
Jorge

 

APOSTAS PARA HOJE NA DHOZE:

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Pimba

Recebi há pouco uma mensagem de um amigo portista:

“Não percebo. O Porto parecia um menino de trazer pela mão a jogar com estes tipos. O sporting pimba. Com o zenit passamos uma vergonha. O benfas pimba. Não tou habituado a isto, jovem ;)”

Sou um daqueles raros espécimens que apoia as equipas portuguesas nas competições europeias, independentemente das cores que envergam. Pá, chamem-me bacoco, lorpa, ingénuo, naif. Sempre fui assim e creio que sempre vou ser. Seria hipócrita se dissesse que vibro com as vitórias como se fossem do meu clube, porque não o faço. Nem tão pouco sofro com as derrotas como faço com as do FC Porto. Não. Mas sinto uma certa satisfação em ver uma equipa portuguesa a eliminar outras de países que não o meu. E se forem ingleses, ainda mais, porque aquela arrogância imperial de olhar para o mundo lá do cimo é algo que me enerva profundamente e dá-me um gozo particular vê-los a cair. Por isso torci pelo Benfica em Highbury no 3-1 e pelo Sporting hoje à noite. Adorei o jogo de Bilbau e o de Manchester também me pôs um sorriso na face.

Mas o jogo de hoje foi especial. Não sei porque carga de mil águas me deu esta súbita leonite, mas vibrei com o Sporting. Senti uma empatia diferente do habitual com os rapazes de verde, com a sofreguidão com que aliviavam a bola da área, a luta e o espírito de não desistir contra uma equipa cheia de grandes jogadores mas com a soberba a tolher-lhes o juízo. O City, que tinha sido competente contra um FC Porto medroso e azarado, perdeu com o Sporting e eu aplaudi o golo do Matias e do Van Xinksotrinkel como se tivessem sido meus. Porque me senti vingado. Palerma, pascácio, pamonha. Sou. Não tenho problema em dizê-lo.

E olhando para trás, para a vitória do Benfica contra o Zenit e do Sporting contra o City, só penso: “E nós? Nós que jogamos contra aquelas bestas e tivemos medo. E entramos de mansinho, sem manha, sem alma, sem força, sem vida. E nós? Não tínhamos nós equipa para ganhar àqueles camelos?” A culpa também é minha, eu que mal nos saiu o City no sorteio pensei que estávamos tramados. E o Zenit, ainda nos grupos da Champions, que me lixou porque pensei que estávamos tramados. A derrota tantas vezes começa na nossa cabeça antes de ser provada em campo.

Hoje dou os meus parabéns à lagartada. Parabéns ao Cherbakov do Cacifo, ao Marcelo do Porta10A, a todos os meus amigos sportinguistas (que são muitos, por incrível que pareça). Podem ter orgulho da vossa equipa. Não foram inteligentes na gestão do jogo (fazer com que um gajo como o Balotelli seja expulso é tão fácil, porra) e sofreram como um asmático no Burning Man, mas passaram. Foda-se, passaram.

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