No último jogo "fora" contra o Braga

No último jogo que disputámos contra o Braga fora do Dragão pode-se reduzir a duas fotografias:

Esta:

E esta:

Onze meses depois, ambos os jogadores do FC Porto mais próximos da bola em cada uma das frames tinham nascido no mesmo país e se os alinhássemos lado-a-lado com o primeiro à esquerda e o segundo à direita, os algarismos nas suas camisolas formariam um número tão usado com tom jocoso por miúdos de 14 anos ou jovens de 74. O “6” joga agora no Inter. O “9”, no Atlético Madrid. Nenhum deles pode ser campeão este ano, só para aprenderem que nem sempre se sai para melhor.

O FC Porto tem uma equipa muito diferente daquela que esteve no Aviva Stadium em Maio de 2011. Mas o resultado deste jogo do próximo sábado pode ser o mesmo. Não me importo nada que seja o “3” a cruzar para o “29”. Até pode ser o “4” a passar de trivela para o “11” marcar de costas.

O que é preciso é ganhar este jogo.

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 0 SC Olhanense

foto retirada de fcporto.pt

À medida que as jornadas vão prosseguindo e o campeonato se vai aproximando do final, os padrões dos adeptos ficam diferentes. Mais altos para alguns, que exigem que a equipa suba o nível e cresça nas exibições, na produção ofensiva e na eficácia defensiva, numa altura difícil e fundamental em que nenhuma falha é perdoada. Para outro grupo de adeptos, os padrões de qualidade baixam e a única coisa que querem é ganhar. Não querem saber se os jogos são maus, se há muitas bolas para a bancada, remates de qualquer lado ou jogadas construídas sem um fio de jogo pensado. O que interessa são os três pontos. Ainda há um terceiro grupo. O que gosta de combinar as duas vertentes, a construtiva e a produtiva. Sou do terceiro. Saí do Dragão satisfeito pela vitória e razoavelmente contente com a exibição. Não foi genial e mais uma vez houve tantas falhas e tão grandes que o Dragão parecia situado nos arredores de Los Angeles. Mas ganhámos e nesta altura é mais importante vencer que jogar bem e perder. Notas, já já aqui abaixo:

 

(+) João Moutinho Tem tido a consistência que permite ao nosso meio campo manter-se competitivo, muito à sua custa. Diria que a equipa do FC Porto hoje em dia está “pendurada” nos pés de Moutinho porque sem a inteligência do português, com a bola e no espaço quando a procura, a equipa andaria à deriva em campo. Moutinho está de novo em grande nível, a jogar simples, com sentido prático e a executar os lances certos no momento certo. É talvez um dos únicos jogadores do Mundo que teria lugar no meio-campo de Guardiola no Barcelona. Talvez não fosse titular mas era menino para fazer uns trinta ou quarenta jogos por ano.

(+) Maicon e Otamendi no centro Os dois centrais estiveram bem perante os avançados do Olhanense que não fizeram um grande jogo muito por culpa dos nossos defesas. Rolando ficou no banco, não sei se por castigo se por opção, mas os factos falam por si: zero golos sofridos, velocidade no passe, agressividade positiva durante o jogo e bom entendimento na cobertura defensiva dos espaços criados pelas subidas dos laterais. Uma pequena nota recorrente: Otamendi falha muitos passes curtos, Maicon falha muitos longos. Tirando isso, estiveram bem.

(+) A vontade de Sapunaru O romeno é um tolo. Ele sabe que é tolo, todos sabemos que é tolo. Mas há qualquer coisa naquela loucura que me entusiasma e perdoo-lhe mesmo alguma inépcia técnica e até o espaço que continua a permitir a qualquer adversário que lhe apareça pela frente antes de lhe tentar tirar a bola. Mas dá gosto vê-lo a correr pelo flanco, a tentar sempre subir no terreno a ajudar o extremo do seu lado, a aparecer na área para cabecear ou a rematar cruzado para a baliza. Dá ideia que está noventa minutos a pensar em marcar um golo e raramente desiste até o conseguir. Quantos mais romenos loucos há por aí? Tragam-nos alguns que bem precisamos.

 

(-) Lucho Há jogos que correm melhor que outros e apesar do golo que marcou, Lucho hoje foi uma nulidade em campo. Foi pior. Falhou inúmeros passes, tirava o pé nas disputas divididas, permitia movimentações dos jogadores do Olhanense muito perto dele sem tentar obstruir a progressão do adversário e raramente foi produtivo com ou sem a bola nos pés. Se fosse outro jogador qualquer, especialmente alguém que não conhecesse, diria que era um tosco. Mas Lucho não é tosco, muito longe disso. Um mau jogo que também poderá surgir da fraca condição física. Saiu bem.

(-) Álvaro Pereira Um jogo fraquinho do Palito, com pouca claridividência no ataque e demasiadas distrações na defesa onde obrigou Otamendi a ir ao seu auxílio muitas vezes, quase sempre com sucesso, felizmente. Álvaro tem sido um jogador importante mas há alguns jogos em que aparece muitas vezes no ataque a criar perigo para a área contrária. Hoje, nem isso, porque sempre que passava o meio campo lá acabava por perder alguns metros à frente. Estranho o facto de ter jogado com a cabeça muito inclinada para baixo, talvez esteja cansado, sei lá. Vai precisar de jogar bastante melhor contra o Braga.

(-) A complacência de Alex Sandro É complicado perceber o que passa pela cabeça de quem quer que seja. Parece fácil visto de fora mas acredito que Alex Sandro não é retardado. Sinceramente acredito. Mas as várias jogadas ridículas que hoje protagonizou nos vinte e tal minutos que esteve em campo foram dignas de registo para a posteridade por vários motivos. Porque um internacional brasileiro como é Alex Sandro que mostra (e já não é a primeira vez) uma atitude complacente com a nossa camisola, sem interesse em jogar, sem força, sem concentração, sem a cabeça no jogo…envergonha-me. E devia envergonhá-lo também. Espero muito mais dele, mas acima de tudo espero que lute. Não o fez.

 

À entrada, subi as escadas de acesso à bancada e um homem com o apoio de duas muletas subia também as escadas com alguma dificuldade, mitigada com o auxílio de um jovem, diria seu neto. Ao lado, um colega que com ele se deslocou ao Dragão dizia-lhe: “Nem sei para que é que você veio, ficava em casa a ver na televisão…”, ao que o sénior lhe responde: “Nada disso, o Porto é o Porto, carago, e enquanto tiver forcinha nas pernas hei-de cá vir sempre que puder!”. É exactamente este o espírito que gosto de ver. Um louvor ao velhote, se fazem favor, porque faz ver a tanta gente que se queixa de tudo e todos e deixa de lá ir apoiar a equipa nos momentos maus, mesmo nas alturas que a equipa mais precisa deles. Fomos trinta e um mil no Dragão. Poucos ou nenhuns assobiaram. Gostei.

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Ouve lá ó Mister – Olhanense


Amigo Vítor,

O meu clube é o FC Porto. Acho que sabes isso. O teu clube, ao que sei, é também o FC Porto. Estamos na mesma onda? OK? OK.

Então explica-me uma coisa: que raio se passou em Paços?! O jogo controlado, centenas de golos falhados e vão deixar que aquele percevejo ou gargarejo ou lá como é o nome do moço, que é pouco mais alto que o Rui Barros, salte no meio de num sei quantos jogadores nossos e nos roube dois pontos?! A sério, Vitor, o que se passou?! Não tens culpa que o Janko tivesse mandado uma bola ao poste, o Moutinho ao lado, o Hulk idem e o Lucho aspas, eu sei disso. Mas vimos outra vez a nossa equipa a descer e a perder a moral, carago, pá, e não achas que estamos todos um bocado fartos desta história? E depois vens com o penále! Mas qual penále! Tá bem, foi penále, mas também tinha havido um do Sapu na primeira parte, homem, por isso ainda que queiramos usar essa treta como desculpa, não podes!

Pronto, vamos lá a acalmar. O que interessa, mais uma vez, é ganhar o jogo de hoje. Ou Benfica ou Braga ou os dois, há gente que vai perder pontos naquele estádio ao lado do Record e nós temos de aproveitar qualquer uma das hipóteses. Se empatam ou perde o Braga, passamos para primeiro. Se perde o Benfica, ficam mais longe e para a semana decidimos o título na cidade dos P’s. Como andamos a dizer há semanas e semanas e intermináveis semanas: é para ganhar. Um amigo disse-me que teve um feeling que ganhávamos agora seis jogos seguidos e íamos ser campeões. Hmm. Quero acreditar nisso, Vitor, mas eu sou como o S.Tomé: só quando vejo as coisas a acontecer é que acredito. Ganha e depois falamos.

Ah, só uma nota final: de uma vez por todas decide-te sobre o Lucho. Ou joga mais atrás para criar jogo como ele sabe ou começa a entender-se melhor atrás do Janko. O meio-termo não está a funcionar.

Sou quem sabes,
Jorge

 

APOSTAS PARA HOJE NA DHOZE:

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Um Portista que boicota é um Portista idiota

Durante o dia de ontem recebi aqui na caixa de comentários um inusitado número de opiniões que urgem a um boicote ao jogo do FC Porto em casa frente ao Olhanense como forma de protesto contra a recente instabilidade na equipa. E a minha reacção primária é a mesma que sempre tive em relação a este tipo de gente que se diz portista e que só vive bem a dizer mal: quem não quiser ir ao jogo que fique em casa, vá até um jardim ler um livro, dê um salto ao cinema, faça o que mais bem entender. Não preciso de ter assobiadores compulsivos nas bancadas e não me importo nada que lá estejam só dez mil mas que esses, you few, you happy few, you band of brothers, estejam para apoiar a equipa de início a fim. E recuso-me a aceitar que um sócio ou simpatizante portista tome este tipo de atitudes quando a situação está difícil e complicada e o apoio da massa adepta é tão importante para que o nosso barco não se transforme num Bolama.

Por isso deixo a contra-proposta: tudo ao Dragão no sábado à noite. Vamos todos em massa ao estádio para apoiar a equipa em mais uma jornada que nos pode colocar na frente do campeonato ou na pior das melhores hipóteses colocar-nos em boas condições para continuar a discutir o título.

Ponham o cachecol ao pescoço, vistam a camisola, ergam a bandeira, vão nus, quero lá saber.

Mas apoiem o vosso clube, principalmente nas horas difíceis.

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Lucho tem tudo para ser o Aimar do FC Porto

É um dos jogadores com maior experiência do plantel. Os adeptos respondem à sua presença como um miúdo com um cheque prenda em branco numa loja da Hussel e quando chegou em Janeiro foi imediatamente re-elevado à condição de herói da naçom que tinha mesmo depois de sair para o Marselha, ele que foi mais um numa longa lista de jogadores que optou por sair para aumentar o fundo de maneio que terá à sua disposição nos “golden years”. Nada contra, até porque foi campeão em França e para além de encher os bolsos com euros que têm um hexágono nas costas acabou também por mostrar toda a qualidade por terras de De Gaulle. Carlinhos, prós amigos. Voltou, com uma aura que equivale ao seu valor e ao impacto que sempre teve nos sócios e simpatizantes do FC Porto.

Mas por muito que se queira (e quer) que Lucho seja o mesmo, já não é. Pelo menos por agora ainda não conseguiu ser. O talento está lá, não haja dúvida, mas a influência que tem no jogo faz-se notar durante menos tempo e com menos impacto. Ele não tem culpa, entenda-se, Lucho faz o que pode, coordena a equipa em campo como o “comandante” que sempre foi e será, mas tem limitações físicas que parecem evidentes a todos. Lucho, neste momento, é um jogador para aguentar 60, 70 minutos no máximo, e a partir daí desaparece do jogo, exausto, incapaz de ordenar as pernas a movimentarem-se nos espaços que calcorreava com a intensidade que o fazia quando foi tetracampeão no FC Porto entre 2005/2006 e 2008/2009.

A chegada de Lucho veio tornar ainda mais notórias as lacunas no meio-campo do FC Porto. Não pela sua ausência quando não está em campo mas precisamente pela sua presença e pela incapacidade que o actual plantel denota em preencher uma vaga que durante um terço do jogo se torna óbvio que necessita de sangue fresco. Sempre que vejo Lucho a definhar, como foi evidente em Paços de Ferreira e já o tinha sido na Madeira ou no Dragão contra a Académica, olho para o banco e não vejo ninguém que possa calçar aquelas botas naquela posição. James, dir-me-ão, pode fazer o mesmo que Lucho. Não pode. Pode tentar, mas não é a mesma coisa. Mas, Jorge, não há ninguém que seja “a mesma coisa”, Lucho é Lucho! Certo. No entanto, quando o argentino estava mais em baixo de forma ou lesionado, sempre tivemos uma opção alternativa. Fosse Diego, Anderson, Ibson ou até Mariano (uma adaptação, é verdade), todos conseguiram entrar para aquele lugar porque conseguiam a mistura adequada de suor e inteligência competitiva para evitar que se notasse em demasia a falta do capitão.

Conseguem ver alguém no plantel com essas características? Talvez James, mais nenhum. Então qual é a solução? Lucho começa a fazer apenas sessenta minutos por jogo (como Meireles durante vários anos) e é colocado o colombiano na sua posição, injectado de seja lá que composto quiserem que lhe dê mais garra e força. Como Aimar no Benfica, que quando joga mostra que a qualidade e a quantidade nem sempre são equivalentes (se exceptuarmos a patada do último fim-de-semana, que em Aimar não é normal) e consegue fazer em quinze ou vinte minutos o que trezentos jogadores não conseguirão fazer na vida toda.

Consigo ver Lucho a fazer este papel. Não me importo nada de o ver apenas meio jogo se essa metade fôr produtiva. Caso contrário arriscamo-nos a ver o lento definhar de um talento fantástico. E só temos a perder com isso, tanto nós como ele.

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