OK, FCP B v2 – Parte II – Vamos lá à SWOT

Não será uma tradição “per se”, mas é algo que já usei no passado (aqui e aqui) e continua a ser uma boa forma de esquematizar a forma de pensar acerca de uma ideia sobre a qual há demasiadas opiniões pouco fundamentadas. Neste caso aplica-se a utilização da ferramenta tão querida de tanto gestor por esse mundo fora, uma análise SWOT, muito à imagem do que fez o Hugo Emanuel Fernandes no FutebolFinance aqui há uns meses. Partindo dessa mesma análise como base, desenvolvo a minha própria visão do reaparecimento da equipa B do FC Porto. Vamos a isso:

STRENGTHS

  • Colocação de jovens jogadores numa liga competitiva e profissional;
  • Amadurecimento do talento individual e facilidade na transição para a fase adulta de uma forma progressiva e acompanhada de perto;
  • Facilidade de utilização dos jogadores em caso de necessidades imediatas na equipa principal;
  • Expansão da imagem FC Porto num escalão de exposição nacional;
  • Atracção de novos patrocinadores para a segunda equipa;
WEAKNESSES

  • Investimento extra em equipamentos, pessoal e manutenção de instalações;
  • Redução da facilidade de negociação de contra-partidas não-financeiras com clubes com os quais se desejam realizar negócios no mercado de transferências;
OPPORTUNITIES

  • Melhores condições para uma utilização coordenada e estruturada dos jogadores durante a época;
  • Maior número de jogos de uma equipa de futebol do FC Porto que podem consequentemente atrair mais público ao estádio, bem como a exibição das partidas na televisão;
  • Visibilidade de uma diferente realidade do futebol nacional por parte dos adeptos portistas;
  • Condições para treinadores “da casa” continuarem a transmitir valores e mentalidade portista aos jogadores;
THREATS

  • Estagnação na evolução de jogadores sem mentalidade suficientemente batalhadora;
  • Maior probabilidade de lesões pela sobre-utilização de alguns jogadores;
  • Percepção errada do potencial de alguns jogadores por parte dos adeptos;

 

Algumas outras opiniões pela bluegosfera:

Link:

Hulk happy? Hulk happy! And Porto? Porto happy?


Guardian


Record


A Bola

MaisFutebol

Sei que toda a gente está à espera que apareça um qualquer colhonário do petróleo e atire com 100 milhões para quebrar a cláusula do Givanildo.

Mas se houver um acordo para sair do FC Porto por quase 50 (CINQUENTA) milhões de euros…alguém é capaz de dizer que não o venderia se estivesse no lugar de Pinto da Costa?

Link:

OK, FCP B v2 – Parte I – A última equipa bê, sete anos depois

Algumas reflexões nos próximos dias sobre a importância de uma equipa B e as melhores formas de a aproveitar. Comecemos pela história. Acima está o plantel do FC Porto B em 2005/2006 (dados sacados do zerozero) e a evolução dos mesmos jogadores nos sete anos que se seguiram à extinção da mesma equipa.

Algumas curiosidades de uma análise rápida aos nomes e às carreiras:

  • Nenhum jogador evoluiu na sua carreira ao serviço do FC Porto, pelo menos de uma forma consistente. Nuno André Coelho, Helder Barbosa, Vieirinha e Bruno Gama, todos eles tiveram hipótese de provarem as suas qualidades na equipa principal mas nunca foram opção de fundo;
  • Vários rapazes conseguiram crescer no mundo do futebol fora do Dragão. Os quatro nomes de cima talvez sejam os exemplos mais evidentes de sucesso, particularmente Vieirinha mas também Helder Barbosa, André Leão e Nuno Coelho, estes últimos na Liga Portuguesa.
  • Muito talento precoce foi desperdiçado. Os manos Paixão, Pedro Ribeiro, Márcio “O novo Deco” Sousa, Zequinha (o mesmo que sacou o cartão da mão do árbitro que o expulsou num Mundial de sub-20)…todos eles foram despachados sem terem conseguido dar aquele salto qualitativo que se espera de um jogador aquando da passagem de uma prometedora jovialidade para uma idade adulta, onde o nível é mais alto e o nível de exigência mais apertado.
  • Notem que alguns dos jogadores que passaram pelo FC Porto B (em 2005/2006, isto é) e prosseguiram a sua carreira no estrangeiro conseguiram inclusivamente jogar em divisões superiores às que alguma vez tinham conseguido em Portugal (casos indicados a negrito na penúltima coluna). Isto deve querer dizer alguma coisa mas temo que não seja aquilo que todos gostávamos que dissesse.
  • Só três jogadores são actualmente jogadores sem contrato (31 de Maio de 2012) o que dá um índice de desemprego de 9.6%. Afinal a escola é mesmo útil para se arranjar emprego.
  • Nuno Coelho e André Leão na mesma equipa. Só tenho pena do meio-campo da equipa adversária.
  • Helder Barbosa, Bruno Gama e Vieirinha no mesmo plantel. Qualquer um deles podia ter sido melhor aproveitado no plantel principal. Havia meia dúzia de problemas que os impediram de o fazer. Um deles chamava-se Ricardo Quaresma e secou tudo o que aparecia perto dele. O outro, como de costume, foram os adeptos…mas deixo essa para outro dia.
Link:

Baías e Baronis 2011/2012 – O treinador

Como corolário lógico, a análise ao treinador:


VÍTOR PEREIRA

A primeira temporada de Vitor Pereira ao comando do FC Porto foi cheia, foi longa, foi dura. Parecia impossível um defeso começar tão rijo, continuar tão tranquilo até terminar tão anti-climático. Afinal saem dois jogadores, um vital, outro nem por isso. E Vitor, ex-segunda liga, ex-segundo, ex-subalterno, é empurrado para a frente com a confiança da direcção e a desconfiança dos adeptos. E as coisas começaram mal por culpa de todos. Jogadores, apoiantes, o próprio Vitor incapaz de lidar com um plantel gordo de conquistas e obeso de ego. Desconfiava-se de tudo e de todos, porque os rapazes não corriam, a alma não era a mesma e a vontade não estava ali. Não me juntei à turba com as forquilhas em riste. Critiquei e muito, como acho ser o meu dever. Mas nunca recorri à humilhação pública que tanto portista ousou fazer passar das goelas para fora e hoje orgulho-me disso. “O problema que Vitor Pereira enfrenta é complicado e estes últimos dois jogos serviram para perder mais algum capital de confiança perante muitos sócios que ainda aqui há uns meses viram a equipa a jogar como raramente tinham visto nos últimos anos e só pensam: “Mas só saiu o Falcao e o Villas-boas, que mais pode ter mudado?”…e vão-lhe começar a apontar o dedo. É um selo difícil de tirar e as vitórias terão de começar a aparecer rapidamente, caso contrário a vida pode começar a ser muito difícil para o treinador do FC Porto.“, disse contra o Benfica. Porque Vitor Pereira era exactamente aquilo que se via: trabalhador, honesto, pouco mediático, sem pachorra para holofotes, para homilias em frente ao microfone da sala de imprensa. Não era um Mourinho que ali via de fato-de-treino na relva do Olival. Era um homem simples, sem hábitos caros, sem vida pública e exposta, sem chama mas sem falsidade. E a equipa sentiu isso, os jogadores sentiram isso e perderam a fé durante meses. Vitor foi incapaz de pegar na amálgama de nações e feitios e convertê-los na máquina que há poucos meses se via a calcorrear os estádios da Europa e a humilhar equipa atrás de boa equipa. Falhou. E eu, ainda desaminado, quis acreditar do alto da minha eterna e ingénua fé à Padre Américo que não há rapazes maus e que Luke vencerá sempre Vader mesmo que Vader esteja dentro de portas. E Vitor Pereira levantou-se. Num épico e eterno jogo na Luz, quando arranca uma vitória que poucos esperavam mas sustentada numa exibição de garra, de força, de vida portista como há tanto tempo não se via. Porque levou adeptos a pontapear cadeiras em restaurantes, a gritar até as vozes fugirem para longe, a viver o clube que amam e do qual nunca desistem. Como Vitor fez. Um amigo disse-me que a partir daquele jogo na Luz nunca mais perdíamos para o campeonato. Acertou. Nessa incrível partida disse: “Cinquenta e oito minutos de jogo. Olho para a televisão e não acredito: sai Rolando, entra James. Em conversa com um amigo disse-lhe repetidamente que James não era a melhor escolha, que ainda não me parecia que tivesse fibra para estes jogos, que não ia resultar. E o demente do nosso treinador, quiçá possuído do espírito Adriaansiano, toca de enfiar Djalma a defesa-direito e James na frente por trás de Janko. Loucura, pensei. O homem está a arriscar a carreira em dois números que enviou ao quarto árbitro. E fê-lo, com uma coragem tão férrea como a Ponte D.Luiz, e ganhou. E a substituição de Moutinho, que adivinhei por ser mais que esperada, ainda mais risco trouxe, porque mostrou ao Benfica: “Estão a ver isto? É para ganhar, amigos, nós estamos aqui para ganhar o jogo!”. E o golo aparece. Vitor Pereira grita. Eu também. E respeito a força de vontade, a resolução granítica de pugnar pela vitória. Eu não teria tido a coragem de fazer a primeira substituição, quanto mais a segunda. Ele teve. E é por isso que lá está. Parabéns, Vitor.“. E Vitor Pereira soube aprender com os erros, mantendo-se firme na convicção e pondo a mão por baixo dos jogadores tal como a direcção soube pôr a mão por baixo dele, ajudando-o em Janeiro a reequilibrar as contas da casa com saídas exigidas e necessárias (se bem que a ausência de alternativas no meio-campo podia ter sido mais penalizadora) e a chegada de alguns elementos fundamentais como Lucho, Janko e…Paulinho para o banco. Vitor agarrou a equipa e fez dela o que teve de ser: trabalhadora e empenhada quando desinspirada e acima de tudo eficaz. Com todo o mérito.

Não podia haver melhor altura para fazer esta análise. Mesmo no dia seguinte a uma das melhores entrevistas que me lembro de ler de um corrente treinador do FC Porto (Zé Luís lembrou Jesualdo e Villas-Boas pela negativa mas eu recordo uma excelente conversa de Fernando Santos, creio que ao JN, na altura da polémica segunda temporada), com uma honestidade invulgar e uma candura sem vícios, sem as prepotências tão alvissaradas pelos media deste país, ávidos pelo sangue do diz-que-disse e do nojento bate-boca. Vitor Pereira, campeão na primeira temporada, falou de tudo que quis e de todos pelo todo, com poucos nomes e muitos conceitos, a dar o braço ao torno sem esquecer os méritos que o grupo lhe deu e que ele próprio soube retribuir. Porque esta primeira temporada foi cheia, foi longa, foi dura. E no fim, foi dele.

Momento Baía: Sem a mais pequeníssima das pequeníssimas dúvidas: a vitória na Luz. Não só pelo que significou para a equipa e para os adeptos pelo resultado obtido em casa do então líder do campeonato, mas principalmente pela forma como lá chegou e pela influência que Vitor Pereira teve a partir do banco. A atitude “winner takes it all” foi essencial e foi o fim do mito que o treinador não aguentava até ao final da temporada. Até podia não ter sido campeão, mas tinha vincado uma imagem perante os adeptos que era mais do que até lá tinha mostrado ser. Com tomates de ferro.

Momento Baroni: Houve vários momentos bastante maus. Muito, muito maus, e Vitor Pereira tem a noção perfeita disso. A derrota em Coimbra para a Taça foi humilhante. A derrota em Manchester foi muito má, especialmente pelos números, bem como a derrota em Barcelos apesar das condicionantes da arbitragem. Empates contra Feirenese e Olhanense…frustrantes. Mas dois desses momentos foram particularmente baronizantes na época de Vitor Pereira: a derrota com o APOEL em Chipre e com o Zenit em São Petersburgo. Ambos deixaram evidentes lacunas de organização em campo, de solidariedade entre colegas e um espírito de desunião a que foi penoso assistir.

Nota final 2011/2012: BAÍA

Link:

Adios, gordito!

Boa sorte, miúdo. Que produzas mais do que fizeste por cá. E vê se perdes uns quilinhos.

PS: Depois da descolombiização, chega a altura do desuruguaiamento. Fica já aqui a aposta que, pela primeira vez desde 2005/2006, o FC Porto não vai ter um único uruguaio no plantel principal de futebol.

Just sayin’.

Link: