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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 0 Feirense

 

Posso dizer que sou uma pessoa resignada. Contento-me com pouco quando comparado com muitos outros, que anseiam por grandes emoções e aventuras, vida de rico, fama e seiscentas mulheres a untarem-lhes o poste por turnos. Mas o que tenho é muito bom e gosto do que tenho. Sou feliz com o que tenho. E quando vou ao Dragão para ver um jogo do FC Porto, gosto de sair de lá a pensar: “Ah, mas que belo espectáculo que presenciei. Sou um felizardo!”. E lá, pelo menos lá, não me resigno a pouco. Grito, incentivo, aplaudo, sofro, gemo, salto. Só há um problema que normalmente atira com alcatrão para a minha salada de frutas: quando vejo que os jogadores não estão com o mesmo espírito, fico frustrado. Quando os vejo tristes, nervosos, sem confiança, sem força, sem inteligência, só me apetece saltar lá para dentro, abaná-los e dizer-lhes ao ouvido: “Ouve lá, mas tu não sabes o que vales? Não percebes o talento que tens? Corre, caralho, corre!!!”. E pronto. Hoje foi um desses dias. Siga para as notas:

 

(+) Maicon Foi o melhor em campo com alguma margem de distância para os colegas. Sóbrio na defesa, rápido na intercepção e forte no contacto físico com a bisarma que veio da Feira para a relva do Dragão. Acaba por ser notável perceber que Maicon parece mais inteligente que Rolando quando tem a bola nos pés, é mais preciso nos passes longos e joga com uma aparente calma que deveria contagiar os colegas e impedir a estupidez em que muitos insistem em mostrar a toda a gente. O golo (que eu adivinhei num momento de raríssima presciência) acabou por mostrar que Maicon é sem dúvida o homem mais perigoso do FC Porto nas bolas aéreas, mais até que Janko.

(+) As substituições na segunda parte Vitor Pereira esteve bem no banco. Não sei o que se passou ao intervalo mas a equipa pareceu mais viva, com mais fé e mais interesse em conseguir o golo que limpasse a imagem dos primeiros 45 minutos. E a forma como mexeu na equipa foi simples, prática, sem invenções, sem alterações tácticas profundas e apenas com bom senso, gestão de esforço e objectivos práticos. Precisamos de explorar o flanco e aproveitar a superioridade numérica? Sai Sapu e entra Djalma. Moutinho estava estourado? Sai, entra Defour. Simples. Fácil. Produtivo.

(+) Paulo Lopes Só me urge fazer uma pergunta: há algum cientista louco num castelo abandonado que numa noite de tempestade tenha inventado uma espécie de íman para couro? Parafraseando Queiroz: “E se fosses defender para a c*** da tua mãe?”.

 

(-) O cagaço Compreendo que estejam cansados, nervosos, ansiosos. A pressão aumenta e se havia pouca margem para falhas antes do Benfica deitar cinco pontos pela janela fora, agora então há uma espécie de limbo com navalhas por baixo do qual todos os jogadores querem passar incólumes. Ninguém queria tomar as decisões difíceis, todos passavam a bola para o lado e para trás, para o lado e para trás…até chegar a Helton. A sensação que passava para o público era simples e evidente: nenhum jogador do FC Porto queria ganhar o jogo. O medo era tal que os passes de ruptura nunca surgiam mesmo quando o nosso pobre defesa direito romeno aparecia a voar pelo flanco pronto para receber a bola e cruzar para a área. Hulk não rematava e só passava (mal). Moutinho não passava, ponto. Lucho fazia tabelinhas para o mesmo jogador e para trás. Álvaro, distraído e sem vontade de arriscar, chegava ao meio-campo e parava. Uma severa falta daquela positiva arrogância de campeão entorpeceu-nos as pernas, matou-nos o espírito e enervou os adeptos. Os jogadores do FC Porto insistem em não arrastar os adeptos para perto deles. Gostava muito que me explicassem porquê.

(-) James versus Djalma Quando James entrou em campo o jogo estava ainda a arrancar. Varela acabava de sair lesionado e não havia necessidade de alterar o esquema táctico por isso o colombiano parecia a escolha óbvia. E James entrou lento, pachorrento, distraído, sem força, sem garra. Ao nível dos colegas, portanto. “Mas, Jorge, como podes dizer isso se o homem esteve nos dois lances dos golos? Estás a ser injusto!”. Não estou nada. James foi uma nódoa no jogo todo e se o cruzamento para o primeiro golo é bom, o segundo golo é uma parvoíce de um falhanço que não se admite e teve um choureco monumental em ter marcado golo nesse lance. O resto do jogo foi uma sequência de bolas perdidas, passes maus e falhas de concentração. Djalma, pelo contrário, entrou com força, com garra, vivo, mexido, com vontade de jogar e de mostrar serviço. É mais fraco, menos talentoso e mais trapalhão que James. Mas neste momento da época dá mais jeito ter Djalmas que James. Pelo menos naquele estado. Aceitam-se comentários contraditórios, como é evidente.

(-) A lesão de Varela É óbvio que não vou bater no moço por se ter lesionado. Não sou sádico a esse ponto. Mas o que não admito é que o jogador seja tolo ao ponto de se manter em campo e deslocar-se a passo de um caracol paraplégico a caminho do banco de suplentes com o jogo a decorrer. Não aguenta, senta-se, cai, grita, pede assistência. Mas depois de 15 minutos em que só fez trampa em campo, aquela atitude deixou-me possuído. Dito isto, as melhoras, Silvestre. E livra-te de fazeres outra do género.

 

Vinte jornadas decorridas e estamos de novo na luta. O último terço do campeonato vai-nos espremer o plantel até ao tutaninho e todos os jogadores precisam de estar no topo de forma para conseguirmos alguns dos objectivos que ainda estão ao nosso alcance. Ou seja, dois. E na sexta-feira podemos acabar com um dos objectivos antes sequer de começar a pensar no outro. Com a moral dos jogadores no fundo de um poço e os níveis de confiança ao nível de um geek no primeiro dia de liceu num bairro de mânfios…vai ser um jogo difícil. Oh se vai. Venha ele.

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Baías e Baronis – Manchester City 4 vs 0 FC Porto

 

foto retirada de maisfutebol.pt

Foi uma espécie de jogo de gato e rato. Adaptando a metáfora, convém dizer que o gato era um tigre daqueles grandalhões, cheios de força e pujança física mesmo depois de acabarem um saboroso repasto, que mantiveram um tipo de rato esfomeado que usava as pequenas unhas para tentar arranhar o potente felino, ficando quase sempre longe de fazer um mínimo arranhão na pele do adversário. O gato…tigre, perdão, deixou o rato lutar, cansar-se, trabalhar como uma lenta cigarra desde o início e enfiou-lhe uma manápula no lombo logo no arranque da brincadeira. Mas o ratito, com mais força que todos os outros ratos com quem habitualmente passa os tempos, olhava de baixo para o tigre e espreitava o melhor sítio para lhe procurar as falhas. Não havia. O tigre deixou-se estar dentro da jaula com a chave na porta, até que se fartou e investiu. Duas. Três. Quatro vezes. E o rato recuou, exausto. Tinha feito o que podia. Não chegou, nunca chegaria. Vamos às notas:

 

(+) Vontade apesar da incapacidade Um golo aos vinte segundos é uma traulitada nas têmporas que ninguém merece. Talvez Otamendi, pela estupidez (já bastante repetida, infelizmente) do passe de ruptura quando os colegas da defesa estão mal colocados, mas o argentino levou o pagamento pela parvoíce na forma de uma patada de um colega. Teve azar, nas duas situações. Mas ninguém notou que tínhamos sofrido o golo e mesmo com a permissividade do City ao deixar-nos organizar o jogo como queríamos e apesar das situações de golo terem sido poucas e sem grande perigo, a verdade é que pegamos no jogo. Aos trambolhões, com a lentidão que as equipas portuguesas insistem em não querer mudar especialmente quando lutam contra britânicos, mas a bola estava nos nossos pés. E tivéssemos tido alguma sorte no jogo e uma bolinha lá tivesse entrado na baliza do albino titular da Inglaterra e a história podia ter sido diferente. Gostei de James, a recuar para vir buscar a bola. Gostei de Alex Sandro e Varela, a usarem bem o overlap pelo flanco esquerdo. Gostei de Moutinho e Lucho, que rodavam a bola de um lado para o outro à procura de espaços para furar. Gostei de Fernando, a tapar. Gostei de Maicon a aliviar. Gostei, pronto. Deram-me esperança, ténue, mas umas raspas de fé que era tão curta e tão necessária. Não foi esplêndido, não foi brilhante. Mas foi esforçado.

(+) Hulk É muito fácil, cada vez mais fácil culpar Hulk pelos maus resultados. E já houve jogos em que a insistência do brasileiro nos tramou as chances de podermos conseguir golos ou melhores exibições. Mas é penoso ver o rapaz a receber a bola com quarenta oponentes pela frente sem ter nenhum colega para o apoio rápido, nem que seja para lhe retornar a bola quando estiver numa situação impossível de transpôr. Maicon ou qualquer um dos laterais direitos TÊM de aparecer perto dele para que possam receber o esférico quando o rapaz não consegue furar pelas barreiras do adversário e como raramente acontece lá vai o moço como um tolinho a tentar desfazer os defesas. Ora quando os defesas são bons ou têm bom apoio…nada a fazer. Hoje lutou, tentou, rematou…mas não conseguiu melhor. Inúteis também os cruzamentos quase rasteiros para a pequena área quando não havia ninguém para empurrar para a baliza. Pois. Mas a culpa não é dele.

(+) Fernando Pouco mais há a dizer sobre uma nova excelente exibição de Fernando. Acho que posso afirmar com alguma certeza que é a última temporada do rapaz no FC Porto, porque é muito complicado manter no nosso campeonato um dos melhores jogadores do mundo naquela posição. Muito bem.

 

(-) Lentidão e falta de poder de choque Compreendo que Touré, Richards, Kompany e Lescott sejam grandes. Feios. Brutos. Rijos. Altos. Homens, pronto. Não me custa compreender como é que grande parte dos duelos que se travam entre os nossos jogadores e estas montanhas de granito tendam a ser vencidos pelos canastrões. Mas o que me desafia os poucos neurónios é que o mesmo acontece quando está Nasri, Silva, Aguero ou Clichy em vez de qualquer um daqueles nomes de cima. A velocidade de execução é baixa, sabemos disso e até podemos tirar partido disso, transmitindo uma espécie de falsa calma que se pode alternar com bons passes a desmarcar os jogadores mais rápidos do ataque (Hulk, portanto), mas a incapacidade de lutar no um-contra-um é assustadora. Veja-se o exemplo do Braga, com jogadores que têm capacidades físicas sensivelmente iguais às nossas…mas que diabo, os rapazes parecem ser mais lutadores. Conformismo ou fraqueza mental? Deixo-vos decidir.

(-) Ingenuidades Um dos mais invulgares e inesperados happenings é a ingenuidade de alguns jogadores do FC Porto em 2011/2012. Hulk cai demais, Otamendi falha passes parvos, Rolando reclama demais, Varela parece tratar a bola como um paralelo de calçada aos saltos. E o miúdo Alex Sandro, apesar do bom jogo, voltou a exibir algumas inconsistências mentais que não podem acontecer a este nível. Perdemos, é verdade, mas a quantidade de bolas que desperdiçamos com passes inconsequentes, maus domínios de bola e desorganização estrutural é abismal e não se entende.

 

Foi-se. Defender o troféu acabou por ser um gigantesco sonho que foi arrasado por uma excelente equipa inglesa de nome e universal em talento. Não tendo caído de pé mas a cambalear, a chamada à razão de todos os que não acreditavam que seria possível ir a Manchester vencer o jogo acaba por ser a pedra mais pesada do cinismo da realidade que é habitualmente contrariada pelos sonhadores como eu, que se dignam a ver os jogos do FC Porto até ao fim. Mesmo com quatro na pá. É isto, meus amigos, é aguentar os gozos dos moços que apoiam os outros clubes, sorrir e voltar ao combate. E reafirmo o que disse ontem: não me custa perder por quatro. Fiquei com a noção evidente que os rapazes tentaram. Só que não conseguiram o objectivo com um misto de mérito adversário e demérito próprio. Fizeram por isso. Palmas.

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Baías e Baronis – Vitória Setúbal 1 vs 3 FC Porto

 

foto retirada de desporto.sapo.pt

Tenho uma passadeira em casa. Daquelas que as pessoas põem na cozinha para não escorregarem com salpicos de óleo ou vinho foleiro e que tem sempre um ar de terem sido feitas de desperdícios encontradas no chão de uma oficina de mecânicos. E a passadeira é prática, razoavelmente limpa e simples. Não emana charme, não dá bom aspecto à sala e parece ainda mais foleira quando vista à luz do luar que entra pela janela da lavandaria. Não gosto da passadeira. É uma merda aquela passadeira. Apetece-me mudar a passadeira. A passadeira, no fundo, faz o trabalho para que está desenhada. Mas não mais que isso. Não me entusiasma, não me faz querer entrar na divisão onde permanece e ficar a olhar para ela durante noventa minutos e só me apetece pegar na passadeira e mudar de passadeira. Acima de tudo, apetece-me deixar de dizer “passadeira”. Enfim. Vamos a notas:

 

(+) O regresso de Sapunaru Absolut Sapunaru is back, y’all! Admito que me dá uma certa nostalgia ver o romeno no lado direito da nossa defesa, com memórias de Dublin a virem rapidamente ao de cima. Não é um génio táctico e acaba por falhar várias aproximações técnicas ao adversário que lhe aparece pela frente mas normalmente acaba por compensar a falha com inteligência. Mas as subidas no terreno parecem mais fáceis, as incursões pela lateral são mais intuitivas que com Maicon que é esforçado mas falta-lhe a notória impulsividade que um lateral tem e um central acaba sempre por ter em falta. Acima de tudo é uma boa notícia perceber que está de volta e mesmo a tempo de substituir Danilo para o jogo contra o Benfica. Em alternativa pode ser que rebente os joelhos ao Nasri na quarta-feira, só para mostrar quem é que manda. É menino para isso.

(+) João Moutinho Esteve bem hoje, mesmo jogando ao lado de Fernando. Os passes saíam quase sempre simples e práticos muito embora os colegas conseguissem estragar quase sempre a jogada que o João começava com inteligência e tranquilidade. É diferente vê-lo a começar a construção ofensiva tão recuado no terreno e a ter de percorrer tanta relva para chegar a uma posição em que possa ajudar na finalização, mas a verdade é que consegue e serve como apoio defensivo quando a equipa está tradicionalmente com 3 jogadores atrás da linha da bola. Gostei de o ver e saiu na altura certa para descansar.

(+) O primeiro golo Simples. Simples. Simples. Custa muito?

(+) O golo de Fernando Já merecia um golinho o nosso Nandinho. E o golo foi mostra de excelente entendimento e da maneira como Fernando também sabe subir no terreno depois de recuperar uma bola a meio-campo. Se fizesse este tipo de rupturas mais algumas vezes e marcasse mais golos…provavelmente não tinha estado hoje no Bonfim a jogar pelo FC Porto.

 

(-) Passividade Otamendi tenta fintar três adversários à saída da própria grande-área, perde a bola e faz falta que dá um livre potencialmente perigoso; Alex Sandro protege a bola com a força de um kiwi maduro e a bola é-lhe tirada várias vezes por Targino ou qualquer um dos outros jogadores execráveis do Setúbal (é curioso que de quatro defesas consigo detestar três: Miguelito, Ney e Ricardo Silva); Lucho tropeça no meio-campo em trocas de bola num espaço de quatro metros quadrados; Rolando pontapeia bolas para o ar como se estivesse na Praça da República e tivesse uma aversão a pombos; Varela controla a bola com todas as partes do corpo menos os pés e perde-a na jogada seguinte para duas marmotas e um setubalense; Hulk…finta e perde, finta e perde, finta, cai e perde. A passividade que vi hoje no FC Porto tem dois motivos óbvios: o jogo na quarta-feira contra o Manchester e o cansaço do jogo da passada quinta-feira. Mas o motivo principal não é esse. É o alheamento do jogo, o desinteresse da competição, a falta de vontade de jogar. “Going through the motions”, como dizem os angleses. E é estupidamente frustrante.

(-) Arbitragem Um escroto, este Paulo Baptista. Se conseguíssemos juntar num árbitro tudo que há de mau de todos os árbitros portugueses, teria a arrogância de Proença, a falta de visão de Lucílio, a cara de parvo do Bruno Paixão e a capacidade de apitar a todos os lances onde há um mínimo de contacto entre os jogadores. É evidente que os rapazes que estão na relva não se mostram preocupados quando se sentem pressionados porque sabem que se gritarem bem alto e caírem para o chão, nem precisam de simular que foram agredidos por um disco de ferro no funny-bone para que a bestinha marque falta. E hoje foi mais um desses anormais que apareceu em Setúbal com licença para apitar. Esqueçam os foras-de-jogo mal marcados e as tecnologias para ver se a bola entrou na baliza ou não. Estas arbitragens é que estão a matar o jogo em Portugal.

 

Das poucas vantagens que tirei do jogo foi o facto de não ter ouvido os comentários na segunda parte do jogo. Passei o tempo a correr na passadeira lá de casa (uma passadeira diferente da de cima) e o constante zusssh causado pelos tradicionais 12 km/h a que zarpava pelo tapete…talvez fossem 10…ou 8…e aproveitei para multi-tascar durante quarenta e cinco dos noventa minutos de gigantesco bocejo no Bonfim. Já sei que estes jogos entre competições europeias não podem ser vistos à mesma luz que a maior parte dos outros, mas depois de uma noite como a da passada quinta-feira estava a precisar de uma injecção de alegria futebolística pelos moçoilos que defendem as cores da minha equipa. Não a tive. E temo que na próxima quarta, em Manchester, também não a vá receber.

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Ouve lá ó Mister – Vitória Setúbal


Amigo Vítor,

Ahhhh…estou cansado. Aquele jogo de quinta-feira deixou-me cansado, Vitor, por isso nem imagino como hás-de estar tu depois daqueles 45 minutos de bom futebol e do resto do tempo que foi qualquer coisa perto de futebol mas não muito. Assim como um bife de soja. É, mas não é. E na quinta, assim foi. Não quero ver mais daquilo, Vitor, o meu pobre coração não aguenta, pá. Fico triste, melancólico, começo a responder mal às pessoas, durmo torto, acordo com uma disposição de arrancar cabelos à machadada e detesto isso. E hoje podes fazer com que a minha moral suba um bocadinho.

Ainda há umas semanas fui ao Dragão ver o Setúbal para a Taça da Jola. Sim, aquela parvoíce de jogo em que fecharam as bancadas de cima e me obrigaram a ir para perto do túnel de acesso e mesmo em cima do relvado, mas fui na mesma. E vi o FC Porto a fazer um jogo de treino e bati muitas palmas ao Lucho e ao Janko e foi uma alegria. Mas este é a sério, já conta para coisas importantes e temos de o ganhar. Não há desculpas, não quero saber o que vais fazer com os jogadores na palestra ou ao intervalo ou lá quando é que lhes dizes as coisas que dizes, mas a probabilidade de sairmos do Bonfim sem pontos tem de ser a mesma do Berlusconi dizer a uma gaja boa de 17 anos que não a quer papar: zero.

Não há Álvaro? Há Alex Sandro. Não há Danilo? Tens o Sapu ou o Maicon. Não tens o Hulk em forma? Põe-no ao banco. Não há equipamentos lavados? Usa os de semana passada. A bola está furada? Manda vir outra. Não há desculpas. Não pode haver.

Sou quem sabes,
Jorge

 

APOSTAS PARA HOJE NA DHOZE:

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 2 Manchester City

 

O ambiente prometia. Fiz o percurso do costume, carro, Bom Dia, café, “obrigado, vamos ver se corre bem!”, montes de gente em frente ao Café Estádio, como nos bons tempos do antigamente em que subia Fernão de Magalhães a pé a caminho das Antas. A noite, fria mas mais amena que nos últimos tempos, parecia trazer calor para uma atmosfera que se queria tão quente no exterior como na relva. O meu pai, amuleto de sorte em jogos grandes, ao meu lado. Fogo de artifício antes do jogo, tensão nas bancadas, pressão para fora, barrigas para dentro, siga a bola. Primeira parte forte, dinâmica, viva, nervosa, rija, boa. Bom resultado ao intervalo, “agora é aguentar, mais um golinho era bom, se conseguirmos aguentar o reinício, foi pena o Danilo, é empurrá-los para trás e não os deixar ter a bola, o Balotelli é um merdas”. E depois, o golo. E os ídolos azuis e brancos provincianizam-se, tremem, prostram-se, caem. Os passes saem tortos, as desmarcações desaparecem, a disputa dos lances pende para os mancunianos. Braços caídos, olhar em baixo, queixo no chão, calo-me. Não havia mais nada a dizer. Desistimos. Perdemos. Notas abaixo:

 

(+) Fernando Dos poucos que nunca desistiu, mesmo depois da estúpida conjugação de azares que o fez ocupar três posições durante um só jogo. Começou a trinco, onde patrulhou os espaços entre Touré e Silva. Não gosto de o ver com Moutinho ao lado mas funcionou durante 45 minutos e teria funcionado mais se o colega do lado e os outros colegas todos não tivessem abanado de tal maneira com o auto-golo do Palito. Baixou para central, rodou para a lateral direita, e tentou. Tentou sempre, com e sem cabeça, lutou e usou o corpo quando pôde e o anormal do árbitro turco permitiu e quando não o permitia mostrava a indignação dos guerreiros. Não mereceu o resultado.

(+) Maicon Começou muito mal. Muito, mas muito mal. Com hesitações parvas, incongruências posicionais, num regresso a 2010 que me enervou lá no fundo. Com a saída de Danilo voltou à lateral e melhorou. Cresceu perante Clichy e Nasri e não subiu mais porque os dois franceses faziam questão de lançar a grande maioria dos ataques do City e impediam que o nosso careca conseguisse ajudar mais o ataque. Voltou para central depois da saída de Mangala e juntou-se aos colegas no desalento mas foi dos menos maus.

(+) O lance do golo Era tão simples. Hulk, Lucho, Hulk, Varela, golo. Simples. Jogar ao primeiro toque quando a situação o exige traz uma dimensão prática ao futebol que pode ser rendilhado durante 10 minutos antes de uma oportunidade destas aparecer, mas quando surge, é desta maneira que tem de ser tratada. Foi pena não terem conseguido criar mais destas durante o resto do jogo.

(+) A capacidade técnica dos jogadores do Manchester City Um exemplo muito simples do que é talento no futebol moderno foi dado hoje pelo Manchester City no relvado do Dragão, aí pelo meio da segunda parte. Rolando tenta passar uma bola para Maicon, torta, pelo ar, aos saltos, e Maicon roda para Fernando, que trata o esférico como uma granada sem cavilha. A bola salta, fere ao mais pequeno toque, ganha vida e vai parar a De Jong. O holandês, calmamente, coloca-a no piso. Firme, parada. Roda para Touré, que passa de novo a De Jong, Nasri, Silva, Barry, Silva, De Jong, Touré e Lescott e já está do outro lado. Tudo ao primeiro toque, ainda que me possa ter enganado nos jogadores. Perfeito. Não houve uma…UMA vez que tivéssemos conseguido uma peladinha acidental daquele nível durante todo o jogo. Atrevo-me a dizer durante toda a época.

 

(-) A avassaladora angústia do desânimo Depois de uma boa primeira parte esperava-se que a equipa mantivesse o ritmo. Não conseguiu por mérito do City, que pegou na bola e começou a rodá-la entre aquele talento de preto e vermelho a que eles chamam “meio-campo”. As linhas desceram, a pressão desapareceu e os jogadores começaram a duvidar. Num ápice passaram várias imagens rápidas pelos meus olhos. Vi Chipre, vi São Petersburgo, vi Coimbra. Vi a bola longe dos nossos homens, a tremideira a aparecer, a desconfiança, a bola para o ar e o pontapé para a frente. E o golo foi um murro no abdómen. O FC Porto transfigurou-se e transformou-se num humilde subalterno, como um empregado de escritório a quem o chefe manda fazer todas as tarefas que os outros se recusam a fazer. E o pobre coitado lá vai, cabisbaixo, a uma bala do fim. As pernas aguentavam mas a cabeça estava longe, no fundo de um poço sem iluminação, e os nervos subiram de tal forma que deixei de perceber o que se passava. O empate parecia um bom resultado, mas o público pressionava e eles tremiam ainda mais e o segundo golo tornou-se impossível de aguentar. Tristes na bancada e mais tristes no campo, enquanto ouviam os cânticos dos eufóricos bêbedos anglicanos. Dói.

(-) Vitor Pereira e as substituições tardias A equipa estava de rastos e Vitor não mexia. Varela continuava a tentar tapar o flanco sem conseguir e falhava na transição com tão pouca velocidade que fazia uma tartaruga parecer o Usaín Bolt. Hulk brincava em campo, como se ao décimo toque de calcanhar conseguisse finalmente endossar a bola em boas condições para o lateral que nunca lá esteve. E Vitor não mexia. Lucho e Moutinho, cansados, fracos, tristes. James, desaparecido, lento, sem vida. E Vitor não mexia. É uma boa avaliação de um treinador perceber a forma como reage para tentar animar o jogo da sua equipa quando as coisas correm mal. Os loucos gastam as substituições todas aos 20 minutos, como o Oliveira. Os mais loucos esperam até aos 88 minutos como Robson e enfiam um defesa central a jogar na área contrária. Os indecisos, como Vitor Pereira, não querem tomar a iniciativa e esperam com fé inabalável que os zombies que lá estão dentro subitamente ganhem forças de outra dimensão e elevem o nível. E esta elevação acontece uma vez de cinco em cinco anos. A última vez que me lembro de o ver, Lisandro tinha acabado de marcar contra o Schalke. E já foi há uns anos.

 

Saí do estádio contagiado pelos jogadores mas com uma aura negra à volta. Ia como um barril de pólvora forrado a parka a subir a alameda, a disparatar contra os jogadores, a questionar a mentalidade de falhanço, a incongruência do detentor do troféu se colocar em papel secundário perante um novo-rico da bola mundial. Não explodi. Acalmei-me, entrei no carro e desliguei o rádio. Ouvi música. A derrota bateu cá no fundo e a forma como aconteceu foi muito pior que o resultado. Porque não me matava perder um jogo contra o Manchester City com a quantidade de talento que eles tem ao dispôr. O que me incomoda é perder antes de tentar ganhar. E é muito mais doloroso.

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