Porta19 entrevista o Mais Beira-Mar

Continuando a saga das entrevistas, desta vez assumi o microfone virtual e dirigi-me a Aveiro, terra de onde vem a próxima equipa que se desloca ao Dragão com a vontade de nos roubar pontos mesmo na soleira da nossa porta. A audácia desta gente! Assim sendo, a simpática malta do Mais Beira-Mar aceitou o convite e responde às perguntas que lhes coloquei, no mesmo formato de todas as anteriores entrevistas a bloggers dedicados à sua causa. Vamos a isso:

 

Porta19: O Beira-Mar não parece ter mudado muito desde o ano passado, para lá da saída de um ou outro titular. Esperam uma temporada tranquila?

Mais Beira-Mar: Cumpre, desde já,salientar um aspecto. De facto, neste defeso, comparando com o anterior, tivemos menos movimentações, tanto ao nível de entradas como de saídas.

Mas em termos do 11 titular, saíram 4 jogadores fundamentais: Yohan (defesa central seguro e regular), Nuno Coelho (médio defensivo, que equibrava a equipa no momento defensivo), Zhang (jogador polivalente de grande utilidade) e Artur (médio ofensivo preponderante na manobra atacante da equipa).

Infelizmente, a maioria dos jogadores referidos não tem substituto à altura. Sasso (defesa central) ainda não convence. Passivo e pouco agressivo na abordagem aos lances). Fleurival e Collet (ambos médios-centro) prometeram muito na pré-época mas o facto é que caíram de produção neste início de temporada. Acreditamos em Serginho (médio ofensivo) mas neste momento ainda não apresenta a qualidade e regularidade exibicional de Artur.

Pelo que, com este plantel o que esperamos é lutar pela manutenção, o que corresponde ao objectivo principal do Beira-Mar para a presente temporada. Estamos, ainda, preparados para sofrer muito e até às últimas jornadas do campeonato para alcançar tal desiderato, à semelhança do ano passado.

Porta19: A gestão da SAD tem levantado questões importantes, principalmente a partir dos próprios adeptos. Foi ou não uma boa opção a venda aos investidores estrangeiros?

 

Mais Beira-Mar: Bem… em abstracto a vinda de investidores estrangeiros para o futebol português não é má, ainda por cima, na actual conjuntura econónico-financeira.

O problema foi o caso concreto do Beira-Mar. Majid Pishyar ajudou o clube a terminar a época de 2010/2011. Para ganhar o “negócio”, leia-se constituição da SAD, prometeu este Mundo e outro. Só que, assim que foi constituída a SAD… deixou de investir, faltando ao prometido. Em simultâneo, a direcção do clube não se precaveu devidamente para um eventual cenário de incumprimento, por parte do investidor e actual Presidente da SAD. Resultado: A actual SAD do Beira-Mar caminha rapidamente para a falência, porquanto o investidor recebe 90% de cada transferência e não tem prazo, datas-limite, para investir.

 

Porta19: Treinadores como Ulisses Morais ainda apresentam mais-valias para o nosso campeonato em virtude da experiência ou acabam por ser uma forma de manter o status-quo do passado?

Mais Beira-Mar: Não julgamos os treinadores pelo facto de serem denominados da “nova geração” mas pelo trabalho que desenvolvem. Entendemos que Ulisses Morais é um treinador competente e não podemos esquecer que melhorou o rendimento da equipa na recta final do campeonato transacto. É muito melhor do que Rui Bento. Neste momento, parece algo “perdido”. Falta alguma coerência nas opções, abordagem aos jogos e não percebemos, ainda, o motivo para algumas apostas, nomeadamente em Sasso. Acreditamos que o treinador vai atingir o objectivo » permanência.

 

Porta19: Há alguma esperança de conseguirmos ver o Municipal de Aveiro com mais cadeiras cheias que vazias? Porque achas que os adeptos se têm afastado do clube?

Mais Beira-Mar: A questão do estádio é polémica e ainda divide a família beiramarense. O estádio está sobredimensionado para a dimensão do clube mas, ao mesmo tempo, a envolvente do EMA carece de estruturas de apoio que poderiam ajudar e muito o Beira-Mar a crescer, seja ao nível de campos de treino, academia ou a nível de equipamentos, estabelecimentos comerciais.

Também não é menos verdade que clube e SAD pouco fazem para chamar os adeptos ao estádio. Damos um exemplo: Este ano o preço do bilhete para sócio subiu mas para o público desceu! As campanhas de marketing são pomposamente anunciadas a cada ano mas no decorrer da temporada não há qualquer trabalho válido palpável. Falta visão e estratégia. Enquanto se mantiver a mentalidade ora existente… não esperamos qualquer melhoria.

Ainda há muto adeptos que defendem o regresso ao estádio antigo, que fica no centro da cidade. O EMA situa-se na periferia e neste momento quem quiser ir para o EMA vindo de Aveiro, pelo caminho “principal” tem de pagar portagem! (questão das SCUT).

Mas atenção: Quando jogam cá algum dos 3 grandes… o Estádio tem boas assistências e nesses jogos ninguém se queixa que o estádio é longe ou têm de pagar isto ou aquilo. É uma questão de motivação e de vontade.

Porta19: Com a imprensa tão tri-polarizada em Portugal, como é que vês o desprezo a que são votadas as equipas de dimensão mais pequena?

Mais Beira-Mar: Já estamos habituados. Nos 3 jornais desportivos… é uma caixinha na página 17 ou 18. Nos programas da TV, só dá 3 grandes. Os resumos dos jogos são a correr e quando defrontamos algum dos grandes… a análise incide sobre este , sendo o pequeno completamente ignorado. Nada vai mudar a este respeito a médio prazo. É uma questão cultura e comercial.

 

Porta19: O Mais Beira-Mar é um dos maiores blogs afectos ao Beira-Mar, focando-se não só no futebol mas também nas outras modalidades do clube. Como é que se conjuga o amor pelo clube com a vida do dia-a-dia?

Mais Beira-Mar: O Mais Beira-Mar é uma equipa foramda por vários elementos. Cada um escreve de acordo com a sua disponibilidade. Incidimos a análise no futebol profissional. As restantes modalidades que acompanhamos são o Basquetebol e o Futsal. Gostaríamos de ir mais longe no acompanhamento das diferentes modalidades e respectivos escalões do clube mas cada vez é mais complicado compatibizar: Trabalho/Estudo com a necessidade de actualização quase diária do blog/site Mais Beira-Mar. A nossa preocupação é informar os sócios/adeptos dos temas que consideramos mais relevantes do Beira-Mar (clube e SAD) e acompanhar “in loco” na medida do possível os jogos mais importantes das modalidades referidas.

 

Porta19: Ainda há esperança para a maioria dos blogs Portugueses de futebol ou a inspiração está a definhar em função das redes sociais e dos fóruns de discussão?

Mais Beira-Mar: Há espaço para todos. O importante é comunicar, chegar às pessoas. Os blogs dos 3 grandes vivem uma realidade diferente dos blogs dedicados aos clubes médios/pequenos. Precisamente pela realidade abordada numa pergunta anterior. O espaço mediático dos 3 grandes é tão grande que os Fóruns resultam na perfeição. Há sempre muita informação para comentar e discutir. Por outro lado, existem muitos blogs sobre os 3 grandes e é difícil marcar a diferença.

Nos clubes mais pequenos, de âmbito regional, há menos volume de informação mediática mas existe mais proximidade, o domínio dos factos é maior, o que permite formar um juízo de valor mais fundamentado sobre os temas em análise. Julgamos que esta realidade favorece o formato blog.

 


O meu obrigado à malta do Mais Beira-Mar pela disponibilidade e pelo empenho na defesa do seu clube. Houvesse mais como eles!

Outras entrevistas publicadas a bloggers adversários no passado:

Link:

Lucho

Porque não imagino nem quero imaginar o que deve ser perder um pai.

Porque se tal acontecesse, não imagino ter de disputar uma partida de futebol internacional com uma braçadeira de capitão no braço.

Porque se alguma vez um filho meu me perdesse, não lhe desejava a mesma situação que Lucho teve pela frente.

Porque o profissionalismo não devia ser superior ao sentimento, mas aconteceu e foi usado em prol de um ideal que me é comum.

Porque é um homem que sempre mereceu elogios de todos os quadrantes e todas as cores, nunca criando ódios nem apelando à violência.

 

Por isto tudo, Lucho, os meus parabéns. Nenhum portista esquecerá o teu gesto.

Link:

Baías e Baronis – Dínamo Zagreb 0 vs 2 FC Porto

foto retirada do MaisFutebol

Estava invulgarmente nervoso antes de começar o jogo. A ausência permanente de Hulk, a temporária de Fernando, o arranque na Champions e o trânsito de terça-feira pareciam fazer crescer o pessimismo cá dentro, e ao ver o FC Porto a entrar em campo de branco (côr do azar em equipamentos desportivos, por muito que fosse bonita – e era! – a nossa nova indumentária. Mas a forma como o FC Porto mandou no jogo na primeira parte, perante um adversário fraco mas combativo, foi suficiente para me ir acalmando. O golo surgiu com naturalidade depois de alguns ameaços, e não fosse aquele recuo absurdo da equipa no terreno durante a segunda parte e teria passado um bom final de tarde. A vitória é inquestionável e vi bons sinais que podem ser trabalhados para uma equipa pós-Hulk que nos pode vir a dar as alegrias que queremos ter. Uma vitória fora na abertura da Champions. Feels good. Notas abaixo:

 

(+) Defour Com a linha de ataque bastante longe dos homens do meio-campo, Varela encostado à linha e James em terra de ninguém, coube aos médios desempenhar o papel principal. E com Defour em campo, o que perdemos em força e capacidade posicional pela ausência de Fernando, acabamos por ganhar em inteligência com a bola e na rotação da mesma pelos melhores caminhos possíveis. Não escondo que gosto do rapaz e adorei vê-lo a criar jogadas ofensivas com inteligência, funcionando como tampão para as subidas de Moutinho (apagado) e de Lucho (cansado) durante noventa minutos de intensa luta e capacidade física. Marcou o golo que descansou os adeptos e não havia outro em campo que mais tivesse feito para merecer.

(+) Alex Sandro Excelente nas subidas pelo flanco, mais na primeira parte que na segunda, entendeu-se muito bem com qualquer um dos colegas que descaiu para o lado esquerdo, usando-os como muleta para arranques rápidos, agressivos e quase sempre consequentes. Tem de ganhar alguma inteligência competitiva para saber quando deve manter a pressão e quando precisa de recuar para a posição natural, mas a versatilidade, técnica e postura ofensiva fazem dele um titular indiscutível no FC Porto 2012/2013. Só precisa de continuar a melhorar.

(+) Helton Fez o que os grandes guarda-redes têm de fazer: defendeu pouco, mas tudo. E ainda teve duas biqueiradas bem apontadas para a frente que James e Kleber quase o tinham creditado como um dos melhores nas assistências para golo da primeira jornada da Champions.

(+) A atitude de Lucho Soube do falecimento do pai de Lucho apenas depois do jogo, mas não posso deixar de prestar as devidas condolências ao nosso capitão. Não pode ser fácil manter a mente limpa num momento tão difícil e é exactamente aqui que se vê o quão profissional um jogador de futebol tem de ser para conseguir alhear-se do simples facto que antes de tudo, é um homem como qualquer outro, que chora, ri e ama. E Lucho, com o golo que marcou, prestou a homenagem dele ao homem que lhe deu a vida. E também lhe deixo o meu obrigado.

 

(-) O último passe Compreendo a atitude de manter a posse de bola enquanto se espera por um espaço entre as linhas do adversário. Os passes não são particularmente estelares entre os jogadores mais recuados, mas lá se vai conseguindo arrastar o jogo devagar, devagarinho para zonas mais avançadas…até que…entra o proverbial leão mouco em campo e toca de mandar um cruzamento para a bancada ou um passe em profundidade mais fundo que o Kursk. Esta estratégia só pode funcionar a longo prazo se o último passe for, em bom inglês, “with pinpoint accuracy“. Caso contrário vamos ter muitas jogadas bem construídas sem um final condizente.

(-) Bolas paradas A ineficácia voltou. Não que alguma vez tenha estado ausente, mas parece axiomático que o FC Porto não consegue defender um canto sem que haja um surto de explosões miocárdias pelos corações portistas espalhados pelo mundo. É certo que não somos a equipa mais alta da Europa, mas o Barcelona também não é e raramente sofre golos de canto ou treme tanto quando a bola sobrevoa a área. E ano após ano continuamos na mesma. Quanto às bolas paradas ofensivas, é um desperdício constante de livres à entrada da área, cantos a favor, cruzamentos com possível perigo…tudo deitado fora. É uma pena.


Um jogo não é o suficiente para perceber se o estilo está a mudar ou se o que vi foi apenas um momento pontual contra um adversário de tipificação pouco adequada ao que vamos apanhar no resto dos jogos da Champions. Mas vi alguma inteligência na gestão da posse de bola, uma noção certa de quando subir e quando recuar, com uma perspectiva resultadista que não me incomoda em nada neste tipo de competições. É para ganhar, antes de jogar bem, e quem pensar o contrário é um lírico. Três pontos de cada vez. É esse o caminho.

Link:

Ouve lá ó Mister – Dínamo Zagreb


Amigo Vítor,

Há duas coisas que estão aqui entre nós como o proverbial elefante no meio da sala. Uma é verde e grande; a outra ainda não sei o que é, mas sei que vais ser tu que me vais dizer, quer me telefones ou me mandes um e-mail, ou então se decidires mostrar-me em campo, também não te levo a mal. Se ainda não me estás a perceber, que compreendo porque estás com mais coisas na cabeça para estares a ligar ao que raio eu te estou aqui a ganir ao ouvido, quero falar sobre duas coisas: o Hulk e aquele-que-vai-substituir-o-Hulk. Espero que não tenhas ficado muito triste por ele ter saído, mas cheira-me que já devias estar de sobre-aviso. Ainda assim é uma perda grande, até porque lhe deves bem mais que um abraço ou um prato de tremoços com um chouriço assado em aguardente. Deves-lhe, em grande medida, o título de campeão nacional, e sabes disso. Foi em grande parte à custa dele que conseguiste no ano passado conquistar o campeonato, por isso fazes favor de o convidar para uma dourada escalada em tua casa ou no Pescador em Espinho que presumo seja perto da tua casa. Vá lá, ele merece. E agora, vamos ao segundo tema.

Este jogo, tendo em conta o facto de já não poderes escolher o Hulk como opção para o ataque, acaba por fazer subir mais um grau de importância ao nosso jogo de estreia na Champions’ League 2012/2013. Lembras-te no ano passado como é que correu esta porcaria? Lembras-te? Lembras-te do jogo em Donetsk? E do APOEL no Dragão? É que foi sempre o Hulk que nos salvou o coiro nos momentos difíceis, para não falar de vários jogos do campeonato, que agora não interessa para ninguém. Hoje dás o primeiro passo sem Hulk, como um menino a quem tiraram as rodinhas da bicicleta e lançaram a descer a estrada da Senhora da Graça. Não há lugar a hesitações, é altura de escolheres as peças que vais pôr no tabuleiro e avançar com o cavalo ou com os peões que te apetecer. Dou-te o benefício da dúvida como dei ao Fernandez depois de sair o Deco, ou ao Fernando Santos sem o Jardas. Vida de treinador é fodida, não é?

Força, Vitor. Re-estreia-te em grande!

Sou quem sabes,
Jorge

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Reminiscências dos croatas

A Champions’ é uma competição diferente e podem cantar os louvores de todos os torneios por esse mundo fora, em selecções e equipas, dizer que a Liga aqui do lado é a melhor do Mundo por causa do Messi e do Ronaldo, que a Premiership tem talento e tradição e tretas, tretas. A Champions’ é que conta. É aqui que os grandes se eliminam uns aos outros, em que estilos contrastantes se defrontam e ganha quem mais quer. Ou quem tiver mais “sorte” nas arbitragens, como o Barcelona em 2009. Aham. Moving on. Estamos de volta e já tenho saudades de ouvir o hino, mas parece que ainda vou ter de esperar mais umas semanas, porque arrancamos esta coisa um bocadinho mais longe do Dragão do que gostava.

Tenho algumas memórias destes moços, tanto do jogo em casa como da deslocação a Zagreb. Não fui à Croácia, deixei-me estar por cá porque a vida na altura era académica e havia meia dúzia de contos (em 1998 não havia €uros, meus caros) para gastar em copos e autocarro e pouco mais. Lembro-me de estar na baixa, num jantar com amigos, uma mesa cheia de cervejas numa fria noite de outono na Invicta, enquanto o FC Porto jogava contra este mesmo Dínamo…que na altura se chamava Croácia. Assim como o se o Benfica fosse chamado só Lisboa durante uns anos e voltasse a chamar-se pelo nome da freguesia. Enfim. Vi o jogo junto a portistas, saímos da faculdade depois de uma tarde de aulas e fomo-nos enfiar num tasco ali perto da Praça da República e lembro-me que na nossa baliza estava o cegueta do Kralj, que mais uma vez mostrou todo o talento e golpe de vista porque não se atirava a quase nenhum dos remates dos rapazes. Lembro-me que o relvado era uma miséria, não tão mau como o jogo fora com o Artmedia (do pior que já vi), mas ainda assim digno para ser lavrado. Ainda me lembro de alguns dos nomes que lá jogavam, gajos como o Sokota ou o Maric que também passaram pelas nossas cores, ou outros meninos famosos como o Prosinecki, o Viduka ou o Simic. Eram duros, jogavam rijo e não tinham o maior grupo de talento do mundo mas compensavam com o empenho e a garra.

Lixaram-nos a vida em Zagreb, nós retribuímos o favor nas Antas com aquele golão a quarenta metros da baliza, e até me lembro que o Ladic mandou tirar a barreira porque não era preciso (era tão longe que o gajo nem a bola via) e o meu pai, que na altura estava a enfardar o bandulho no buffet dos convidados e nem sequer se dignou a ver aquele míssil do Doriva, trocando-o por um prato de rissóis ou folhados de camarão. Já o tentei endireitar na vida e agora está melhor, graças ao filho, mas ainda lhe dá para comer em vez de ver a bola de vez em quando, o herege.

Não sei o que o futuro próximo nos vai trazer, mas uma coisa é certa: estas memórias de 1998 ficarão para sempre. E as de 2012?

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