Firmeza

Entrevista  a Pedro Baptista, em 2006:

“Nós observamos os adversários, o maior nº de vezes possível, e em função da dificuldade de construção de jogo em determinada zona, em função da dinâmica que o adversário promove, nós trabalhamos sobre isso, o principio de jogo para jogo, a intenção de… não muda, mas estrategicamente fazemos de uma forma ou de outra em função daquilo que nós julgamos ser o mais adequado para aquele jogo, para o ganharmos.”

Conferência de imprensa depois da vitória sobre o Braga, ano passado:

“Se Hulk vai continuar a jogar ao centro? Vamos ver. Para já estou satisfeito com a produção dele, não só com os golos, estou satisfeito com a produção da equipa e com o que nos deu.”

Conferência de imprensa depois da vitória sobre o Beira-Mar, no passado sábado:

“Haverá jogos em que precisaremos disso, mas não estou muito inclinado a mexer no miolo e satisfazer aqueles que acham que o James, jogando a 10, é muito mais jogador. A dinâmica do meio está muito bem assimilada e dá-me gosto de ver o meio-campo assim”

Ao ler as declarações de Vitor Pereira, só fico com uma certeza: cada jogo é um jogo e as opções tácticas dependem do adversário e da melhor forma de o bater. E esteja certo ou não, tenho a certeza que a convicção não muda com o vento. Gosto disso.

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Olhando de novo para Mangala

Sinto uma necessidade avassaladora de vir aqui como um qualquer Sá Pinto para esclarecer qualquer exagero que pudesse estar inserido no post de ontem e tenha passado para quem o leu. Não estava a tentar queimar o rapaz, longe disso. É uma piada que depois do jogo contra o Beira-Mar estava aqui atravessada enquanto ia subindo a alameda e esperava que a chuva não começasse até chegar ao carro.

Mas ainda que o tema possa ser engraçado, há sempre algo de verdade por detrás da jocosidade.

Ao ver Maicon e Mangala a alinhar juntos, não evitei fazer o paralelismo com uma outra dupla que brilhou a grande altura na década de 90. Os números eram os mesmos mas os protagonistas estavam visualmente…em negativo. Não no mau sentido, atenção, apenas me refiro à tonalidade da pele do 4 e do 22, que estavam trocadas em relação à dupla original. Aloísio (4) e Jorge Costa (22), foram os pilares da defesa de António Oliveira que concedeu 24 golos mas que foi sempre considerada a melhor do campeonato. Na minha opinião, de muito longe, quando comparado com Marco Aurélio/Beto ou (não se riam) Ronaldo/Bermudez. Mas havia algo de diferente nestes dois. Maicon até pode ser um pouco parecido com Jorge Costa, com a vontade que mostra em pontapear a bola para a bancada para libertar a defesa de situações difíceis, a liderança que já exibe no eixo mais recuado e se jogasse mais com os braços e tínhamos ali um pretendente a sósia. Mas Mangala e Aloísio, eles que jogam nas mesmas posições, não são minimamente parecidos.

Pode parecer cruel comparar Eliaquim a um dos melhores defesas centrais que já passou pelo nosso clube e campeonato. Mas o que Mangala tem de ter em conta é a forma como está progressivamente a criar uma reputação de agressividade acima da média que só o pode prejudicar num futuro próximo, com o inevitável rótulo de “jogador violento” a ser mais fácil de lhe colar do que um cromo com cola em cima de uma caderneta com mais cola. É fácil demais espetar com esse selo em jogadores do FC Porto, porque Pepe era violento ao passo que Mozer era agressivo; Paulinho Santos era bruto ao passo que Petit era lutador; Fernando Couto era a reencarnação de Genghis Khan enquanto que Oceano era rijo e eficiente. Todos nos lembramos desses exemplos e os nossos queridos media estão mais que prontíssimos para chamar nomes ao rapaz sem que ele possa fazer muito acerca disso. A não ser…

A não ser que comece a perceber que não pode acertar em tudo que mexe sem medo das consequências. Tem de moderar os ímpetos, controlar as emoções e treinar muito e afincadamente a forma como faz a aproximação a um lance sem que os adeptos tenham medo que o francês seja expulso. Mangala é novo, tem potencial e pode vir a ser um excelente defesa-central. Ainda não o é. Não quero que deixe de o ser antes de o poder mostrar.

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Baías e Baronis – FC Porto 4 vs 0 Beira-Mar

Foi fácil, demasiado fácil. O Beira-Mar, apesar da interessante posse de bola (por nós permitida) na primeira parte, não conseguiu fazer um mínimo exigível para colocar dificuldades a uma equipa do FC Porto que parece confiante, com um jogo estruturado e com evidente capacidade para desenvolver um futebol bonito e com a possibilidade de subir o nível quando é necessário. E hoje quase não foi, porque o jogo durou apenas até ao terceiro golo e o que se seguiu foi um bocejo de trinta minutos intercalado com o golo de Maicon (bela cornada) e um ou outro pormenor de Iturbe, a somar à sequência de parvoíces de Mangala que mostrou que ainda está muito verde para alguém que, aparentemente, saiu direitinho de uma máquina de clonar Pepes. No final, um jogo agradável, três pontos no saco e a noção contínua que equipas como o Beira-Mar, enquanto continuarem a defender quando perdem por três…nunca mais saem do ponto onde estão.. Notas abaixo:

 

(+) A tranquilidade na posse de bola Defour, Moutinho e James formaram o meio-campo de hoje e mostraram o porquê de conseguirmos ter uma superioridade tão evidente. A pseudo-dispensa de um trinco como Fernando, mais agressivo e menos posicional que Defour, leva a que a bola flua bem melhor no centro do terreno. Mas é especialmente a ausência de Hulk que faz com que o espírito da equipa seja obrigatoriamente diferente, com um posicionamento mais recuado e acima de tudo com uma posse de bola mais tranquila e mais controlada. O jogo torna-se menos directo e depende mais da rotação dos jogadores e da bola entre os jogadores. E isso é o mais importante de tudo. O FC Porto não está mais forte sem Hulk. Está mais paciente, forçou-se a ser mais pausado e menos irreverente. Gosto.

(+) James Principalmente no meio-campo, James mostrou que pode vir a ser um jogador fora de série, diferente do que tivemos nos últimos anos e um activo a valorizar enquanto cá está. É diferente do “10” Diego e muito diferente do “10” Deco. Um golo (com sorte, é certo) e duas assistências (a segunda, de cabeça para Varela, é excelente) são os números que ficam depois de uma partida em que mostrou que também sabe lutar, também sabe ir ao chão e tirar a bola aos adversários, também percebe o que precisa de fazer para brilhar para os adeptos e acima de tudo perante o Mundo que o observa. Provavelmente será inclinado novamente para a ala, mas se jogar sempre assim solto e bem-disposto…voltamos a ter o puto em grande.

(+) O golo de Jackson Uma obra de arte, a perfeição futebolística em dois toques de um rapaz que precisava de se redimir depois da “Grande Borrada de Zagreb”. Continua a ser uma excelente parede para os colegas terem um ponto de referência na frente, mas pareceu mais afinado na área, mais pronto a jogar de frente para a baliza, como lhe pedimos. Mas o golo…xissa, homem.

 

(-) A excessiva dureza de Mangala Agora percebi o porquê de Abdoulaye ser convocado! Mangala, a suprir a lentidão de Otamendi para as subidas de Alex, até parecia uma boa escolha, mas havia sempre a possibilidade de ser expulso aos 10 ou 15 minutos de jogo. Pode ter sido só um jogo em que o rapaz passou mal a noite a sonhar que gajos de amarelo e preto lhe tentavam violar a namorada, mas o que é certo é que acertou em tudo que viu. E sempre com virilidade em excesso, com mau timing na intercepção e fraca noção de controlo de espaço. Pior: não acerta um passe em condições que não seja para o lado. Tem de melhorar muito a técnica e a capacidade defensiva no 1×1.

(-) Bolas paradas defensivas Já falei muitas vezes nisto e continuo a insistir: é preciso melhorar nas bolas paradas defensivas. Quase sempre que há uma bola a sobrevoar a nossa área, há qualquer tipo de problema que se apodera dos jogadores porque decerto lhes falta uma vitamina qualquer que os ajude a saltar. Vinte e tal pés no chão não serão a melhor maneira de defender cantos…

(-) O buraco no meio-campo Vitor Pereira, na conferência de imprensa, disse o seguinte: “É claro para mim que, jogando com ele a 10 e apenas dois médios, perdemos consistência.”. Toda a razão. Com o triângulo a manter dois vértices atrás e um jogador solto pela frente, nota-se um certo despovoamento no topo do meio-campo defensivo que se faz notar especialmente a defender ataques rápidos. Vi situações de 3×3 vezes demais no jogo de hoje e fosse contra uma equipa mais inteligente e não sei o que teria acontecido.


Para terminar, foco-me outra vez no Beira-Mar. Uma equipa que passa grande parte do jogo todo enfiada no meio-campo, com uma táctica árvore-de-natal limitada a 50 metros, não merece mais que uma descida de divisão e uma demolição do estádio. Treinadores como Ulisses Morais continuam a insistir na mentalidade do “perder por poucos não é mau” e impedem que os clubes que defendem sejam mais, façam mais, vivam mais. Definham, como o espírito dos seus líderes. Tenho pena.

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Ouve lá ó Mister – Beira-Mar


Amigo Vítor,

Foi uma boa semana, Vitor. A vitória em Zagreb não foi brilhante, esteve longe de ser uma exibição que nos possa confirmar como o principal candidatos à vitória na Champions. Mas vi coisas boas, pá, e depois de combater opiniões contrárias com catanas e alguns cactos bem colocados nas cadeiras de alguns colegas de trabalho, consegui mostrar por A+G (porque A+B já não cola) que a equipa pode mesmo estar num bom caminho. E para lá daquele conceito que ninguém acredita que diz que o Porto está mais forte sem Hulk, a verdade é que está diferente. Para melhor, não sei, mas vi diferenças. Só que é preciso levar as coisas ao próximo nível, como num bar às três da manhã quando a gaja já está meia tocada e não nota que és um abrolho com um inchaço na coxa. Tira a imagem da cabeça. Vamos lá.

A convocatória surpreendeu-me, especialmente na zona recuada. Tiras o Nico e o Rolas e espetas lá o Abdoulaye? Admiro a tua coragem, rapaz, mas tem cuidado com as rotações do plantel tão cedo. Sei que achas que tens um ano de experiência e isso já te permite saber o que os moços te podem dar…só que os adeptos querem esquecer o ano passado para só se lembrarem do caneco. Acho que não deves abusar das rotações, especialmente quando vais ter um meio-campo todo comido por lesões e lutos. Sem Lucho e sem Fernando as coisas podem ser diferentes e se o Defour deu conta do recado na Croácia e o João “El Nuevo Catalán” Moutinho está sempre lá para as encomendas, estou curioso para saber quem é que vais mandar calçar para jogar a oito. O Geimes parece estar a melhorar, mas tens sempre o Danilo, que nunca o vi a jogar ali e até gostava de perceber se vale mais no meio-campo ou a lateral. Hmm. Não sei, como te disse nunca o vi. A frente é que tem de mudar, homem, o Varela parece que joga sempre de sabrinas e o Atsu está com fome de bola, pá. Troca os dois. Pumba. O resto deixo contigo, continua a mandar confiança para o povo que a gente aprova. Ah, e ganha o jogo. Três pontos, pá. Três pontos. Nada menos que isso.

Sou quem sabes,
Jorge

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