Leitura para um fim-de-semana tranquilo
- A análise táctica do último jogo do FC Porto contra o Sporting, no A Bola do Vasco;
- Alguém me explica porque é que ainda não se começaram a pôr as meninas a fazer isto em vez de simplesmente entrar em campo ao lado dos árbitos? Pode ser com esta ou outra música qualquer! Vejam no Off the Post;
- O Tribuna Portista tenta perceber se James é de facto um número dez ou um extremo subaproveitado;
- O PortuGOAL fala com as caras na frente do Football Pacific, dois empresários de futebol sediados do Porto que olham para a China como o seu mercado principal. Melhor que o Futre, espero;
- O grande Armando Pinto, no Memória Portista, faz a devida homenagem a Armando, recém-aniversariante e antigo guarda-redes do FC Porto e do Sporting de Braga;
- No I Wish I Was a Geordie analisa a situação curiosa e potencialmente disruptiva dos jogadores muçulmanos do Newcastle que terão reservas quando ao novo patrocinador;
- Miguel Lourenço Pereira olha para a China e a Índia com os seus óculos-côr-de-futebol, no Futebol Magazine;
- E para terminar John Terry e o seu alegado racismo estão em análise no CFCNet, um blog afecto ao seu próprio clube;
Se querem 10, tenham paciência com eles
James já fez alguns jogos a jogar na posição “dez”. De início ou porque Vitor Pereira assim o colocou durante a partida. E o que fez nesses jogos foi bastante acima da média, com passes a rasgar, desmarcações quase perfeitas, dando mobilidade e clarividência ofeniva a um meio-campo que peca por vezes por excesso de contenção e com poucos rasgos individuais, privilegiando a posse em detrimento da irreverência. Nada contra a primeira ou a segunda, desde que tragam resultados. Mesmo com James a jogar na linha, é frequente vermos o colombiano a vir atrás recolher a bola, criando jogadas ofensivas através da rotação para o flanco oposto, por combinações com Lucho e/ou Moutinho, integrando-se na manobra imaginativa da equipa e transfigurando em grande parte o jogo que é por si movimentado e dinamizado.
Tudo muito bem. Mas, e há sempre um “mas”, o que vai acontecer quando as coisas correrem mal? Assim mal, mesmo mal? Quando não sair um passe em condições porque ficam muito curtos ou longos demais, ou quando o relvado fôr difícil de combater ou o adversário rijo demais para contornar ou ultrapassar? Quando passar um jogo inteiro a procurar espaços na armadura contrária sem os descobrir? Quando o ponta-de-lança disser alhos quando o prato do dia eram bugalhos?
James vai sofrer, garanto. Vai carregar aos ombros o peso que Deco, Hagi, Laudrup, Sócrates, Rui Costa, Zidane e tantos outros tiveram de carregar. A desventura de uma noite em que nada parece fazer o “click” certo para a exibição ser positiva. Aqueles jogos em que por muito talento que o rapaz tenha nos pés e na cabeça (e tem, é certo), por muito esforço que coloque em campo, nenhum pontapé vai ser produtivo, nenhum lance vai ter bom resultado, nenhuma tentativa vai ser bem sucedida. E sei, porque a experiência já mo mostrou muitas vezes em muitos jogos, nem sempre o artista encontra compreensão por parte do público que exige dele o que já viu um dia a fazer, noutro tempo ou noutro local. E temos de nos habituar a que nem sempre acontece o que queremos e temos um excelente exemplo em Belluschi, onde a regularidade competitiva era tão ausente que ninguém sabia muito bem o que esperar dele, mas quase todos tinham a certeza que não podíamos contar com três ou quatro jogos seguidos em alto nível porque nunca aconteceu. Um número dez é isso, um dependente da inspiração momentânea, um mago que transforma uma jogada perdida numa assistência para golo, um génio que consegue fazer em dois toques e outros tantos segundos o que outros não conseguem numa vida inteira de treino e expectativas consistentemente frustradas. Falha passes porque os tenta, pede a bola porque quer tentar de novo e se falhar de novo, logo se reinicia o ciclo e se procura outra vez arrastar a nora para que o grão seja moído com o tamanho certo para a altura certa.
E a natureza humana diz-me que até um bom número dez é quase impossível de tolerar durante muito tempo caso não tenha o rendimento que todos esperam dele…a não ser que os adeptos estejam treinados para o fazer. E o mais provável é que o FC Porto não está pronto para ter um “dez” se a vida não lhe correr bem durante alguns jogos consecutivos. Dou a palavra aos adeptos. Provem que estou enganado.
Supporters Direct – EC Project Fan Survey
O amigo João Coelho, sociólogo e estudioso do fenómeno futebol, que editou o livro Porto 1987-2012: 25 anos no topo do Mundo que contou com a participação aqui de quem vos escreve, solicitou a minha ajuda na divulgação de um inquérito criado pelo Supporters Direct, um grupo de associações de adeptos de futebol por essa Europa fora que procura a melhoria do nosso desporto preferido de todos nós através de uma participação mais activa neste fenómeno que nos fascina a todos.
Este inquérito pretende perceber a visão de adeptos de toda a Europa sobre a forma como vêem o futebol e como crêem que deveria ser organizado, dando espaço a uma maior interacção entre os actores principais (Ligas, Federações e outras entidades oficiais) e nós, os humildes adeptos.
Dêem lá um salto e participem. Garanto que estão a fazer mais pelo desporto que o Rui Gomes da Silva.
Benford's law of controversy
Passion is inversely proportional to the amount of real information available.
Gregory Benford, escritor que se popularizou na área da ficção científica, cunhou esta frase no seu livro de 1980, Timescape. Tomando a Lei da Controvérsia de Benford como verdadeira, podemos concluir que a paixão aumenta à medida que a informação real se torna mais escassa, e diminui com o aumento da informação real. Parece simples a análise desta razão inversa e ainda é mais fácil fazer o paralelismo com o nosso muy amado mundo da bola. Depois deste intróito e a propósito do recente FC Porto – Sporting, permitam-me lançar um pequeno exercício numa arte pela qual tão poucos lusos gostam de deambular (optando antes por viver no próprio ecossistema mental que eles próprios criaram): a honestidade.
Falo pouco de arbitragens. Os portistas não quererão saber e os não-portistas, em bem maior número e com uma capacidade retórica questionável na grande maioria dos casos, obviamente pensarão que não falo porque estou a esconder os óbvios benefícios de que o meu clube está eternamente como feliz receptor. Momento, deixem-me mudar o chip porque está a sair um exagero de floreado e pouco aborrecido e estou muito mais perto da segunda situação que da primeira. Então prossigamos.
Ainda não tinha chegado ao carro e já meio planeta reclamava que o árbitro tinha ajudado o FC Porto a vencer o Sporting. Era por causa dos amarelos, do vermelho, dos penalties, de tudo o que pudessem encontrar para que a culpa fosse, mais uma vez, colada ao nosso nome. E não tardou para que umas dezenas de blogs, sites, jornais, revistas e o Rui Santos viessem a terreno proclamar que, mais uma vez, sempre mais uma vez, o FC Porto foi ajudado para vencer o jogo. E é esta acefalia perene que vinga na nossa comunidade, esta permanente assunção de ajuda ao FC Porto que todos adoram colocar a nosso favor, constantemente usando pouco mais que argumentos datados e quase sempre falaciosos. Porque se formos ver os factos (como fiz aqui há uns tempos por ocasião de uma famosa enumeração dos pecados de Duarte Gomes num Benfica vs FC Porto que foi feita pelo meu clube), não há nada como ser directo, frontal e honesto para tentar perceber que nem sempre o sol brilha quando olhamos para o céu mas se naquela ocasião calharmos de fitar o astro directamente, as putas das retinas acabam por ficar queimadinhas como um naco de carne que passou mais tempo do que devia na grelha por cima dos carvões. Factos, então.
- O duplo-amarelo a Rojo: evidente. Tanto a primeira falta como a segunda, se bem que a segunda até pudesse dar para vermelho se tivesse mesmo acertado em James com a vontade que se lançou ao moço. No estádio fiquei com a nítida sensação que James tinha saltado para evitar o contacto e fugir de uma traulitada tamanha que o mandasse para a selecção mais cedo. Errei no golpe de vista, não errou o árbitro e deu bem o segundo amarelo.
- O primeiro penalty: evidente. A culpa recai apenas em Cedric, que ingenuamente arrastou a bola com o braço esquerdo quando se tentava levantar depois de cair sozinho na área. O acto não é involuntário mas deliberado e Jorge Sousa, perto do lance, marcou o penalty sem questionar terceiros. Não precisava.
- O segundo penalty: não-tão-evidente. Se o primeiro lance foi óbvio para todos, o segundo nem tanto. No estádio, no meu lugar do costume, não me pareceu falta. Vi o braço de Boulahrouz a aparecer pela direita de Jackson e a tocar-lhe ao de leve e observei que o avançado foi manhoso ao deixar-se cair. Não me pareceu que tivesse sido puxado com a tal questão da intensidade que tantos falam. Não me pareceu falta. Jorge Sousa vê o lance de um ângulo um pouco diferente e acha que é o suficiente. Aceito, como aceitaria se não marcasse nada ou se a situação acontecesse na nossa área, podendo questionar a decisão mas pela visão do evento compreendo que tenha decidido assim.
- O número de amarelos: exagerado. Tanto para um lado como para o outro, mas pareceu-me evidente que houve vários lances de jogadores do Sporting que mereceram o cartão, tanto como alguns do FC Porto que fizeram por merecer o mesmo. Há árbitros que preferem controlar o jogo à custa da força em vez da pedagogia. Se fosse outro árbitro tinham provavelmente dito que não tinha mostrado cartões suficientes.
O problema é sempre o mesmo e sê-lo-á enquanto não quiserem baixar as lanças e perceber que nem sempre é possível avaliar para o lado que querem. Não vale a pena contrariar este jogo com lances de outro jogo, como falar de penalties marcados num lance em Coimbra ou outros que não foram marcados, apesar de em situações idênticas, numa partida na Mata Real. É futebol. E sobre o FC Porto, que putativamente já terá sido prejudicado este ano em vários lances de grande penalidade, ainda não falei. Mas se o fizer, será apenas sobre o lance em questão e na partida em análise. Porque os lances sucedem-se e as decisões são rápidas. E porque a única coisa que posso apontar ao trabalho de tantos outros árbitros como Jorge Sousa prende-se na postura assumida durante a partida.
Assim sendo, se quiserem continuar a ouvir os Duques deste mundo, so be it. Mas tenham em atenção uma coisa: esse tipo de atitudes só pode contribuir para esconder defeitos e falhas individuais e colectivas. Não deixem que a paixão ultrapasse a informação que está disponível. Porque só estão a esconder as vossas próprias incapacidades.