Ouve lá ó Mister – Setúbal


Amigo Vítor,

Começo com uma notícia triste para mim e que deveria ser também uma notícia triste para ti e para todo o plantel: não vou ver o jogo. Um compromisso inadiável, sem dúvida marcado por uma trupe de anti-portistas primários, vai-me impedir de estar presente em frente a uma televisão com a atenção que tu e os teus pupilos merecem e assim estarei, com grande mágoa e várias dezenas de garrafas de tinto em boa companhia, impedido de dar o meu apoio remoto ao trabalho que vais desempenhar no Bonfim. Coisas da vida, prometo que não voltará a acontecer tão cedo.

Mas isto não invalida que não façam o melhor que podem, por muito que vos faltem os meus gritos em frente à caixa preta que não tenho dúvida chegam aos vossos ouvidos com a garra e determinação que só um portista consegue reunir! É o último jogo do campeonato em 2012 e o objectivo de chegar ao primeiro lugar mantém-se firme como uma virgem que esperou até ao dia do casamento para terminar o jejum. E o jogo de hoje é mais um na saga que queremos que termine em grande.

Já reparei que convocaste uma equipa de combate. Temos menos espectáculo no ataque mas há poder de luta no meio-campo mais que suficiente para arrebentar as trombas da malta do Sado. Há lá dois ex-nossos, um polaco na baliza que não deixou grande marca (a não ser uma frangalhada que sofreu contra…o clube actual dele) e um herói que joga sem rins, tal é a lentidão com que já o vi a rodar e que é um ingrato do caraças, tendo em conta as bases que o FC Porto lhe deu no início da carreira. Ricardo Silva é o nome, e espero que fique borradinho a tentar marcar o Jackson. Cuidado com o Ney que é um bruto (lembras-te da lesão do Hulk na Amadora? foi este o menino), com o Meyong que ainda sabe o que faz e com o Bruno Amaro e o Cristiano que também sabem dar mais que dois toques seguidos na bola sem escorregarem.

Acima de tudo, é bater-lhes com força para ganharmos o jogo e chegarmos ao fim do ano em primeiro. Faz com que fique ansioso para ver o jogo em diferido, Vitor.

Sou quem sabes,
Jorge

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Prendas de Natal WTF?! na FC Porto Store

Tenho a certeza que já passou pela montra de uma loja numa qualquer zona comercial do seu burgo, seja um shopping ou uma rua no centro da cidade, e parou em frente ao vidro a pensar: “What the fuck?! Um elefante com controlo remoto para a tromba que esguicha tinta da china? Café com sabor a sovaco jamaicano?! E ali ao lado? Um camião dos bombeiros com luzinhas e ruídos autênticos dos Sapadores de Vilarelho dos Aidos e com bonecas dos modelos da Victoria’s Secret em cima da escada?!?! Quem é que compra aquilo para oferecer a alguém!?”. Acontece todos os Natais, sem falha, seja maior ou menor a complexidade do produto.

E na loja online do FC Porto temos algo parecido. Ainda assim, sugiro que lá dêem um salto, nunca se sabe se vão ser vocês a acabar com o stock antes que o departamento de marketing diversifique ainda mais nos brindes que têm ao dispôr de qualquer Portista:

Ora vejam lá:

Porque nada diz “sou uma menina portista” que um dragão com o Pantone (TM) trocado. Azul, amigos, azul!


Excelente qualidade. Fivela com impacto. Garantido que causa sucesso onde quer que seja usado. Branca. A fivela é branca. Howard Wolowitz, anyone?



Eu também tenho ali várias camisolas do Paulo Assunção e do Argel. Mas talvez não a vendesse na Loja Azul…


Para quem quisere acompanhar as primeiras entrevistas do James quando o rapaz for vendido para a estranja, talvez um bocadinho acima das entrevistas do Anderson…porque acho que não temos um dicionário Português-Andersonês.



Creio que não existe (até porque não descobri no site) mas devia vir com a opção “desfibrilhador”, porque esta época do Adriaanse…amigos, foi um teste às nossas bombeadoras de sangue…

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"Ó pai, quem é o Deco?"


Enquanto passeava ao redor do Dragão no passado Sábado, antes do jogo contra o Moreirense, decidi percorrer o perímetro mais longo para quem desce a alameda e se dirige para a minha porta de entrada. A passada ia lenta, ia contemplando o estádio e o ambiente e acompanhava de uma forma intermitente um miúdo que não podia ter mais de 8 ou 9 anos e um homem o levava pela mão e que presumo fosse seu pai. Enquanto o pai ia mostrando os escudos que estão colocados na zona oeste/sul do exterior do estádio, com os nomes e glórias do nosso clube (a que fiz menção aqui e que lamento que continuem a estar sub-aproveitados), ouvi o filho a colocar esta mesma pergunta – a do título do post, para os mais distraídos – ao seu pai.

Enternecedor, sem dúvida, mas coloca em perspectiva a nossa vivência e a história do nosso próprio clube. É certo que o rapaz ainda estava na fase do “comer/dormir/purgar” enquanto Deco passeava classe nas Antas e no Dragão e em Sevilha e Gelsenkirchen e tantos outros estádios por essa Europa fora, mas a verdade é que me senti pela primeira vez na pele de um qualquer adepto Portista quando me falam de Cubillas, Pavão, Murça e Rodolfo ou até os mais antigos como Barrigana, Miguel Arcanjo, Virgílio, Custódio Pinto ou tantos outros que fizeram parte da nossa história e que conheço apenas de nome e de fama, nunca os tendo visto a jogar nem conseguindo tirar uma opinião concreta sobre o que valiam em campo. É sinal que a história passa por nós e que uma nova geração de jovens portistas já não está sequer ao virar da esquina. Já cá está, pronto para louvar James e Jackson e Moutinho e Helton mas que precisa também de ser transmitida por cada um de nós, para que o FC Porto viva com o coração forte e com adeptos ferrenhos e apaixonados mas também conhecedores da sua história.

Ser portista é também agir como aquele pai fez com o filho, explicando-lhe quem foi o tal Deco, o que fez e quando o fez. E só não mostrou ao puto como o fez porque muito provavelmente não conseguiria. Para que daqui a uns dez anos, quando um miúdo parecido perguntar ao seu pai enquanto passeia à volta do Dragão: “Ó pai, quem é o Hulk?”, o pai também lhe saiba responder e o faça com orgulho.

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 0 Moreirense

foto retirada de desporto.sapo.pt

Sentado nas escadas ainda fora do Dragão, descascava mais uma das maravilhosas castanhas assadas que prometi comprar da próxima vez que o FC Porto jogasse em casa e ia pensando no jogo que estava a uma hora de começar. É raro haver bons jogos depois de uma jornada de Champions, seja contra que equipa fôr, mas ainda costumam ser mais fraquinhos quando encontramos este tipo de pseudo-muros que de vez em quando (mais vez que quando) aparecem no nosso estádio. E o argumento é sempre o mesmo para começar: equipa recolhida, a defender nos primeiros trinta metros do seu campo, com o FC Porto habitualmente lento a construir e ainda mais lento a concretizar. Não esperava tantas dificuldades mas há que admitir que fizemos por isso. Pouca imaginação, ainda menos capacidade de rotação de bola no meio-campo contrário com domínios de bola imperfeitos, muitos passes falhados e um tremendo receio de chutar a bola à baliza. Valeu Jackson, dos poucos que teve uma exibição acima da média. Notas abaixo:

(+) Otamendi Recebi um sms depois do jogo de Paris de um amigo que me dizia:”eh pá, o Zlatan é bom mas o Otamendi, ui”. E hoje, o “ui” era merecido mais uma vez. Apesar do aparente paradoxo mental que é afirmar que um defesa central foi o melhor jogador do FC Porto contra o Moreirense, a verdade é que Otamendi esteve perfeito em quase tudo que fez e não falhou uma única vez nas intercepções, cortes, disputas de bolas aéreas, posicionamentos defensivos e até quando levava a bola para a frente. É o nosso primeiro avançado, este rapaz, e está a atravessar a melhor fase desde que cá chegou no Verão de 2010. Perfeito, perfeito.

(+) Jackson Mereceu o golo que marcou e já merecia ter marcado pelo menos mais um antes dele. Vendo Jackson a jogar ao lado de Kleber é a melhor forma de perceber que o brasileiro não tem qualquer hipótese de roubar o lugar ao colombiano e que é exactamente por isso que nunca será uma opção válida neste plantel, pelo menos a jogar como tem feito. Jackson posiciona-se muito bem perante os centrais mas é o que faz quando lhes ganha a bola que faz dele um elemento fundamental no ataque do FC Porto com três homens. Recolhe a bola, cria espaço, desiquilibra a zona central e roda a bola para o colega melhor colocado na ala. Pode ser mais lento a executar do que os adeptos gostavam, mas é um excelente avançado não só pelo que faz mas também pelo que ajuda os outros a fazer.

(+) Defour É lutador como poucos, este belga. Se somarmos a capacidade de luta a uma noção táctica de cobertura de espaços bastante inteligente, temos um jogador “de plantel” muito importante que está a ser bem aproveitado a trinco. É verdade que tapa bem melhor os espaços à sua frente, deixados pelas subidas de Moutinho e Lucho, do que quando é obrigado a descair para as laterais para tapar as ausências dos laterais, (que Fernando faz muito melhor), mas a facilidade de rodar a bola para o colega melhor colocado é muito útil para jogos em que precisamos de uma rotação mais elevada nos motores. “Prático”, talvez seja a melhor palavra que o descreve.

(-) O meio-campo criativo Lucho, Moutinho e James não funcionaram bem hoje à noite. Já tinha falado nisto aqui há uns meses (“Mas, e há sempre um “mas”, o que vai acontecer quando as coisas correrem mal? Assim mal, mesmo mal? Quando não sair um passe em condições porque ficam muito curtos ou longos demais, ou quando o relvado fôr difícil de combater ou o adversário rijo demais para contornar ou ultrapassar? Quando passar um jogo inteiro a procurar espaços na armadura contrária sem os descobrir? Quando o ponta-de-lança disser alhos quando o prato do dia eram bugalhos?“) mas o problema fica mais bicudo quando nenhum dos três criativos consegue fazer melhor que o meio-campo adversário. Os espaços não apareciam também porque as movimentações eram feitas de uma forma muito aberta, com as linhas muito espaçadas, distâncias impossíveis de percorrer com a bola e pouca facilidade de rodar a bola entre os três, ainda que Defour, Danilo e Varela tenham tentado integrar-se na construção ofensiva com graus variados de produtividade, que vão do “Mariano González de directa” ao “Mandla Zwane com três prozacs no bucho”. Nada saía bem e o jogo tornou-se mais directo sem grandes resultados, especialmente na primeira parte. Melhorou na segunda parte com a entrada de Kelvin e a subida de Alex Sandro, mas raramente houve jogadas inteligentes de início a fim.

(-) Podemos substituir os cantos por lançamentos laterais? É verdade que um deles deu golo, dou essa de barato. Mas aproveitar um em DEZASSETE cantos é um rácio baixo para qualquer standard que queiram aplicar. E se formos a analisar os lances que nos dão estes números, podemos facilmente perceber que os cantos nem sequer originam situações de perigo com remates à baliza. A maior parte são interceptados ao primeiro poste ou a bola é enviada com uma trajectória tão pouco tensa que só um guarda-redes anão com problemas nas vistinhas seria incapaz de lhe chegar com facilidade. É frustrante perceber que um canto traz em teoria menos perigo para um adversário do FC Porto que um cruzamento do meio-campo e é algo que não entendo como ainda não conseguimos melhorar nesse aspecto.


Nem todos os jogos podem ser grandiosos, com golos brilhantes e lances geniais. Às vezes temos mesmo de pegar no martelo e cascar em cima do adversário mesmo que não nos sintamos inspirados o suficiente para moer a defesa como o proverbial rolo compressor. E é destes jogos que os campeonatos são feitos, em que as coisas nem sempre correm bem mas que terminamos com os três pontos no saco. Mas é triste que haja tantos destes jogos que parecem ser orientados para fazer os adeptos sofrer, em que nada corre bem e se vê que alguns jogadores não conseguem dar a volta à falta de criatividade pontual com algum lampejo de génio que faça com que a bola entre na baliza mais facilmente. Enfim, foi um pobre jogo para terminar 2012 no Dragão.

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